A Campus Party que todo mundo vê, mas poucos enxergam

Decidi fazer este post como um exercício, venho enfrentando um momento estranho, parece que perdi momentâneamente minha habilidade com a escrita, talvez seja porque tenho convivido com dinossauros mais do que o tolerável, tenho participado de reuniões onde as pessoas possuem pastas com email impresso!

Para tentar resgatar o meu verdadeiro eu, decidi me internar na Campus Party 2010. Fui convidado para uma palestra no Campus Forum na terça (26/01) e aproveitei para ficar até sábado (30/01), foi ótimo, revi gente conectada, gente do meu mundo e pude voltar a sentir o sabor da evolução, o frescor da brisa tecnológica e o calor humano de uma rede de pessoas. Foram momentos de extremo prazer, conversas produtivas, palestras, planos e celebrações, tudo girando em torno de um só tema, a sociedade conectada e o futuro do Brasil.

O que todo mundo vê e poucos enxergam?

Esta foi a terceira edição da Campus Party, e cada edição possui características marcantes, esta por exemplo estava muito focada em cibercultura e aspectos legais e operacionais da Internet. Mas um pequeno detalhes estava o tempo todo pulando na cara de todo mundo, seja nos slogans, nas falas, no material, nos banners e no site oficial: A Internet é uma rede de pessoas.


Bom se esta frase não tem nenhum significado a mais para você, é porque você é um dos que viu e não enxergou, mas não se preocupe, muitos não enxergaram. O fato de afirmar que a Internet é uma rede de pessoas contraria o mantra midiatico de que a Internet é uma rede de computadores, a Internet já deixou de ser uma rede de computadores há quase 10 anos.

A afirmativa de que a Internet é uma rede de pessoas subverte o conceito anterior de que a internet é uma rede de computadores, assim como hoje estamos na era da participação que subverteu o conceito da era da informação, mas curiosamente ambos os conceitos ultrapassados são ainda utilizados pela nossa jurássica mídia.

Em outras palavras, a questão tecnológica da Internet já se naturalizou, de forma que é naturalmente ignorada pelo o usuário de tal forma que este já enxerga diretamente a parte social da rede. Nem mesmo a velha frase que diz que a Internet é uma rede de pessoas mediada por computador é mais uma afirmativa indiscutível, com o crescimento da ubiquidade do acesso fica difícil definir o que é de fato computador, um celular é um computador? Neste caso a rede poderia ser definida como uma rede de pessoas mediada por dispositivos conectáveis, mesmo assim esta afirmativa, apesar de correta, coloca uma barreira no seu entendimento, em um momento que a invisibilidade da tecnologia se faz necessária para dar valor ao aspecto humano da rede.

Há dois anos fiz uma análise da pirâmide da pirâmide de Maslow aplicada as mídias sociais, que orgulhosamente apelido de pirâmide de Caribé ou hierarquia das necessidades em mídias sociais. Nesta analise eu estabeleço que os dois primeiros degraus da pirâmide são o conhecimento tecnológico e o acesso, mas se olharmos pela ótica que venho tecendo acima, podemos dizer que na verdade a pirâmide esta se transformando em um losango, uma vez que estes dois primeiros degraus estão ficando cada dia mais invisíveis, o que de certa forma acelera a tão desejada “alfabetização digital”.

Não tirando a questão tecnológica da Campus Party, afinal é sim de certa forma a tecnologia em seus diferentes niveis de visibilidade que as pessoas buscam encontrar no evento, mas principalmente as pessoas buscam encontrar pessoas, a Campus Party é na verdade uma grande rede social ao vivo de pessoas conectadas, uma tangibilização da cauda longa, um encontro de muitas tribos que habitam o ciberespaço e este planeta chamado terra, pense nisto.

A miopia universitária

Pouco antes da Campus Party, conversando com um amigo, o Ronald Stresser, ele comentou que estava pensando em fazer um curso mais específico de mídias sociais, e respondi quase de imediato que a Campus Party era o melhor curso de mídias sociais que ele poderia fazer, foi uma resposta daquelas “bate pronto” e depois comecei a pensar no que falei e vi que havia acertado na mosca.

