Na construção de políticas públicas de Internet, seja nos fóruns de governança, parlamentos ou em outro espaço de construção, muito tempo e energia são investidos em torno da definição da natureza da Internet, sem que seus interlocutores em geral tomem ciência disto. Cada stakeholder defende que a natureza da rede seja a que melhor serve à seus interesses. Para uns a Internet é uma rede de negócios, para outros uma rede de telecomunicações, ou mídia para muitos, campo de batalha para outros, uma gigantesca rede de construção coletiva e cognitiva de conhecimento, uma rede de pessoas, uma rede de inclusão, uma rede de conhecimento, uma ferramenta ou até mesmo uma rede militar.
Na prática ao definir a sua visão da natureza da Internet, o interlocutor vislumbra uma “arena” na qual seus valores e pontos de vista tornam-se mais plausíveis, deixando-o mais confortável na construção de seus argumentos. Faz parte da estratégia política e diplomática a transmutação em torno da natureza do objeto, voluntária ou involuntariamente, tanto para reforçar argumentos quanto para construir a percepção de dissenso, ou pela simples complexidade do objeto em pauta. Você pode imaginar que a simples transmutação em torno do objeto, no caso a natureza da Internet, pode inviabilizar infindáveis horas investidas em construções de políticas de Internet. Quanto este objeto é a Internet, que é relativamente novo e ainda esta sendo apropriado, temos um objeto liquido em torno do qual circulam diversas definições de sua natureza, onde todas são válidas, mas mesmo juntas não conseguem chegar a definir sua natureza.
A natureza da Internet ainda é um “anekantavada“, expressão que refere-se aos princípios do pluralismo e da multiplicidade de pontos de vista, em que a verdade e a realidade são entendidos de forma diferente consoante a perspectiva, e que nenhum ponto de vista consegue abranger toda a verdade. O anekantavada pode ser explicado facilmente pela parábola dos cegos e o elefante, onde cada cego interpretava o animal conforme sua percepção da parte que tocava. Todos tinham suas interpretações em torno da natureza do animal, e que mesmo juntas não definiriam toda a verdade à cerca da natureza do elefante.
A natureza da Internet ainda é um “anekantavada”, expressão que refere-se aos princípios do pluralismo e da multiplicidade de pontos de vista, em que a verdade e a realidade são entendidos de forma diferente consoante a perspectiva, e que nenhum ponto de vista consegue abranger toda a verdade.
Na busca desta definição vale analisar como pensadores tratam a natureza humana. O antropologista Clifford Geertz diz que seres humanos são animais inacabados, ou seja, que é da natureza humana ter uma natureza humana a qual é praticamente o produto da sociedade em que vivemos. A nossa natureza humana é muito mais criada do que é descoberta. Nos moldamos a natureza humana moldando as instituições nas quais as pessoas vivem e trabalham.
Barry Schwartz no livro Why we work diz que a natureza humana sera alterada pelas teorias que temos, que são elaboradas para explicar e nos ajudar a entender os seres humanos.
Pela ótica de Geertz e Schwartz a natureza humana é produto da sociedade em que vivemos, ou seja, a natureza humana é dependente do seu entorno, ela muito mais criada em resposta ao contexto onde esta inserida do que descoberta. Por esta linha, é interessante identificar inicialmente o contexto onde a Internet está inserida, e isto nos remete às arenas que citei anteriormente. As arenas não são o contexto, a própria Internet é o contexto, estamos justamente buscando a natureza do contexto, as arenas são neste caso as diferentes aproximações à este contexto. Avaliar a natureza da Internet usando as mesmas ferramentas com que se avalia a natureza humana é um claro equivoco. Ainda no campo das aproximações podemos chegar ao conceito de ecossistema:
Ecossistema (grego oikos (οἶκος), casa + systema (σύστημα), sistema: sistema onde se vive) designa o conjunto formado por todas as comunidades bióticas que vivem e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que atuam sobre essas comunidades.
Leslie Daigle, uma das poucas pesquisadoras à estudar o tema, parece basear seu estudo “On the nature of the Internet” na busca do entendimento da natureza da Internet baseado no conceito de ecossistema, analisando três pontos:
Delinear a natureza técnica da Internet;
Articular as propriedades imutáveis do Internet (os “invariantes”);
Buscar o equilibrio entre estes dois elementos para examinar os desafios atuais enfrentados pela Internet..
O estudo da Leslie vale a pena ser cuidadosamente lido, estudado e comentando, e a conclusão dialoga muito bem com a provocação inicial deste artigo, como segue:
A Internet não é um acidente, e enquanto ele se desenvolveu através da evolução em resposta a mudanças de requisitos, o seu desenvolvimento não foi aleatória ou impensado. Existem propriedades essenciais da Internet que deve ser apoiadas para que ela continue sua sequência de sucesso continuado. Já não é possível compreender a natureza da Internet sem considerar o mundo em que ela existe – como tal, as considerações de tecnologia podem estar no centro de determinar o que funciona (ou não) para a Internet, mas um quadro não-técnico para discutir eventuais compensações é imperativo. Os invariantes podem servir como uma estrutura útil para discutir os impactos sem ter que se aprofundar nos detalhes intrincados da tecnologia que impulsiona a Internet. Com o quadro em mente, discussões de políticas podem se concentrar no que pode ser feito para resolver um problema e avaliar os impactos potenciais sobre a Internet.
A provocação inicial deste texto visava leva-lo à uma reflexão e desejo continuar esta busca ou atualização que no meu enteder vai além do que foi visto até então.
Desde que me entendo por gente vejo a tecnologia mudar o mundo à minha volta, os homens foram a lua, satélites e mais satélites, robôs nas fábricas, computadores, inteligência artificial, e muita ficção científica. Desde então a sociedade assistiu seu espaço ser invadido pela tecnologia. Tudo em nome do progresso que não poderia parar. Tivemos de assistir nossos postos de trabalho serem aniquilados, profissões dizimadas, e a tecnologia pouco a pouco ganhar o centro das atenções. Sindicatos, associações e outros representantes de coletivos foram a luta, mas sem sucesso, afinal o progresso não pode parar. O progresso é aliado do capital, o trabalho é despesa, o objetivo é o lucro.
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: a fita cassete vai acabar com a indústria fonográfica!
Pela ótica do capital esta tudo correto, quem lembra da reengenharia, um conceito até interessante, mas que fora usado como artifício para provocar a maior onda de demissões de todos os tempos. O capitalismo sempre foi focado no lucro, tanto que mão de obra até hoje é entendida como insumo, assim como os materiais, um orçamento sempre foi composto de insumos e lucro. Lucro este desejado, a palavra de ordem é competitividade, temos de ser competitivos, afinal o capitalismo é selvagem, e somente os mais competitivos sobrevivem. Entenda que não é nada pessoal, dizia o patrão ao demitir funcionários de longa data, é a busca pela competitividade e sobrevivência da empresa que esta em jogo, empresas não podem ter coração…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O video cassete vai acabar com a indústria cinematográfica!
A Arte da Guerra do Pai rico, que virou a própria mesa antes do Safari de Estratégias do Príncipe, na busca de um monge que virou executivo. Até hoje não sabemos quem roubou meu queijo, e nem quem foi o Fora de Série que chegou no Ponto da Virada em Caminhos e Escolhas na busca de um Freakonomics. Mesmo que o Marketing seja Lateral ou vá além do Buzz, ou gerenciamos a experiência do consumidor ou tentamos entender a cabeça do Brasileiro. O líder do Futuro faz uma Liderança Radical, diz que Sobreviver não é o bastante e não gosta de Sundae de Almôndegas. Tanta coisa fora sistematizada para alavancar o progresso, para girar a roda da fortuna em prol da competitividade e do lucro.
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O CD vai acabar com o LP!
