Silvio Almeida, Frank Le Rue e a desumanização do outro 

A confirmação do assédio pelo Silvio Almeida foi tão surpreendente quanto a confirmação de Frank Le Rue. Ambos são figuras que construíram um capital simbólico a ponto de nos levar a questionar as acusações contra eles, em um primeiro momento. 

Uma vez confirmado o assédio, inicialmente há a perplexidade, mas logo em seguida ela vai se transformando em receio e medo, pois afinal pessoas “acima de qualquer suspeita” foram capazes de tal ato. Os estereótipos caem por terra, e nos deixam mais cautelosos e menos preconceituosos, afinal assediador não tem cara, pode ser qualquer pessoa.  

Pode-se culpar uma educação machista que eles tiveram, que eu tive, e muitos outros de minha geração. Todos construíram seus conjuntos de valores, a questão aqui esta no senso de humanidade destes valores, a humanização do outro nos torna mais humanos, nos grita que o outro é igual a você, esta é a diferença. E você não se agrediria. 

Temos ai uma questão importante, humanizar o próximo, na contramão do individualismo e competitividade que são os alicerces do modelo neoliberal onde estamos inseridos, que produzem o que Mark Fisher denominou de Realismo Capitalista, que é a percepção de que neste campo as coisas são o que são, e não há nada a fazer.

Mas há sim! Podemos questionar as bases deste modelo, nos rebelar contra ele, impor nossa humanidade como principal linha de pensamento e ação. Ir conta a “gamificação” do trabalho, típico da economia de aplicativo, dar um game over nisso. 

Podemos não perceber, mas a humanidade esta caminhando aceleradamente para sua extinção, acredite.

Noam Chomsky, em Internacionalismo ou extinção, detalha com profundidade a possibilidade de extinção da humanidade por uma catástofre nuclear, risco aumentado pela emergência do extremismo de direita, que se baseia em atribuir aos humanista (esquerda) os problemas do neoliberalismo. 

Ainda sobre individualismo e desumanização temos chamado plano B do neoliberalismo, as igrejas neopentecostais da teologia da prosperidade, hoje teologia do domínio, e sua aproximação gutural com o extremismo de direita e o fascismo.

Entenda que o indivíduo é o resultado de suas decisões e ações ao longo da vida, o ambiente e a conjuntura contribuem ao limitar as possibilidades, mas não moldam o caráter. 

Precisamos de mais humanismo!

Aberração neopentecostal

Este texto é uma versão adaptada e expandida da A nova inquisição vem ai ?


Uma das maiores aberrações deste século são as igrejas neopentecostais. Não me detive a estuda-las a fundo, apesar de ter lido “A farsa da Igreja Evangélica“, sempre tive a percepção de que seguem um modelo detalhadamente planejado de cooptação intelectual. Marketing, psicologia e neurologia seguramente foram utilizados neste planejamento.

Uma suposta igreja que se diz seguir as ideiais de Lutero, que defendia a ideia de que justamente as igrejas e suas indulgências eram inúteis, que as pessoas poderiam apenas se unirem, mesmo que em prece, de onde estiverem, para praticar a “religação”.

Mas as aberrações neopentecostais se valem de templos que ostentam luxo e riqueza e comercializam suas caríssimas indulgências, desde meros feijões mágicos a terrenos no céu.

Outra questão curiosa e que criaram um modelo de competitividade, onde o individualismo através de sua aceitação e conquista de capital social em relação a seus pares passou a ser mais importante do que a “religação”. O pensar e agir coletivo mudou para o pensar coletivo e agir individual, isso explica como este modelo de igreja se tornou materialista. Seus membros não mais praticam a “religação!”, mas objetivam ganhos materiais individuais prometidos pelos lideres àqueles que se destacarem entre os seus.

Isto talvez explique como uma igreja que se diz cristã, se posiciona ideologicamente contra os princípios comunistas de Jesus, e o fazem de tal forma que encaram os “comunistas” como inimigos, engrossando o caldo daqueles que são contra o comunismo, mas não fazem a menor idéia do que de fato sejam as idéias comunistas.

Este deslocamento da Janela de Overton, dentro desta suposta religião é tamanha, que em 2018 não só fizeram campanha, com mão de arminha inclusive, como votaram num sujeito que sempre se mostrou a antítese do cristianismo. Agora além de termos cristãos anti-comunistas, temos cristãos anti-comunistas, armamentistas e facistas, que num paradoxo delirante, que na mesma intensidade se posiciona contra o aborto e apoia a idéia armamentista e a violência contra aqueles que rotulam de “satânicos”.

Isto é realmente perigoso, porque na lógica que se está construindo, qualquer um pode ganhar este rótulo de satânico, a começar pelos comunistas, que assim são rotulados sem nenhum critério concreto, apenas por discordarem deles.

Este perigo se mostrou evidente, quando da união impensável destas igrejas com o crime organizado e as milícias no Rio de Janeiro, uma verdadeira bomba prestes a explodir a qualquer momento.

Como se não bastasse um determinado político publicou um vídeo nas redes sociais fazendo justamente esta associação entre satanismo e comunismo, e de forma sutil pregando a eliminação destes pura e simplesmente. O assustador disto foi termos um líder de uma destas igrejas não só compartilhando estes vídeo, como incentivando tais idéias delirantes.

Por conta da emergência sanitária que vivemos, onde o Brasil se tornou o epicentro da crise com números absurdos de óbitos, e sob o risco de uma verdadeira catástrofe sanitária ainda maior, o lockdown se tornou uma das medidas urgentes e indispensáveis. E este lockdown incluiu as igrejas e templos religiosos, todos eles.

O mais impressionante foi uma ação movida por juristas evangélicos pela abertura das igrejas, indiferente à situação calamitosa que vivia o país. E de forma monocromática, o Ministro do STF, indicado pelo atual presidente da república acatou e determinou a reabertura destas igrejas.

O resultado disto, é que esta decisão bate de frente com outra decisão conjunta da corte, que da autonomia para prefeitos e governadores em suas politicas de combate a pandemia em suas regiões administrativas. E isto provocou um alvoroço nas redes sociais, onde usuários e principalmente robôs estão associando prefeitos e governadores que optaram por manter as igrejas fechadas, mesmo depois da decisão do ministro, de comunistas.

Estamos caminhando para um momento muito bizarro, onde o país governado por um sujeito que preza a morte e a tortura — inclusive não esconde este apreço de ninguém — é adorado por seguidores destas igrejas, que sob o comando de seus lideres, parecem estar caminhando para um perigoso conflito, em favor…. da morte….

Não podemos deixar de registrar, os ataques ao bispo de Aparecida, da Igreja Católica, ao proferir em seu discurso o combate a fome e a miséria, que foi logo chamado de comunista, por uma horda de imbecis bolsonaristas (que se intitulam patriotas, cristãos e conservadores), bêbados, segurando suas latas de cerveja e fantasiados de patriotas. Estes ataques se espalharam pelo país, numa sinalização clara de que uma guerra santa estava por vir, sob a égide do “mito”, que felizmente não foi reeleito.

