Educação, ainda precisamos do velho modelo?

Irapuan Martinez, um velho amigo, sempre defendia a tese de que Internet se aprende na Internet, esta afirmativa ja faz quase dez anos. Por muito tempo argumentei que não era bem assim, afinal eu tinha um Centro de Treinamento Macromedia, e precisava defender o argumento de que aprendendo comigo era mais rápido.

Mas o tempo passou e meu filho cresceu digitalmente livre, nunca instalei nenhum software de controle, e ele sempre teve o proprio computador. Ensinei-o a se defender digitalmente, e sobrevivemos. Ele usou esta liberdade para aprender à aprender. Na web ele aprendeu Perl, Ruby, C#, ActionScript 3, Modelagem de jogos, aprendeu a gerenciar e construir servidores de MMORPG, modelagem de mundos virtuais e agora estava no quarto aprendendo modelagem no Maya, e a cada dia me surpreende com uma novidade.  Tudo isto com poucos livros, alias os poucos livros sobre o assunto continuam novinhos, ele não os usa, aprendeu tudo na Internet. O espirito do consumismo hedônico da nova geração nele se deu pelo conhecimento, ele é um devorador de conhecimento, mas não demonstra nenhum apego com ele, joga fora projetos sem a menor cerimonia.

Meu filho costuma chamar a escola dele de Jurássica, apesar de ter lousas digitais, não permite que o aluno use nenhum equipamento eletrônico em sala de aula. Ele não quer um notebook, pois não pode rodar os seus jogos prediletos, nem um mini notebook porque não o deixarão usar na sala de aula.

O que acabei de relatar do meu filho, é um retrato do que vem por ai, ele não é a media, faz parte de uma minoria digitalmente alfabetizada, a grande maioria das pessoas ainda utilizam a tecnologia sob a égide do preconceito midiaticamente construido, desta forma sempre tiveram a internet sob uma visão distorcida, uma internet como um mundo de perversidade e maldade, e repleta da bobagens e com nada para ensinar, azar o deles.

E é no conflito destes dois mundos que foco meu artigo, que não tem objetivo conclusivo, apenas de levantar a discussão. A semente da questão se deu pelo último Descolagem de 2008, foram várias palestras interessantes e a do Luli, apesar dele aplicar uma dinâmica de locutor às suas palestras, pesquei muitos insights interessantes. Um deles foi sobre o que acontece com a tecnologia no ambiente educacional foi mais ou menos assim:

O educador não entende a tecnologia, o desconhecimento apresenta-se como uma ameaça, e esta ameaça é respondida como o entendimento de que a tecnologia é nociva. Dai surge o bordão de que na Internet só tem bobagem, e que ela “come criancinhas”.

Na verdade sugiro que você leia sobre o Descolagem #3 Educação, e vejam os videos disponíveis, todos os palestrantes tiveram insights interessantes, foi um compartilhamento sublime de conhecimento.

Voltando à discussão, em breve mais crianças serão digitalmente alfabetizadas, com a ubiquidade do acesso à Internet, o computador é o único vilão que os papais dinossauros enxergam. Mas onde iremos chegar?

Simples, muito simples, como diz o Luli, as escolas são verdadeiras redes sociais, ninguem vai para a escola para aprender, vai para encontrar com os amigos, aprendem como consequencia. Alias é justamente no aprender e ensinar que esta a questão.

O modelo falido de educação no Brasil pode ficar pior, e corre o risco das crianças surpreenderem seus professores com informações e novidades que eles mesmos não sabiam. Alguns mitos foram e serão quebrados, e isto demanda uma reação rapida por parte dos educadore e escolas, é uma questão de sobrevivência, antes que eles se tornem obsoletos:

  1. Ensinar a aprender – Para muitos não existe outra opção, o professor precisa mastigar a informação e deposita-la na cabeça do aluno, mas isto é uma herança do secular sistema educional, onde um professor fala e os alunos escutam. É um mal tão sedimentado em nossa sociedade, que quando o professor tenta ser diferente, ensinando a aprender por exemplo, é criticado. Mas o certo é isto, é ensinar à aprender, aprendendo à aprender o aluno aprende a filtrar as informações, mas se o aluno aprender sozinho para que serve o professor?
  2. Orientador e motivador – O professor passa a atuar como um orientador e motivador, um instigador da curiosidade, ensina ao aluno a buscar informações relevantes, a confrontar as discordantes e principalmente o ensina à tirar suas próprias conclusões.
  3. Internet só tem bobagem – Acho que não tem bobagem maior do que esta afirmativa, e o pior é que as crianças estão descobrindo que estão sendo enganadas por seus professores, afinal não é bem assim. Tem bobagem sim, mas tem muita coisa relevante.
  4. A informação precisa ser sistematizada – Esta ai um caso curioso, a sistematização da informação para aplicação em sala de aula é uma herança do tempo que o acesso ao conhecimento era elitizado, hoje em dia muita gente compartilha informação relevante na web, e esta informação esta acessível a qualquer um. A essência esta em ensinar ao aluno à sistematizar estas informação, quem sabe um roteiro de pesquisa não ajude?
  5. Tecnologia tira a atenção do aluno – Na verdade o aluno esta acostumado a interagir, e a buscar informações com velocidade, a nova geração esta ficando multitarefa, é aquela geração que usa o computador assiste TV e ainda pode estar ouvindo música, tudo ao mesmo tempo, “zapeando” de um para o outro na hora em que um tiver algo relevante. Imagine este mesmo aluno sentado numa carteira assistindo a um único discurso vindo de uma única fonte, no caso o professor. Esta na hora de virar a tecnologia a favor da educação.
  6. Use as novas tecnologias – Não evite as tecnologias, a proibição de celular em sala de aula é uma grande bobagem, a nova geração é conectada, e diferente do que se preconizava, tem intensa vida social online, e tem boa parte do seu lazer digital em grupo. As escolas deveriam aprender com a industria dos Games, porque não uma aula por semana no Second Life? Porque não adaptar um MMORPG para ensinar história? Porque não pedir um trabalho de Geografia no Google Maps, ou modelo de física no Flash?

A questão é que não faço ideia de como pode ser o novo modelo de educação, não sou educador, sou publicitário e professor eventual, posso estar falando um monte de bobagens, mas ao menos emito minhas opiniões, compartilho minhas ideias, gosto de uma boa e construtiva discussão.

E você acha que o velho modelo educacional ainda sobrevive quantos anos?

O que você esta fazendo?

“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer…”

Já falava o sábio e corajoso Vandré. Agora, quase quarenta anos depois, estamos em vias de reviver involuntariamente um novo regime de controle e ditadura, querem nos calar, querem tirar da sociedade Brasileira a maior ferramenta democrática de todos os tempos, a Internet.

Dezenas de milhares de Brasileiros estão fazendo alguma coisa para evitar isto, são mais de 123 mil assinaturas na petição, dezenas de blogs, e diversas ações e organizações atuando contra este projeto, eles estão reescrevendo a história da democracia Brasileira, e você?

Reescrevendo a história da democracia Brasileira

“Não são as pessoas que tem grandes idéias que mudam o mundo, e sim as que acreditam nelas”.

Esta curiosa frase veio à minha cabeça na minha caminhada vespertina, ela de certa forma sintetiza tudo que esta acontecendo em termos de ciberativismo no Brasil.

O movimento ciberativista vem de muito tempo, eu me engajei em 2006 quando combatiamos o então projeto do Azeredo, éramos verdadeiros Quixotes, poucos se interessavam, muitos criticavam. Continuávamos acreditando na Internet livre, o Senador Eduardo Azeredo revelou-se inimigo numero um da Internet livre, dai a razão dos ataques às suas idéias e projetos. Projetos alias que não perecem ser de fato elaborados pelo Azeredo e suas assessorias diretas, pois em entevista recente o Senador não sabia o que era um DRM por exemplo, e vem cometendo outros lapsos, deixando cair a pele de cordeiro que oculta o lobo de suas intenções.

O movimento ciberativista tem sua beleza não nas ações individuais, ele não tem por objetivo construir ícones, mas sempre quem acaba se envolvendo mais acaba ficando em evidência, mas o importante mesmo é o trabalho em rede, a disseminação em rede. Um trabalho de pesquisa, publicação e articulação é importante num movimento destes, mas o simples trabalho de disseminação, quanto mais em rede é tanto ou mais importante. Disseminadores são hubs, uns são hubs melhores que outros, mas muitos hubs fracos com um pequeno grupo de contados, pode atingir um hub mais forte ou até um super hub que ajudam a disseminar com mais intensidade e até na formação de novos núcleos ciberativistas.