Meados dos anos noventa, o fim do mundo estava próximo, o bug do milênio que assombrava todo mundo, na verdade era apenas mais um mercado construído em cima de dúvidas e incertezas. Estávamos sendo usados mais uma vez. As profecias diziam: o fim do mundo esta próximo! A Internet chegou, uma nova parafernália eletrônica que chega para divertir os nerds e conectar os acadêmicos, um espaço de poucos. A Internet chegou!
Como falavam em globalização! O mundo como uma maravilhosa aldeia global, onde todos consumiriam alegremente, anunciavam o inevitável fim da cultura local, e enalteciam as maravilhas de mundo globalizado. Na prática estavam alinhavando novos mercados, o progresso não pode parar! Aquele tênis bacana é produzido no terceiro mundo por mão de obra escrava com uma marca registrada nos “Staites” que valia mais do que custava o sapato, que não valia nada. Era o tal do insumo que ficou pequeno perto do lucro, a ciência do preço agora contava com um fator de subjetividade ainda não entendido, mas pouco importa, felizes consumidores pagavam lucros exorbitantes para ostentar seu mimo. As corporações cresciam, cresciam como nunca…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: Pirataria é crime!
B2B, B2C, G2B, G2C, A2Z; A2Z,G2B,B2C,G2C,B2B, e-learing, e-enterprise, e-commerce, e-gov, e-tudo. e-Siglas e letras 3 letras povoaram o vocabulário corporativo. A Economia Digital ensinava a Vender seu Peixe na Internet e tudo Fazia Sentido. Webonomics levou ao Net Gain, mas We the Media ainda não haviam estabelecido as Novas Regras da Comunidade. O capitalismo virou bits, o free shop ficou à dois cliques de distância, que beleza! Globalização! O mundo agora ficou pequeno, e todo mundo achando tudo muito lindo, não percebiam a intenção latente, a nova ordem era transformar empresas em mega corporações, maiores e mais poderosas que as nações…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: Agora quem manda são as corporações, afinal oferecemos aquilo que o fizemos desejar.
Descobriram o usuário, a Internet ficou popular, ficou fácil para qualquer um produzir, criar e compartilhar, deixem eles brincar diziam as novas nações-corporações, afinal o Culto dos Amadores não podem nos ameaçar. Mas as Novas Regras da Comunidade mostravam o Valor das Redes que através de seus Trust Agents corriam em busca de Socialnomics, mas na verdade estavam muito mais interessados no Group Genius. Esta sociedade conectada, alinhadas por ideologias eram vistas como excelentes oportunidades de negócios, afinal nichos e mega nichos sempre seduziram qualquer corporação em busca de novos mercados. Eles “brincavam”, faziam mashups, blogs, e se conectavam através de redes sociais. Excelente dizia o establishment, nosso plano de dominação vai de vento em popa…
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O mundo de pontas esta se alinhando com o Manifesto Cluetrain.
Inteligência coletiva, cognição interativa, pensamento globalizado, juntos os usuários ficavam mais inteligentes, mais inteligentes que a soma das suas inteligências. Inteligência coletiva, crowdsourcing, dinheiro P2P, mobilização coletiva e o povo foi para as ruas sem um lider específico, sem uma pauta específica, a indignação mostrou sua cara. Era a crise da representativade que estava em jogo, era o modelo atual do mundo que estava em jogo, como diz Rushkoff, eles querem trocar o sistema operacional do establishment e dar um reboot geral.
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O povo unido jamais será vencido!
Precisamos parar este trem diz o establishment preocupado, vamos estudar esta tal de Internet que agora quer nos pegar, vamos mudar a regra do jogo, vamos controlar as informações, basta dizer que pobres velhinhos são roubados na Internet, ou falar de pedofilia, ou ainda de gente pelada na rede, o velho discurso da pirataria não colava mais, mas TPP vem ai para nos vingar. Enquanto isto vamos dominar a infra-estrutura dizendo que Internet é telecomunicações, dizendo que Internet é um espaço de negócios e que deve seguir as regras do mercado, assim calamos nossos inimigos, e voltamos a lucrar como nunca.
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: Quem manda no seu pais somos nós!!!
Para quem não sabe o Brasil é excelência e pioneiro no modelo multistakeholder de Governança da Internet, considerado o melhor e mais democrático modelo de governança da Internet. E ainda temos os projetos de leis mais progressistas e modernos do mundo, se bem que os Patetas Digitais do Planalto fazem de tudo para estragar isto, mas vamos conseguir. Estes projetos são:
Marco Civil da Internet – Projeto construido com a participação da sociedade em duas consultas públicas e diversas audiências públicas e seminários, é um projeto de princípios legais da Internet, único no mundo, e que tem uma grande expectativa da comunidade Internacional. Este projeto atualmente esta na Câmara dos Deputados e ganhou Urgência Constitucional e deve virar lei ainda este ano. Seus principais “INIMIGOS” são as empresas de Telecomunicações e a Indústria do Copyright.
Reforma da Lei de Direito Autoral – Projeto construido com a participação da sociedade em duas consultas públicas, é um projeto de modernização da legislação de direito autoral, para torna-la compatível com os tempos atuais, com vistas ao uso justo e respeito ao ambiente digital e a cultura do mashup e licenças de uso modernas e à gestão coletiva de direitos autorais. Este projeto foi sensivelmente piorado durante a gestão da Ministra Ana de Hollanda. O projeto tem justamente a Indústria do Copyright e o ECAD como principais inimigos e ainda esta no poder executivo.
Proteção de dados Pessoais – Projeto construido com a participação da sociedade com consulta pública, é um projeto que visa estabelecer regras de como as empresas e governos usarão nossos dados pessoais. Este projeto esta paralisado no poder Executivo.
Por fim, é interessante observar nos links dos projetos de lei, que incontestavelmente eles pararam na gestão da atual Presidente Dilma…
Hoje me surpreendi com um email do Scribd informando que um documento meu havia sido removido por violação de Copyright, fiquei imaginando como eu mesmo poderia ter me violado, ou quem supostamente deteria o copyright do meu conteúdo intelectual, a mensagem não é nada clara como você pode ver abaixo:
Ou seja, a mensagem não te informa o motivo e nem quem solicitou a retirada do meu conteúdo, e além do tom ameaçador não tem nenhuma informação adicional. Apenas descobri quem solicitou a retirada do documento quando cliquei no link do documento removido, dai pude ver que foi removido à pedido da ABDR.
Deste ponto em diante a tarefa estava em tentar adivinhar o que havia motivado o pedido de remoção do meu conteúdo pela ABDR sob alegação de violação de copyright, verifiquei que o texto original, publicado em 2008, continuava lá no Jornalistas da Web, assim como o texto revisado publicado aqui neste blog. No Scribd também encontrei a versão revisada do texto em PDF, bem como em outros blogs que reproduziram o texto. Então pude concluir que o que havia motivado a ordem de retirada não estava relacionada ao texto, foi quando abri o PDF que havia enviado ao Scribd e percebi na hora o que poderia ter motivado a ordem de remoção por parte da ABDR.
A foto de divulgação da capa de um livro foi motivo para apagar um texto inteiro!
Entendeu? Pois bem, todo o texto de minha autoria foi removido à pedido da ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos) por causa desta foto da capa do livro de Chris Anderson usado como divulgação pelo editor do Jornalistas da Web!
Ou seja, a Mafia do Copyright não esta nem um pouco preocupada em prejudicar os conteúdos livres, se dentro de um conteúdo livro tiver algo que a mafia sinta-se prejudicada, ela não hesitará em aniquilar. Existem infinitas situações absurdas envolvendo a mafia contra a cultura livre, o caso emblemático do “dancing baby” onde a mãe foi processada por publicar um vídeo de 29 segundos que tinha ao fundo uma música da Universal Music, ou aqui no Brasil a Folha de São Paulo processou o blog humoristico Falha de São Paulo sob os mais esdruxulos argumentos de violação de copyright. Existem mil outros casos, a EFF tem até mesmo o Hall da Vergonha, mas a mafia ignora isto.