O mais impressionante, é que estes templos neopentecostais que transformaram a fé, a “religação”, em algo semelhante a uma mistura do show do milhão com o baú da felicidade, e sempre encontraram o demônio em todo lugar, quando o encontram de verdade, o chamam de mito, e o seguem cegamente.

No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como também surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade. Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com histórias que inventaram. Há muito tempo a sua condenação paira sobre eles, e a sua destruição não tarda. 
2 Pedro 2:1-3

Os “patriotas” lesa patria

Este texto escrevi em 09 de Outubro de 2021, agora torno público.


“O bolsonarismo é um apanhado de fracassados, de marginais, seres vazios de espirito. Uma manada cuja existência carecia de um significado. Gentalha ressentida, apodrecida, sem voz, que encontrou um representante à altura”

Paulo Brondi, promotor público de Goiás

É impressionante a cara de pau dessa gente sórdida que esta no poder atualmente no Brasil de Bolsonaro. Se declaram patriotas, mas tudo que fazem é lesar a pátria e destruir a soberania nacional. 

Privatizaram, e seguem privatizando fatias importantes de estatais estratégicas e lucrativas, orientaram os preços do petróleo e produtos agropecuários ao dólar para o mercado internacional, e continuam a fazer isso. 

A inflação crescente é culpa deles, de uma politica econômica focada apenas no topo especulativo da pirâmide e que prejudica a todos abaixo, incluindo eu e você. 

Indústrias que existiram no Brasil por décadas, decidiram abandona-lo…

Depois de sucessivos cortes na saúde ciência e educação, agora deram a facada de misericórdia, cortando nada menos que 92%, isso irá matar definitivamente nossa ciência, com danos irreparáveis e forte evasão de cientistas. 

Depois que este governo acabar, seremos um país com a soberania arrasada, totalmente dependente tanto energética, como tecnologicamente de outros países, configurando numa nação essencialmente de miseráveis, apesar de fartos recursos naturais.

Tudo isso porque um dia “ousamos” ser a sexta economia e seguir o modelo que levou a Noruega ao primeiro mundo, de dedicar parte significativa do pre-sal a saude e educação. 

Em alguns anos, as próximas gerações, de seus filhos e netos não irão acreditar no quanto você foi imbecil em ter votado num sujeito que fez essa merda toda. Irão lhe cobrar, porque o Brasil que eles vão conhecer estará muito aquém do Brasil que você conheceu e ajudou a destruir com seu voto, seu ódio ou sua omissão. 

Os estragos provocados por este governo de parasitas bolsonaristas, levará décadas para ser reparado, se conseguirmos reparar.

Ao menos eu poderei dizer a meus netos que fui contra isso desde o principio, e tentei convencer outras pessoas a não votarem nesse verme…

Mas o verme ganhou em 2018, e perdeu em 2022…

Esta na hora de levar o verme à justiça, para julgar seus crimes contra o país e contra a humanidade!

Sobre a vacina, não se anime tanto assim

Não estou querendo acabar com a festa de ninguém não, mas 2021 não vai ser fácil, mesmo que tenhamos milhões de doses de vacina contra o coronavírus disponíveis já em janeiro.

A ausência de um plano de vacinação dialoga perfeitamente com um ministro da saúde que não é da área, e com um presidente que brinca de rei e acredita mais nas abobrinhas de sua mente do que na ciência. Estes irresponsáveis fizeram um estoque de cloroquina para mais de 100 anos, quando deveriam estar fazendo estoque de agulhas e seringas.

De nada adianta termos milhões de doses de vacina se não temos como aplica-las, segundo especialistas serão necessárias ao menos 300 milhões de conjuntos de seringa e agulhas para vacinar a primeira dose da população pouco superior a 200 milhões de brasileiros. As vacinas escolhidas até então no país necessitam de duas doses, e o governo também comeu mosca nos acordos com outros fabricantes, se fosse um governo sério teria feito acordos com todos.

Os fabricantes necessitam de SETE meses para fabricarem 300 milhões de seringas, se ao invés de cloroquina, o governo tivesse feito estoque de seringas estaríamos numa boa, mas agora iremos esperar na melhor hipótese até Agosto de 2021 para voltarmos a normalidade.

Mas estes não é o único problema, o país nunca fez uma campanha de vacinação desta dimensão, é uma empreitada única, e ao que parece o MS deu ao um veterinário a coordenação da tarefa.

Vacinação não é um ato individual, é necessário imunizar entre 60 à 90% da população para atingir o efeito desejado e erradicar a cepa atual do coronavírus, quanto maior a cobertura imunizatória, maiores as chances de não termos novas ondas com novas mutações do coronavirus, tal qual na gripe. Mas estamos vendo ai o próprio presidente, do topo de sua ignorância, fazendo campanha contra as vacinas e contra o ato cívico de vacinar-se.

Da para continuar dissertando sobre as falhas e riscos, muita coisa pode dar errado, e com esta falta de compromisso, estratégia e especialistas, esta chance é muito maior, e seria um luxo imaginar que teremos planos de contingência.

O governo esta dando muita chance ao azar, e provavelmente também seremos reconhecidos mundialmente como a nação com o pior plano de imunização do planeta. E provavelmente continuaremos isolados do mundo, uma vez que presumo que assim como hoje é com a febre amarela, o certificado internacional de vacinação contra a COVID será exigido nas fronteiras deste mundão. E teremos condições e credibilidade para emitir este certificado?

O ato de egoísmo dos promotores do MP de São Paulo ao tentarem buscar previlégio para vacinação pode ser um sinal de que esta disputa poderá se multiplicar, e tem uma razão para isso, pode faltar vacina pra muita gente. Não sei se isto poderá provocar algum tipo de convulsão social, mas a possibilidade é bem concreta.

A estratégia de vacinação atende a critérios científicos e técnicos, mas é difícil prever isto em um país governado por um presidente que despreza a ciência e tem aparelhado as instituições estratégicas da saúde, cultura e educação, com replicadores de sua própria ignorância.

Aliás por falar em emparelhamento, Bolsonaro colocou militares alinhados com ele para controlar a politica de aprovação de vacinas, ou seja, colocou seus capangas para prejudicar a liberação da vacinas com interesses políticos.

Não consigo imaginar um bom cenário para 2021, vejo mais quebradeira, mortes, e a economia caindo a níveis nunca vistos, isto porque é impossível prosperar e consumir em um ambiente tão incerto.

A conta vai ser muito alta, acredito que o país levará décadas para se recuperar… de sua própria ignorância…


Publicado originalmente em 06/12/2020 no Medium

Classe mérdia

Eu cresci na zona sul, e depois em um condomínio de classe média alta e jacarepaguá, e confesso que analisando o “ambiente” em que cresci, compreendo claramente esta viralatice insana que ganha as redes.

A adoração aos Estados Unidos sempre esteve nos centros dos debates de nossos pais e vizinhos, porque lá era lindo, porque a faxineira americana tinha carro, porque lá as coisas funcionavam, porque o povo era limpinho, porque lá não tinha pobreza. E este discurso passava de pai para filho, toda minha geração foi contaminada com esta perspectiva cultural. Alias ai está o gancho!