Para tentar explicar este movimento, vou usar uma metáfora, imagine que a internet seja um lago, e os usuários (hubs) estivessem na margem (ponta). Um deles joga uma pedra azulada, alguns usuários percebem a começam a jogar pedras azuladas, umas maiores outras menores, a cada pedra novos usuários começam a jogar as suas, até um momento em que o lago tenha se transformado em um intenso maremoto. Como o lago é muito grande, depois de algum tempo as ondas chegam em outras margens (pontas), e um novo movimento de pedras azuis é iniciado, e um novo maremoto se forma, em outras pontas novos movimento se iniciam, até um ponto em que o maremoto seja intenso e cubra uma enorme extensão do lago. Neste ponto temos o que chamamos de “meme“. Volta e meia neste processo, a mídia, que é um super hub, joga as pedras azuis também, em geral joga pedras bem grandes, que colaboram em muito com o maremoto informacional, mas em momento algum, um único hub mainstream, mesmo que ele seja um super, ultra mega hub, conseguira produzir um maremoto destes, com esta intensidade e uniformidade.

Dai a importância do trabalho em rede, dai a importância do menor esforço de cada um, o que importa mesmo é a soma destes esforços, todos são importantes, todos mesmo, todos estão fazendo a história, estamos assim dizendo, escrevendo uma nova página na história da democracia Brasileira.

O que estamos fazendo agora, e o que esta acontecendo na sociedade Brasileira, será ensinado nas escolas daqui à alguns anos, acredite. Não sei que nome darão a este movimento ciberativista, mas ele terá um nome, ou diversos, e falará do dia em que pessoas conectadas conseguiram fazer um Senador (Mercadante) colocar treze emendas em um projeto extremamente totalitário, reduzindo seu impacto. Este mesmo enorme grupo conseguiu uma audiência pública na Câmara, e não foram os representantes que protocolaram a audiência que a conseguiram sozinhos. Foram cada um, cada assinatura na petição, cada blogueiro, cada twittada, cada boca-a-boca, cada cidadão que juntos pavimentaram as condições ideais para esta audiência. Nesta audiência, um de nossos ilustres representantes, Sérgio Amadeu, teve uma participação gloriosa, que fora fortemente ampliada e defendida pelo Deputado Paulo Texeira, onde no final das contas, o manto de cordeiro do projeto caira definitivamente, revelando-o totalmente nú como um projeto que beneficiará os bancos e a indústria cultural.

Os próximos passos ainda não podemos precisar, mas o delicioso gosto da vitória esta hoje, na boca e na mente de cada “formiguinha” que acreditou e trabalhou neste sentido. Para todos os ciberativistas, e futuros ciberativistas, meus parabéns, estamos reescrevendo a história da democracia no Brasil.

Este post é uma colaboração para o dia da blogagem política, recomendo que você participe da rede ciberativismo e assine e divulgue a petição online contra o vigilantismo.

O marketing de hoje, de amanhã e depois de amanhã

Como faço questão de não esconder, sou um leitor voraz, daqueles que esta sempre carregando um livro na pasta, e tem pelo menos dois na mesa de cabeceira, alem é claro, de centenas na estante. Este livro sobre o qual pretendo falar aqui é diferente, não me custou literalmente nada, e é um dos melhores livros sobre marketing emergente que li em português até então, trata-se do “best downloaded” Marketing depois de amanhã, do Ricardo Cavallini.

Cavallini é um cara que sabe o que fala, o livro explica de forma quase didática os temas emergentes do marketing, do novo paradigma da comunicação, é uma habilidade e tanto e uma prova de conhecimento. Einstein ja falava que uma forma de testar seu conhecimento sobre qualquer coisa é tentar ensina-la para a sua avó, acredito que a avó de Cavallini ja esteja entendendo de marketing e saiba diferenciar um viral de um buzz, ou que a midia de massa esteja em queda por conta dos prosumers que foram preconizados no Manifesto Clue train, é claro.

Gosto do jeito de escrever do Ricardo, descontraido, claro e sem muitos rodeios, mas sem deixar de ser bem fundamentado. O livro é um verdadeiro guia para diversos públicos:

  • Para os estudantes de comunicação para conhecerem um pouco além do que usualmente aprendem nas faculdades, algumas até explicam alguma coisa, mas se bobear formam “recém obsoletos”;
  • Aos profissionais experientes para poderem se reciclar e não perderem o equilibrio quando puxarem a escada que os sustenta no topo da cadeia da comunicação;
  • Aos curiosos para saberem um pouco mais sobre tudo que nos cerca em termos de marketing;
  • Aos empreendedores para descobrirem novas formas de ganhar dinheiro;
  • E finalmente aos avessos à publicidade para saberem o que mais devem evitar para não serem incomodados, se bem que como Cavallini diz no livro, o marketing de interrupção vem em franca decadência.