A Mafia do Copyright quer eliminar a concorrência
Agora vamos entender as motivações, no caso da Folha x Falha, a primeira argumenta que o blog humoristico Falha estava violando seu copyright por usar fontes semelhantes a sua e que o blog poderia ser confundido com o site jornalistico…. é eu sei que você esta caindo na gargalhada, mas é verdade. No meu caso, o Jornalistas da Web colocou uma foto da capa do livro do Chris Anderson para divulgação e ao imprimir em PDF a foto foi junta, e esta foto da capa deu o “direito” a ABDR de requisitar a remoção do meu texto, e veja que até aqui estou apenas supondo, pois ainda não fiz a minha contra-notificação e não sei o motivo oficial.
Na verdade a Industria de Intermediação cultural quer, além dos lucros imorais, é evitar que a sociedade se dê conta de que ela se tornara obsoleta, ou pior, quer na verdade eliminar o seu principal concorrente: Nós mesmos.
Ou seja, não querem perder os mais de 90% que ficam com o trabalho dos escravos da cultura sob o argumento que os custos de produção, divulgação e distribuição são elevados, e como podem sustentar este argumento com a Internet provando justamente o contrario?
A Mafia Autoral quer melar o Marco Civil da Internet
O Marco Civil da Internet, que nos defenderia, ao menos no caso de sites hospedados no Brasil e/ou de empresas com escritório no país, sofreu um forte lobby da máfia autoral, que inseriu um paragrafo 2º no artigo 15, dando-lhes o direito de requisitar remoção de conteúdo sem ordem judicial, ou seja, querem trazer para o Brasil este “direito” que eles tem de sequestrar qualquer conteúdo que mesmo que supostamente, viole copyright, não é preciso dizer o estrago que isto vai ser para a Cultura Livre.
Por fim deixamos a critica de Frank La Rue, relator especial de direitos humanos da ONU, ao paragrafo 2º do artigo 15 do Marco Civil
Este post não termina aqui
Este post não termina aqui, vou enviar minha contra-notificação e os manterei informados em detalhes.
Estamos vivendo um momento extremamente crítico, movimentos globais nas quatro arenas (vídeo abaixo): Legal, Comportamental, Técnica e de Governança estão atuando em conjunto colocando em prática diversas estratégias para o controle da rede. Os atores deste processo são facilmente identificáveis: Na esfera corporativa são os “atravessadores” do direito autoral e propriedade intelectual, as empresas de Telecomunicações, os bancos e a velha mídia. Na esfera governamental são as policias (em geral Federal), o judiciário, o executivo e o legislativo conservador. Estes atores atuam formando uma espécie de tripé que os sustentam, o Tripé do Atraso“, suas motivações são diversas, mas podemos reduzir a duas: dinheiro e poder.
Esta estratégia global de controle esta sendo conduzida com muita pressa, nas quatro arenas, e com planos de contingência em diversos níveis. Veja por exemplo que na arena legal tivemos a derrocada do SOPA no Congresso Americano e o surgimento do CISPA, o ACTA morreu na Comissão Européia, sendo negado pelo Parlamento Europeu, mas o TPP segue. O maior risco à liberdade na rede está justamente na arena da Governança da Internet, pois em geral a sociedade desconhece os princípios de Governança da Internet (vídeo abaixo, e um movimento efetivo nesta arena pode realmente tomar o controle da Internet.
Ainda dentro do conceito de Governança da Internet residem conceitos sutis e mal interpretados são eles o conceito de neutralidade e a a separação entre serviço de valor adicionado e serviço de telecomunicações. Muita gente confunde neutralidade da Internet, que é um conceito técnico que se resume em isonomia no tráfego de dados, com conceitos como o da imparcialidade, dentre outros. No vídeo a seguir eu explico o conceito da Neutralidade, um princípio de extrema importância para a Internet e que precisa seguir estritamente as recomendações do CGI.BR, para continuemos com a Internet livre e universal. Deixar que governos e/ou empresas regulamentem a neutralidade pode ser um grave perigo para a rede, uma vez que apenas interesses econômicos e de controle serão os motores desta regulação.
No primeiro vídeo falo do conceito e da importância de separar o serviço de telecomunicações do serviço de valor adicionado, no Brasil por exemplo as empresas de Telecomunicações jamais deveriam poder prover acesso, mas como o fazem, querem agora através de um discurso leviano passar a mensagem de que nunca houve estas duas camadas, e isto justifica por exemplo o esvaziamento do CGI.BR que é o orgão normatizador responsável pela camada de valor adicionado. No Brasil esta distinção foi estabelecida pela Norma 4/95 da ANATEL. O atual Ministro das Comunicações, o Paulo Bernardo, defende a mudança na Norma 4/95, mesmo sobre fortes críticas, uma vez que estas mudanças seguirem os interesses das empresas de Telecomunicações poderão trazer graves danos à Internet.
Coincidências a parte, a tendência em modificar dois importantes conceitos de governança: neutralidade e a distinção dos conceitos de valor adicionado e serviço de telecomunicações, parece fazer parte de um movimento global e local, a própria ITU (UIT) agência da ONU responsável pelas telecomunicações esta desde fevereiro discutindo a portas fechadas mudanças no ITR, o regulamento global de telecom. Do que a sociedade civil já sabe, questões muito arriscadas tem surgido, inclusive a tendência de trazer a governança para debaixo dos governos. A consolidação desta discussão se dará em dezembro em Dubai, e ativistas do mundo todo estão preocupados com os resultados, uma vez que o ITU discute basicamente com representantes dos governos, e não envolve outros atores da sociedade em seus debates. De forma preocupante vemos que esta tendência não esta ocorrendo apenas no Brasil e na ITU, nos Estados Unidos, o FCC por enquanto declinou de reclassificar a Internet como serviço de telecomunicações, mas ainda há risco. Resumindo parece estar havendo um movimento global para substituir o modelo multisetorial de governança, consolidado mundialmente como o melhor modelo, por um modelo focado apenas numa parceria entre o governo e as empresas de telecomunicações.
O Brasil possui um grande trunfo nesta luta que é o Marco Civil da Internet, considerado pelo Tech Dirt como um projeto de lei Anti-ACTA, e na verdade o Marco Civil pode nos proteger contra a maioria das ameaças, ou nos entregar de bandeja, tudo depende da redação que irá se tornar lei. Ciente disto o Ministro Paulo Bernardo em parceria com as Empresas de Telecomunicações fizeram um forte lobby e conseguiram esvaziar a sessão que iria vota-lo na Câmara dos Deputado no último dia 11/07. Ainda com base na redação mais recente, a regulamentação da neutralidade por decreto precisa ser mais bem detalhada, pois pode abrir uma brecha para a presidência simplesmente delegar esta função à ANATEL, através de decreto.
Ao que parece, o establishment tem pressa, muita pressa, pois eles sabem que seus argumentos e discursos envelhecidos não irão encontrar eco frente à geração digital, que os interpretam da mesma forma como interpretamos o discurso dos “caçadores de bruxas” da Idade média. O ano de 2012 é o ano onde milhões de nativos digitais completarão 18 anos, e esta onda seguirá ano apos ano até que uma nova cultura possa se estabelecer… será que vai levar tanto tempo?
Uma tese é que ao mesmo tempo em que as corporações e governos se mobilizam em um movimento transnacional para controlar a Internet, a sociedade civil se mobiliza para resistir, o aquecimento desta tensão poderá antecipar o fenômeno da Singularidade das Multidões, trazendo à sociedade conectada uma capacidade cognitiva e coletiva jamais imaginada, provocando em curtissimo espaço de tempo profundas mudanças na sociedade, incluindo a quebra em massa de velhos paradigmas e a instalação de novos valores, vivenciaremos um choque geracional tão intenso que representará uma ruptura no que hoje entendemos por sociedade, economia, cultura e política.