Na Campus Party vivencia-se a cultura digital o tempo todo, é um paraiso para etnografos, profissionais e pesquisadores de comunicação e alias qualquer área profissional que de alguma forma envolva a Internet. Neste ano tivemos dezenas de palestras, com temas diversos e riquissimos, encontro dos cerebros da cibercultura brasileira, dos ativistas, legisladores e parlamentares da liberdade na rede, visita de presidenciaveis, debates de software livre, jogos, midias sociais, musica, video, multimidia, robotica, casemod e um monte de outras coisas. Na Campus Party você faz parte do contexto e não apenas lê sobre ele, o aspecto informal do evento reflete a informalidade e a liberdade da rede, onde você vai alem do livro, pode interagir com os autores, e isto não tem preço.

Mas onde estão as caravanas organizadas pelas universidades? Imagine o valor para uma faculdade de Direito em participar dos debates a cerca do Marco Civil, assistir à uma palestra do Lessig e de quebra ainda conversar com varios juristas, parlamentares, e representantes da sociedade civil que se fizeram presentes? Imagine o valor para uma faculdade de Comunicação participar de debates sobre cibercultura com os maiores estudiosos da área no Brasil? Ou quem sabe as faculdades de Pedagogia participarem da discussão a cerca do novo modelo de Universidade levantado pela pesquisadora Ivana Bentes?

Poderia enumerar dezenas de outros casos, eu nem falei da área técnica, mas foi de propósito, mas pergunto: Afinal porque as universidades ainda sofrem do mal de Sísifo, e continuam seguindo o mesmo caminho secular ao invés de apresentar novas propostas e desafios?

Cluetrain 10 anos depois

Este artigo é uma tradução livre do artigo “The Clue Train 10 years on” de Karl long, com a devida autorização do autor.

O manifesto cluetrain, um livro concebido 10 anos atrás, previu e descreveu muitas das forças que foram disruptivas na economia, ativadas através da web 2.0.

Uma poderosa conversação global começou. Através da Internet, pessoas estão descobrindo e inventando novas maneiras de compartilhar rapidamente conhecimento relevante. Como um resultado direto, mercados estão ficando mais espertos-e mais espertos que a maioria das empresas.

O ponto “mercados são conversações” sempre foi verdadeiro, mas o impacto desta afirmação foi realizada bem lentamente pelos negócios através dos últimos 10 anos. Fantásticamente, os conselhos e os insights deste livro ainda continuam válidos, embora o tom seja um pouco polêmico neste ponto, entretanto, ninguém mais precisa ser convencido a cerca das verdades traçadas neste livro.

Houve recentemente um evento em New York para discutir a relevância do manifesto cluetrain 10 anos, que foi blogado ao vivo por Josh Bernoff da Forrester. Nesta conferência Doc Searls usou poucas palavras para falar de publicidade, o que acredito não ser nenhuma novidade, mas pensei em como as empresas e agências ainda estão viciados nos formatos incrementalmente ineficientes e decadentes, e que ainda não acreditam no que Doc falou:

  1. A publicidade como conhecemos ira acabar.
  2. Pessoas arrebanhadas em jardins emparedados e que acham que isto as colocam em uma sociedade, verão como isto é um absurdo. (Facebook, Orkut são exemplos.)
  3. Nos iremos constatar que os mais importantes produtores são aquelas que costumamos chamar de consumidores.
  4. O valor da cadeia será substituído pelo valor da constelação. (muitas conexões).
  5. “Qual o seu modelo de negócios?” não será mais a pergunta para tudo. (Qual o modelo de negócios para suas crianças?)
  6. Nos iremos fazer dinheiro maximizando o “efeito porque”.(”Efeito porque” é o que acontece quando você faz mais dinheiro porque há alguma coisa mais com ele) Ex: Pesquisar e blogar.
  7. Nos teremos a habilidade de gerenciar as empresas da mesma forma como elas nos gerenciam hoje. (Acordos entre empresas e consumidores não serão mais favoráveis às empresas.) Na Escola de Direito de Harvard eles chamam isto de VRM – Vendor Relationship Management, onde Doc Searls esta trabalhando no projeto VRM.
  8. Nos iremos casar a web viva com o valor da constelação. (A web viva não é apenas sobre estrelas. Relacionamentos de todos com todos.)

No caso da publicidade em redes sociais, dê uma lida no artigo da Business Week sobre a eficiência da publicidade em redes sociais.

Profissionais de marketing falam que pelo menos 4 em 10.000 pessoas que visualizam suas campanhas em sites de redes sociais clicam nelas.

Voltando ao tema “mercados são conversações” seguramente na pior das hipótese é uma publicidade falsa, sem autenticidade, monólogo, porque empresas tem pavor de manter uma conversação, é isto que as pessoas percebem? O que elas percebem? Provavelmente o volume de publicidade, será que a melhor destas campanhas pode provocar ao menos uma centelha de conversação?

