Este texto escrevi em 09 de Outubro de 2021, agora torno público.
“O bolsonarismo é um apanhado de fracassados, de marginais, seres vazios de espirito. Uma manada cuja existência carecia de um significado. Gentalha ressentida, apodrecida, sem voz, que encontrou um representante à altura”
Paulo Brondi, promotor público de Goiás
É impressionante a cara de pau dessa gente sórdida que esta no poder atualmente no Brasil de Bolsonaro. Se declaram patriotas, mas tudo que fazem é lesar a pátria e destruir a soberania nacional.
Privatizaram, e seguem privatizando fatias importantes de estatais estratégicas e lucrativas, orientaram os preços do petróleo e produtos agropecuários ao dólar para o mercado internacional, e continuam a fazer isso.
A inflação crescente é culpa deles, de uma politica econômica focada apenas no topo especulativo da pirâmide e que prejudica a todos abaixo, incluindo eu e você.
Indústrias que existiram no Brasil por décadas, decidiram abandona-lo…
Depois de sucessivos cortes na saúde ciência e educação, agora deram a facada de misericórdia, cortando nada menos que 92%, isso irá matar definitivamente nossa ciência, com danos irreparáveis e forte evasão de cientistas.
Depois que este governo acabar, seremos um país com a soberania arrasada, totalmente dependente tanto energética, como tecnologicamente de outros países, configurando numa nação essencialmente de miseráveis, apesar de fartos recursos naturais.
Tudo isso porque um dia “ousamos” ser a sexta economia e seguir o modelo que levou a Noruega ao primeiro mundo, de dedicar parte significativa do pre-sal a saude e educação.
Em alguns anos, as próximas gerações, de seus filhos e netos não irão acreditar no quanto você foi imbecil em ter votado num sujeito que fez essa merda toda. Irão lhe cobrar, porque o Brasil que eles vão conhecer estará muito aquém do Brasil que você conheceu e ajudou a destruir com seu voto, seu ódio ou sua omissão.
Os estragos provocados por este governo de parasitas bolsonaristas, levará décadas para ser reparado, se conseguirmos reparar.
Ao menos eu poderei dizer a meus netos que fui contra isso desde o principio, e tentei convencer outras pessoas a não votarem nesse verme…
Mas o verme ganhou em 2018, e perdeu em 2022…
Esta na hora de levar o verme à justiça, para julgar seus crimes contra o país e contra a humanidade!
O Brasil parece que entrou na 5a série e esta sendo desgovernado por um bando de adolescentes. A postura rídicula de um chanceler, que pela profissão e formação, deveria zelar pelas relações diplomática, a começar pelo respeito aos costumes e regras do país que visita, decidiu ser o bobalhão da 5a série que desrespeita as regras para poder “lacrar” com os coleguinhas.
Isso é assustador! Esta representação simbólica de nosso país esta destruindo nossa imagem e tudo que construimos em termos de relações internacionais e diplomacia, ao longo de décadas, a passos largos.
O Brasil passou rapidamente de referência internacional em imunização e tratamento de epidemias para pária e agora segue forte na direção de ameaça global, se tornando o epicentro e laboratório a céu aberto da COVID e suas variantes.
A despeito de delegação com dez representantes, e aparentemente nenhum médico, enviada à Israel para buscar mais uma “solução milagrosa” contra a COVID, buscam a nova “cloroquina”. Apelidada de missão Borat, pelo jornalista Reinaldo Azevedo, onde escancara não só a inutilidade de uma missão científica sem cientistas e sem médicos, mas também a total falta de postura de seus representantes políticos, que são mantidos sob severa vigilância para não fazerem bobagens no país anfitrião… Vergonhoso!
Um total desperdício de NOSSO DINHEIRO, poderiam ter investido na USP, que está desenvolvendo um spray nasal contra a COVID, mas impossível diante do total desprezo do desgovernante mor da nação pela ciência, pelas instituições públicas e pelo Brasil, aliado ao temor de ver tal solução emergir de dentro da instuituição paulistana, trazendo a reboque a figura de seu governador, e seu pretenso adversario político.
O Brasil segue ha dois anos nas mãos desta turma de amadores delirantes, e só não entrou em total colapso dada a sua grandeza e a competência de algumas instituições que ainda foram aparelhadas com militares, fundamentalistas ou delirantes.
O caos em que o país se encontra, no tocante ao combate à pandemia, é resultado incontestável desta desgovernança. Esta na hora de militares voltarem para os quarteis, pastores para as igrejas, e tolos para o cantinho da vergonha.
Nomear um coronel, e que nada tem com a saúde, para comandar a pasta da saúde em plena pandemia, configura em si um dos erros mais graves. Mas ainda assim, se tivessem mantido os cargos importantes do ministério na mão dos especialistas, o ministério teria funcionado a contento, apesar do comando ruim, mas não foi o que aconteceu. O ministério teve seus cargos chave ocupados pela turma de negacionista e militares.
O ministério da saúde se transformou no ministério da morte, se tornou ausente e subordinado ao tosco saber do desgovernante mor da nação e seus delírios de poder. O ministério da morte tem trabalhado intensamente para o quadro atual em que vive, ou morre o Brasil, a começar pela sua total falta de iniciativa e incapacidade de coordenação nacional.
Não são só os Brasileiros e seus sonhos que estão morrendo, mas o país como um todo caminha para se tornar terra arrasada, com uma economia pífia, uma pobreza gigantesca, de um povo moribundo e faminto, morrendo sobre as riquezas da nação, que estão sendo entregues a preço de ocasião.
Se foi um projeto de destruição do Brasil, ele esta dando muito certo….
Não estou querendo acabar com a festa de ninguém não, mas 2021 não vai ser fácil, mesmo que tenhamos milhões de doses de vacina contra o coronavírus disponíveis já em janeiro.
A ausência de um plano de vacinação dialoga perfeitamente com um ministro da saúde que não é da área, e com um presidente que brinca de rei e acredita mais nas abobrinhas de sua mente do que na ciência. Estes irresponsáveis fizeram um estoque de cloroquina para mais de 100 anos, quando deveriam estar fazendo estoque de agulhas e seringas.
De nada adianta termos milhões de doses de vacina se não temos como aplica-las, segundo especialistas serão necessárias ao menos 300 milhões de conjuntos de seringa e agulhas para vacinar a primeira dose da população pouco superior a 200 milhões de brasileiros. As vacinas escolhidas até então no país necessitam de duas doses, e o governo também comeu mosca nos acordos com outros fabricantes, se fosse um governo sério teria feito acordos com todos.
Os fabricantes necessitam de SETE meses para fabricarem 300 milhões de seringas, se ao invés de cloroquina, o governo tivesse feito estoque de seringas estaríamos numa boa, mas agora iremos esperar na melhor hipótese até Agosto de 2021 para voltarmos a normalidade.
Mas estes não é o único problema, o país nunca fez uma campanha de vacinação desta dimensão, é uma empreitada única, e ao que parece o MS deu ao um veterinário a coordenação da tarefa.
Vacinação não é um ato individual, é necessário imunizar entre 60 à 90% da população para atingir o efeito desejado e erradicar a cepa atual do coronavírus, quanto maior a cobertura imunizatória, maiores as chances de não termos novas ondas com novas mutações do coronavirus, tal qual na gripe. Mas estamos vendo ai o próprio presidente, do topo de sua ignorância, fazendo campanha contra as vacinas e contra o ato cívico de vacinar-se.
Da para continuar dissertando sobre as falhas e riscos, muita coisa pode dar errado, e com esta falta de compromisso, estratégia e especialistas, esta chance é muito maior, e seria um luxo imaginar que teremos planos de contingência.
O governo esta dando muita chance ao azar, e provavelmente também seremos reconhecidos mundialmente como a nação com o pior plano de imunização do planeta. E provavelmente continuaremos isolados do mundo, uma vez que presumo que assim como hoje é com a febre amarela, o certificado internacional de vacinação contra a COVID será exigido nas fronteiras deste mundão. E teremos condições e credibilidade para emitir este certificado?
O ato de egoísmo dos promotores do MP de São Paulo ao tentarem buscar previlégio para vacinação pode ser um sinal de que esta disputa poderá se multiplicar, e tem uma razão para isso, pode faltar vacina pra muita gente. Não sei se isto poderá provocar algum tipo de convulsão social, mas a possibilidade é bem concreta.
A estratégia de vacinação atende a critérios científicos e técnicos, mas é difícil prever isto em um país governado por um presidente que despreza a ciência e tem aparelhado as instituições estratégicas da saúde, cultura e educação, com replicadores de sua própria ignorância.
Não consigo imaginar um bom cenário para 2021, vejo mais quebradeira, mortes, e a economia caindo a níveis nunca vistos, isto porque é impossível prosperar e consumir em um ambiente tão incerto.