Desde o pós guerra, os Estados Unidos exportaram seu mais importante ativo, a cultura americana. O engrandecimento da indústria cultural americana, e digo cinema, música, e até basicamente tudo que liamos quando criança. Eu mesmo lia todas as publicações das Disney e tinha todos os manuais que foram publicados. O sonho do viralata americano começava desde pequenino.

Ícones, valores e símbolos americanos permearam a cultura da tal classe média de uma forma que a única forma de se sentir no primeiro mundo era se tornando americano, abdicando da própria nacionalidade brasileira. Me lembro de minha tia comentar perplexa que a vizinha dela na Gávea ostentava orgulhosa a foto do filho brasileiro, com uniforme da marinha americana. Muitos amigos sonhavam mudar para os Estados Unidos, até eu sonhava em ser americano.

Não percebia como estes valores eram entregues nos filmes, revistas em quadrinhos e até nas músicas, só achávamos aquilo fantástico. We love america! Tínhamos vergonha de ser brasileiros, isto criou uma imagem curiosa, ninguém podia ver alguém falando inglês, sem lhe dar logo o status de celebridade. Quantos americanos das classes mais baixas não se sentiram assim em terra brazilis?

Muitos de minha geração foram para a “america”, e agem como se americanos fossem, apesar de estarem presos entre dois mundos, o de que nunca serão americanos de fato, e o de que nem brasileiros. São os intermundos, mas se estão felizes, que sejam.

Esta mesma classe média, ou seria melhor, mérdia, foi incapaz de se enxergar como primeiro mundo, quando no governo Lula, o Brasil se tornou a 6a maior economia, e tínhamos um respeitoso reconhecimento como nação emergente e progressista, eu mesmo vi isto por várias vezes nos fóruns da ONU que participei por anos. Essa classe mérdia pedia desculpa por nossa ousadia, pois até o ministro da Cultura, o Gil revolucionou o valor da cultura brasileira mundo afora, que ousadia!

Curioso ver que esta mesma classe mérdia que achava o máximo a faxineira andar de carro nos EUA, ficava indignada com a faxineira andando de carro e avião por aqui, e a gota d´água foi quando o filho da faxineira entrou na faculdade e o da patroa não.

Na verdade dentro deste ambiente social se cultivava uma noção de status e valores que não condiziam com os nosso valores brasileiros, brasilidade passou a ser brega, chique mesmo é ser americano. Isto criou uma estranha vergonha de nossos valores.

Olha, mérdia por mérdia, eu acho os EUA uma merda, a única coisa boa de se fazer por lá é compras, eu descobri isto depois de rodar o mundo, até a Africa é mais interessante, e a Europa, não da nem para comparar com os EUA, sem dúvida, depois do Brasil, a Europa é um continente interessante.

No fim das contas, vamos o país ser destruído por um presidente totalmente despreparado, mas legitimo representante desta classe mérdia da barra da tijuca, que prefere ser viralata dos EUA do que ter orgulho de ser brasileiro. Isto explica comportamentos bizzaros da família que conduz o país a deriva, e seu amor subserviente aos EUA, e as manifestações pró Trump dos viralatas que não aceitam ser brasileiros, mesmo que nunca serão americanos, apenas idiotas úteis…

Existe um cérebro invisível por trás da emergência extremista?

Recentemente Leandro Demori publicou um texto no The Intercept, apontando evidências de que a emergência extremista é um projeto global. No texto ele aponta algumas coincidências nos discursos de representantes dos governos Italiano, Húngaro e Brasileiro.

Segundo Demori, na Italia, assim como no Brasil há uma perseguição contra a educação, e o que eles chamam de doutrinação marxista. Ainda segundo Demori:

Salvini, Bolsonaro e Orbán são políticos da nova onda de populismo de extrema direita. Não é coincidência que seus inimigos sejam os mesmos: professores (e jornalistas, “o comunismo”, George Soros etc). Todos estão seguindo um manual extremamente previsível de anti-iluminismo.

O texto de Demori não é muito longo, mas apresenta pistas que precisam ser investigadas.

Também não há dúvidas da influência pela manipulação das mídias sociais, através de fake news impulsionadas por bots e perfis fakes, com a precisão cirúrgica do microtargeting, tendo como principal mentor Steve Bannon, que esteve envolvido na campanha de Donald Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil. e há forte evidências de seu envolvimento no Brexit.

Não podemos deixar de considerar a exclusão recorde de 2,2 bilhões de contas falsas pelo Facebook no primeiro trimestre de 2019, coincidindo com o período pré-eleitoral na Europa.

Para colocar mais um elemento nesta questão, o economists Eduardo Moreira denuncia em um vídeo no Youtube, que o governo brasileiro está querendo sumir com as informações oficiais.

https://www.youtube.com/watch?v=gbzBaZQi5Mg

No vídeo o Eduardo demonstra que os links que pesquisava sumiram do Google, antes os resultados eram os primeiros, depois sumiram. O fato me chamou a atenção para um detalhe.

O que pode esta havendo com relação ao Google e estas informações que estão sumindo, pode ter relação com o decreto 9756/19, que “centraliza” os endereços de internet de diversos órgãos do governo (URLS). Isto somado a mudança do nome de alguns ministérios impacta sensivelmente em muitas URLs do governo, mudando-as completamente. Pelo decreto, projetos, secretarias, e outros que possuíam seus próprios endereços de Internet, passam a ser meras pastas sob o endereço do ministério. É importante destacar que para desaparecer com informações na Internet, basta eliminar os links, e no caso do Google isto é feito internamente quando há alguma denuncia ou ordem judicial, ou pela perda de relevância do conteúdo linkado.

O decreto muda significativamente diversas URLs e URIs do governo federal, derrubando sua visibilidade em ferramentas como o Google. Ao mudar as milhares de URLs e URIs, elas perdem “relevância” no Google, pois os webcrawlers que constroem e mantém a sua base de dados, irão encontrar uma enorme quantidade de links quebrados, que levam à página não encontrada ou conduzem a um excesso de redirecionamento, como no exemplo do fazenda.gov.br que agora é economia.gov.br.

O índice de visibilidade do Google, se assemelha ao ranking de artigos acadêmicos, ou seja, quanto mais citações melhor a avaliação. Como os endereços das citações quebraram, o ranking das informações procuradas cai.

O decreto, com validade a partir de sua publicação em 11 de Abril de 2019, em edição extra do Diário Oficial, parece atender ao timming perfeito, dificultando o acesso a informações importantes relacionadas aos temas relevantes como a Reforma da Previdência e Reforma Tributária. Além de inúmeros temas secundários. Os endereços do governo brasileiro na Internet vão levar algum tempo, que pode se estender por alguns meses, para recuperar sua relevância e visibilidade na Internet.

Coincidências ou não, o que parecia ser um decreto inútil e sem sentido, esta servindo como uma gigantesca cortina de fumaça para esconder informações relevantes do governo.

Se há ou não um cérebro invisível por trás desta emergência extremista, é importante identificá-lo o quanto antes, sabe-se lá o que está por trás desta onda de anti-iluminismo descrita por Demori, espero que não seja uma nova idade das trevas…

Como seria uma ditadura no Brasil de hoje?