Então me diga que mecanismos a sua agência de propaganda proporciona para ajudar a “continuar a conversação” ?

Fonte: The Clue Train 10 years on at ExperienceCurve

Sustentabilidade Insustentável

Publiquei este texto originalmente no Blog Cidadão e no Trezentos há um ano, mas ele continua tão atualizado que decidi publica-lo novamente aqui, com pequenas modificações.

Acabamos de passar pelo evento a Hora do Planeta organizado pela WWF, a proposta era apagar a luz da sala por uma hora, das 20:30 às 21:30. Pouco antes o twitter “bombou” com a tag #horadoplaneta, uma profusão totalmente entrópica de frases e sacadas diversas, eu mesmo entrei na onda sugerindo:

A brincadeira continuou, diversos “twitts” sérios, e brincalhões surgiram, alguns fizeram justamente o contrário, disseram que muitos morreriam nas UTIs, que as luzes das teclas Caps Lock, Scroll Lock e Num Lock estavam apagadas e por ai vai. Isto é perfeitamente natural. Quando organizamos (ciberativistas)  o FlashMob em São Paulo foi a mesma coisa, muitos twitts sérios e muita gozação. Como publicitário posso dizer que é assim mesmo, a propagação da mensagem em mídias sociais tem muito do efeito borboleta, trabalha-se a percepção e ai torna-se hype, meme….

Mas meu post não é sobre publicidade, e sim sobre sustentabilidade, e o que vou falar agora certamente não vai agradar muita gente, mas acreditem ou não, não será o fundo preto que na verdade não economiza energia nenhuma, e nem a hora do planeta ou coisas assim que salvarão o mundo, até porque a hora do planeta é mais um evento midiático do que social, daqueles que engajam a sociedade replicante na tentativa de legitimar um ato social.  Na verdade o somatório de poucas atitudes podem sim, fazer a diferença, mas na prática, pegando carona no post da Maira, acredito que pouquissimas pessoas estão de fato se empenhando para tornar um mundo sustentável, são estes louvaveis e respeitados quixotes na luta contra a extinção da espécie humana.

Acredito muito que uma pequena atitude pode fazer a diferença, e ela não pode ser minimizada ou hostilizada, mas é que na verdade, em se tratando de vida sustentável somos quase todos hipócritas e egoistas, inclusive eu e você. Ao mesmo tempo em que nos tornamos verdes, continuamos agindo como se o mundo fosse um gigantesco shopping, continuamos consumindo compulsivamente, neste ritmo consumiremos em breve o planeta, parece que na prática estamos nos enganando para não nos sentirmos tão culpados, mas o verdadeiro pensar e agir ecologico deve vir lá de dentro, do fundo de suas convicções, ai sim você será um ser sustentável.

Para salvar o mundo, temos de mudar profundamente nosso estilo de vida, repensar o capitalismo, o consumo e até mesmo nossas vidas, que são consumidas diariamente na ardua de tarefa, que irônicamente se chama “ganhar a vida”, na verdade estamos vendendo a vida para consumir o planeta. Teremos de aprender a viver em coletividade, abandonar a privacidade do automóvel particular, eliminar o consumo de bens não recicláveis e outros até mesmo reciclaveis, adotar a cultura de otimização extrema de energia, teremos de abrir mão do conforto das lindas e práticas embalagens que adornam nossos mimos, teremos até mesmo de pensar no modelo de moradia, quem sabe o velho modelo de casa da familia onde gerações convivem sob o mesmo teto não seja uma solução? Temos de parar de usar combustiveis fósseis, temos de parar já com a idéia arriscada de extrair metano do fundo do mar.

Temos hoje em dia a tecnologia a nosso favor, a Internet esta ai conectando todo mundo, vamos interagir mais virtualmente, vamos lançar mão da digitalização de bens, vamos “teletrabalhar” mais, vamos repensar nossos espaços de estudo e de trabalho, vamos pensar que o deslocamento diario precisa ser minimizado, vamos invadir as ruas de bicicleta, além de fazer bem a saúde faz bem ao planeta. Temos de pensar seriamente no consumo, é preciso avaliar o impacto ambiental de cada novo bem a se adquirir, por exemplo um carro novo, já pensou quantos litros d’água e a quantidade de gases de efeito estufa são consumidos e produzidos na fabricação de um mero automóvel, que cinicamente se intitula mais econômico? Temos de pensar assim, agir assim.