A conta vai ser muito alta, acredito que o país levará décadas para se recuperar… de sua própria ignorância…
O General Villas Boas gerou um grande desconforto, ao dizer em uma entrevista, que a “legitimidade do novo governo pode até ser questionada”, despertando a preocupação com uma possível nova ditadura. Na sequência, o General Mourão diz que uma constituição não precisa ser feita por eleitos do povo. A despeito dos questionamentos políticos, legais e constitucionais relacionados à estas declarações, temos uma preocupação adicional: Como seria a vigilância em uma ditadura no Brasil de hoje?
Uma ditadura no Brasil de hoje provavelmente seria menos violenta, porém, através do uso massivo de inteligência, seria implacável, sutil e invisível, detectando rapidamente qualquer movimento ou padrão que signifique ameaça, muito antes de se tornar uma. Em termos de matriz de força será extremamente desproporcional, com todo poder ao vigilante e quase nenhum ao vigiado, um verdadeiro pesadelo para qualquer cidadão e qualquer democracia.
A intensidade e profundidade desta vigilância será limitada pela permeabilidade obtida pelo governo ditatorial junto às empresas de aplicações de Internet, operadores de rede, comunicação e segurança. Uma simples mudança de protocolo, ou instalação compulsória de dispositivos, burlariam qualquer restrição técnica ou legal deste acesso, por parte do governo.
Em termos práticos, seremos vigiados 24 horas por dia, sete dias por semana, inclusive à noite, enquanto dormimos. A intensidade e profundidade desta vigilância será limitada pela permeabilidade obtida pelo governo ditatorial junto às empresas de aplicações de Internet, operadores de rede, comunicação e segurança. Uma simples mudança de protocolo, ou instalação compulsória de dispositivos, burlariam qualquer restrição técnica ou legal deste acesso, por parte do governo.
No contexto atual, a mobilidade e o crescente desenvolvimento tecnológico, são os motores do sofisticado sistema de vigilância. Algumas das novas armas da ditadura serão a Análise de Redes Sociais (ARS), Homofilia, Psicometria, inteligência artificial, machine learning, muita mineração de dados, e construção de padrões por deep learning. Em linhas gerais todo e qualquer cidadão brasileiro estaria suscetível a esta nova vigilância, dificilmente alguém estaria fora de seu alcance.
É um padrão de vigilância que você provavelmente nunca imaginou, nem nos seus piores pesadelos. Imagine que o governo saberá que você está lendo este texto agora, a partir de qual dispositivo, qual a sua localização, se existem outras pessoas próximas a você, quem são, e se estão acessando algum serviço on-line, ou mesmo assistindo TV.
Além disto, o governo, por conhecer seu perfil psicométrico, suas particularidades, princípios, valores, e sua rede de relacionamento, saberá valorar o texto que esta lendo, e como você o processará cognitivamente. O governo também saberá quais pessoas de sua rede de relacionamento leram o texto, e qual valor deram a ele, e quais interações se deram em torno dele.
Por falar em rede de relacionamento, estas poderão ser mapeadas, mesmo que nunca tenham sido configuradas explicitamente, mesmo que você nunca tenha adicionado determinadas pessoas em sua rede social, na sua agenda de telefones, e somente as tenha contatado pessoalmente, é possível pelas tecnologias atuais inseri-las em suas redes, simplesmente por estarem próximas a você, seguindo um padrão posicional.
Em linhas gerais, você não fará nada sem que o governo saiba, ele pode não estar focado em você, mas os seus dados estarão sendo coletados, tratados, comparados, transmitidos e armazenados.
O governo saberá o que você vê, lê, ouve, compra, com que frequência, e com quem se relaciona, por onde anda, onde trabalha, mora, estuda, se diverte, se tem carro, ou como se desloca no meio urbano, ou seja, saberá toda sua rotina. O governo também saberá sobre seu relacionamento, estado civil, orientação sexual, se tem um ou mais parceiros, DST, problemas e dificuldades de relacionamento. Também terá acesso a seus dados fisiológicos e de atividades físicas, se você utiliza smartwatch ou faz algum registro online destas atividades. Em linhas gerais, você não fará nada sem que o governo saiba, ele pode não estar focado em você, mas os seus dados estarão sendo coletados, tratados, comparados, transmitidos e armazenados.
Este padrão de vigilância trabalha sobre o big data, e não sobre o indivíduo, e o foco da vigilância se dará sobre os padrões, ou seja, se você adotar algum padrão comportamental suspeito, se algum local que você tenha estado, ou se alguém de algumas de suas redes de relacionamento estiver no foco da vigilância, todos da rede e/ou todos que estiveram no local também serão alvo de vigilância.
O governo lhe conhecerá melhor do que você mesmo, construirá padrões de previsibilidade, saberá quando um determinado padrão significa uma ameaça, de que tipo e intensidade, e agirá para impedir um ilícito que poderia ser cometido, lembrando que ilícito em uma ditadura é um conceito muito ambíguo.
Você também poderá ser preso, por exemplo, por curtir publicações sobre “patinho amarelo” ou sobre o cultivo de bromélias. Isto, simplesmente, porque eventualmente um padrão identificou que pessoas que seguem as publicações do “patinho amarelo” tem 46% de chances de serem “subversivas”, e se também curtem publicações sobre o cultivo de bromélias esta probabilidade aumenta para 86%.
Você poderá ser preso simplesmente por ter estado em determinado local, e próximo à uma das pessoas envolvidas, por algumas vezes. Você também poderá ser preso, por exemplo, por curtir publicações sobre “patinho amarelo” ou sobre o cultivo de bromélias. Isto, simplesmente, porque eventualmente um padrão identificou que pessoas que seguem as publicações do “patinho amarelo” tem 46% de chances de serem “subversivas”, e se também curtem publicações sobre o cultivo de bromélias esta probabilidade aumenta para 86%. Estes padrões não são tão simples assim, mas atendem à uma lógica, que humanamente não parece fazer sentido, são padrões criados por homofilia, que significa comparar pessoas e seus hábitos, estabelecendo uma lógica relacional, e são construidos através de sofisticados processos de machine learning e deep learning, a partir de uma quantidade gigantesca de comparações.
As possibilidades vão além da vigilância, a tecnologia atual permite um sofisticado controle social, pois como praticamente toda interação com mediação tecnológica se dá através de sofisticados algoritmos, torna-se possível controlar a informação que chegará ao indivíduo, a visibilidade de seus grupos e amigos, ocultando ou exibindo estas informações de acordo com as intenções da ditadura.
As possibilidades vão além da vigilância, a tecnologia atual permite um sofisticado controle social, pois como praticamente toda interação com mediação tecnológica se dá através de sofisticados algoritmos, torna-se possível controlar a informação que chegará ao indivíduo, a visibilidade de seus grupos e amigos, ocultando ou exibindo estas informações de acordo com as intenções da ditadura. Esta prática distorcerá seu entendimento de senso comum, você poderá ter amigos extremamente ativos “subversivamente” e nem se dará conta disto, pois os algoritmos lhe apresentarão conteúdo e pessoas que estão de acordo com os interesses do governo.
Este controle social pode ir além das redes sociais e das ferramentas de busca, estamos cedendo nossa autonomia para os aplicativos, hoje o usamos até para saber a melhor rota para um caminho usual, ou qual o melhor restaurante perto, ou qual o par perfeito para você, além de outras atividades banais do dia-a-dia.
É importante lembrar que o governo também conhecerá em detalhes todas as suas fraquezas e vulnerabilidades, e as explorará em benefício próprio.
É importante lembrar que o governo também conhecerá em detalhes todas as suas fraquezas e vulnerabilidades, e as explorará em benefício próprio. Alias não só as suas, mas também as fraquezas e vulnerabilidades dos grupos que pertence, e as exploraria da mesma forma, inclusive produzindo harmonia e discórdias quando necessário através da interação com os algoritmos.
Este poder existe, mas está contido e distribuído. A pesquisadora Cathy O’Neil chama de cardeais dos algoritmos, aqueles que detém o controle dos complexos algoritmos e gigantescas bases de dados de indivíduos, ou seja, a “biomassa humana” nas palavras de Maria Wróblewska. Como dito, este poder esta contido e distribuído, o Facebook e o Google por exemplo detém o controle sobre suas “biomassas humanas”, mas utilizam recursos como trackers, pixels e parcerias para romper, mesmo que parcialmente estas barreiras. Desta forma por exemplo, você recebe publicidade de um item recém pesquisado na Internet em seu Facebook. Se o governo ganhar o acesso amplo a todas estas redes, tornando-se um “mega cardeal do algoritmo”, se tornará praticamente um deus, com amplos poderes sobre os indivíduos, e como dito anteriormente, este poder pode ser tomado, facilmente em um regime de exceção.
Todo este controle, permitirá à ditadura perpetuar-se por anos, décadas, sem que nada venha ameaça-la, a não ser que as forças “subversivas” consigam desvencilhar-se deste complexo organismo de vigilância. Apesar de assustador, este cenário é extremamente real e possível, com os recursos tecnológicos atuais.