O General Villas Boas gerou um grande desconforto, ao dizer  em uma entrevista, que a “legitimidade do novo governo pode até ser questionada”, despertando a preocupação com uma possível nova ditadura. Na sequência, o General Mourão diz que uma constituição não precisa ser feita por eleitos do povo.  A despeito dos questionamentos políticos, legais e constitucionais relacionados à estas declarações, temos uma preocupação adicional: Como seria a vigilância em uma ditadura no Brasil de hoje?

Uma ditadura no Brasil de hoje provavelmente seria menos violenta, porém, através do uso massivo de inteligência, seria implacável, sutil e invisível, detectando rapidamente qualquer movimento ou padrão que signifique ameaça, muito antes de se tornar uma. Em termos de matriz de força será extremamente desproporcional, com todo poder ao vigilante e quase nenhum ao vigiado, um verdadeiro pesadelo para qualquer cidadão e qualquer democracia.

A intensidade e profundidade desta vigilância será limitada pela permeabilidade obtida pelo governo ditatorial junto às empresas de aplicações de Internet, operadores de rede, comunicação e segurança. Uma simples mudança de protocolo, ou instalação compulsória de dispositivos, burlariam qualquer restrição técnica ou legal deste acesso, por parte do governo.

Em termos práticos, seremos vigiados 24 horas por dia, sete dias por semana, inclusive à noite, enquanto dormimos. A intensidade e profundidade desta vigilância será limitada pela permeabilidade obtida pelo governo ditatorial junto às empresas de aplicações de Internet, operadores de rede, comunicação e segurança. Uma simples mudança de protocolo, ou instalação compulsória de dispositivos, burlariam qualquer restrição técnica ou legal deste acesso, por parte do governo.

No contexto atual, a mobilidade e o crescente desenvolvimento tecnológico, são os motores do sofisticado sistema de vigilância. Algumas das novas armas da ditadura serão a Análise de Redes Sociais (ARS), Homofilia, Psicometria, inteligência artificial, machine learning, muita mineração de dados, e construção de padrões por deep learning.  Em linhas gerais todo e qualquer cidadão brasileiro estaria suscetível a esta nova vigilância, dificilmente alguém estaria fora de seu alcance.

É um padrão de vigilância que você provavelmente nunca imaginou, nem nos seus piores pesadelos. Imagine que o governo saberá que você está lendo este texto agora, a partir de qual dispositivo, qual a sua localização, se existem outras pessoas próximas a você, quem são, e se estão acessando algum serviço on-line, ou mesmo assistindo TV.

Além disto, o governo, por conhecer seu perfil psicométrico, suas particularidades, princípios, valores, e sua rede de relacionamento, saberá valorar o texto que esta lendo, e como você o processará cognitivamente. O governo também saberá quais pessoas de sua rede de relacionamento leram o texto, e qual valor deram a ele, e quais interações se deram em torno dele.

Por falar em rede de relacionamento, estas poderão ser mapeadas, mesmo que nunca tenham sido configuradas explicitamente, mesmo que você nunca tenha adicionado determinadas pessoas em sua rede social, na sua agenda de telefones, e somente as tenha contatado pessoalmente, é possível pelas tecnologias atuais inseri-las em suas redes, simplesmente por estarem próximas a você, seguindo um padrão posicional.

Em linhas gerais, você não fará nada sem que o governo saiba, ele pode não estar focado em você, mas os seus dados estarão sendo coletados, tratados, comparados, transmitidos e armazenados.

O governo saberá o que você vê, lê, ouve, compra, com que frequência, e com quem se relaciona, por onde anda, onde trabalha, mora, estuda, se diverte, se tem carro, ou como se desloca no meio urbano, ou seja, saberá toda sua rotina. O governo também saberá sobre seu relacionamento, estado civil, orientação sexual, se tem um ou mais parceiros, DST, problemas e dificuldades de relacionamento. Também terá acesso a seus dados fisiológicos e de atividades físicas, se você utiliza smartwatch ou faz algum registro online destas atividades. Em linhas gerais, você não fará nada sem que o governo saiba, ele pode não estar focado em você, mas os seus dados estarão sendo coletados, tratados, comparados, transmitidos e armazenados.

Este padrão de vigilância trabalha sobre o big data, e não sobre o indivíduo, e o foco da vigilância se dará sobre os padrões, ou seja, se você adotar algum padrão comportamental suspeito, se algum local que você tenha estado, ou se alguém de algumas de suas redes de relacionamento estiver no foco da vigilância, todos da rede e/ou todos que estiveram no local também serão alvo de vigilância.

O governo lhe conhecerá melhor do que você mesmo, construirá padrões de previsibilidade, saberá quando um determinado padrão significa uma ameaça, de que tipo e intensidade, e agirá para impedir um ilícito que poderia ser cometido, lembrando que ilícito em uma ditadura é um conceito muito ambíguo.

Você também poderá ser preso, por exemplo, por curtir publicações sobre “patinho amarelo” ou sobre o cultivo de bromélias. Isto, simplesmente, porque eventualmente um padrão identificou que pessoas que seguem as publicações do “patinho amarelo” tem 46% de chances de serem “subversivas”, e se também curtem publicações sobre o cultivo de bromélias esta probabilidade aumenta para 86%.

Você poderá ser preso simplesmente por ter estado em determinado local, e próximo à uma das pessoas envolvidas, por algumas vezes. Você também poderá ser preso, por exemplo, por curtir publicações sobre “patinho amarelo” ou sobre o cultivo de bromélias. Isto, simplesmente, porque eventualmente um padrão identificou que pessoas que seguem as publicações do “patinho amarelo” tem 46% de chances de serem “subversivas”, e se também curtem publicações sobre o cultivo de bromélias esta probabilidade aumenta para 86%. Estes padrões não são tão simples assim, mas atendem à uma lógica, que humanamente não parece fazer sentido, são padrões criados por homofilia, que significa comparar pessoas e seus hábitos, estabelecendo uma lógica relacional, e são construidos através de sofisticados processos de machine learning e  deep learning, a partir de uma quantidade gigantesca de comparações.

As possibilidades vão além da vigilância, a tecnologia atual permite um sofisticado controle social, pois como praticamente toda interação com mediação tecnológica se dá através de sofisticados algoritmos, torna-se possível controlar a informação que chegará ao indivíduo, a visibilidade de seus grupos e amigos, ocultando ou exibindo estas informações de acordo com as intenções da ditadura.

As possibilidades vão além da vigilância, a tecnologia atual permite um sofisticado controle social, pois como praticamente toda interação com mediação tecnológica se dá através de sofisticados algoritmos, torna-se possível controlar a informação que chegará ao indivíduo, a visibilidade de seus grupos e amigos, ocultando ou exibindo estas informações de acordo com as intenções da ditadura. Esta prática distorcerá seu entendimento de senso comum, você poderá ter amigos extremamente ativos “subversivamente” e nem se dará conta disto, pois os algoritmos lhe apresentarão conteúdo e pessoas que estão de acordo com os interesses do governo.