Por fim, salvar o planeta pode ser uma verdadeira revolução em nossas vidas, mas temos de deixar de ser egoistas, temos de pensar coletivo, agir coletivo, antes que o próximo cataclisma venha nos ensinar…

Uma panorâmica do BlogcampES

Em primeiro lugar foi uma gratificante oportunidade poder participar do Blogcamp ES, agradeço ao convite do Thalles, que acreditem, somente no meio da noite de quinta, já com todo mundo na “lama” é que eu saquei que era o mesmo Thalles que participou da organização do Mega Não em Vitória. Também agradeço ao gente finissima Fabio Malini e a elétrica Emily. Tive o prazer de conhecer pessoas bastante interessantes, conversar com muita gente inteligente e bonita. Fiquei fascinado com a história de vida da Carla Coutinho, virei fã da menina. Me tornei o sétimo leitor do blog da Gabi Dornelas, me contagiei com o bom humor irradiante do Raphael Mendes, mais um bem sucedido pró blogger que conheci. Também conheci o Marcos Eduardo, que espero não ter acho o meu style fat 80’s demodê :). Na “lama” conheci ainda mais gente bacana, é que sou péssimo para guardar nomes, mas ela se lembra que na “lama” ficou na segunda cadeira do meu lado, e confirmou a minha identidade secreta: Sim eu sou o Caribé. Teve ainda a jovem menina do lado da Gabi.

No sábado tive a satisfação de acordar e olhar o mar pela janela, com os raios de sol perfurando as poucas nuvens, uma visão estimulante. Me supreendi ao fazer o checkout no Best Western Pier Vitória Hotel, o primeiro de dezenas de hoteis onde me hospedei que não existe a presunção da culpa, ou seja, ninguém fica te enrolando na recepção enquanto um funcionário vai no apartamento ver se você não roubou nada, até mesmo para o frigobar a atendente pergunta: O que o senhor consumiu? Uau! Ninguém foi la olhar se eu estava mentindo!

No BlogCamp

Na minha participação com o imprescindível Henrique Antoun, no painel Blogs e Ciberativismo, comecei com uma breve história na Internet, e entramos a fundo no assunto. A quantidade de participantes e a qualidade dos comentários transformou um painel Blogs e Ciberativismo numa irresistivel desconferência que só terminou as 13h porque o Antoun tinha de ir e eu acabei indo junto para o Rio. No painel diversas frases foram twittadas e falamos de um monte de coisas que tinham um monte de links, bom então seguem os links:

Mantras da Irracionalidade:

Mito midiático da gripe suína

Teses, teorias e manifestos

Blogs, redes, coletivos e bookmarks

Videos e livros citados

  • Video – Fahrenheit 11 de setembro (Indispensável)
  • Video – Fahrenheit 451 (distopia)
  • Video – Obrigado por fumar (Nao lembro quem citou)
  • Video – Muito Alem do cidadão Kane
  • Video – A Revolução não será televisionada
  • Video – A Corporação (The Corporation)
  • Livro – 1984 – George Orwell
  • Livro – Admiravel mundo novo – Aldous Huxley
  • Periódico – Feed-se Democracia

Por enquanto é isto, recomendo a leitura dos links para quem deseja se aprofundar mais no tema, e para aqueles que pretendem fazer seus TCCs e Teses baseado no tema, se precisar de ajuda é só falar.

Manifesto da Cultura Livre

Tomei a liberdade de fazer uma tradução à “toque de caixa” do Manifesto da Cultura Livre, publicado originalmente pelo coletivo Free Culture, como segue:

A missão do movimento da Cultura Livre é construir uma estrutura participativa para a sociedade e para a cultura, de baixo para cima, ao contrário da estrutura proprietária, fechada, de cima para baixo. Através da forma democratica da tecnologia digital e da internet, podemos disponibilizar ferramentaas para criação, distribuição, comunicação e colaboração, ensinando e aprendendo através da mão da pessoa comum – e através da verdadeiramente ativa , informada e conectada cidadania: injustiça e opressão serão lentamente eliminadas do planeta.

Nos acreditamos que a Cultura deve ser uma construção participativa de duas mãos, e não meramente  de consumo. Não nos contentaremos em sentar passivamente na frente de um tubo de imagem de midia de mão única. Com a Internet e outros avanços, a tecnologia existe para a criação de novos paradigmas, um deles é que qualquer um pode ser um artista, e qualquer um pode ser bem sucedido baseado em seus méritos e não nas conexões da industria.