A vigilância do século XXI
Para que você consiga compreender o cenário, é necessário mudar completamente o seu conceito de vigilância, que é o que tentarei nos próximos parágrafos.
Quando se fala em vigilância, logo vem a mente a imagem de uma câmera, com alguém observando atrás dos monitores. Sistemas de vigilância são naturalmente vistos desta forma, com centrais cheias de telas, e pessoas de olho nestas telas. É um modelo obsoleto, ineficiente, e está fadado a desaparecer em poucos anos, sendo substituído por uma “vigilância cega”.
O modelo de vigilância do Panóptico de Benthan, descrito por Foucault em “Vigiar e Punir“, é similar ao modelo de vigilância da obra distópica 1984 de George Orwell, representada pela “teletela”, um dispositivo que ao mesmo tempo em que funcionava como uma TV com programação exclusiva do “partido”, servia de olhos e ouvidos para o “Grande Irmão”. O modelo panóptico baseia no par ver ser visto, a partir de um ponto de observação central, tendo o vigilante ampla visão do vigiado, e este nenhuma visão do vigilante, presumindo estar sendo vigiado. O Panóptico descrito por Foucault, por esta premissa, torna-se mais um instrumento de controle, do que propriamente vigilância. Um controle leve, eficiente, sem grades, invisível, e pela pressuposição de estar sendo vigiado.
O panóptico, que representa o modelo de vigilância vigente até o século XX, tornou-se obsoleto no século XXI. Zigmunt Bauman em “Vigilância Líquida” apresenta o conceito do “panóptico pessoal”, em que o indivíduo torna-se vigilante de si e de seus pares, e cada um carrega seu próprio Panóptico, materializado por Bauman como seus smartphones e dispositivos conectados. O que Bauman descreve, dialoga com o que Fernanda Bruno, em “Máquinas de ver, Modo de Ser. Vigilância Tecnologia e Subjetividade“, descreve como “Vigilância Distribuída”, que tira a centralidade da vigilância, principal característica do panóptico. A Vigilância Distribuída se dá a partir de vários dispositivos conectados, e não somente por um, configurando o que classifico como meta dispositivo de vigilância, que são dispositivos interconectados, como por exemplo, um smartphone conectado a um smartwatch.
O advento do big data substituiu o modelo panóptico pelo panspectro. O panspectro é uma expressão cunhada por Manuel DeLanda em 1991, no livro “Guerra na era das máquinas inteligentes”, e posteriormente usado por Sandra Braman no livro “Change of State – Information, Policy, and Power“. O foco do panspectro não é o indivíduo em particular, ele esta focado nos dados, em todos os dados, e sua ação focal se dá em resposta à padrões, como já foi descrito anteriormente. A mineração dos dados, o uso de machine learning e deep learning, configuram a vigilância cega, uma vigilância com foco em padrões onde sua visibilidade se torna necessária apenas como resposta à padrões desviantes ou ressonantes, estes dados são coletados através dos dispositivos e meta dispositivos de vigilância.
Dispositivos e meta dispositivos, pela perspectiva da Vigilância Distribuída, configuram um complexo Organismo de Vigilância, onde cada um representa um dos bilhões de nós deste organismo. É como se estivéssemos literalmente imersos em um mega dispositivos de vigilância com alta capilaridade e invisível. São smartphones, tablets, computadores, smartwatch, wearables, câmeras de vigilância, drones, RFID, redes abertas, redes de telefonia móvel, e qualquer outro dispositivo tecnológico conectado, doravante conhecido por “dispositivo”.
Para você ter uma ideia do potencial de vigilância dos dispositivos, os smartphones mais populares, como o iPhone e o Galaxy S possuem sensores como GPS, beacon (que são sensores que identificam a proximidade de outros dispositivos), altímetro barométrico, acelerômetro, giroscópio, sensor de proximidade e de luz ambiente, assistente inteligente, microfone, alto falante, câmera frontal e traseira, e alguma forma de identificação biométrica. Além de possuírem conectividade por Wi-fi, Bluetooth, 3G e 4G. Estes dispositivos estão na maioria das vezes coletando dados, de forma involuntária, e muito caros ao indivíduo e sua privacidade.
Temos hoje um organismo de vigilância com mais de 12,3 bilhões de dispositivos, ou seja, 1,6 dispositivos por habitante do planeta.
Em termos de grandeza concreta, segundo o Internet World Stats, em Dezembro de 2017, 4,1 bilhões de pessoas tinham acesso a Internet, considerando que o relatório da Cisco projeta que em 2020, existirão em média 3,4 dispositivos conectados à Internet por usuário, e considerando a média de 3 dispositivos, temos hoje um organismo de vigilância com mais de 12,3 bilhões de dispositivos, ou seja, 1,6 dispositivos por habitante do planeta, considerando a população atual em 7,7 bilhões, sem contar os demais dispositivos de vigilância como câmeras, drones, e outros, e sem esquecer que cada dispositivo pode ter vários sensores.
Dificilmente damos conta que carregamos conosco um dispositivo de vigilância tão poderoso, a ponto de muitos ativistas chama-los de “dispositivo de vigilância que permite fazer ligações telefônicas”. Eles nos rastreiam mesmo quando não estamos conectados à Internet, como demonstra esta matéria da Fox News.
Mas não são somente estes os dispositivos e tecnologias que podem acabar literalmente com a nossa privacidade, em caso da instalação de uma ditadura no país. Nossos hábitos na internet também produzem dados sobre nós, além das relações mediadas por algoritmos, são cookies, trackers, remarketing que capturam dados sobre nós.
O Facebook, por exemplo, faz uso de trackers para saber o que você faz na Internet, quando não esta nele, mas também usa dados do WhatsApp e Instagram, por serem empresas do mesmo grupo. Na verdade o Facebook e o Google são a mais clara representação do que Shoshana Zuboff chama de capitalismo de vigilância. Este complexo mecanismo de captura, coleta, tratamento, analise e armazenamento de dados chamado Facebook, foi explorado em profundidade pelo ShareLab, e descrito em forma de monólogo pela Panoptykon Foundation, no vídeo a seguir.
https://youtu.be/WJ7s5heakqE
Como pode perceber, não podemos pensar em um modelo de vigilância e controle no século XXI, com a mente do século XX, o formato e conceito de vigilância mudaram. Do Panóptico de Foucault, onde primava o par ver ser visto, ao Panspectro de Braman, onde prima a coleta indiscriminada de dados, e a vigilância se manifesta em respostas a padrões. Os dados que produzimos podem dizer muito mais sobre nós do que a simples vigilância. O modelo atual, representado na figura abaixo, tem as características visuais do Panóptico, mas apenas como elemento complementar ao vasto potencial de vigilância do Panspectro.
Vamos tomar por exemplo um caso real, o Norte Shopping, no Rio de Janeiro. Este shopping instalou um moderno sistema de câmeras de segurança que faz o reconhecimento facial de todos que transitam em seu interior, o que possibilitou inclusive a prisão de dois criminosos procurados. O sistema, segundo a empresa que o fornece, como descrito na matéria, faz o reconhecimento facial do indivíduo e o compara com um banco de dados.
Imagine então que você entre neste shopping, o sistema irá fazer uma leitura da sua face, sem que você perceba, em seguida consultará uma base de dados, e se não encontrar registro, irá criar um novo com o modelo matemático de sua face, dando o identificador hipotético “IND18A7F8E7”. O sistema então passa a registrar seu deslocamento dentro do shopping, por onde andou, em que lojas parou para ver a vitrine, em quais entrou, quanto tempo demorou, etc. Tudo isto é feito sem nenhuma interação humana, mas tudo fica registrado, eu suponho.
Neste momento você pega seu smartphone e resolve conectar à rede wifi do shopping, que em geral pede dados cadastrais como nome, cpf, e número de telefone para conceder o acesso. Supondo que os sistemas sejam interligados, a partir deste ponto, utilizando a triangulação dos pontos de acesso wifi, sua posição pode ser determinada, e comparada com a posição do registro da câmera de vigilância, associando seus dados ao usuário IND18A7F8E7. Novamente lembramos que tudo é feito sem nenhuma interação humana.
Agora imagine, em uma ditadura, que sistemas como estes sejam interligados, e os dados sejam acessados pelo governo. Mesmo que você não esteja carregando nenhum dispositivo, sua identificação será possível por sistemas deste tipo.
Alias não precisamos ir muito longe, ainda no Rio de Janeiro, a CodingRights fez um estudo sobre o bilhete único carioca, e chegou a conclusão que os dados dos usuários, inclusive os biométricos de reconhecimento facial, são compartilhados com a polícia e a secretaria municipal de transportes. Imagine então que nem no ônibus é possível viajar incógnito. Junte a estes sistemas de reconhecimento de placas de automóveis, que possuem câmeras espalhadas pela cidade, a nova placa com chip e QR Code, e seu carro poderá ser rastreado, os limites da vigilância não terminam ai.