Este controle social pode ir além das redes sociais e das ferramentas de busca, estamos cedendo nossa autonomia para os aplicativos, hoje o usamos até para saber a melhor rota para um caminho usual, ou qual o melhor restaurante perto, ou qual o par perfeito para você, além de outras atividades banais do dia-a-dia.

É importante lembrar que o governo também conhecerá em detalhes todas as suas fraquezas e vulnerabilidades, e as explorará em benefício próprio.

É importante lembrar que o governo também conhecerá em detalhes todas as suas fraquezas e vulnerabilidades, e as explorará em benefício próprio. Alias não só as suas, mas também as fraquezas e vulnerabilidades dos grupos que pertence, e as exploraria da mesma forma, inclusive produzindo harmonia e discórdias quando necessário através da interação com os algoritmos.

Este poder existe, mas está contido e distribuído. A pesquisadora Cathy O’Neil chama de cardeais dos algoritmos, aqueles que detém o controle dos complexos algoritmos e gigantescas bases de dados de indivíduos, ou seja, a “biomassa humana” nas palavras de Maria Wróblewska. Como dito, este poder esta contido e distribuído, o Facebook e o Google por exemplo detém o controle sobre suas “biomassas humanas”, mas utilizam recursos como trackers, pixels e parcerias para romper, mesmo que parcialmente estas barreiras. Desta forma por exemplo, você recebe publicidade de um item recém pesquisado na Internet em seu Facebook. Se o governo ganhar o acesso amplo a todas estas redes, tornando-se um “mega cardeal do algoritmo”, se tornará praticamente um deus, com amplos poderes sobre os indivíduos, e como dito anteriormente, este poder pode ser tomado, facilmente em um regime de exceção.

Todo este controle, permitirá à ditadura perpetuar-se por anos, décadas, sem que nada venha ameaça-la, a não ser que as forças “subversivas” consigam desvencilhar-se deste complexo organismo de vigilância.  Apesar de assustador, este cenário é extremamente real e possível, com os recursos tecnológicos atuais.

A vigilância do século XXI

Para que você consiga compreender o cenário, é necessário mudar completamente o seu conceito de vigilância, que é o que tentarei nos próximos parágrafos.

Quando se fala em vigilância, logo vem a mente a imagem de uma câmera, com alguém observando atrás dos monitores. Sistemas de vigilância são naturalmente vistos desta forma, com centrais cheias de telas, e pessoas de olho nestas telas. É um modelo obsoleto, ineficiente, e está fadado a desaparecer em poucos anos, sendo substituído por uma “vigilância cega”.

O modelo de vigilância do Panóptico de Benthan, descrito por Foucault em “Vigiar e Punir“,  é similar ao modelo de vigilância da obra distópica 1984 de George Orwell, representada pela “teletela”, um dispositivo que ao mesmo tempo em que funcionava como uma TV com programação exclusiva do “partido”, servia de olhos e ouvidos para o “Grande Irmão”. O modelo panóptico baseia no par ver ser visto, a partir de um ponto de observação central, tendo o vigilante ampla visão do vigiado, e este nenhuma visão do vigilante, presumindo estar sendo vigiado. O Panóptico descrito por Foucault, por esta premissa, torna-se mais um instrumento de controle, do que propriamente vigilância. Um controle leve, eficiente, sem grades, invisível, e pela pressuposição de estar sendo vigiado.

O panóptico, que representa o modelo de vigilância vigente até o século XX, tornou-se obsoleto no século XXI. Zigmunt Bauman em “Vigilância Líquida” apresenta o conceito do “panóptico pessoal”, em que o indivíduo torna-se vigilante de si e de seus pares, e cada um carrega seu próprio Panóptico, materializado por Bauman como seus smartphones e dispositivos conectados. O que Bauman descreve, dialoga com o que Fernanda Bruno, em “Máquinas de ver, Modo de Ser. Vigilância Tecnologia e Subjetividade“, descreve como “Vigilância Distribuída”, que tira a centralidade da vigilância, principal característica do panóptico. A Vigilância Distribuída se dá a partir de vários dispositivos conectados, e não somente por um, configurando o que classifico como meta dispositivo de vigilância, que são dispositivos interconectados, como por exemplo, um smartphone conectado a um smartwatch.

O advento do big data substituiu o modelo panóptico pelo panspectro. O panspectro é uma expressão cunhada por Manuel DeLanda em 1991, no livro “Guerra na era das máquinas inteligentes”, e posteriormente usado por Sandra Braman no livro “Change of State – Information, Policy, and Power“. O foco do panspectro não é o indivíduo em particular, ele esta focado nos dados, em todos os dados, e sua ação focal se dá em resposta à padrões, como já foi descrito anteriormente. A mineração dos dados, o uso de machine learning e deep learning, configuram a vigilância cega, uma vigilância com foco em padrões onde sua visibilidade se torna necessária apenas como resposta à padrões desviantes ou ressonantes, estes dados são coletados através dos dispositivos e meta dispositivos de vigilância.

Dispositivos e meta dispositivos, pela perspectiva da Vigilância Distribuída, configuram um complexo Organismo de Vigilância, onde cada um representa um dos bilhões de nós deste organismo.  É como se estivéssemos literalmente imersos em um mega dispositivos de vigilância com alta capilaridade e invisível. São smartphones, tablets, computadores, smartwatch, wearables, câmeras de vigilância, drones, RFID, redes abertas, redes de telefonia móvel,  e qualquer outro dispositivo tecnológico conectado, doravante conhecido por “dispositivo”.

Para você ter uma ideia do potencial de vigilância dos dispositivos, os smartphones mais populares, como o iPhone e o Galaxy S possuem sensores como GPS, beacon (que são sensores que identificam a proximidade de outros dispositivos), altímetro barométrico, acelerômetro, giroscópio, sensor de proximidade e de luz ambiente, assistente inteligente, microfone, alto falante, câmera frontal e traseira, e alguma forma de identificação biométrica. Além de possuírem conectividade por Wi-fi, Bluetooth, 3G e 4G. Estes dispositivos estão na maioria das vezes coletando dados, de forma involuntária, e muito caros ao indivíduo e sua privacidade.

Temos hoje um organismo de vigilância com mais de 12,3 bilhões de dispositivos, ou seja, 1,6 dispositivos por habitante do planeta.

Em termos de grandeza concreta, segundo o Internet World Stats, em Dezembro de 2017, 4,1 bilhões de pessoas tinham acesso a Internet, considerando que o relatório da Cisco projeta que em 2020, existirão em média 3,4 dispositivos conectados à Internet por usuário, e considerando a média de 3 dispositivos, temos hoje um organismo de vigilância com mais de 12,3 bilhões de dispositivos, ou seja, 1,6 dispositivos por habitante do planeta, considerando a população atual em 7,7 bilhões, sem contar os demais dispositivos de vigilância como câmeras, drones, e outros, e sem esquecer que cada dispositivo pode ter vários sensores.