Nos negamos a aceitar o futuro do feudalismo digital, onde nos não somos donos dos produtos que compramos, mas nos são meramente garantidos uso limitado enquanto nos pagamos pelo seu uso. Nos devemos parar e inverter a recente e radical expansão dos direitos da propriedade intelectual que ameaçam chegar a um ponto onde se sobreporão a todos os outros direitos do indivíduo e da sociedade.

A liberdade de construir sobre o passado é necessária para a prosperidade da criatividade e da inovação. Nós iremos usar e promover o nosso patrimônio cultural, no domínio público. Faremos, compartilharemos, adaptaremos e promoveremos conteúdo aberto. Iremos ouvir a música livre, apreciar a arte livre, assistir filmes livres, e ler livros livres. Todo o tempo, iremos contribuir, discutir, comentar, criticar, melhorar, improvisar, remixar, modificar, e acrescentar ainda mais ingredientes para a “sopa” da cultura livre.

Ajudaremos todo mundo à entender o valor da nossa abundância cultural, promovendo o software livre a o modelo open source. Vamos resistir à legislação repressiva que ameaça as liberdades civis e impede a inovação. Iremos nos opor aos dispositivos de monitoramento à nivel de hardware que impedirão que os usuários tenham controle de suas próprias máquinas e seus próprios dados.

Não permitiremos que a indústria de conteúdo se agarre à seus obsoletos modelos de distribuição através de uma legislação ruim. Nós seremos participantes ativos em uma cultura livre de conectividade e produção, que se tornou possível como nunca antes pela Internet e tecnologias digitais, e iremos lutar para evitar que este novo potencial seja destruído por empresas e controle legislativo. Se permitirmos que a estrutura participativa, e de baixo para cima, da Internet seja trocada por um serviço de TV a cabo – Se deixarmos que paradigma estabelecido para criação e distribuição se reafirme – Então a janela de oportunidade aberta pela Internet terá sido fechada, e  teremos perdido algo bonito, revolucionário e irrecuperável.

O futuro esta em nossas mãos, devemos construir um movimento tecnológico e cultural para defender o comum digital.

Leia, divulgue, replique, traduza, republique mas não fique ai parado!

Publicado também no Trezentos , Xô Censura e no meu blog no Cultura Digital

A espetacularização do combate à pirataria

Confesso que estava torcendo para que o processo movido contra o The Pirate Bay fosse um tiro na água, a industria de intermediação cultural precisava encontrar um freio, mas infelizmente a justiça Sueca considerou os donos do site culpados. Na verdade, conforme Ronaldo Lemos, a decisão aumenta o escopo dos direitos autorais e assim começa a passar por cima de direitos individuais, como a privacidade.

Assim como no caso do Napster, os resultados são muito mais negativos para a Industria de intermediação cultural do que os benefícios diretos de uma ação como esta, mesmo que os valores extorsivos e utópicos cobrados nestas ações fossem exequiveis, ainda sim, a balança penderia contra ela. Na verdade a intenção dos representantes da industria de intermediação cultural não é ressarcir-se do pseudo e majorado prejuizo, e sim a prática secular da execução em praça pública:

Execução em praça pública
Execução em praça pública

O objetivo de FOUCAULT, em Vigiar e Punir[bb], é descrever a história do poder de punir como história da prisão, cuja instituição muda o estilo penal, do suplício do corpo da época medieval para a utilização do tempo no arquipélago carcerário do capitalismo moderno. Assim, demonstrando a natureza política do poder de punir, o suplício do corpo do estilo medieval(roda, fogueira etc.) é um ritual público de dominação pelo terror: o objeto da pena criminal é o corpo do condenado, mas o objetivo da pena criminal é a massa do povo, convocado para testemunhar a vitória do soberano sobre o criminoso, o rebelde que ousou desafiar o poder. O processo medieval é inquisitorial e secreto: uma sucessão de interrogatórios dirigidos para a confissão, sob juramento ou sob tortura, em completa ignorância da acusação e das provas; mas a execução penal é pública, porque o sofrimento do condenado, mensurado para reproduzir a atrocidade do crime, é um ritual político de controle social pelo medo.
Juarez Cirino dos Santos (PDF)

É uma prática repressiva comumente utilizada pela Indústria de intermediação cultural, os “alvos” são criteriosamente escolhidos levando-se em conta o impacto e o potencial de marketing, dentro  desta estratégia a escolha do The Pirate Bay foi perfeita.