Estamos há anos trocando nossa liberdade, nossa privacidade e autonomia pelo conforto da tecnologia, e pela segurança que esta proporciona, o preço desta prática só será percebido quando em uma ditadura nos tornarmos prisioneiros dela.
BAUMAN, Z. Vigilância Líquida. In: MEDEIROS, C. A. (trad.). [s.l.]: Zahar, 2014. 160 p. ISBN: 978-8537811566.
BRAMAN, S. Change of State – Information, Policy, and Power. Nature Publishing Group. London, England: The MIT Press, 2006. 570 p. ISBN: 9780262025973.
BRUNO, F. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade. 1 ed. Porto Alegre: Sulina, 2013. ISBN: 9788520506820.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir o nascimento da prisão. 29 ed. São Paulo: Editora Vozes, 2004. 266 p. ISBN: 8532605087.
O’NEIL, C. Weapons of Math Destruction, How big data increases inequality and threatens democracy. New York: Crown Publishing Group, 2016. 307 p. ISBN: 9780553418828.
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ZUBOFF, S. Big other: Surveillance capitalism and the prospects of an information civilization. Journal of Information Technology, [s.l.], v. 30, no 1, p. 75–89, 2015. ISBN: 02683962, ISSN: 14664437, DOI: 10.1057/jit.2015.5.
Há muito tempo venho avaliando a sociedade atual como sendo econocêntrica, aquela que tudo percebe pela ótica da economia, ou em outras palavras, a economia é a estrutura pela qual a sociedade avalia o mundo que a cerca. O Brasil, um país onde mais de 90% da população tem uma renda mensal inferior aos R$ 4.377,73, que são concedidos à titulo de auxilio moradia aos juízes, não parece fazer o menor sentido nos preocuparmos com o fato do índice BOVESPA ter caído ou o dólar ter subido, ou ainda que a projeção do PIB subiu 0,01%, quem dirá com a taxação de grandes fortunas. Ainda mais se levarmos em conta que 61,2% das famílias brasileiras estão endividadas, e 25,2% estão inadimplentes.
Criaram a “classe média” para apaziguar quem iria se rebelar se percebesse que somos todos pobres: precisamos trabalhar para mantermos nosso estilo de vida e não morrermos de fome.
A polêmica se deu pela reação desmedida de alguns leitores ao título — “A quem interessa uma classe média que não se vê como pobre?”-, e ao conteúdo, crítico e realista. Mas esta noção de realidade é difícil para todo mundo, você por acaso se imagina pobre? Então deixa eu te mostrar uns dados e gráficos que extrai do PNAD de 2017 e algumas matérias por ai. Segundo o PNAD, o rendimento médio mensal do Brasileiro foi de R$ 2.178,00, menos da metade do auxilio moradia de um juiz. Assim como apenas 4% da população ganha em média R$ 9.782,00 e apenas 1% ganha em média R$ 27.213,00, vejamos o gráfico que montei a seguir:
Como você pode ver, a tal elite que representa o famoso 1% da população não são estes que ganham em média R$ 27.213,00. Olhando este gráfico, você que está na classe A ou B, se sente um milionário, visto que 65% da população ganha em média R$ 1008,00, então você ganha em média entre 9 e 27 vezes este valor.
Mas sabemos que tem gente ganhando muito mais de 27 mil por mês, provavelmente o IBGE expurgou os supersalários. Tomemos os juízes por exemplo, 71% ganha acima do teto constitucional que é de R$ 33.763,00 configurando um salário médio de R$ 42.505,66. Temos ainda os CEOs de grandes empresas, que ganham em média R$ 142.000,00 por mês. E não podemos deixar de incluir os apresentadores de TV, os 10 mais bem pagos, ganham em média a bagatela de R$ 1.000.000,00 por mês, tem ainda os donos e executivos das emissoras, jogadores de futebol, mas vamos ficar só com estes aqui mesmo. Colocando esta turma no gráfico anterior temos um cenário interessante:
Observe como as classes B e C, a dita classe média ficou insignificante, até mesmo a classe A, e visualmente pouco distante das demais classes abaixo dela. Se tirarmos uma média dos supersalários temos R$ 394.835,00 que é 14,5 vezes maior que o salário médio da classe A, 40,36 vezes maior que o salário médio da classe B, 75,73 vezes maior que o salário médio da classe C e 181,28 vezes maior que o salário médio do brasileiro em 2017!
Mas mesmo eles não são a tal elite, todos trabalham, a elite, ou seja, os ricos, não possuem salário, pois não trabalham, vivem literalmente do mercado financeiro, e suas riquezas permeiam diversas empresas, institutos e organizações que custeiam suas despesas e detém seus bens.
Porque somos uma sociedade míope?
Acredito que agora você compreenda melhor quem são os detentores das grandes fortunas que tanto se quer taxar, e que a sua distância social para a do trabalhador que recebe um salário mínimo é insignificante frente à sua distância para os mais ricos. Mas mesmo assim, boa parte da sociedade não enxerga isto, enxerga por uma perspectiva míope, ou seja, uma perspectiva imaginária e distorcida, mas que é diariamente estimulada por todos os meios de comunicação e valores culturais e históricos que pavimentam a sociedade brasileira.
Diferente da visão de igualdade e pertencimento do europeu, que consolidou com o pacto social do pós guerra, na reconstrução dos países e do continente, o brasileiro herdou uma cultura do desprezo de classe da época da escravidão em conjunção com a visão de subserviência de um país que ainda não perdeu a identidade de colônia, nossa visão de sociedade em muito se assemelha com o sistema indiano de castas.
Enquanto não rompermos com esta perspectiva, e guturalmente nos percebermos como uma nação, onde cada um tem um papel importante na sociedade, que merece ser admirado e respeitado pelo que representa, nunca sairemos desta espiral negativa que nos assombra periodicamente.
O Brasil está neste momento numa das piores espirais negativas que vi em meus pouco mais de 50 anos, nunca vi tanta intolerância, preconceito e ódio de classe. Também nunca vi nossa sociedade tão desorientada, generalizando o mal, e personificando o bem, reduzindo questões complexas a perspectivas cartesianas e polarizadas, como se estes assuntos fossem passíveis de resolver por uma lógica booleana.
Depois o impeachment, ou melhor do golpe de 2016, por causa deste comportamento assistimos passivamente o maior desmonte do Estado da história, nem mesmo na ditadura se chegou à tanto, mas nossa sociedade segue entretida, numa troca de papéis, sentimentos e ofensa, ora movido pela vergonha, ora pelo ódio, como se de fato fôssemos responsáveis pelo que esta acontecendo.
Somente se pararmos a espiral negativa conseguiremos enxergar com clareza e reagir a tempo de salvar o pouco que resta de Brasil, faça as pazes com seu amigo ou parente que você brigou por causa de bobagem, mostre que estamos do mesmo lado, que é bom que tenhamos opiniões divergentes, mas principalmente que agora estamos aberto a debater, com calma e sabedoria. Vamos aplicar uma visão crítica às informações e noticias que nos chegam, isto significa olhar com desconfiança, buscar o controverso, debater, ouvir, concluir e ainda assim, estar disposto a mudar novamente. Vamos fazer um exercício…
Pouca areia pro nosso caminhãozinho
Quando falei lá no inicio que não fazia sentido nos preocuparmos com a variação do dólar, do índice BOVESPA e do PIB, é porque este indicadores não nos afetam diretamente, vamos falar de caminhão e petróleo para você perceber o que estou dizendo.
O locaute ou greve dos caminhoneiros, que vem promovendo uma crise de abastecimento crescente, não só de combustível, mas também de produtos frescos como hortifrutigranjeiros, e agora a greve dos petroleiros, revelando um grave problema que passou despercebido. Enquanto a grande mídia responsabilizava o governo anterior por subsídios excessivos no preço dos combustíveis, a realidade vinha de dentro da petrolífera. Na gestão de Pedro Parente, desde outubro de 2016 a Petrobras adotou o pareamento com o preço internacional do Petróleo, por esta razão os combustíveis subiram tanto. Segundo a Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), esta política que vem ganhando o apelido de “America First!”, beneficiando as petrolíferas Americanas, estamos exportando quantidades enormes de petróleo bruto e importando quase todo combustível, tornando nossas refinarias ociosas.
Com o desemprego beirando os 14%, a política de preços da Petrobras só piora as coisas, indústrias de capital intensivo como a petrolífera, giram um verdadeiro ecossistema econômico em seu entorno, produtos e serviços auxiliares, por exemplo. Com a ociosidade das refinarias teremos em breve ainda mais desempregos. Só por esta razão o subsídio seria de longe a melhor alternativa, ainda assim, a AEPET destaca em sua nota que o subsídio dos governos anteriores nunca afetaram a geração de caixa. Mas a grande mídia cumpre seu papel, fazendo a população acreditar que foram os subsídios do governo anterior os responsáveis pelos sucessivos aumentos do preço dos combustíveis, escondendo a verdade, ou pelo menos a outra perspectiva do problema.