Dificilmente damos conta que carregamos conosco um dispositivo de vigilância tão poderoso, a ponto de muitos ativistas chama-los de “dispositivo de vigilância que permite fazer ligações telefônicas”.  Eles nos rastreiam mesmo quando não estamos conectados à Internet, como demonstra esta matéria da Fox News.

Mas não são somente estes os dispositivos e tecnologias que podem acabar literalmente com a nossa privacidade, em caso da instalação de uma ditadura no país. Nossos hábitos na internet também produzem dados sobre nós, além das relações mediadas por algoritmos, são cookies, trackers, remarketing que capturam dados sobre nós.

O Facebook, por exemplo, faz uso de trackers para saber o que você faz na Internet, quando não esta nele, mas também usa dados do WhatsApp e Instagram, por serem empresas do mesmo grupo. Na verdade o Facebook e o Google são a mais clara representação do que Shoshana Zuboff chama de capitalismo de vigilância. Este complexo mecanismo de captura, coleta, tratamento, analise e armazenamento de dados chamado Facebook, foi explorado em profundidade pelo ShareLab, e descrito em forma de monólogo pela Panoptykon Foundation, no vídeo a seguir.

https://youtu.be/WJ7s5heakqE

Como pode perceber, não podemos pensar em um modelo de vigilância e controle no século XXI, com a mente do século XX, o formato e conceito de vigilância mudaram. Do Panóptico de Foucault, onde primava o par ver ser visto, ao Panspectro de Braman, onde prima a coleta indiscriminada de dados, e a vigilância se manifesta em respostas a padrões. Os dados que produzimos podem dizer muito mais sobre nós do que a simples vigilância. O modelo atual, representado na figura abaixo, tem as características visuais do Panóptico, mas apenas como elemento complementar ao vasto potencial de vigilância do Panspectro.

Vamos tomar por exemplo um caso real, o Norte Shopping, no Rio de Janeiro. Este shopping instalou um moderno sistema de câmeras de segurança que faz o reconhecimento facial de todos que transitam em seu interior, o que possibilitou inclusive a prisão de dois criminosos procurados. O sistema, segundo a empresa que o fornece, como descrito na matéria, faz o reconhecimento facial do indivíduo e o compara com um banco de dados.

Imagine então que você entre neste shopping, o sistema irá fazer uma leitura da sua face, sem que você perceba, em seguida consultará uma base de dados, e se não encontrar registro, irá criar um novo com o modelo matemático de sua face, dando o identificador hipotético “IND18A7F8E7”. O sistema então passa a registrar seu deslocamento dentro do shopping, por onde andou, em que lojas parou para ver a vitrine, em quais entrou, quanto tempo demorou, etc.  Tudo isto é feito sem nenhuma interação humana, mas tudo fica registrado, eu suponho.

Neste momento você pega seu smartphone e resolve conectar à rede wifi do shopping, que em geral pede dados cadastrais como nome, cpf, e número de telefone para conceder o acesso. Supondo que os sistemas sejam interligados, a partir deste ponto, utilizando a triangulação dos pontos de acesso wifi, sua posição pode ser determinada, e comparada com a posição do registro da câmera de vigilância, associando seus dados ao usuário IND18A7F8E7. Novamente lembramos que tudo é feito sem nenhuma interação humana.

Agora imagine, em uma ditadura, que sistemas como estes sejam interligados, e os dados sejam acessados pelo governo. Mesmo que você não esteja carregando nenhum dispositivo, sua identificação será possível por sistemas deste tipo.

Alias não precisamos ir muito longe, ainda no Rio de Janeiro, a CodingRights fez um estudo sobre o bilhete único carioca, e chegou a conclusão que os dados dos usuários, inclusive os biométricos de reconhecimento facial, são compartilhados com a polícia e a secretaria municipal de transportes. Imagine então que nem no ônibus é possível viajar incógnito.  Junte a estes sistemas de reconhecimento de placas de automóveis, que possuem câmeras espalhadas pela cidade, a nova placa com chip e QR Code, e seu carro poderá ser rastreado, os limites da vigilância não terminam ai.

Estamos há anos trocando nossa liberdade, nossa privacidade e autonomia pelo conforto da tecnologia, e pela segurança que esta proporciona, o preço desta prática só será percebido quando em uma ditadura nos tornarmos prisioneiros dela.


Veja mais sobre o tema no site de meu projeto de pesquisa, e minha página do projeto no ReserachGate.


Bibliografia

BAUMAN, Z. Vigilância Líquida. In: MEDEIROS, C. A. (trad.). [s.l.]: Zahar, 2014. 160 p. ISBN: 978-8537811566.

BRAMAN, S. Change of State – Information, Policy, and Power. Nature Publishing Group. London, England: The MIT Press, 2006. 570 p. ISBN: 9780262025973.

BRUNO, F. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade. 1 ed. Porto Alegre: Sulina, 2013. ISBN: 9788520506820.

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir o nascimento da prisão. 29 ed. São Paulo: Editora Vozes, 2004. 266 p. ISBN: 8532605087.

O’NEIL, C. Weapons of Math Destruction, How big data increases inequality and threatens democracy. New York: Crown Publishing Group, 2016. 307 p. ISBN: 9780553418828.

ORWELL, G. 1984. In: JAHN, H. ‎; HUBNER, A. (trads.). [s.l.]: Companhia das Letras, 2009. 416 p. ISBN: 978-8535914849.

WRÓBLEWSKA, M. Monologue of the Algorithm: how Facebook turns users data into its profit. Panoptykon Foundation. 2018. Disponível em: <https://en.panoptykon.org/articles/monologue-algorithm-how-facebook-turns-users-data-its-profit-video-explained>. Acesso em: 24/ago./18.

ZUBOFF, S. Big other: Surveillance capitalism and the prospects of an information civilization. Journal of Information Technology, [s.l.], v. 30, no 1, p. 75–89, 2015. ISBN: 02683962, ISSN: 14664437, DOI: 10.1057/jit.2015.5.

O homem sem fé

Não sei como as pessoas sobrevivem sem fé?

Não estamos falando de fé religiosa, estamos falando da fé em si, daquele sentimento interno que nos faz manter alguma esperança, daquele fio de teimosia que nos faz crer que apesar de toda adversidade, alguma coisa vai dar certo.

Estamos falando daquele sentimento que nos faz emergir olhando para a frente para vislumbrar uma pequena luz bem distante.

Estamos falando daquele sentimento que nos faz crer que hoje será melhor que ontem, que este mês melhor que o mês passado, que este ano será melhor.

A fé que nutrimos repleta de simpatias no Reveillon frente a um ano novinho em folha que desperta. A fé que nos faz pensar em yin-yang, a filosofia taoista da dualidade, onde os opostos andam juntos e nos faz perceber que sempre o bom é o outro lado do ruim, e que basta olhar por outro ângulo para vermos o bom, se não o vemos, ao menos podemos acreditar que ele está ali.

A fé… a fé que move montanhas pelo simples fato de que acreditamos que isto seja possível.
A fé que cura, a fé que nos acalenta, a fé que nos mantém vivos.

Ter fé não significa religiosidade, ter fé significa acreditarmos em nós, ter fé significa amor.