O livro, prefaciado por Washington Olivetto, é dividido em dez capitulos, começando por uma panorâmica atual, uma breve olhada no contexto da internet e em seguida levanta voo em direção a coisas muito interessantes como TV Digital, Advergaming, Mobile, Dispositivos de conexão ( a internet das coisas), novos displays, micropagamentos e finalmente novas possibilidades. Para quem gosta do assunto é um daqueles livros para se ler em um fim de semana chuvoso, na tela do computador enquanto os novos displays ainda não estão acessíveis. Não tem porquê não ler, o livro é gratuito e vale cada byte consumido em seu download.

Acessibilidade, a mesma mancada 10 anos depois

Há pouco mais de dez anos, tempo em que o ICQ bombava e a conexão era em 14.400 bps, uma turma de jovens entusiastas: Eu, o Nando Pereira, e a Keka Marzagão faziamos experiências com o Flash, alias era o que mais faziamos naquela época. Dai surgiu a ideia de criar um site em Flash para deficientes visuais, o projeto “Blindness”.

Era um projeto aberto, dentro do Flash Brasil, e todo mundo poderia participar, a interface era negra e com molduras duplas sensiveis, que se acionadas no sentido de fora para dentro, a gravação da voz de minha irmã falava: – Entrando, caso contrário falava : – Saindo. Na época, o Flash não suportava MP3, nem mesmo video, fizemos uma montagem com o Real Flash, onde o Flash através de artifícios executava um audio no formato Real Audio. Quadrados com gravações em audio davam as noticias.  Na época, em 1997, nem se falavam em usabilidade e acessibilidade e la estavamos nos orgulhosos de nossa obra, que no nosso ver extendia os tentáculos da web aos portadores de deficiência visual. Estávamos fascinados e prontos para anunciar ao mundo nosso projeto genial.

Mas antes disto, o Nando Pereira sugeriu fazermos alguns testes de campo, e foi atrás do pessoal da UFRJ do Intervox, que entendiam do assunto, foram eles os desenvolvedores do DOSVOX, programa de leitura de tela, e muitos eram portadores de deficiência visual. A primeira resposta que o Nando recebeu não fora muito animadora, os portadores de deficiência visual não usam o mouse, o mouse é um dispositivo de apontamento, e para apontar é preciso ver, de forma que eles utilizam basicamente o teclado, uma vez que mesmo que o teclado não possua recursos de braile em suas teclas, a posição das mesmas nunca muda, facilitando a memorização.

Tendo em vista o enorme erro que cometemos, a unica saida era senão, abandonar o projeto, que apesar de muito bacana, não tinha funcionalidade prática alguma para o público alvo, os portadores de deficiência visual. O projeto ficou algum tempo disponível no site, como um case de equivoco, e depois simplesmente o tiramos do ar.  Tal equivoco nos serviu de lição, eu vivo falando destas mancada em minhas palestras, falei dele até na classica palestra da Dinastia do Flash no Brasil que proferi online em 2006.

Para minha surpresa, recebi um email do meu amigo Caparica, onde o Jornal da Paraíba apresentava uma interface bem parecida com a do defunto projeto Blindness, incrédulo fui conferir e verifiquei que haviam resucitado o monstro, só que agora provido de mais recursos, tais como sintetizador de voz e menu alfabético. Onze anos se passaram, e conseguiram repetir a mancada!

O projeto do Jornal da Paraíba, foi anunciado no próprio jornal como inovador, bom alem de não ser inovador como ideia, também não é inovador como mancada, afinal ja haviamos cometido a mesma besteira em 97.  Mas veja o que falam na noticia:

[..]O Jornal da Paraíba lança mais um projeto inovador: a primeira edição digital para deficientes visuais do país. A novidade, que será lançada na quarta-feira (8), a partir das 8h no Garden Hotel, em Campina Grande, vai disponibilizar diariamente o conteúdo completo do jornal através de um recurso multimídia que oferece aos deficientes visuais a oportunidade de ouvir as notícias na íntegra, da mesma forma que são publicadas na versão impressa. Uma iniciativa pioneira que deve facilitar a vida de mais de três milhões de pessoas com limitações visuais no Brasil.[..]

[..]O coordenador de Métodos e Sistemas do JORNAL DA PARAÍBA, Washington Lima, responsável pelo desenvolvimento do projeto, conta que a tecnologia do sistema foi toda elaborada na própria empresa com o objetivo de apresentar à sociedade um produto que permitisse ouvir as notícias a partir de uma tela com leitura eletrônica.