Estamos em 2012, o mundo acaba agora no dia 21 de dezembro, aproveite! O mundo já acabou tantas vezes nos últimos anos que a cada “fim do mundo” ficamos mais céticos, já foram 242 previsões furadas desde o inicio dos tempos. Só de 1999 à 2012 tivemos 42, mas se tudo der errado os profetas ainda estão prevendo o fim do mundo para 2016, 2043 ou 2047… Vai que um dia alguém acerta!
Expectativas alarmistas sempre são um bom negócio, tem gente por ai fazendo bunkers e arcas para sobreviver ao fim do mundo, quantos não estão faturando muito com este novo fim do mundo? Lembra do bug do milênio e quanto a industria de TI faturou com o mito no final dos anos 90?
Previsões furadas a parte, o ano de 2012 carrega em torno de si uma aura de mudança, um importante conjunto de fatos e eventos que de uma forma ou de outra fará dele um ano marcante, um ano de transição, ou como diz a sabedoria Chinesa um ponto de mutação.
“Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força… O movimento é natural, surge espontaneamente. Por esta razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando dai, portanto, nenhum dano”
I Ching.
O ano de 2012 é realmente o ponto de transição, não a transição completa, mas o início irreversível dela, são a conjunção de vários fatores e eventos que juntos estão configurando esta mudança, a briga entre o novo e o velho existe há anos, e os mundos já estão em colisão desde o início do século como bem descreveu Nemo Nox em seu clássico Mundos em Colisão. No texto Nemo apresenta dois mundos: Planeta Alpha, onde a população desfruta de um ambiente de comunicação aberta e colaborativa; e o Planeta Ômega, onde as corporações têm controle quase absoluto sobre a informação que circula entre os habitantes, toda ela levando uma etiqueta com o preço de compra e as rígidas instruções de uso. O interessante de toda esta metáfora do “Mundos em Colisão” é que na verdade os dois mundos são um só.
O advento da Internet foi tão rápido e intenso que nós, os imigrantes digitais, fomos obrigados à adotar metáforas para entender e explica-lo: mundo real x mundo virtual. Uma dicotomia que fundamentou todo o debate desde 1994. Esta dicotomia sustentou leviandades, sustentou imbecilidades e pavimentou uma enorme gama de abobrinhas propaladas pelos neoludistas. O problema maior é quando estes neoludistas são políticos ou juristas, o preconceito pode causar desastres enormes como o famoso embate “Cicarelli x Youtube”, ou projetos de lei estúpidos como o AI5digital, SOPA, Hadopi e Sinde, só para citar alguns.
Medo e o preconceito são ingrediente de qualquer mudança, assim como a esperança e indignação, temos de admitir que a Internet teve um catalizador poderoso, pois as mudanças vistas nos últimos anos foram profundas e intensas. Este catalizador foi a comunicação, quem detê a comunicação, detém o poder, e a comunicação em rede além de poderosa é extremamente democrática, permitindo a todos fazerem parte de uma extensa rede não só de comunicação, mas também de construção cognitiva de conhecimento, uma vez que a Internet não é volátil.
Na edição 26 da Espírito Livre escrevi um artigo intitulado “A singularidade das multidões” onde desenvolvo a tese de que a tão falada singularidade tecnológica não se dará através do avanço da inteligência artificial, e sim da inteligência coletiva; e não serão as máquinas que dominarão o mundo e sim os nativos digitais.
Mas o que esta em jogo em 2012? Desde 2008 o mundo vem assistindo à uma crise de dimensões apocalípticas, diversos países do hemisfério norte estão com altas taxas de desemprego, e com grave recessão. O Brasil foi o último país a entrar na crise e o primeiro a sair, mas os países afetados pela crise estão caminhando de forma assustadora para uma espécie de neocolonialismo baseado em copyright, ou seja, estão super valorizando a questão do combate à pirataria e proteção da propriedade intelectual e direito autoral. SOPA, ACTA, HADOPI, Sinde e o famigerado AI5digital são exemplos claros de tentativas de controle da rede em nome deste movimento neocolonial. Os argumentos anteriores: combate ao ciberterrorismo, cibercrime e pedofilia estão perdendo força, mas no final das contas, o objetivo principal é controlar a Internet. Mas porque?
Em 2012 a Internet comercial completará 18 anos e junto com ela milhares de nativos digitais irão atingir a maioridade, mas quem são eles? Esta imprevisibilidade pode ser um dos motivos, quem lembra dos etnógrafos enviados à Campus Party pela Intel em 2009, estavam lá para pesquisar o comportamento dos nativos digitais, dos conectados. Creio que ainda não chegaram a uma conclusão de fato, pois a metodologia da etnografia em tempos digitais ainda esta em discussão. Sem dúvida alguma eles são diferente de nós os imigrantes digitais, sem a necessidade de transitar na dicotomia real x virtual, eles conseguem vivenciar a questão de que a Internet naturalizou e é tudo uma coisa só, a Internet faz parte do seu ecossistema. Certamente eles lidam melhor com as interações e construções em rede, eles pensam em rede, é como se nos fôssemos um programa rodando em linguagem interpretada e eles em linguagem compilada, estão revolucionando tudo, um perigo para o establishment!
É preciso adicionar um elemento a esta discussão, nem todo jovem de até 18 anos é um nativo digital, o letramento digital faz parte da sua construção, e este gap esta sendo reduzido em países que já perceberam que o seu maior ativo futuro esta justamente nos nativos digitais. Enquanto o Brasil esta ampliando este gap com seu PNBL neoliberal a R$ 35, com uma franquia de 300 MB por mês, e a sua pálida e inócua Secretaria Interministerial de Inclusão Digital; A India por exemplo esta ofertando à sua população banda larga à R$ 9,00 e Tablets a R$ 90,00!
A pesquisa “Digital Alternatives”, do Instituto Hivos, quebra alguns dogmas criados em torno do nativo digital, mostrando que existe uma grande pluralidade nesta parcela da sociedade, enterrando de vez as possíveis conclusões dos etnógrafos ai de cima. Todos os sinais apontam para um cenário muito bom, a pesquisa “O Sonho Brasileiro”, realizada com jovens de 18 a 24 anos, mostra alguns detalhes interessantes: 89% sentem orgulho em ser Brasileiro, 71% usam a Internet para fazer política e 75% pensam em fazer algo para o coletivo.
O debate amplia quando olhado por outros ângulos, entre 5 a 10% da população mundial será composta por este novo adulto já neste ano, e a maior concentração se dará nos países de terceiro mundo, quase a metade da população destes países esta abaixo de 18 anos. Enquanto nos países do primeiro mundo, a população esta envelhecendo e tende a ser mais conservadora, nos países do terceiro mundo, elas estão mais jovens e tendem a ser mais progressistas. Isto costura um cenário curioso, pois se de fato a “singularidade das multidões” ocorrer, ela será mais intensa justamente nos países de terceiro mundo.
As mudanças provocadas pela Internet estão sendo tão intensas e profundas que o próprio MidiaLab ressalta que não há nada que não seja afetado por ela, os intermediários entraram em crise, todos eles desde os partidos, sindicatos e até as grandes corporações. Crises precedem grandes mudanças, este ano veremos uma luta declarada, diferente da luta velada de outrora, contra a liberdade na rede, e uma outra ainda mais intensa no sentido contrário contando cada vez com a Inteligência das multidões, que vença o melhor!
Ao pensarmos em multidão imaginamos o caos, desorganização, confusão, contra produção. Assim foi por muitos anos no espaço da racionalidade. Práticas educacionais e corporativas buscaram na padronização o caminho para o progresso, alinhados à cultura da produção em massa da Revolução Industrial. Até mesmo o lema da nossa bandeira: Ordem e Progresso; parece nos remeter a esta lógica, uma lógica profundamente entremeada nos valores e princípios da sociedade do século XX. Praticamente uma verdade absoluta e intangível que serviu de base para a construção das estruturas sociais e organizacionais até então conhecidas: Hierarquia vertical, comando em cascata, broadcasting e o gênio solitário.