Ainda pensando em termos práticos, apesar de estarmos exportando petróleo como nunca, não iremos nos beneficiar deste aumento de receita por causa da PEC 241 que congela o orçamento da união por 20 anos. E ao conceder a exploração do precioso pre-sal às companhias estrangeiras, além do aumento do desemprego, corremos ainda o risco de ficarmos sem nossa reserva estratégica de petróleo em poucos anos.
Nos governos anteriores, o Brasil seguiu o sucesso norueguês com o pre-sal, destinando 100% dos seus royalties para a saúde e educação, a mesma Noruega que agora detém 25% do campo de Roncador na bacia de Campos, o Brasil perdeu, perdeu e vem perdendo, estamos fadados a um colapso em poucos anos. O golpe nos derrubou pirâmide de Maslow abaixo, antes visávamos o auto reconhecimento, e o pertencimento social, hoje estamos nos preocupando com o básico que é segurança, emprego e moradia.
Temos de mudar isto, mas não com o ódio, e sim com o amor…
A vitória de Trump deixou o mundo perplexo, não demorou muito para surgirem textos responsabilizando o Facebook e sua bolha pelo resultado inusitado, alias um tema que circulava mais pela esfera acadêmica e mais especializada ganhou uma popularidade fora do comum nos últimos dias, nunca vi tantos textos sobre o assunto publicados em tão curto espaço de tempo, e nos espaços reconhecidos do jornalismo global.
Sejamos justos, esta bola começou a ser levantada aqui nas nossas recentes eleições, eu mesmo no projeto Eleições 2016 ofereci dois workshops que visavam não só esta mais outras estratégias. A popularidade do tema veio a tona no Brasil com um artigo escrito pelo Professor Vinicius Wu e publicado no O Globo, onde ele falou que a maioria dos candidatos estavam na prática fazendo campanhas para suas próprias bolhas nas redes sociais.
Mas afinal o que são as bolhas e como elas podem decidir eleições?
Antes de mais nada é preciso entender uma coisa, a bolha não algo que você “entra” e muito menos coletiva, a bolha é pessoal e você mesmo a constrói em torno de si com a ajuda dos algoritmos.
O que são bolhas e algoritmos ?
É possível que você não compreenda o que é uma bolha ou filtro bolha e até mesmo o que é um algoritmo, e muito menos usar os dois para construir algo em torno de si, não se preocupe, vamos explicar.
Vamos partir do principio, Eli Pariser, um ciberativista que pesquisou o tema, e escreveu um excelente livro “O Filtro Invisível: O que a Internet está escondendo de você“, onde ele descreve didaticamente como surgiram os filtros invisíveis e dá à eles o nome de filtro bolha, também conhecido por bolha. Segundo Pariser, um dos visionários da tecnologia Nicholas Negroponte, pesquisador do MIT, já em 1994 pensava no que ele chamou de “agentes inteligentes”, que seriam algoritmos que funcionam como curador de conteúdo. As primeiras experiências com “agentes inteligentes” foram um desastre, mas Jeff Bezos desenvolveu o conceito do “agente inteligente” da Amazon com base no livreiro que te conhece e recomenda os livros que acredita lhe interessar. Para atingir este objetivo o algoritmo passou a registrar tudo que ocorria no site, quem via ou comprava um livro, e quais interessavam também, e rapidamente criou uma lógica de relacionamento capaz de apresentar com razoável margem de acerto sugestões de leitura com base em sua pesquisa, de onde acessa, e seu histórico de compra e busca, estava criada a primeira bolha eficiente.
Duas pessoas com dispositivos idênticos acessando o Google pela mesma rede, com as mesmas palavras chave nunca obterão os mesmos resultados.
Google também adotou um algoritmo com critérios que definem a relevância e aderência da busca com o que ele acredita que você esteja procurando, baseia-se em inúmeras variáveis, que envolvem desde seu histórico de busca até o local e dispositivo de onde esta sendo feita a pesquisa. Duas pessoas com dispositivos idênticos acessando pela mesma rede, com as mesmas palavras chave nunca obterão os mesmos resultados. O mesmo acontece no Netflix, Facebook e diversas outras redes e serviços que você acessa, que estão sempre registrando e comparando um número cada vez maior de informações sobre você, seus relacionamentos e interesses para tentar acertar de forma eficiente o seu desejo. É o que ocorre com a linha do tempo do Facebook, que na prática não é ordenada cronologicamente, mas de acordo com o que algoritmo do Facebook julga relevante para você, é que você não percebe isto até prestar atenção nos detalhes.
Os problemas com as bolhas
A preguiça é da natureza humana, ter um algoritmo (curador) lhe oferecendo conteúdo e informação sob medida é quase um sonho, mas pode rapidamente se tornar um pesadelo.
Bolhas são invisíveis
O primeiro problema com as bolhas é que elas são invisíveis, se você não sabe que elas existem, dificilmente irá percebe-las, e muitas vezes até mesmo consciente parece não perceber. As bolhas são algoritmos construidos para lhe oferecer conteúdo e informação que julgam mais adequadas para seus interesses.
Bolhas são algoritmos
Bolhas são algoritmos, modelos matemáticos, baseados em lógica, e por esta razão não são capazes de perceber elementos subjetivos como as suas emoções, linguagem corporal e contextos no qual são acionados… ainda…
Cathy O’Neil, cientista de dados apresenta em seu livro Weapons of Math Destruction, uma série de casos e levanta questões éticas e lógicas de diversos modelos matemáticos sobre big data, e como eles podem aumentar a desigualdade e ameaçar a democracia. Segundo O’Neil, modelos matemáticos são o motor de nossa economia digital e não são neutros e muito menos perfeitos, como ela apresenta nestas duas conclusões:
“Aplicações baseadas em matemática e que empoderam a Economia de Dados são baseadas em escolhas feitas por seres humanos falíveis”.
“Esses modelos matemáticos são opacos, e seu trabalho é invisível para todos, exceto os cardeais em suas áreas: matemáticos e cientistas computacionais. Seus vereditos são imunes a disputas ou apelos, mesmo quando errados ou nocivos. E tendem a punir pobres e oprimidos, enquanto tornam os ricos mais ricos em nossa sociedade”.
Você constrói a sua bolha
As bolhas não existem sem você, as bolhas que apresentam o conteúdo que acessa no Facebook, Google, Amazon, Netflix e outras são exclusivamente suas, e você às construiu. Muitos algoritmos comparam seus hábitos com outras pessoas que julgam semelhantes, mas eles precisam aprender sobre você. No Facebook por exemplo, o algoritmo chamado EdgeRank registra tudo que você faz, que postagens curte, comenta, compartilha, em quais clica, em quais passa mais ou menos tempo, e assim ele vai “aprendendo” a lhe agradar.
O problema, como visto, é que bolhas são algoritmos, modelos matemáticos, que são recursivos, ou seja, estão sempre aprimorando e aprendendo com você, quando você não presta atenção à um post ou quando rejeita postagens e bloqueia pessoas ou simplesmente as ignora, o EdgeRank entende que você não quer mais este conteúdo e os suprime da sua linha do tempo, criando uma distorção da realidade que Eli Pariser chama de “Síndrome do Mundo Bom”. A “Síndrome do Mundo Bom” é quando sua linha do tempo está tão “purificada” que só lhe apresenta conteúdos que alinham com você ideologicamente e lhe agradam, o mundo bom, esta justamente nesta percepção distorcida da realidade, onde “todos” pensam igual a você.
As bolhas são seu senso comum
A forma como o ser humano percebe o mundo, é complexa, o cérebro usa de atalhos para tomar decisões, que em sua maioria são intuitivas. Leonard Mlodinow no livro Subliminar demonstra o quanto nossas decisões são baseadas em questões subjetivas, tanto que segundo o autor alguns cientistas estimam que só temos consciência de cerca de 5% de nossa função cognitiva. Os outros 95% vão para além da nossa consciência e exercem enorme influência em nossa vida. Podemos não perceber, mas estamos formando o entendimento de senso comum em todos os ciclos sociais, inclusive nas nossas bolhas. O senso comum formado dentro de uma bolha purificada, que atingiu a “síndrome do mundo bom” é totalmente distorcido da realidade, e pode levar ao radicalismo.
Nos somos parte das bolhas dos outros
Assim como construímos nossas bolhas com conteúdos produzidos por outras pessoas, elas constroem suas bolhas com conteúdos que podem ser também os seus, as bolhas não são reciprocas, nem sempre o autor do conteúdo que te interessa, tem interesse por seu conteúdo. Como somos responsáveis pelo conteúdo que interessa à alguém, somos em algum nível influenciadores destas pessoas.