“O setor de desenvolvimento criou uma tela sintetizada que emite sons a partir do movimento do cursor, denominado módulo de leitura eletrônica. Através deste recurso, o mouse passa a ser fundamental para quem quer se atualizar via internet, mas não tem visão ou não teve oportunidade de aprender a ler”, explica Washington Lima sobre o mais novo projeto de responsabilidade social do veículo.[..]

Acho que erraram nos dois alvos, o portador de deficiência visual não utiliza mouse e o analfabeto não saberá ler os botões.

O grande MAQ, Marco Antônio de Queiroz, o chamo de grande, pois é uma pessoa espetacular, um exemplo de determinação e persistência para contornar os obstáculos que a vida colocou no seu caminho, é um consultor em acessibilidade, e portador de deficiência visual. Quando inicia suas aulas de acessibilidade, a primeira coisa que ele manda fazer é tirar os monitores e mouses dos laboratórios.

Meu amigo Caparica, alem do link para a “novidade” do Jornal da Paraiba, ainda me mandou um link para um tópico no Forum Acesso Digital, e eis que encontro uma mensagem do MAQ a cerca do projeto:

[..]Nenhum cego tem a experiência de entrar no Windows ou Linux sem ativar seu leitor de telas, pois estaria inteiramente perdido sem ele. Assim, o fato de contarem que nós entremos no jornal sem o nosso software já é algo inteiramente fora do padrão. Se um de nós estivermos em uma lan house, sem nosso leitor de tela em um pen drive, como chegaremos até o jornal, mesmo que neste já haja sintetização de voz? Somos dependentes da navegação via teclado em conjunto com nosso leitor de tela. Sem esse, ficaríamos dependentes de quem enxerga para chegar até o jornal. Lá no jornal, como os procedimentos para manipulação da sintetização, fundamental para nós, é toda diferente do que estamos acostumados, ou seja, por via do mouse, ficamos dependentes de alguém que enxergue para ir nos dizendo como fazer cada jogada, leitura, etc. Quem sabe os amigos não incluém em sincronia com o mouse, a navegação via teclado e, assim, o jogo e a leitura  poderiam ter um acesso universal?

Nenhum cego tem o costume de utilizar o mouse, nossa navegação é via teclado. Alguns de nós, nem mesmo tem mouse. Isso de não ter mouse e monitor é um radicalismo de alguns, alguns que moram sozinhos e tem como amigos, em sua maioria, pessoas também cegas. Mas, tudo bem, vamos que alguns se impolguem tanto que entrem na página do jornal, desliguem seus leitores de tela e comecem a manipular os comandos e sintetização do jornal. A curva de aprendizagem será enorme, pois toda ela é baseada na experiência de um usuário que enxerga, pois arrastar algo com o mouse clicando ao mesmo tempo é coisa que eu, por exemplo, desde 1995 na internet, nunca fiz com um mouse! No entanto, é coisa corriqueira para quem enxerga. Não seria mais interessante aproveitarem  a nossa experiência de teclado e criar um link que cada vez que déssemos enter o volume fosse aumentando?[..]

Pronto, e agora Jornal da Paraíba? Podia ter ficado sem este “mico preto” e ter economizado uma grana do lançamento do inovador recursos, para tal bastaria ter feito o que qualquer profissional de marketing, faria, estudar melhor o público alvo.

Entropia negativa e a crise existencial

O Orlando publicou um interessante post no Netnografando, repito aqui alguns trechos e comento a seguir:

[..] Na nossa luta diária pela sobrevivência quem alcança o poder para falar também tem o poder de calar. Blogueiros Profissionais estão fechando bons negócios, sendo contratados para iniciativas em Social Media, montando novas empresas, mas não blogam mais. [..]

[..] Constatei numericamente o que já vinha percebendo. O SimViral (11,4 posts por semana) é disparadamente o campeão dos blogs que acompanho. A maioria está na média de 4 posts por semana. Já a turma da Blog Content está assim: Inagaki (3,5), Edney (2,6) Ian Black (1,6), Gustavo Jreige (0,2).[..]

[..] Blogueiros Pró = Organizações; Google = Organização; Google = Entropia negativa; Entropia negativa = Blogueiros Pró. [..]