No final do século XX, os EUA abriram a Internet à humanidade, até então uma infra-estrutura tecnológica em rede que servia para a comunicação e armazenamento de dados entre acadêmicos e militares. Tim Berners-Lee adicionou à esta camada uma nova camada de comunicação, a WWW. A apropriação da WWW livre e a consolidação dos conceitos de usabilidade e acessibilidade, pavimentaram o que hoje chamamos de web 2.0. Se observarmos “fora da caixa”, tudo que evoluiu na verdade configurou na redução da curva de aprendizagem, e consequentemente facilitou enormemente o acesso, tornando as camadas tecnológicas da rede invisíveis. A partir dai a Internet transformou-se em uma rede de pessoas, iniciando um processo sem retorno de profundas mudanças em todas as esferas da sociedade.
Crowdsourcing, as multidões fazendo acontecer
O Software Livre é sem dúvida nenhuma o caso mais notável de crowdsourcing. É uma construção caótica de software, com uma organização sem lideres, e sem hierarquias, jogando por terra valores e princípios “inegociáveis” do século passado. Muitos ainda não entendem como é possível produzir desta forma, outros tantos nunca irão entender, pois teriam de destituir-se de velhos e sedimentados princípios e valores, e muita gente não esta disposta à isto. Ainda são do tempo do “Em time que esta ganhando não se mexe”, azar o deles? Não, esta resistência à mudança tem sido a mola mestra do ACTA e outras práticas daninhas à rede como o AI5 digital. Estes neoludistas enxergam a Internet como uma ameaça, e nós como uma oportunidade única. Estamos em rota de colisão.
A nosso favor estão as pessoas de mente aberta, como o Rob McEwen CEO da GoldCorp, uma mina de ouro Canadense, que em 1999 estava à beira da falência. Depois de encantar-se pelo espírito livre e desbravador do Linux, que ele assistiu em uma conferência no MIT. Apesar de seus funcionários e especialista dizerem que não era mais possível extrair ouro da mina, ele acreditou que alguém poderia ter a solução. McEwen criou o concurso Goldcorp Challenge, que prometia distribuir U$575.000 aos que tivessem as melhores idéias para extrair ouro. Rob compartilhou dados secretos, como plantas, mapas, estudos e tudo mais que fosse necessário. O resultado do concurso foi fantástico, além da economia, equivalente a três anos de funcionamento, foram identificados 110 pontos de extração, e metade deles jamais haviam sido identificados pela Empresa. A GoldCorp pulou de um faturamento de U$ 100 milhões por ano para U$ 2 bilhões.
O caso da GoldCorp é emblemático porque é um caso que os analógicos entendem, é um exemplo incontestável do poder das multidões. Outros casos interessantes estão se construindo à nossa volta, como os diversos projetos de crowdfunding, onde indivíduos investem e decidem coletivamente como o capital será aplicado. A Wikipedia é outro caso fantástico, bem como as próprias redes sociais, elas não são nada sem nossa participação, sem nos o Facebook, Orkut, Youtube e outros não seriam nada, apenas uma boa idéia. E o mais incrível e que continuamos a agregar valor à estas redes, pois não visamos o retorno material, nossas motivações são outras. O documentário Us Now nos mostra vários casos de crowdsourcing, até mesmo um time de futebol, o Ebbsfleet united, com mais de 30 mil donos e técnicos que decidem de forma colaborativa até mesmo a escalação do time. Us Now também mostra exemplos de auto-organização que apontam para novas formas de governo, de democracia participativa.
Na esfera do governo, temos projetos inovadores no Brasil, como as consultas públicas do Marco Civil da Internet , Reforma da Lei de Direito Autoral e outras. Estas consultas foram feitas de forma livre à população pela Internet, um caso digno de registro de crowdsourcing no processo legislativo. Por falar em processo legislativo, temos também no Brasil o e-Democracia, uma rede social ligada à Câmara dos Deputados, que permite discutir temas em destaques e propor novos temas para debate. Ainda não temos nenhum projeto de colaboração como o Challenge Americano, onde diferentes órgãos do governo, apresentam problemas à sociedade e recompensam financeiramente àqueles que apresentam as melhores soluções.
O Crowdsourcing.org é uma rede social especializada no crowdsourcing, e identifica basicamente sete grupos de estudo do tema:
Crowdfounding – Financiamento coletivo;
Cloud Labor (Trabalho em nuvem) – Aproveitamento de grupos virtuais de trabalho, disponíveis sob demanada para a realização de tarefas e projetos;
Collective Creativity (Criatividade coletiva) – Uso de grupos de talentos para desenvolvimento original de arte, design, mídia e conteúdo;
Open Innovation (Inovação aberta) – Uso de fontes externas à entidade ou grupo para gerar, desenvolver e implementar ideias;
Collective Knowledge (Conhecimento coletivo) – Desenvolvimento de células de conhecimento e informação a partir de grupos distribuidos de colaboradores;
Community Building (Construção de comunidades) – Desenvolvimento de comunidades através de grupos que compartilhem das mesmas paixões;
Civic Engagement (Engajamento cívico) – As ações coletivas que tratem de questões de interesse público.
Como vemos, ainda estamos começando a usar o poder das multidões, as pessoas estão começando a entender que juntas possuem um poder ilimitado, que não dependem dos intermediários e representantes. Governos e corporações também estão entendendo…
Individuo coletivo
Nos meus tempos de criança acreditávamos na figura do gênio solitário, filmes e desenhos animados nos mostravam cientistas isolados do mundo e acompanhados de um assistente burro, uma bela metáfora. É impressionante, mas hoje em dia muita gente ainda acredita no gênio solitário, tivemos nossas subjetividades subjugadas como sempre. Felizmente o mito do gênio solitário esta sendo derrubado nos tempos digitais do século XXI, avise aos “analógicos” da sociedade! Scott Berkun, ex-engenheiro da Microsoft, em seu livro “The Myths of Innovation” joga este conceito por água abaixo, e de quebra ainda enterra a idéia de que grande inovações vieram por epifania. Berkun explora uma questão muito importante, e que nos simplesmente sublimamos: Não estamos sozinhos, o ser humano é um ser social. Seja qual forma as idéias irão tomar, se produto material, imaterial ou bem cultural, elas são da coletividade. As idéias são construídas em coletividade, o “dono” dela tem sido aquele que consegue sistematiza-las ou utiliza-la para um propósito específico. O legado do século passado ainda insiste no fato de que as idéias são do primeiro a registrar a sua patente.
Somos parte da multidão, somos construtores da subjetividade coletiva, assim como nossa subjetividade é produto desta construção. Para ser mais correto, podemos afirmar que somos prosumidores de nos mesmos e ao mesmo tempo de todos nossos peers, que também são nossos prosumidores. No século passado isto era entendido pelo provérbio que dizia que “o homem é produto do meio”, mas o meio mudou, e o provérbio mostrou-se incompleto. Hoje podemos dizer que “o homem é produto do meio e o meio é produto do homem”, isto num ciclo crescente de construção cognitiva e coletiva do conhecimento. Quanto mais conectada a sociedade, mas visíveis ficam velhos conceitos que estão sendo subjugados, estamos quebrando velhas regras com uma voracidade incrível. Hoje entendemos que somos feitos de células, e a nossa “alma” de colaboração. É preciso entender que somos todos “eu” coletivo, que carregamos em nos um pouco de cada um, e vice versa.. Isto vale para tudo, saber, negócios, política e informação, ninguém é alguém sozinho. É preciso entender que o conhecimento pertence à sociedade, e que esta, e somente esta, tem a capacidade e o direito de transforma-lo de forma nunca antes imaginada na história da humanidade.