As bolhas são a nossa Matrix
Estamos sempre acreditando que nas redes sociais, em especial no Facebook, estamos publicando para o mundo, mas na prática, estamos publicando para um público bem restrito, de 3% a 6% do seus “amigos” e seguidores. Suas publicações só conseguem um alcance maior quando alguém as compartilha. Ou seja, estamos quase sempre recebendo informações das mesmas pessoas que nos interessam, e compartilhando para as mesmas que tem interesse em você. Nos sentimos falando para um público de milhões de pessoas, mas na prática seus ouvintes caberiam na maioria das vezes na sua sala de estar.
Se fôssemos fazer uma ilustração de como seria sua bolha, teriamos algo como um diagrama de Venn, mas seria um diagrama tridimensional, mostrando como sua bolha é construida com a conexão de outras bolhas. O tamanho do espaço de interseção seria proporcional ao nível de interesse por temas de determinada bolha. Mesmo assim é necessário destacar que as relações das bolhas do conteúdo que você consome e a do conteúdo que você produz podem ser totalmente diferentes.
Como as bolhas podem influenciar uma eleição?
Agora que você já sabe o que são algoritmos, bolhas e seus problemas fica mais fácil compreender como elas podem influenciar não só uma eleição, mas em decisões importantes como aconteceu no golpe de estado sofrido no Brasil este ano. Vamos focar inicialmente no Facebook, uma rede social de tamanho nunca antes imaginado, um “veiculo de mídia” com dois BILHÕES de usuários, que representam 2/3 de todos os usuários com acesso à Internet no mundo. Com esta dimensão é impossível dissocia-lo de fazer parte da equação que avalia mudanças globais de comportamento social, como a emergência da extrema direita e a onda de ódio e polarização.
No início deste ano tornei público parte do meu projeto de pesquisa, com o qual estou desenvolvendo minha dissertação de mestrado – O poder político e ideológico do Filtro Bolha – nele constam alguns casos relevantes de como o Facebook pode influenciar os seus usuários, tanto o resultado de uma eleição quanto o próprio comportamento:
Influenciando uma eleição
Para Zittrain (2014) O Facebook pode decidir uma eleição sem que ninguém perceba isto. Em seu texto ele demonstra que a simples priorização de um candidato na linha do tempo é suficiente para isto, principalmente frente aos usuários indecisos. Para sustentar sua tese, Zittrain cita um estudo desenvolvido em 2 de Novembro de 2010, onde uma publicação que auxiliava encontrar a zona de votação nos Estados Unidos apresentava a opção do usuário clicar um botão e informar a seis amigos que já havia votado. Isto produziu um aumento no número de votantes na região do experimento.
Influenciando o comportamento dos usuários
A controvérsia em relação ao filtro bolha ganhou uma dimensão significativa, e passou a chamar a atenção não só de pesquisadores, mas principalmente de ativistas, advogados e políticos, quando um estudo desenvolvido por pesquisadores ligados ao Facebook concluiu que era possível alterar o humor dos usuários por contágio emocional pela rede social. O experimento consistia em transferir emoções por contágio sem o conhecimento dos envolvidos, Kramer et al. (2014, p. 8788 tradução nossa) e foi bem sucedido:
Em um experimento com pessoas que usam o Facebook, testamos se o contágio emocional ocorre fora da interação presencial entre os indivíduos, reduzindo a quantidade de conteúdo emocional na linha do tempo. Quando foram reduzidos expressões positivas, as pessoas produziram menos publicações positivas e mais publicações negativas; quando foram reduzidos expressões negativas, o padrão oposto ocorreu.
Subjugando a subjetividade
Aqui é que entra o grande ponto, é possível influenciar massivamente usando o Facebook, desde que se conheça a rede e seu funcionamento, por exemplo, John Rendon (RAMPTON; STAUBER, 2003) que se define como um “guerreiro da informação e um administrador de percepções”, para ele a chave para modificar a opinião pública está em encontrar diferentes formas de dizer a mesma coisa. Este padrão pode ser perfeitamente encontrado na Síndrome do Mundo Bom.
A própria purificação da linha do tempo seria suficiente para mudar a percepção dos usuários e faze-los acreditar na sua versão dos fatos, mas apesar de muita gente construir seu senso comum pelo Facebook, há uma necessidade de reforçar a narrativa que se quer estabelecer, do contrário bastaria o usuário se afastar da rede social por alguns dias para reconstruir sua percepção de senso comum e entrar numa dissonância cognitiva em torno disto.
Como em todo bom filme de ficção, onde o protagonista é levado a crer numa realidade induzida, muitos os elementos em sua volta devem corresponder à narrativa que se quer induzir. O grande segredo está na aplicação das técnicas de comunicação radical, que usamos no ciberativismo contra o projeto de lei AI5digital, em 2008, quando ainda tínhamos o domínio absoluto das técnicas de comunicação na rede.
Na ocasião usamos as blogagens coletivas, onde dezenas de blogs postavam em uma data específica textos contra o projeto de lei, foram centenas de blogs, que mudaram radicalmente o resultado do Google quando se pesquisava sobre o tema, apresentando vários links contra o projeto no topo dos resultados. O usuário do Facebook por exemplo costuma checar no Google sobre os temas que lhe interessam, e partindo do principio de que se ele já esta na síndrome do mundo bom, esta predisposto a compartilhar qualquer informação que corrobore com seu ponto de vista, independente da confiabilidade da fonte. Observe quantos blogs fakes surgiram nos últimos dois anos por aqui com textos contra o governo destituído. O mesmo se deu nas eleições americanas, uma infinidade de textos falsos foram compartilhados, muitos por usuários fakes, mas parte significativa por usuários predispostos à faze-lo.
Uma outra técnica foi a de fragmentar a informação de modo a direciona-la para diferentes grupos de interlocutores, por exemplo no projeto de lei citado, um artigo propunha pena de dois anos de detenção se violado um software, na ocasião passamos a informação aos grupos de gamers, que o uso de bots daria dois anos de cadeia e a lei fosse aprovada. Com isto engaja-se mais gente, hoje com o WhatsApp a fragmentação é muito mais fácil, utiliza-se por exemplo o que O’Neil chama de marketing predatório, dialogando com o ponto de dor dos interlocutores oferecendo o alivio da dor. É assim que estão convencendo os mais inocentes à aceitar a reforma trabalhista, um dos argumentos é que o FGTS rendeu menos que uma determinada aplicação, e que seria melhor que o empregado recebesse e aplicasse o dinheiro, e impressiona como isto esta sendo disseminado. Nas eleições de 2014 e nas municipais deste ano, o volume de informação falsa contra adversários foi uma enormidade, o mesmo acredito ter sido feito nas eleições americanas.
Estes são duas das várias técnicas de comunicação radical, que podem reforçar a narrativa que se quer passar, e que passam a ganhar consistência quando devolvidas para o Facebook e compartilhadas por usuários comuns, produzindo uma grande bolha que é na verdade uma soma de milhares de bolhas individuais que estão alinhadas, e assim consegue-se subjugar a subjetividade de uma grande massa da sociedade, quanto mais se a mídia de massa também estiver alinhada na narrativa.
Por fim, este texto tem por objetivo apresentar mais uma reflexão sobre o debate, somando-se a outros tantos que foram publicados.
O texto a seguir é parte do meu pré projeto para mestrado, que torno público como contribuição ao debate atual em torno da conjuntura que o Brasil vive neste início de março de 2016.
Introdução
Em Maio de 2015 pesquisadores do Facebook publicaram um estudo intitulado “Exposure to ideologically diverse news and opinion on Facebook” (BAKSHY et al., 2015). O estudo focava em duas criticas mais comuns em torno do algoritmo do Facebook: Com cada vez mais indivíduos buscando informações cívicas nas redes sociais, o algoritmo poderia criar “câmeras de eco”, onde as pessoas são mais expostas a informações compartilhadas por seus pares ideológicos. A outra questão focava como o algoritmo classificava e buscava as informações exibidas na linha do tempo da rede social. Segundo Pariser (2012) o algoritmo criava um “filtro bolha”, onde somente conteúdo ideologicamente atraente era trazido à tona, isolando o usuário da diversidade.
O resultado apresentado mostra que os usuários estão expostos a uma quantidade substancial de conteúdo a partir de amigos com pontos de vista opostos, e que o mix de conteúdo encontrado na rede social é produto de uma escolha pessoal, e que apenas entre em 5 a 10% do que não se alinha à visão política do usuário é omitido.