Entretanto esta prática tem surtido cada dia menos efeito, questões como ética e honestidade vem sendo colocadas em xeque por quem deveria dar o exemplo, e como já previa o Manifesto Cluetrain, as pessoas juntas estão ficando mais sabidas que as corporações, e consequentemente menos sujeitas às suas manipulações. As corporações já parecem saber disto, mas como os duendes de Quem mexeu no meu queijo[bb], tentam sobreviver no seu super ultra lucrativo modelo de negócios, que há muito faz água, na esperança de que um dia tudo voltará a ser como antes, nem que eles tenham de dar uma “ajudazinha”.

Curioso mesmo é o tamanho do poder que a Indústria de intermediação cultural possui, poder este que pretende ser ampliado pelo secretissimo ACTA. Mesmo levando-se em conta que quanto maior o mito midiático, maior a subserviência da sociedade e consequentemente maior o poder em combate-lo, ainda assim acho o poder da Industria de intermediação cultural desproporcional.

Na verdade existe um tremendo discurso hipócrita que começa no conceito de direito autoral, enquanto a manipulada sociedade acredita que o pobre músico passará fome se suas músicas forem pirateadas na Internet, o que ocorre é que há muito o pobre músico cedera seus direitos à gravadora. E dependendo do quanto “leonino” é este contrato, o músico deixa de ter qualquer autoridade sobre a sua obra intelectual. Pergunto ai quem é o maior vilão da história?

Na verdade a Industria de Intermediação cultural quer, além dos lucros imorais, é evitar que a sociedade se dê conta de que ela se tornara obsoleta, ou pior, quer na verdade eliminar o seu principal concorrente: Nós mesmos.

Publiquei este artigo também no Xô Censura e no Trezentos

O dinossauro e o Barcamp

Figueiredo é o presidente de uma grande gravadora, a Anta Records. Figueiredo dedicou a sua vida à Anta Records, entrou lá como office boy e fez carreira até chegar à presidência, se orgulha de cada passo, cada degrau que escalou para chegar onde chegou. Seu Figueiredo fez uma carreira vertical, antigamente era assim. Com uma forte dose de romantismo, a carreira vertical, é um sinônimo corporativo do “aprender com os próprios erros”. Mas o tempo passou, ainda bem! Hoje as carreiras são horizontais, muitos empregos, muitas culturas, tornam as empresas e os executivos mais competitivos.

A Anta Records é tudo na vida do seu Figueiredo, ele se orgulha de ter lançado diversos sucessos, orgulha-se de sua relação com as radios e sua eficiente rede de distribuição, orgulha-se de possuir os melhores estudios do mercado, afinal tem realmente do que se orgulhar. Seu Figueiredo chegou lá, esta tranquilo, realizado, mas seu novo assistente, o Junior Silva vem tirado seu sono.

Junior Silva é um garoto antenado, filho de Apolônio Silva, o Junior sempre gostou de música e tecnologia. Conseguiu o emprego na Anta Records como assistente do seu Figueiredo. Seu Figueiredo pode ser um “dinossauro”,  mas percebe que alguma coisa esta acontecendo e que o filho do seu vizinho moderninho, poderia lhe mostrar o caminho. Apesar disto, seu Figueiredo é um cara “osso duro de roer”, ao mesmo tempo que quer inovação tem pavor de perder seu “status quo”.

Um belo dia Junior percebeu que a oportunidade para “digitalizar” o analógico seu Figueiredo havia surgido, e então correu para a sala do seu Figueiredo, abriu a porta esbaforido e falou:

– Seu Figueiredo, tenho otimas ideias para o senhor, vai acontecer um Barcamp no próximo sábado e imagino que podemos encontrar grandes oportunidades para Anta Records.

Figueiredo fitou o Junior pensativamente, levantou suas fartas sobrancelhas alternadamente, colocou a mão no queixo, parecia pensativo. Depois de alguns segundos soltou um sorriso e exclamou:

– Junior, em que um acampamento de manguaceiros pode nos ajudar?

Ai meu Deus! Pensou Junior,  ja vi que vou ter de explicar detalhadamente ao Seu Figueiredo, haja paciência, mas vamos lá:

– Seu Figueiredo, de onde você tirou a ideia de que vamos à um acampamento de manguaceiros?

– O que mais poderia ser “Bar Camping”, que não um acampamento em um bar, deve ser nojento isto. Que tipo de gente frequenta um negócio destes?

– Seu Figueiredo, estes eventos são frequentados por profissionais de diversas áreas, blogueiros, formadores de opinião, hubs de mídias sociais, e gente de todo tipo. E não é um acampamento num bar.