Os seis graus que nos separam
O importante fator das profundas e definitivas mudanças que estamos passando em nossa sociedade é o fato de estarmos novamente conectados em rede, novamente porque muito provavelmente estivemos conectados em rede quando ainda selvagens. A natureza irracional e burra esta repleta de exemplos de estruturas em rede, colméias, formigueiros, movimentos dos mares, planetas, e até mesmo nossa estrutura celular e neural! O homem civilizado cometeu um grande equivoco ao confundir a seletividade evolutiva com a organização estrutural das diversas sociedades, aprendemos equivocadamente que necessitamos de uma estrutura de poder vertical, poucos pensam e muitos executam, mais uma bela metáfora do capitalismo. Estão sempre buscando lideres em tudo…
Albert-László Barabási é um estudioso de redes, matemático, sistematizou esta estrutura e conseguiu provar matematicamente a teoria dos seis graus de separação. Segundo Barabási, apesar de seremos milhões conectados em rede, estamos de fato, distantes de qualquer outro por apenas seis pessoas. Barabási explica que as estruturas de redes são complexas e os hubs são indispensáveis ao funcionamento destas estruturas. Hubs por exemplo são indivíduos com alto capital social, ou sites e serviços populares. Os hubs são atalhos entre os milhões de nós da rede, de qualquer rede.
Fritjof Capra, compila no livro “A Teia da Vida”, várias contribuições da física, da matemática e da biologia para a compreensão dos sistemas vivos e, especialmente, de seu padrão básico de organização. Capra identifica a rede como esse padrão comum a todos os organismos vivos. “Onde quer que encontremos sistemas vivos – organismos, partes de organismos ou comunidades de organismos – podemos observar que seus componentes estão arranjados a maneira de rede. Sempre que olhamos para a vida, olhamos para redes. (…) O padrão da vida, poderíamos dizer, é um padrão de rede capaz de auto-organização”. Em seu livro “As Conexões Ocultas”, Capra tenta aplicar os princípios apresentados em “A Teia da Vida” na análise de fenômenos sociais – como o capitalismo global, a sociedade da informação, a biotecnologia e os movimentos contra-hegemônicos da sociedade civil.
A singularidade será das multidões
Conforme a Wikipedia, singularidade tecnológica é a denominação dada a um evento histórico previsto para o futuro, no qual a humanidade atravessará um estágio de colossal avanço tecnológico em um curtíssimo espaço de tempo. Vários cientistas, entre eles Vernor Vinge e Raymond Kurzweil, e também alguns filósofos afirmam que a singularidade tecnológica é um evento histórico de importância semelhante ao aparecimento da inteligência humana na Terra. Ainda não existe consenso sobre quais seriam os agentes responsáveis pela singularidade tecnológica, alguns acreditam que ela decorrerá naturalmente, como conseqüência dos acelerados avanços científicos. Outros acreditam que o surgimento iminente de supercomputadores dotados da chamada superinteligência será a base de tais avanços.
Na minha opinião a singularidade não será tecnologia, e sim das multidões, quanto maior a penetração da Internet na sociedade e quanto mais intensa for apropriação do crowdsourcing, mais rapidamente teremos as mudanças. Estas mudanças tenderão a ser de forma exponencial, não significa que mais um participante produza um incremento unitário, mas sim que este incremento leve em conta que o crowdsourcing é um processo retro-alimentando. Desta forma, nesta equação temos de considerar o que já fora construído e o potencial agregador e construtor do novo player, considerando inclusive seu capital social. Capital social este determinado em função da rede de relacionamento e do poder interativo e comunicacional deste indivíduo. Esta singularidade se dará na intensa construção cognitiva e coletiva do saber, potencializando ao máximo o conceito da Inteligência Coletiva sistematizado pelo filósofo Pierre Levy. Este fenômeno se dará possivelmente no momento em que a geração digital atingir a maturidade. Esta geração terá todos os conjuntos de afinadades, dogmas e valores para o processo pleno da construção e uso da Inteligência Coletiva, caracteristicas estas que nos imigrantes digitais não temos e nunca teremos, mas teremos o privilégio de vislumbrar o nascimento de uma nova sociedade infinitamente mais inteligente que a nossa, e profundamente interconectada, mudando radicalmente o mundo que conhecemos.
Uma vez entendido isto, podemos imaginar o tamanho do poder que a sociedade conectada poderá vir a ter, numa matriz dos poderes instituídos, este seria o quinto poder. Hoje temos os três poderes do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário que são poderes locais, e o quarto poder que é o corporativo que é enorme e transnacional e atualmente exerce uma enorme força sobre os Estados. Se levarmos em conta de que das 100 maiores economias do mundo, 51 são corporações. Dá para sentir o tamanho da força do quarto poder, eles simplesmente são mais poderosos que as nações. Entretanto o poder das corporações é avaliado em função do capitalismo, e da cultura da escassez. Douglas Rushkoff avalia que o capitalismo é na verdade o “sistema operacional” da sociedade, e que assim como ele no passado substituiu o “sistema operacional” vigente, nada impede que ele venha a ser substituído em breve, e a minha tese da singularidade das multidões prevê isto como citado no parágrafo anterior. Thomas Greco, em seu livro “The end of money and the future of civilization” coloca mais lenha na fogueira, mostrando que o modelo capitalista é auto-destrutivo e insustentável e que a partir da crise de 2008, a coisa só tende a piorar. Greco aponta na direção que estamos tomando. Mas o que virá depois do capitalismo? Segundo o Professor Giuseppe Cocco o que esta se construindo é o Capitalismo Cognitivo, uma forma de capitalismo que tem o conhecimento e a informação como principais riquezas e valoriza as competências cognitivas e relacionais.
Mesmo antes da troca do “sistema operacional” da sociedade, veremos o quinto poder chegar a um patamar de igualdade ao quarto. Se configurarem as previsões, as mudanças serão profundas e alavancarão o quinto poder como o maior poder da sociedade, ou seja, a própria sociedade conectada será o seu maior poder. Temos movimentos políticos e sociais acontecendo pelas multidões conectadas, o Mega Não e o Ficha Limpa no Brasil, 15-M na Espanha, o Stop Acta a nível mundial e troca de poder no Egito só para citar alguns. Os sinais estão por ai, e os envolvidos estão cientes e tomando suas providências, eles tem pressa. Em 2012 teremos a maior idade de uma parcela significativa da geração digital, eles tem pressa, muita pressa.
É curioso como a humanidade tende a tratar transições e evoluções de forma apocalíptica. Foi assim com a chegada do rádio, da TV, e não poderia ser diferente com a Internet. O tema ficou em “banho maria” por alguns anos, pois além de não haver uma penetração considerável, ainda não haviam soluções que dessem margem ao jornalismo colaborativo, ou melhor, ao jornalismo crowdsourcing. Os anos se passaram, e a população conectada cresceu de forma surpreendente. Nos Estados Unidos, 95% dos jovens estão conectados. No Brasil, praticamente 50% da população acessa a Internet. Este crescimento associado a ferramentas como blogs, microblogging, fotoblogs, videoblogs, mapas, mashups e tudo isto potencializado pela computação cada vez mais ubiqua, deu espaço a um novo jornalismo, ao jornalismo crowdsourcing. E conseqüentemente ao interminável debate entre o jornalismo tradicional e o jornalismo crowdsourcing. O primeiro argumenta que o segundo é imaturo, e este, que o jornalismo tradicional é jurássico.
É uma comparação impossível, é preciso levar em consideração que uma grande mudança nas relações pessoais e econômicas foi provocada pela Internet. Esta mudança foi sistematizada por Chris Anderson, em seu best seller “A Cauda Longa“. A Internet possibilitou uma capilaridade nunca antes vista, atingindo nichos renegados e muitas vezes totalmente desconhecidos. A principio, o estudo de Anderson provocou surpresa, mostrando a todos que a cauda longa é maior do que o mainstream, e engorda cada vez mais por conta daqueles que viviam no mainstream e agora podem se juntar às suas tribos. É preciso levar em conta que a imprensa tradicional esta focando no mainstream, e que a imprensa social está focando na cauda longa.