Por conta desta conclusão, o estudo ganhou pelos críticos, ativistas e acadêmicos, o apelido de “Facebook’s it’s not our fault study”. Destes, Zeynep Tufecki (2015), socióloga ligada ao Berkman Center, de Harvard aponta algumas inconsistências. Em primeiro lugar foram tomados dados de um pequeno grupo de usuários, aqueles que se auto-identificam politicamente. Presume-se que esses que se auto-identificam são mais propensos a criarem uma bolha informativa em torno de si, uma vez que já estão politicamente definidos. A outra questão é que há uma brutal variação entre a probabilidade de uma informação ser visualizada quando disposta no topo da página ou mais embaixo. Ou seja, o Facebook não precisa omitir determinado link ou informação, basta dispô-lo no fim da linha do tempo, reduzindo substancialmente a possibilidade de ser visto. Por exemplo, um link tem 20% de possibilidade de ser clicado estando no topo da página. Esse número cai para menos de 10% se estiver na décima posição e vai a quase 5% se, além de estar em décimo, não for ideologicamente alinhado a esse usuário. A supressão automática de posições políticas diversas à nossa, somada às regras utilizadas para o ordenamento das publicações são dois elementos que se complementam e não podem ser analisados em separado.
Para Pariser (2015), o estudo erra em pressupor que a escolha do usuário faz mais sentido do que responsabilizar o algoritmo do Facebook. Para ele existem duas preocupações em relação ao filtro bolha: que os algoritmos ajudem os usuários a se cercarem de informações que dão suporte às suas crenças, e que os algoritmos classifiquem como menos importante o tipo de informação que é mais necessária em uma democracia – notícias e informações sobre a a maioria dos temas sociais importantes (“hard-news”). Enquanto o estudo foca no primeiro problema, ele deixa rastros para o segundo, uma vez que apenas 7% dos usuários clica no que o estudo chama de “hard-news”, noticias de carater cívico, enquanto a maioria clica em “soft-news”, que são amenidades.
Existem algumas ressalvas apontados por Pariser no estudo, O mecanismo de marcação ideológica não significa o que parece que ele significa. Como os autores do estudo mencionam, e para muitos passa despercebido, é que isto não é uma medida de polarização partidária com a publicação. É uma medida de quais artigos tendem a ser mais compartilhados por um grupo ideológico do que o outro, existem hard-news que não são partidários. É difícil calcular a média de algo que está em constante mudança e diferente para todos. É um período de tempo muito longo para uma rede social que está constantemente se reinventando, muitas coisas aconteceram no período de tempo da pesquisa (07 de Julho de 2014, a 07 de Janeiro de 2015). A amostragem do estudo representa apenas 9% dos usuários do Facebook que declaram seu posicionamento político. É realmente difícil separar “escolha individual” e o funcionamento do algoritmo. O algoritmo responde ao comportamento do usuário em lotes diferentes, há um ciclo de feedback que pode diferir drasticamente para diferentes tipos de pessoas.
Tanto o estudo apresentado pelo Facebook, quanto suas críticas, e aqui citamos apenas duas, são conseqüência de diversos estudos e criticas anteriores, das quais destacamos duas bem controversas que motivaram a proposta deste projeto de pesquisa.
Para Zittrain (2014) O Facebook pode decidir uma eleição sem que ninguém perceba isto. Em seu texto ele demonstra que a simples priorização de um candidato na linha do tempo é suficiente para isto, principalmente frente aos usuários indecisos. Para sustentar sua tese, Zittrain cita um estudo desenvolvido em 2 de Novembro de 2010, onde uma publicação que auxiliava encontrar a zona de votação nos Estados Unidos apresentava a opção do usuário clicar um botão e informar a seis amigos que já havia votado. Isto produziu um aumento no número de votantes na região do experimento.
A controvérsia em relação ao filtro bolha ganhou uma dimensão significativa, e passou a chamar a atenção não só de pesquisadores, mas principalmente de ativistas, advogados e políticos, quando um estudo desenvolvido por pesquisadores ligados ao Facebook concluiu que era possível alterar o humor dos usuários por contágio emocional pela rede social. O experimento consistia em transferir emoções por contágio sem o conhecimento dos envolvidos, Kramer et al. (2014, p. 8788 tradução nossa) e foi bem sucedido:
Em um experimento com pessoas que usam o Facebook, testamos se o contágio emocional ocorre fora da interação presencial entre os indivíduos, reduzindo a quantidade de conteúdo emocional na linha do tempo. Quando foram reduzidos expressões positivas, as pessoas produziram menos publicações positivas e mais publicações negativas; quando foram reduzidos expressões negativas, o padrão oposto ocorreu.
Objetivos
Este projeto de pesquisa tem por objetivo compreender a forma como o filtro bolha afeta o fluxo e a classificação de informações e consequentemente, como afeta o posicionamento político e ideológico do usuário do Facebook no Brasil.
Com base nos estudos de Zittrain (2014) e Kramer et al (2014) torna-se possível começar a desenhar este recorte. A influência política proposta transcende a mera questão eleitoral apontada por Zittrain, estamos falando do posicionamento do indivíduo frente às questões políticas e ideológicas. O estudo do contágio emocional pelas redes sociais, não deixa dúvida da existência de mecanismos passíveis de influenciar as emoções dos usuários através da manipulação do fluxo de informação, da mesma forma que é perfeitamente plausível trabalhar com as questões que envolvam seus princípios e valores.
Para atingir este objetivo é necessário identificar e compreender os principais algoritmos, ou parte destes, utilizados pelo Facebook na classificação das informações apresentadas ao usuário. Uma vez identificados estes processos, torna-se imperativo complementar com o suporte teórico para identificar de que forma os processos possam interferir no posicionamento ideológico e político deste usuário.
Justificativa
Os algoritmos dos filtro bolha, são desenvolvidos para proporcionar uma melhor experiência para o usuário, oferecendo a ele opções de conteúdo cada vez mais adequados à suas expectativas. Para atingir este objetivo eles “aprendem” através de diversos indicadores como “likes”, comentários, compartilhamentos e o tempo gasto em cada publicação no Facebook, e comparam seu perfil com outros usuários que de uma forma ou de outra, o algoritmo identifica como semelhante a você. Obviamente existem outros métodos e indicadores que aprimoram o resultado apresentado ao usuário. É importante considerar que estes algoritmos estão constantemente reavaliando suas preferências, de tal forma que se tornam recursivos, a ponto de criarem o que Pariser (2012) chama de “Síndrome do Mundo Bom”. A Síndrome do Mundo Bom é uma “purificação” dos interesses do usuário dada a forma como ele se relaciona na linha do tempo, e que o afasta de publicações que não são compatíveis com seus interesses.
Ao conectar estas questões informacionais com o conhecimento de autores de outros campos de estudo como sociologia, psicologia e filosofia, encontramos e identificamos os mecanismos pelos quais o poder político e ideológico do filtro bolha é exercido. Como exemplo, John Rendon (RAMPTON; STAUBER, 2003) se define como um “guerreiro da informação e um administrador de percepções”, para ele a chave para modificar a opinião pública está em encontrar diferentes formas de dizer a mesma coisa. Este padrão pode ser perfeitamente encontrado na Síndrome do Mundo Bom.
Partindo do principio que a grande maioria dos usuários da Internet desconhece a existência do filtro bolha, é de extrema importância produzir um estudo que possa orientar tanto os especialistas como o cidadão comum, tanto a cerca da existência de tal filtro, como seu impacto em diferentes partes de sua subjetividade.
Zero-rating, oudadospatrocinados,é a prática dasoperadoresde redes móveis (MNO) e operadores móveis virtuais(MVNO) de não cobraros clientes finaispara um volumebem definido dedadosdeaplicações específicasou serviços de Internetviaredesem fiodaMNOemplanos de dadoslimitadosoumedidos etarifas.
O preço desta gratuidadeserá muito elevadoparaos países em desenvolvimento. Eu percebo queos danosda taxa zerosuperam os benefícios,no Brasil, por exemplo, o Facebook gratis refletiunumericamenteas metas deinclusão digitaldo governo, mas, por outrolado, temosnovos usuárioscondenado a seranalfabetosdigitaiseternos.
Imaginemaspessoasquesua primeira experiência com a Internet foiatravés de serviços zero-rating.Você deveadmitir que háuma grande diferença entrea sua percepçãodaInternet,comoimigrantedigital,e a percepção denativos digitais. Imaginemo tamanho dalacuna entrea percepção daInternetpor alguém que foi“letrado digitalmente” com antolhos.
Os proponentes do zero-rating argumentam queo usuário temlivreescolha de conteúdos, mas como eles podemescolher entreopçõesque ele desconhece? Mais de76% doscelularessão pré-pagosnoBrasil, os menos favorecidos muitas vezes creditam valores baixos em seus celulares, e com pouca frequencia, uma vez que eles podemcontinuar recebendochamadaspor meses semqualquer valorde crédito.Mas comzero-ratingpodemacessargratuitamente o Facebook, a sua visão deInternet.A qualquer momento, quando um link externoé clicado,umamensageminformaao usuário se elecontinuarserá cobrado.Não édifícil imaginar o queesteusuáriovai decidir.