Uma ótima reflexão do Orlando, para mim ela tem várias leituras, é quase um manual de planejamento pessoal, deixa eu explicar:

Eu tive uma experiência de vida que segue o caminho inverso destas teoria, trabalhei por 13 anos em Engenharia, fazia projetos, acompanhava Obras no Rio e Costa Verde, viajava muito. Achava obra um saco, mas era o meu ganha pão. Na ansia de tornar meu trabalho “tragável” desenvolvi a técnica de enxergar o lado bom das coisas: Se tinha de viajar, levava a namorada, se tinha de ir à obra, ia cedo para “voar” de tarde e coisas assim. A minha busca por prazer onde só tinha desprazer me levou a construir uma gestão eficiente, descartando bobagens e vaporizando estratégias micro-políticas corporativas. Tudo me baseando numa filosofia que tinha numa placa que herdei de minha avó que dizia: “Se o destino lhe der um limão, faça uma limonada”

Voltando ao post do Orlando, um dos casos mais gritantes de entropia negativa ele não citou, que foi o caso do Fugita, ele praticamente desapareceu. Ele pode não estar percebendo, mas esta sofrendo um processo lento e gradual de queda no share of mind, e pior pode estar ficando desatualizado. Curioso é que como você falou, o corporativismo provoca esta entropia negativa.

No caso específico dos blogs pessoais destes blogueiros citados, eles serão suplantados por novos blogs, de novos blogueiros, seus fãns, ávidos por escrever e produzir conteúdo de qualidade, baseado nos blogs que eles idolatram.

Esta observação que o Orlando citou não é um caso isolado, boa parte da população parece sofrer da síndrome da entropia negativa no tocante ao prazer, por conta da entropia positiva no trabalho. Se levarmos para o lado social, os que já passaram dos 30 devem perceber que aos 20 viviam em intensa entropia, uma balada após a outra, novidades em sequência, puro prazer, a melhor fase de nossa vida, àquela que ficará para sempre em nossa memória. Depois vem a familia, o trabalho, filhos e quando percebemos trocamos de persona, aquele cara descolado virou um coroa careta. Quando tentamos contato com a nova juventude, percebemos que ficamos desatualizados, girias, conceitos, cultura, hábitos, tudo diferente, entramos em choque não sei se mais pela diferença cultural ou pela constatação que ficamos tempo demais afastados do “mundo”.

Este cenário pode se repetir em diversos contextos, seja ele profissional, educacional, pessoal, digital, não importa qual. O que importa é como o Orlando levantou, a existência de uma entropia negativa e que vai acabar provocando uma entropia positiva em outro extremo, seja isto bom ou ruim. O problema em si não está nesta transição entrópica, mas sim no tempo e na frequência que ela dura. Se ela fosse freqüente, não teríamos choques, se tivessemos condições de transitar com facilidade entre estes dois estados, melhor ainda.

Voltando para o exemplo corporativismo x blogs, ou profissão x lazer, podemos ver que algumas empresas perceberam não por esta ótica, mas costumam dar um tempo a seus funcionários, no Google 20% do tempo para projetos pessoais, uma empresa Brasileira (esqueci o nome) instituiu o “dia do endredon” onde o funcionário tem o direito de faltar um dia na semana. E contrariando todas as expectativas estes funcionários tornam-se mais produtivos.

Os alquimistas já diziam: A diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem.

Pense nisto…

Mainstream x mystream e o cauda longa da comunicação

A dicotomia nova x velha midia esta tomando ares maniqueistas, e o pior, é uma comparação que não devia nem existir, é como comparar agua e óleo. A velha midia com seu estilo tradicional e corporativo acusa a nova mídia de amadorismo, e esta compara a velha midia com os dinossauros, e por ai segue um improdutivo desenrolar de alfinetadas. Enquanto a discussão levanta poeira, um importante exercício que citei no meu último post deixa de ser feito: “Temos de correr o risco de enxergar o que não queremos ver, e com isto ganhar o precioso tempo hábil para nos reconfigurarmos e seguirmos o trem da evolução, para não sermos pegos de surpresa e sermos atropelados por ele.

É preciso levar em consideração que uma grande mudança nas relações pessoais e econômicas foi provocada pela internet. Esta mudança foi sistematizada por Chris Anderson, em seu best seller “A Cauda Longa“. A internet possibilitou uma capilaridade nunca antes vista, atingindo nichos renegados e muitas vezes totalmente desconhecidos. A principio o estudo de Anderson provocou surpresa, mostrando a todos que a cauda longa é maior do que o mainstream, e engorda cada vez mais por conta daqueles que viviam no mainstream e agora podem se juntar às suas tribos. É preciso levar em conta que a imprensa tradicional esta focando no mainstream, e que a imprensa social na cauda longa.