É como se os leitores de fanzines habitassem a cauda longa, e os leitores dos grande jornais, a cabeça da cauda, o mainstream, e isto não quer dizer que esta relação seja excludente. Na prática, a capilaridade da Internet permitiu conectar nichos com interesses similares, formando os meganichos, que habitam o inicio da cauda, próximo ao mainstream. Quanto maior o nicho, mais genérica a informação. A tendência do crescimento dos meganichos, tanto em quantidades, como em tamanho, provoca dois movimentos na cauda: ela engorda e se alonga. Engorda por conta crescimento dos meganichos, e se alonga por conta dos novos nichos que surgem.
Existe um outro elemento importante, que é a informação. Abundante no ciberespaço, é o catalizador da evolução. O crowdsourcing é a personificação desta evolução. O cidadão conectado tem pressa, muita pressa. A instantaneidade é o resultado, ele quer saber agora, o que acontece agora, quer interagir com a noticia. O Jornalismo cidadão é visto como ruído pelo público mainstream, mas é extremamente eficiente para seus apreciadores, e isto a velha mídia precisa entender e estudar.
A questão da confiabilidade
Constantemente a credibilidade do jornalismo social é posta em xeque, os veículos tradicionais defendem que somente eles estão aptos a noticiarem com credibilidade, e que o jornalismo social não é confiável. Trata-se de uma meia verdade, uma vez que os veículos tradicionais cometem verdadeiras gafes, como o caso do “Homem diminui o dedo para usar o iPhone“, noticiado pelo Estadão. A confiabilidade do jornalismo social é diretamente proporcional ao número de fontes, ou a credibilidade conquistada por algumas delas. Um grande número de fontes permite ao leitor avaliar por amostragem o que é ou não confiável, e assim construir a sua percepção de confiabilidade de algumas fontes. Muitos blogs publicam matérias de alta qualidade e confiabilidade, uma vez que, para alguns, o blog é uma fonte de status e/ou receita, e o leitor é o seu mais valioso ativo.
Em termos de número de fontes, velocidade e interação, o microblogging revelou-se um grande aliado do jornalismo social, e o Twitter é de longe a mais popular ferramenta de microblogging. O caso do incêndio na Califórnia foi notório, mas não o único coberto via Twitter. A grande “sacada” é que em microblogging o texto é limitado a 140 caracteres e o celular é uma potencial ferramenta jornalística. Textos via SMS para o Twitter, fotos e vídeos via email para o Flickr e YouTube respectivamente e, na outra ponta, temos a noticia em qualquer dispositivo. É o verdadeiro crowdsourcing jornalístico.
Conectando os dois mundos
Existem diversos projetos com o objetivo de conectar os dois mundos. O mais notório deles é o OhmyNews, um jornal colaborativo com “cara” de jornal. Outro projeto bem interessante é o Paper.li, que produz um jornal diário automático com base no que você e quem você segue tuitam, ou listas ou ainda tags específicas. Tem também o Tabbloid que produzr um Jornal em PDF de acordo com feeds específicos. No Brasil, temos o próprio Jornalistas da Web, o Jornal de Debates e as redes de blogs que estão se formando, numa tendência a universalizar o jornalismo crowdsourcing.
Você já parou para pensar sobre o direito autoral e a propriedade intelectual? Bom eu venho pensando muito a respeito há anos, e tenho chegado à conclusões surpreendentes, verdadeiras aberrações que são aceitas e replicadas pela sociedade como verdadeiros mantras da irracionalidade, aqueles mantras que foram imputados em sua mente por muito tempo, pela grande e dominadora mídia, e hoje você os repete sem pensar e com toda convicção. Você não os repete? Ótimo, então vamos à algumas provocações:
Se um acadêmico não é remunerado permanentemente por uma Tese, porque o autor de um livro tem de ser?
Se um publicitário não é remunerado permanentemente por uma peça que criou, porque o produtor de cinema tem de ser?
Se um engenheiro não é permanentemente remunerado por um projeto que ele fez, porque o musico tem de ser?
Quando um engenheiro faz um projeto, ele assina a responsabilidade por ele, seja este engenheiro independente, funcionário ou responsável por uma Empresa. Este projeto tem um preço que é ditado por um mercado e é pago na forma combinada apenas uma vez. E por toda vida, este engenheiro pode ser responsabilizado por algum dano que seja comprovado como falha de projeto, e isto pode ter custos indetermináveis. Por outro lado, o músico não tem este risco enorme, afinal qual a chance de sua música provocar dano à alguém? Se ele não falar mal de ninguém e nem criar polêmica com a letra e não copiar outro músico, o risco é zero. Quando acaba um projeto o engenheiro já tem de estar fazendo outro, a vida dele é fazer projetos, ele se remunera por um projeto atrás do outro, até que chega ao fim de sua carreira. A partir dai ele vai ter de viver com suas economias, e sua pensão do INSS, e se foi previdente, da sua previdência privada. Com o músico é diferente, ele tem todos estes direitos do engenheiro e ainda tem a chance de criar “projetos” que irão sustenta-lo e a sua familia por muitos anos. Entendemos que cada música é um projeto, ou cada CD, e suas músicas proporcionam renda através de shows e da venda de CDs e faixas avulsas, mas não é só isto, tem mais!
Temos no caso da música o ECAD, que é uma entidade que fiscaliza e taxa qualquer estabelecimento que ouse tocar música! Não sei se existe transparência nesta arrecadação e nem se tem garantia de que todos os músicos serão remunerados de forma justa. Para mim o ECAD é uma aberração socialmente aceita, os estabelecimentos estão divulgando a música e ainda pagam por isto! Mas imaginemos se tivesse um ECAD na engenharia. Ele iria avaliar uma obra e cobraria uma taxa pela provável utilização dos projetos, ou seja, cada vez que um projeto fosse consultado, la estaria o ECAD da engenharia cobrando mais um níquel, acharíamos isto normal?
Acadêmicos investem anos de suas vidas em estudos e pesquisas, produzem teses e mais teses que são largamente utilizadas pela sociedade e industria de modo geral, algumas destas teses se transformam em livros, mas é a excessão e não a regra. Os resultados das pesquisas são utilizados em benefício da sociedade, são de fatos uteis em todas as esferas da humanidade, seja na economia, na saúde, educação, poder público, e etc.. A remuneração do acadêmico em geral vem das universidades, e de bolsas de pesquisa, e quando se aposentam tem o mesmo destino do engenheiro que citei logo acima. Quanto ao ECAD da academia, bom imagine você mesmo…
Mas e os autores de livros, bom assim como os músicos e pintores eles possuem o dom da arte, autores trabalham bem para escrever livros, não posso negar, mas nem todos os autores são realmente autores de seus livros, mas isto é outro papo. Por este livro o autor recebe a remuneração da sua venda, e também de palestras e eventos que participa. E quando se aposenta tem os mesmos direitos do engenheiro e do acadêmico, e ainda recebe os direitos por seus livros por muitos anos. Ainda bem que não tem ECAD dos livros, mas ja tem gente pensando em criar algo parecido e cobrar uma taxa das copiadoras…
Bom não vamos falar de publicitários e cineastas, seria mais um parágrafo comparando laranjas com maças, e daria mais trabalho para a minha conclusão, então vamos falar dos pintores de arte.
O pintor de arte ganha dinheiro vendendo suas obras, a atendendo à pedidos especiais, e ganha uma remuneração do “ECAD” dos pintores cada vez que alguém admira suas obras… ué? Não é assim não? Mas pô! Pintor não é artista? Porque este preconceito?
Bom que tem o músico e o autor de livro que o engenheiro, acadêmico e pintores de arte não tem? Vamos dar um tempo para você pensar…. pensou?