Por simplesmentelimitaras possibilidades de acessopara um segmento danossa sociedade, estamos criandoum verdadeirosistema de castasdigital, ondeos mais pobresserão condenadosà eterna ignorânciadigital. EliPariser, emseu livro “The Filter Bubble”,mostra como apersonalização(a bolha) afetam a criatividade: Limitar o“horizonte de soluções”, descontextualizarinformaçõese reduziras possibilidades debusca ede aquisiçãodemais informações. Énecessárioter muito cuidadocom a generosidadeoferecida pelozero-rating, o provedor de conteúdopode criarum sistema decuradoria, proporcionando uma inclusão digitalfalsa, masmantendo o controledas informaçõesque os usuários podemreceber, o nomedisto écontrolesocial.
A outra facedesta ameaçajá estão em andamentonoChile, onde as empresas de Telecomsestão dizendo que aneutralidade da redeé a razãodoChile ter“matado”olivre acesso àWikipediaeFacebook.A perplexidadesobreessa compreensãoé atentativa denaturalizar o zero-rating, como conceitode acessogratuito à Internet.Esta batalhaviráem breve no Brasil com aregulamentação do“Marco Civil“, quepode proibiro zero-rating.
Movendo-se para a arena dos empreendedorismo,zero-ratingé muito perigoso paraa inovação, uma vez queo usuário não podever e experimentarnovos projetos eserviços on-lineaté que oempreendedorfaçaumacordozero-rating.
Para quem não sabe o Brasil é excelência e pioneiro no modelo multistakeholder de Governança da Internet, considerado o melhor e mais democrático modelo de governança da Internet. E ainda temos os projetos de leis mais progressistas e modernos do mundo, se bem que os Patetas Digitais do Planalto fazem de tudo para estragar isto, mas vamos conseguir. Estes projetos são:
Marco Civil da Internet – Projeto construido com a participação da sociedade em duas consultas públicas e diversas audiências públicas e seminários, é um projeto de princípios legais da Internet, único no mundo, e que tem uma grande expectativa da comunidade Internacional. Este projeto atualmente esta na Câmara dos Deputados e ganhou Urgência Constitucional e deve virar lei ainda este ano. Seus principais “INIMIGOS” são as empresas de Telecomunicações e a Indústria do Copyright.
Reforma da Lei de Direito Autoral – Projeto construido com a participação da sociedade em duas consultas públicas, é um projeto de modernização da legislação de direito autoral, para torna-la compatível com os tempos atuais, com vistas ao uso justo e respeito ao ambiente digital e a cultura do mashup e licenças de uso modernas e à gestão coletiva de direitos autorais. Este projeto foi sensivelmente piorado durante a gestão da Ministra Ana de Hollanda. O projeto tem justamente a Indústria do Copyright e o ECAD como principais inimigos e ainda esta no poder executivo.
Proteção de dados Pessoais – Projeto construido com a participação da sociedade com consulta pública, é um projeto que visa estabelecer regras de como as empresas e governos usarão nossos dados pessoais. Este projeto esta paralisado no poder Executivo.
Por fim, é interessante observar nos links dos projetos de lei, que incontestavelmente eles pararam na gestão da atual Presidente Dilma…
Estamos vivendo um momento extremamente crítico, movimentos globais nas quatro arenas (vídeo abaixo): Legal, Comportamental, Técnica e de Governança estão atuando em conjunto colocando em prática diversas estratégias para o controle da rede. Os atores deste processo são facilmente identificáveis: Na esfera corporativa são os “atravessadores” do direito autoral e propriedade intelectual, as empresas de Telecomunicações, os bancos e a velha mídia. Na esfera governamental são as policias (em geral Federal), o judiciário, o executivo e o legislativo conservador. Estes atores atuam formando uma espécie de tripé que os sustentam, o Tripé do Atraso“, suas motivações são diversas, mas podemos reduzir a duas: dinheiro e poder.
Esta estratégia global de controle esta sendo conduzida com muita pressa, nas quatro arenas, e com planos de contingência em diversos níveis. Veja por exemplo que na arena legal tivemos a derrocada do SOPA no Congresso Americano e o surgimento do CISPA, o ACTA morreu na Comissão Européia, sendo negado pelo Parlamento Europeu, mas o TPP segue. O maior risco à liberdade na rede está justamente na arena da Governança da Internet, pois em geral a sociedade desconhece os princípios de Governança da Internet (vídeo abaixo, e um movimento efetivo nesta arena pode realmente tomar o controle da Internet.
Ainda dentro do conceito de Governança da Internet residem conceitos sutis e mal interpretados são eles o conceito de neutralidade e a a separação entre serviço de valor adicionado e serviço de telecomunicações. Muita gente confunde neutralidade da Internet, que é um conceito técnico que se resume em isonomia no tráfego de dados, com conceitos como o da imparcialidade, dentre outros. No vídeo a seguir eu explico o conceito da Neutralidade, um princípio de extrema importância para a Internet e que precisa seguir estritamente as recomendações do CGI.BR, para continuemos com a Internet livre e universal. Deixar que governos e/ou empresas regulamentem a neutralidade pode ser um grave perigo para a rede, uma vez que apenas interesses econômicos e de controle serão os motores desta regulação.
No primeiro vídeo falo do conceito e da importância de separar o serviço de telecomunicações do serviço de valor adicionado, no Brasil por exemplo as empresas de Telecomunicações jamais deveriam poder prover acesso, mas como o fazem, querem agora através de um discurso leviano passar a mensagem de que nunca houve estas duas camadas, e isto justifica por exemplo o esvaziamento do CGI.BR que é o orgão normatizador responsável pela camada de valor adicionado. No Brasil esta distinção foi estabelecida pela Norma 4/95 da ANATEL. O atual Ministro das Comunicações, o Paulo Bernardo, defende a mudança na Norma 4/95, mesmo sobre fortes críticas, uma vez que estas mudanças seguirem os interesses das empresas de Telecomunicações poderão trazer graves danos à Internet.
Coincidências a parte, a tendência em modificar dois importantes conceitos de governança: neutralidade e a distinção dos conceitos de valor adicionado e serviço de telecomunicações, parece fazer parte de um movimento global e local, a própria ITU (UIT) agência da ONU responsável pelas telecomunicações esta desde fevereiro discutindo a portas fechadas mudanças no ITR, o regulamento global de telecom. Do que a sociedade civil já sabe, questões muito arriscadas tem surgido, inclusive a tendência de trazer a governança para debaixo dos governos. A consolidação desta discussão se dará em dezembro em Dubai, e ativistas do mundo todo estão preocupados com os resultados, uma vez que o ITU discute basicamente com representantes dos governos, e não envolve outros atores da sociedade em seus debates. De forma preocupante vemos que esta tendência não esta ocorrendo apenas no Brasil e na ITU, nos Estados Unidos, o FCC por enquanto declinou de reclassificar a Internet como serviço de telecomunicações, mas ainda há risco. Resumindo parece estar havendo um movimento global para substituir o modelo multisetorial de governança, consolidado mundialmente como o melhor modelo, por um modelo focado apenas numa parceria entre o governo e as empresas de telecomunicações.
O Brasil possui um grande trunfo nesta luta que é o Marco Civil da Internet, considerado pelo Tech Dirt como um projeto de lei Anti-ACTA, e na verdade o Marco Civil pode nos proteger contra a maioria das ameaças, ou nos entregar de bandeja, tudo depende da redação que irá se tornar lei. Ciente disto o Ministro Paulo Bernardo em parceria com as Empresas de Telecomunicações fizeram um forte lobby e conseguiram esvaziar a sessão que iria vota-lo na Câmara dos Deputado no último dia 11/07. Ainda com base na redação mais recente, a regulamentação da neutralidade por decreto precisa ser mais bem detalhada, pois pode abrir uma brecha para a presidência simplesmente delegar esta função à ANATEL, através de decreto.
Ao que parece, o establishment tem pressa, muita pressa, pois eles sabem que seus argumentos e discursos envelhecidos não irão encontrar eco frente à geração digital, que os interpretam da mesma forma como interpretamos o discurso dos “caçadores de bruxas” da Idade média. O ano de 2012 é o ano onde milhões de nativos digitais completarão 18 anos, e esta onda seguirá ano apos ano até que uma nova cultura possa se estabelecer… será que vai levar tanto tempo?
Uma tese é que ao mesmo tempo em que as corporações e governos se mobilizam em um movimento transnacional para controlar a Internet, a sociedade civil se mobiliza para resistir, o aquecimento desta tensão poderá antecipar o fenômeno da Singularidade das Multidões, trazendo à sociedade conectada uma capacidade cognitiva e coletiva jamais imaginada, provocando em curtissimo espaço de tempo profundas mudanças na sociedade, incluindo a quebra em massa de velhos paradigmas e a instalação de novos valores, vivenciaremos um choque geracional tão intenso que representará uma ruptura no que hoje entendemos por sociedade, economia, cultura e política.