– Junior, este pessoal pode ficar acampado, mas eu estou muito velho para acampamentos, prefiro que você peça a dona Terezinha para reservar um Hotel para mim, ao menos eu vou ao “Bar do hotel”. Alias para que eles vão levar hubs para o acampamento? E o que é este tal de “Bar Camping” afinal?

– Seu Figueiredo, hub é o nome dado à formador de opinião, são elos chaves no Buzz Marketing. Barcamp é uma desconferência.

Seu Figueiredo solta uma sonora gargalhada, e fala:

– Junior, desconferência seria uma conferência ao contrário? Seria o público no palco e o palco no público? Vamos ter de chegar la falando nossos nomes de trás para frente?

– Boa Seu Figueiredo ! É quase isso, na verdade é uma espécie de conferência onde não existe pauta, e qualquer um pode debater, não existe uma linha clara entre público e palestrante,  o evento é bem informal, mas é bem interessante.

– Tudo bem Junior, acho que estou entendendo; mas me diga, este negócio de midia social é coisa daquele presidente barbudo?

– Não seu Figueiredo, não é não, depois eu explico ao senhor. Agora preciso me inscrever no Barcamp.

– Também quero ir Junior, me inscreve também no Bar Camping, quero ver de perto como é que são estes hubs e o que é esta tal de mídia social.

– Tudo bem seu Figueiredo, vou inscrever o senhor também.

Duas semanas se passaram e amanhã é dia de BarCamp, as sugestões de temas estão quentissimas, mas Junior esta preocupado, tem certeza que o seu Figueiredo vai meter o pé na jaca, principalmente porque um dos temas é o caso do Radiohead, a gravadora RCRD LBL e outros inovadores…

(continua…)

Nota: Isto é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Ensaio sobre a beleza

Venho desenvolvendo um trabalho de gerenciamento na reforma do Theatro Municipal, um belissimo edifí­cio histórico no centro do Rio de Janeiro, e ir ao centro para mim é uma eventualidade, e por ser fora da rotina é relativamente prazeroso. Costumo observar pessoas, o tempo todo, sou um observador nato, presto atenção em tudo que consigo: Nas pessoas, nos lugares, nos veículos, paisagem urbana, e tudo mais que estiver no meu campo visual, ou seria melhor dizer no meu campo sensorial? Afinal temos cinco sentidos para interagir com o mundo e obviamente um estimulo acaba chamando outro. Não costumamos cheirar o que vemos ou tentamos ouvir o que tocamos, muito menos tocar, o que na verdade gostarí­amos, e estamos vendo, mas estaríamos invadindo o espaço de outra pessoa, e isto deve ser consentido.

Definir o que é belo é uma missão complexa, o belo não pode ser associado apenas aquilo que vemos, pois afinal se fosse assim, os portadores de deficiência visual não teriam o direito de achar nada belo. A beleza é um atributo sensorial, o cego julga a beleza com o tato, com o olfato e a audição. Talvez definir que belo é aquilo que nos proporciona prazer sensorial, seja o mais próximo da definição efetiva que possamos chegar.

O cheiro agradável, o sabor delicioso, a textura suave, o som emocionante ou paisagem incrí­vel, são sinônimos de beleza, ou seriam os seus componentes?   O atributo sensorial é na verdade o chamariz, e um belo chamariz provoca uma reação em intensidade proporcional, atrai, chama a atenção, mas não é tudo, acho que a percepção da verdadeira beleza esta na conjunção dos sentidos, o que chamamos popularmente de “quí­mica”, algo como “rolou uma quí­mica” para justificar um intenso relacionamento.

Esta quí­mica é na verdade uma harmônica conjunção destes sentidos, uma mistura perfeita, que percebemos como a beleza. A complexidade é muito maior de que simplesmente a mistura sensorial, não se trata de alquimia, existem outros componentes como a emoção e o prazer que acabam retroalimentando esta percepção, percepção esta que varia de um indivíduo para outro.

Tentando ser mais claro, é como se a percepção do belo tivesse além do aspecto sensorial, o tempo, relacionamento e repetição. Analisando por ai temos que a percepção da beleza vai do evidente para o sutil com o passar do tempo. Isto explica por exemplo a preferência por alimentos doces e com consistência e sabor mais evidentes na infância e preferência por alimentos com consistências, docura e sabores mais sutis na fase adulta. Lembre-se que adolescentes escolhem seus parceiros por padrões meramente Aristotélicos, a beleza precisa ser evidente, ja o homem maduro percebe as mais discretas sutilezas na mulher, enxerga muito além das formas, é uma percepção muito mais elaborada. Isto não quer dizer por exemplo que o homem maduro não seja atraido pela beleza Aristotélica, mas isto deixa de ser a única regra, o fator tempo, repetição e relacionamento expandem a percepção do belo.