Uma indústria intermediadora! Afinal lançar livros e discos tem um alto custo e demanda uma forte estratégia de marketing, por isto que os intermediários ficam com pelo menos 90% da arrecadação. Isto se justificava no século passado, antes do advento da Internet. Nos anos 80 os equipamentos e a produção de um disco eram impossíveis às pequenas bandas e livros tinham altos custos de diagramação e impressão.
Hoje pequenos estúdios que custam menos de R$ 100,00 a hora podem produzir CDs com ótima qualidade e temos a Internet para divulgar o trabalho, então para que precisamos das gravadoras? Nos não precisamos, quem precisa são os dinossauros, os músicos desconectados, os músicos da antiga. É importante lembrar que se você tem mais de 16 anos, então você é um imigrante digital, e para ser entendido precisa falar com os dois mundos.
Gravadoras são poderosas, movimentam verdadeiras fortunas, segundo o relatório mais recente da APBD, no ano passado (2009) o mercado movimentou R$ 358.432 milhões com a venda de música nos formatos físicos (CD, DVD e Blu-ray) e formatos digitais (via Internet e telefonia móvel), e registrou um crescimento de 159,4% das vendas digitais via Internet, e ainda reclamam. E segundo a IFPI, neste mesmo ano o mercado fonográfico girou U$ 140 bilhões, ou quase 5% do PIB Brasileiro no mesmo período, e ainda culpam a pirataria por não arrecadarem mais, pois sim…
Com este dinheiro todo eles tem um poder gigantesco e esta é a unica explicação para esta diferença entre o tratamento dos nossos atores aqui citados, mas afinal estamos aqui defendendo o direito autoral pô! Como assim? Olha aquele disco ali em cima, o suposto direito autoral que falamos é na verdade o direito do intermediário sobre os direitos do autor, e este em muitos casos não tem nem o direito de reproduzir suas próprias músicas, o Teatro Mágico que o diga…
Pois é e olha que eu ainda não entrei na questão da propriedade intelectual! E nem vou. Para isto pretendo fazer outro texto educativo como este, por enquanto vamos jogar pedras no meu blog, que venham os comentários!
Quem não perde o chão com uma confissão destas? Dá logo um frio na barriga, a testa começa a transpirar, as mãos ficam geladas, a respiração forte e o coração parece querer sair pela boca. A expressão de incredulidade se mistura com a do ódio, o chão desaparece e você sai juntando os cacos, porque suas convicções acabaram de se despedaçar.
Se você passa dos trinta, só usa a Internet para funções básicas e costuma pautar suas opiniões pela mídia recomendo que pare de ler este post agora ou prepare seu coração para a revelação que vem a seguir.
Antes do advento da Internet quase todas as informações nos chegavam pela mídia, rádio, TV, jornais e revistas, e alguma informação exclusiva do papo de bar ou de algum amigo bem informado. Não existia comunicação em rede, a maioria das informações nos chegavam via veículos de massa. Nossas escolhas se davam entre poucos veículos, e a diversidade era praticamente nenhuma. Em linha gerais elegíamos nossos veículos de confiança e pronto, não existia como confronta-los para saber se determinada informação era plausível e correta ou não, tinhamos de confiar, éramos da geração cultura da confiança.
Para esta geração os assuntos giram em torno dos fatos apresentados pelos veículos da grande mídia, as opiniões sempre dadas por especialistas no tema, e raramente se questionava o grau de conhecimento dos especialistas e a imparcialidade do veículo, a geração da confiança acredita nos seus e pronto. Bastavam que dois veículos de confiança apresentassem a mesma posição à cerca de um tema e pronto, era a verdade absoluta!
Mas o quanto se pode confiar neles de fato? Para isto temos de voltar para o início da década de 60, quando houve o Golpe de 64. Muitos veículos foram úteis para criar um clima favorável ao Golpe, seja por inocência ou por interesse, e muitos veículos e grupos de comunicação cresceram exponencialmente durante a ditadura.
Dentro das estratégias dos golpistas, havia uma necessidade de levar rápida e eficientemente informação e entretenimento à maior parte da população, foi nesta época que foram instaladas o maior número de repetidoras de TV, e enquanto a venda dos aparelhos de TV disparavam o preço do aparelho despencava, a razão manifesta era para a nação torcer na copa da 70. Todos juntos vamos pra frente Brasil…. Brasil Ame-o ou deixe-o… Uma festa! mas a motivação latente, aquela que não se percebe de primeira, era manter o povo entretido e (de)informado enquanto as coisas aconteciam no alto comando lá no Planalto Central, e ninguém ouvisse os gritos vindo dos porões da ditadura ou questionasse suas motivações, tudo não passava de um maniqueismo fantasioso bem planejado para a implantação da Ditadura.
A estética sempre foi um fator aliado à confiança, veja por exemplo o Manifesto porta na cara, quanto melhor a estética maior a confiança, dai a necessidade de estabelecer um padrão de qualidade como nos mostra o documentário Muito Além do Cidadão Kane, a manutenção de um padrão de qualidade esta intimamente relacionado à seriedade e confiabilidade. Não vá me dizer que aquela revista semanal em papel couchê com fotos bem feitas, diagramação impecável e infográficos lindos não parece mais confiável que outra publicação feita em papel reciclado e com tinta a base de soja, e é justamente o contrário! Eu não quero dizer que não se tenha de investir na estética, mas é justamente neste caminho que os veículos se distanciam e o problema não é necessariamente a estética e sim a percepção, a relação latente que se tem com ela, e é ai que o Brasileiro entra bem. Esta relação com a estética, entretenimento e informação atuam na nossa subjetividade, é quase um canal subliminar para manipular-nos.
Estas estratégias aliadas a tantas outras que foram apontadas pelos grandes filósofos da comunicação transformaram a comunicação e uma arma, junte isto à cultura de consumo de Victor Lebow e presto! Conseguimos tudo, o povo vai estar bem ocupado neste ciclo vazio e irracional e nos do poder podemos nos manter seguros onde estamos. Se estes detentores do quarto poder tivessem um ataque de sinceridade eles falariam para você: Desculpe, mas eu te enganei este tempo todo…
Sinto muito meu amigo, você chamava seu filho, sobrinho ou seja lá quem for de alienado só porque ele ou ela passavam muito tempo frente ao computador, agora vai ter de admitir que alienado era você, afinal acima de tudo também não via nada de errado em passar muito tempo em frente a TV ou lendo jornais coloridos e revistas em papel couchê não é?
Uma nova sociedade esta surgindo com o advento da Internet, esta maldita Internet segundo o tripé do atraso, esta sociedade conectada não assiste muito TV, não gosta nem de jornais e nem de revistas, mas nem por isto é desinformada, é alias muito mais bem informada que você. Eles nasceram e cresceram no meio de uma tsunami de informação, dentro de uma cultura da abundância e entendem o ciberespaço como uma extensão de sua memória. Esta nova geração lê muito, aprende muito, debate muito, mas tudo na tela, no metaverso, no reverso da lógica e na contramão do passado. Não confiam em nada e nem ninguém, suas relações se dão por muitos laços fracos, suas convicções por muita desconfiança e suas amizades por afinidade ideológica. Como bom espécime da pós modernidade este novo individuo se permite mudar de opinião quantas vezes julgar necessário. A construção de seu conhecimento e sua subjetividade se dá através da comparação, faz uso da inteligência coletiva como se fosse sua, e no fim chegam a uma conclusão que pode mudar mais adiante sem culpas nem ressentimento, eles são a geração da cultura da desconfiança.
Por fim, a mídia como conhecemos precisa se reciclar, ela sempre focou na mensagem média para o usuário médio padronizado, mas em tempos de cauda longa o que mais temos é a diversidade, clusters e mais clusters com participantes tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais e igualmente voláteis e nem tão volúveis como se imagina. Se a mídia não se reciclar ela se tornará obsoleta quando a geração da cultura da confiança for maioria, daqui pouco menos de duas décadas…