Existe um outro elemento importante, que é a informação, abundante no ciberespaço, é o catalizador da evolução. O crowdsourcing é a personificação desta evolução. O cidadão conectado tem pressa, muita pressa, a instantaneidade é o resultado, ele quer saber agora, o que acontece agora, quer interagir com a noticia. O Jornalismo cidadão é visto como ruído pelo público mainstream, mas é extremamente eficiente para seus apreciadores, e isto a velha mídia precisa entender e estudar.

Existem outros elementos, temos de montar um cenário complexo para entender o que acontece e principalmente montar a estratégia para a reconfiguração da mídia tradicional. Eu não acredito que ela vá morrer, acredito sim, que ela em alguns anos não será nada parecida com que vemos hoje em dia.

A constante nas organizações modernas é a própria mudança

Uma imagem Sempre que nos defrontamos com fatos que ameaçam nosso status quo, buscamos comportamentos e fatos semelhantes no passado. Isto nos faz crer que estamos presenciando um “remake”, e de certa forma aliviam a ameaça. Ninguém esta imune a isto, é um comportamento comum, eu mesmo tentei negar para mim mesmo por dois anos, o estouro da bolha da internet. Spencer Johnson escreveu seu best seller “Quem mexeu no meu queijo[bb]“, que acredito eu, deva seu maior sucesso à identificação do leitor com seus personagens e sua história.

Sintetizando o livro “Sobreviver não é o bastante” de Seth Godin[bb], a mensagem que fica é “A constante nas organizações modernas é a própria mudança“.

Kotler cita em seu livro, Marketing para o século XXI[bb], que Akio Morita tinha uma estratégia de criar três equipes para todos seus produtos: Uma para o seu desenvolvimento propriamente dito, outra para desenvolver um produto melhor e uma terceira para torna-lo obsoleto. Esta saudável prática de canibalismo corporativo vem sendo sistematicamente evitada sob todos os aspectos, é utilizada apenas por empresas antenadas.

Em caso recente, no 4o Congresso de Publicidade, mudaram o nome do painel de “O modelo brasileiro de remuneração das agências de publicidade” para “A Valorização, a Prosperidade e a Rentabilidade da Indústria da Comunicação”.

Mas por quê isto tem de ser assim? Temos medo de mudar, e atacamos tudo que nos remete à esta necessidade, principalmente no Brasil, onde o empreendedorismo não é uma prática tão valorizada quanto um bom e seguro emprego numa estatal. Para quê mudar? Não se mexe em time que esta ganhando? Não mesmo ? Ou seria melhor dizer: Em time que esta ganhando a mudança é uma constante ?

Quando estamos nesta discussão, se a web é ou não o bicho papão que ameaça nossa tranquilidade, a minha opinião é de que primeiro temos de ser imparciais, e em seguida aumentar nosso ângulo de visão, ou como dizem os Americanos, ativar nossa visão de passaro. Temos de correr o risco de enxergar o que não queremos ver, e com isto ganhar o precioso tempo hábil para nos reconfigurarmos e seguirmos o trem da evolução, para não sermos pegos de surpresa e atropelados por ele.

Foto: Foto obtida no banco de imagens Stock.Xchng produzida por Zoran Ozetsky

Pérolas da cibercultura, um post que vale por um cursinho

Depois do meu último post, me convenci de que realmente precisamos de novas ferramentas e novos conceitos para entender o que esta acontecendo hoje no mercado da comunicação. Para isto decidi reunir e publicar aqui os links para as principais pérolas da cibercultura na minha opinião. São elas definições, conceitos, textos e até e-books completos.

Redes

O entendimento de redes no sentido mais amplo, e não técnico, é teoria fundamental para o entendimento de tudo na cibercultura. É necessário entender que somos “nós” desta rede, e que nossos grupos são “clusters” e que tudo em termos de rede possui comportamento em rede, com grande capilaridade e com grande entropia.

Um entendimento técnico necessário é o proprio conceito original da Internet, criada na época da Guerra Fria, sua estrutura foi concebida para resistir à um bombardeio atômico, e desta forma pavimenta o conceito hoje conhecido como Mundo de Pontas (World of Ends).

Uma boa dica para entendimento de redes é o e-book “Redes – uma introdução às dinamicas da conectividade e da auto-organização” publicado pelo WWF Brasil.