Amor por si, pelos seus, pelo próximo, pelo mundo. Amor pelo próximo significa praticar o altruísmo e a empatia. O exercício de dar ao próximo a fé que ele busca, pelo simples fato de saber que alguém o compreende, que alguém de alguma maneira se preocupa com ele.

A fé acalenta, a fé acalma, mas a fé pode falhar pelo simples fato do homem deixar de acreditar em um futuro possível. Quando todas as luzes distantes parecem ter se apagado, e o amor vai dissipando, e com ele a sua capacidade de ser um homem de fé. O homem sem fé é amargo, o homem sem fé é um homem aprisionado em si mesmo, preso em uma cela que não o permite ver a luz distante por mais intensa que esta seja.

Alguns chamam isto de depressão, mas na verdade é falta de fé.
Dê fé a quem precisa, exercite seu altruísmo e sua empatia, é dando que se multiplica.

Não deixe o mundo perder a fé.

João Carlos Caribé
Janeiro de 2018

Como se produz uma fake news…

Fake News Head

Vamos citar um caso “hipotético”, bem hipotético, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, muita coincidência…

Imagine que uma determinada desembargadora tenha recebido de uma amiga pelo WhatsApp, uma informação falsa, ou até mesmo um comentário, sobre uma vereadora assassinada. O texto dialoga com os valores da desembargadora, inclusive por causa do viés de confirmação, a desembargadora relutaria a acreditar em uma outra versão da Informação. Com base na informação recebida, a desembargadora faz uma declaração no Facebook, e aproveita para acrescentar mais alguns detalhes, deixando-a mais convincente pela sua perspectiva.

Este texto falso é sobre o assassinato de uma vereadora que investigava os abusos da policia em uma comunidade, tudo hipotético é claro.

Um jornal e uma revista de grande circulação, repercutem a declaração da desembargadora com um título clickbait, ou seja, um titulo sensacionalista que chama a atenção para a leitura do artigo. Na verdade, é um titulo que dialoga com o viés da confirmação de muitos, que irão compartilhar o link sem ao menos ler a matéria.

E na matéria, no final, a desembargadora declara à repórter que não conhecia a vereadora antes do assassinato. Como assim, se ela não sabia nada da vereadora, como pôde dizer no Facebook que a vereadora era associada ao narcotráfico????

Ou seja, a desembargadora criou e disseminou uma fake news, que foi repercutida pela grande mídia, e posteriormente reverberada pela Internet.

Agora tomemos esta história pela luz da narrativa que esta sendo construida pela mídia e pelas instituições governamentais sobre as fake news, ou seja:

A fake news como objeto central da narrativa, tendo como seus produtores e disseminadores os “militantes” e os “oportunistas” e como consequência uma séria ameaça à democracia. (Extraido de estudo recente que fiz sobre a narrativa do combate às fake news)

Diagrama Fake News

Do estudo que fiz sobre a narrativa do combate às fake news, elaborado após a leitura de oitenta noticias em torno da narrativa do combate às fake news publicadas na internet, no período de 1º de Outubro de 2016 à 22 de Janeiro de 2018, extraio o seguinte trecho:

Para o Senador João Alberto Souza (PMDB-MA) elas são uma grande ameaça à democracia(1). Segundo ele, o indivíduo que espalha notícia falsa comete crime de difamação, a punição deve ser agravada porque o prejuízo passa a ser de toda a sociedade. Para o Ministro do TSE Tarcisio Vieira, as fake news criam “consensos artificiais” e “prestam um enorme desserviço à democracia”(2) e o Estado deve atuar para proteger o eleitor. Para combater esta séria ameaça o Ministro Fux, que assumirá o TSE em Fevereiro de 2018, acredita ser necessário até bloqueio de bens e detenção de quem produzir e disseminar fake news(3). Já para a Polícia Federal, nas palavras do delegado Eugênio Ricas, poderá ser necessário usar a Lei de Segurança Nacional, editada em 1983, no último governo do regime militar, para coibir as chamadas fake news nas eleições deste ano caso não seja criada uma nova lei para combate-las(4). Em nota no Jornal O Estado de São Paulo em 19 de Janeiro de 2018, o diretor geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, afirmou ter acertado com o FBI a participação de um grupo de especialistas em fake news e dark web para elaborar um diagnóstico da utilização de informações falsas no Brasil.

O atual presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, criou um conselho especialmente para tratar da questão das fake news e reúne dez representantes de diferentes orgãos, incluindo o Centro de Defesa Cibernética do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro, e a ABIN.

A revista Veja publicou em 12 de Janeiro uma edição com destaque sobre o tema, e em um dos artigos com acesso público intitulado “A ameaça das Fake News”(5) apresenta um recorte dizendo que: “83% dos Brasileiros se preocupam com a enxurrada de noticias falsas que circulam na Internet”, e identifica dois tipos de “propagadores de fake news à solta”: “militantes empenhados em atacar a reputação dos adversários políticos de seus candidatos e empresas ou indivíduos que fabricam notícias falsas com o intuito de ganhar dinheiro por meio dos anúncios — sobretudo vindos do Google AdSense, braço de publicidade do Google”.

Sob esta perspectiva – que é extremamente equivocada – como você acha que se dará o desenrolar desta história?


Publicado originalmente no Medium

O poder político e ideológico do filtro bolha

Foto de Colin Adamson

O poder político e ideológico do filtro bolha

O estudo da linha do tempo do Facebook

O texto a seguir é parte do meu pré projeto para mestrado, que torno público como contribuição ao debate atual em torno da conjuntura que o Brasil vive neste início de março de 2016.

Introdução

Em Maio de 2015 pesquisadores do Facebook publicaram um estudo intitulado “Exposure to ideologically diverse news and opinion on Facebook” (BAKSHY et al., 2015). O estudo focava em duas criticas mais comuns em torno do algoritmo do Facebook: Com cada vez mais indivíduos buscando informações cívicas nas redes sociais, o algoritmo poderia criar “câmeras de eco”, onde as pessoas são mais expostas a informações compartilhadas por seus pares ideológicos. A outra questão focava como o algoritmo classificava e buscava as informações exibidas na linha do tempo da rede social. Segundo Pariser (2012) o algoritmo criava um “filtro bolha”, onde somente conteúdo ideologicamente atraente era trazido à tona, isolando o usuário da diversidade.

O resultado apresentado mostra que os usuários estão expostos a uma quantidade substancial de conteúdo a partir de amigos com pontos de vista opostos, e que o mix de conteúdo encontrado na rede social é produto de uma escolha pessoal, e que apenas entre em 5 a 10% do que não se alinha à visão política do usuário é omitido.