Esta lançada a questão, afinal, o que é a beleza para você?

Mantras da irracionalidade

A indústria cultural é predatória, apropria-se da cultura popular, a reconfigura e a vende como produto travestido de cultura popular. A sociedade de consumo assimila esta cultura enlatada como se fosse sua, e ainda critica a cultura popular, que deu origem à sua nova “cultura”. Com consumidores assim fica fácil, à industria cultural e a mídia, a disseminação de “trojans intelectuais”, que mantendo a analogia com a tecnologia, são trojans que se instalam nas mentes das pessoas destituindo-os de seus sensos críticos.

Dentre as características mais veementes da indústria cultural, destaca-se seu poder em destituir dos indivíduos a autonomia em julgar e decidir. Se a revolução industrial mecanizou a relação entre homem e trabalho, a indústria cultural mecanizou a relação entre o homem e sua própria subjetividade.
Érica Fernandes Silva

Curioso é ver o quanto irracional nossa sociedade esta ficando, enquanto não estão consumindo a cultura de massa, estão trabalhando para ter recursos para consumi-la, isto no mais irracional dos círculos viciosos. Estupidamente estupendo, mas é a pura verdade, vivemos numa sociedade tão hedonicamente consumista, que é mais importante ter o bem do que proriamente usufrui-lo. A dissonância cognitiva pós compra não se da mais sobre o aspecto de que a compra foi ou não bem sucedida, ela vem perdendo sentido, para o consumista irracional, toda compra é bem sucedida, por mais estúpida que possa parecer. A nova dissonância é a depressão pós-compra, onde o vazio de possuir imediatamente inicia um novo ciclo no processo.

A tecnologia trouxe grandes benefícios à sociedade, eu amo a tecnologia, mas nem por isto deixo de ser crítico. Vivemos numa era dinâmica, a espiral evolutiva vem sufocando o nosso tempo, a velocidade das coisas e digo ai todas as coisas tal como a tecnologia, os negócios, a vida, tudo, vem aumentando de forma exponencial, e sem sinal de que isto vai mudar. Mas vai, tudo se da por relações complexas das mais diferentes matizes que nem sempre tendem à uma combinação perfeita, os comportamentos são senoidais (ainda publico aqui esta teoria), é como se sistematicamente entrássemos em uma via sem saída, e tenhamos de retornar e tentar novamente, mas sempre aparece um atalho no meio do caminho… Isto esta claro na atual conjuntura, onde o consumismo sufocou o capitalismo, num ato auto-imune, pois a relação consumo x capital perdeu a sinergia. Isto foi exatamente o que aconteceu nos Estados Unidos, para aumentar o consumo aumentou-se o crédito, e ai deu no que deu. Agora corre o risco do consumismo consumir o mundo ou a nós mesmos, é viver e assistir.

Em uma sociedade assim é fácil a disseminação do “trojan intelectual”, como a Érica citou, a indústria cultural mecanizou a relação entre o homem e sua própria subjetividade, é como se os “trojans intelectuais” minassem nosso senso crítico de forma tão sutil que nem nos damos conta disto. Mas existe cura, a cura esta na internet, a internet é a cura, a pluralidade de informações democraticamente disponíveis e díspares  no ciberespaço nos leva a leitura e reflexão, na reconstrução de nosso senso crítico e analítico para que possamos avaliar qual informação é de fato relevante, ou quais partes de cada uma compõe um conjunto sensato.

Muitos críticos irão dizer que a cura para o trojan intelectual esta nos livros e eu digo que não, por uma razão muito simples, os livros fazem parte da indústria cultural, no modelo de publicação atual, com base no copyright, faz do editor uma espécie de filtro de conteúdo, com amplos poderes para decidir o que deve ou não ser publicado. Quando o autor for o legitimo detentor dos direitos sobre sua obra, e quando ele tiver o poder de decidir a publicação, ai sim teremos um quadro onde os livros também farão parte da cura.

Dentro desta visão crítica que estou criando a nova categoria do blog, a que decidi chamar de mantras da irracionalidade, onde farei uma leitura crítica de diversas máximas que muitos usam como verdadeiros mantras emitidos irracionalmente.