Comportamento

Uma das mais sensacionais pérolas do comportamento no ciberespaço é o Manifesto Cluetrain (O manifesto do trem de evidências) que trata de forma simples e direta o comportamento social e de consumo na Internet. Veja também o post “Cluetrain 10 anos depois” publicado no Buzz Makers.

Outro texto muito interessante é o Mundos em colisão, que narra de uma forma simpática o choque cultural que se reflete como a dicotomia “nova x velha mídia” ou “real x virtual” passando pelo contraste “Copyright x Creative Commons” com bastante propriedade. Por falar em Copyright x Creative Commons, um bom e-book sobre isto é o Cultura Livre (uma excelente tradução do Free Culture). A cultura open source faz parte do DNA do ciberespaço, já o habitava no seu núcleo, na sua camada técnica, e foi fundamentalmente o propulsor da WWW.

Por falar em Free, este será o novo livro do Chris Anderson, o autor do Cauda Longa. O Free promete ser um profundo estudo sobre a cultura atual, onde empresas lucram cada vez mais cobrando cada vez menos, ou até nada. Na Wired tem um PDF que já da uma ideia de como será o livro, mas se preferir pode ler na web mesmo.

Existem ainda os clássicos teóricos da comunicação como Manuel Castells e Marshal McLunhan que não podem ficar de fora.

Midias sociais

Não podemos deixar de falar da teoria dos seis graus de separação, que fundamenta diversas redes sociais, onde em sintese, você esta ligado à qualquer outra pessoa no mundo, por outras seis. Existem outras, inclusive a que descrevi aqui mesmo no blog, relacionando Maslow e as midias sociais.

O assunto não esgota aqui, é apenas um começo, mas te garanto que boa parte já foi citada, convido você à completar a lista ai nos comentários.

update 02/05 – O Marco Gomes fez um post sensacional, praticamente um manifesto, se você leu os textos acima com cuidado, veja a personificação do estudo no post: Eu faço parte da revolução

SIVA, o mix de marketing 2.0

Uma coisa interessante é que desde que foi implantado por Jerome McCarthy em 1960, o mix de marketing, os 4 Ps, sempre foi o framework mais importante no entendimento do marketing.

SIVA e os 4PsIsto foi assim até que o artigo “In the Mix: A Customer-Focused Approach Can Bring the Current Marketing Mix into the 21st Century” por Chekitan S. Dev e Don E. Schultz saiu na edição de janeiro/fevereiro de 2005 da revista Marketing Management.

Este artigo muda totalmente o paradigma do mix de marketing, que antes era visto da empresa em direção ao mercado alvo, conforme figura ao lado.

No artigo, Schultz e Chekitan, literalmente viram o mix de ponta cabeça, e avaliam a oferta pela ótica do consumidor, e nesta ótica, o que antes eram os 4Ps, viram o SIVA (Solução, Informação, Valor e Acesso).

Para efeito comparativo temos:

4 Ps SIVA
Produto Solução
Preço Valor
Promoção Informação
Praça Acesso

SIVA em detalhes

  • Solução – Como a solução é apropriada para solucionar os problemas e necessidades do consumidor?
  • Informação – O consumidor conhece bem sobre a oferta, se sim, através de quem ? Ele sabe o suficiente para permitir ao consumidor fazer uma boa decisão de compras?
  • Valor – O consumdor percebe o valor da transação, quanto ela custa, qual serão os beneficios, o que ele terá de sacrificar, qual será a sua recompensa?
  • Acesso – Onde o consumidor pode encontrar a solução? O quanto facilmente, local ou remotamente ele pode compra-la ou recebe-la via delivery?

SIVA e Marketing 2.0

Quem esta na internet há pelo menos oito anos deve lembrar que o grande propulsor de tudo que esta acontecendo hoje, que chamamos de web 2.0, comecou com uma grande mudança de paradigma na construção e implementação web. Em torno de 2001 dois assuntos comecaram a dominar este ambiente: Usabilidade e Acessibilidade. O tema bateu de frente com a questão estética, até então dominante e acabou encaminhando para um entendimento de que o usuário é elemento mais importante na internet. Dai para frente, descobrir que os usuários queriam mais do que simplesmente ser um leitor, foi um pulo.

Quem sabe a classica pergunta de um milhão de dolares: “Qual o futuro da comunicação e do marketing” possa comecar a ser respondida? Até então uma incógnita e muitas hipóteses, simplesmente porque existe uma grande possibilidade de estarmos cometendo o erro de avaliar um novo mercado com velhas ferramentas…