Por conta desta conclusão, o estudo ganhou pelos críticos, ativistas e acadêmicos, o apelido de “Facebook’s it’s not our fault study”. Destes, Zeynep Tufecki (2015), socióloga ligada ao Berkman Center, de Harvard aponta algumas inconsistências. Em primeiro lugar foram tomados dados de um pequeno grupo de usuários, aqueles que se auto-identificam politicamente. Presume-se que esses que se auto-identificam são mais propensos a criarem uma bolha informativa em torno de si, uma vez que já estão politicamente definidos. A outra questão é que há uma brutal variação entre a probabilidade de uma informação ser visualizada quando disposta no topo da página ou mais embaixo. Ou seja, o Facebook não precisa omitir determinado link ou informação, basta dispô-lo no fim da linha do tempo, reduzindo substancialmente a possibilidade de ser visto. Por exemplo, um link tem 20% de possibilidade de ser clicado estando no topo da página. Esse número cai para menos de 10% se estiver na décima posição e vai a quase 5% se, além de estar em décimo, não for ideologicamente alinhado a esse usuário. A supressão automática de posições políticas diversas à nossa, somada às regras utilizadas para o ordenamento das publicações são dois elementos que se complementam e não podem ser analisados em separado.

Para Pariser (2015), o estudo erra em pressupor que a escolha do usuário faz mais sentido do que responsabilizar o algoritmo do Facebook. Para ele existem duas preocupações em relação ao filtro bolha: que os algoritmos ajudem os usuários a se cercarem de informações que dão suporte às suas crenças, e que os algoritmos classifiquem como menos importante o tipo de informação que é mais necessária em uma democracia – notícias e informações sobre a a maioria dos temas sociais importantes (“hard-news”). Enquanto o estudo foca no primeiro problema, ele deixa rastros para o segundo, uma vez que apenas 7% dos usuários clica no que o estudo chama de “hard-news”, noticias de carater cívico, enquanto a maioria clica em “soft-news”, que são amenidades.

Existem algumas ressalvas apontados por Pariser no estudo, O mecanismo de marcação ideológica não significa o que parece que ele significa. Como os autores do estudo mencionam, e para muitos passa despercebido, é que isto não é uma medida de polarização partidária com a publicação. É uma medida de quais artigos tendem a ser mais compartilhados por um grupo ideológico do que o outro, existem hard-news que não são partidários. É difícil calcular a média de algo que está em constante mudança e diferente para todos. É um período de tempo muito longo para uma rede social que está constantemente se reinventando, muitas coisas aconteceram no período de tempo da pesquisa (07 de Julho de 2014, a 07 de Janeiro de 2015). A amostragem do estudo representa apenas 9% dos usuários do Facebook que declaram seu posicionamento político. É realmente difícil separar “escolha individual” e o funcionamento do algoritmo. O algoritmo responde ao comportamento do usuário em lotes diferentes, há um ciclo de feedback que pode diferir drasticamente para diferentes tipos de pessoas.

Tanto o estudo apresentado pelo Facebook, quanto suas críticas, e aqui citamos apenas duas, são conseqüência de diversos estudos e criticas anteriores, das quais destacamos duas bem controversas que motivaram a proposta deste projeto de pesquisa.

Para Zittrain (2014) O Facebook pode decidir uma eleição sem que ninguém perceba isto. Em seu texto ele demonstra que a simples priorização de um candidato na linha do tempo é suficiente para isto, principalmente frente aos usuários indecisos. Para sustentar sua tese, Zittrain cita um estudo desenvolvido em 2 de Novembro de 2010, onde uma publicação que auxiliava encontrar a zona de votação nos Estados Unidos apresentava a opção do usuário clicar um botão e informar a seis amigos que já havia votado. Isto produziu um aumento no número de votantes na região do experimento.

A controvérsia em relação ao filtro bolha ganhou uma dimensão significativa, e passou a chamar a atenção não só de pesquisadores, mas principalmente de ativistas, advogados e políticos, quando um estudo desenvolvido por pesquisadores ligados ao Facebook concluiu que era possível alterar o humor dos usuários por contágio emocional pela rede social. O experimento consistia em transferir emoções por contágio sem o conhecimento dos envolvidos, Kramer et al. (2014, p. 8788 tradução nossa) e foi bem sucedido:

Em um experimento com pessoas que usam o Facebook, testamos se o contágio emocional ocorre fora da interação presencial entre os indivíduos, reduzindo a quantidade de conteúdo emocional na linha do tempo. Quando foram reduzidos expressões positivas, as pessoas produziram menos publicações positivas e mais publicações negativas; quando foram reduzidos expressões negativas, o padrão oposto ocorreu.

Objetivos

Este projeto de pesquisa tem por objetivo compreender a forma como o filtro bolha afeta o fluxo e a classificação de informações e consequentemente, como afeta o posicionamento político e ideológico do usuário do Facebook no Brasil.

Com base nos estudos de Zittrain (2014) e Kramer et al (2014) torna-se possível começar a desenhar este recorte. A influência política proposta transcende a mera questão eleitoral apontada por Zittrain, estamos falando do posicionamento do indivíduo frente às questões políticas e ideológicas. O estudo do contágio emocional pelas redes sociais, não deixa dúvida da existência de mecanismos passíveis de influenciar as emoções dos usuários através da manipulação do fluxo de informação, da mesma forma que é perfeitamente plausível trabalhar com as questões que envolvam seus princípios e valores.

Para atingir este objetivo é necessário identificar e compreender os principais algoritmos, ou parte destes, utilizados pelo Facebook na classificação das informações apresentadas ao usuário. Uma vez identificados estes processos, torna-se imperativo complementar com o suporte teórico para identificar de que forma os processos possam interferir no posicionamento ideológico e político deste usuário.

Justificativa

Os algoritmos dos filtro bolha, são desenvolvidos para proporcionar uma melhor experiência para o usuário, oferecendo a ele opções de conteúdo cada vez mais adequados à suas expectativas. Para atingir este objetivo eles “aprendem” através de diversos indicadores como “likes”, comentários, compartilhamentos e o tempo gasto em cada publicação no Facebook, e comparam seu perfil com outros usuários que de uma forma ou de outra, o algoritmo identifica como semelhante a você. Obviamente existem outros métodos e indicadores que aprimoram o resultado apresentado ao usuário. É importante considerar que estes algoritmos estão constantemente reavaliando suas preferências, de tal forma que se tornam recursivos, a ponto de criarem o que Pariser (2012) chama de “Síndrome do Mundo Bom”. A Síndrome do Mundo Bom é uma “purificação” dos interesses do usuário dada a forma como ele se relaciona na linha do tempo, e que o afasta de publicações que não são compatíveis com seus interesses.

Ao conectar estas questões informacionais com o conhecimento de autores de outros campos de estudo como sociologia, psicologia e filosofia, encontramos e identificamos os mecanismos pelos quais o poder político e ideológico do filtro bolha é exercido. Como exemplo, John Rendon (RAMPTON; STAUBER, 2003) se define como um “guerreiro da informação e um administrador de percepções”, para ele a chave para modificar a opinião pública está em encontrar diferentes formas de dizer a mesma coisa. Este padrão pode ser perfeitamente encontrado na Síndrome do Mundo Bom.

Partindo do principio que a grande maioria dos usuários da Internet desconhece a existência do filtro bolha, é de extrema importância produzir um estudo que possa orientar tanto os especialistas como o cidadão comum, tanto a cerca da existência de tal filtro, como seu impacto em diferentes partes de sua subjetividade.