A indústria cultural é predatória, apropria-se da cultura popular, a reconfigura e a vende como produto travestido de cultura popular. A sociedade de consumo assimila esta cultura enlatada como se fosse sua, e ainda critica a cultura popular, que deu origem à sua nova “cultura”. Com consumidores assim fica fácil, à industria cultural e a mídia, a disseminação de “trojans intelectuais”, que mantendo a analogia com a tecnologia, são trojans que se instalam nas mentes das pessoas destituindo-os de seus sensos críticos.
Dentre as características mais veementes da indústria cultural, destaca-se seu poder em destituir dos indivíduos a autonomia em julgar e decidir. Se a revolução industrial mecanizou a relação entre homem e trabalho, a indústria cultural mecanizou a relação entre o homem e sua própria subjetividade.
Érica Fernandes Silva
Curioso é ver o quanto irracional nossa sociedade esta ficando, enquanto não estão consumindo a cultura de massa, estão trabalhando para ter recursos para consumi-la, isto no mais irracional dos círculos viciosos. Estupidamente estupendo, mas é a pura verdade, vivemos numa sociedade tão hedonicamente consumista, que é mais importante ter o bem do que proriamente usufrui-lo. A dissonância cognitiva pós compra não se da mais sobre o aspecto de que a compra foi ou não bem sucedida, ela vem perdendo sentido, para o consumista irracional, toda compra é bem sucedida, por mais estúpida que possa parecer. A nova dissonância é a depressão pós-compra, onde o vazio de possuir imediatamente inicia um novo ciclo no processo.
A tecnologia trouxe grandes benefícios à sociedade, eu amo a tecnologia, mas nem por isto deixo de ser crítico. Vivemos numa era dinâmica, a espiral evolutiva vem sufocando o nosso tempo, a velocidade das coisas e digo ai todas as coisas tal como a tecnologia, os negócios, a vida, tudo, vem aumentando de forma exponencial, e sem sinal de que isto vai mudar. Mas vai, tudo se da por relações complexas das mais diferentes matizes que nem sempre tendem à uma combinação perfeita, os comportamentos são senoidais (ainda publico aqui esta teoria), é como se sistematicamente entrássemos em uma via sem saída, e tenhamos de retornar e tentar novamente, mas sempre aparece um atalho no meio do caminho… Isto esta claro na atual conjuntura, onde o consumismo sufocou o capitalismo, num ato auto-imune, pois a relação consumo x capital perdeu a sinergia. Isto foi exatamente o que aconteceu nos Estados Unidos, para aumentar o consumo aumentou-se o crédito, e ai deu no que deu. Agora corre o risco do consumismo consumir o mundo ou a nós mesmos, é viver e assistir.
Em uma sociedade assim é fácil a disseminação do “trojan intelectual”, como a Érica citou, a indústria cultural mecanizou a relação entre o homem e sua própria subjetividade, é como se os “trojans intelectuais” minassem nosso senso crítico de forma tão sutil que nem nos damos conta disto. Mas existe cura, a cura esta na internet, a internet é a cura, a pluralidade de informações democraticamente disponíveis e díspares no ciberespaço nos leva a leitura e reflexão, na reconstrução de nosso senso crítico e analítico para que possamos avaliar qual informação é de fato relevante, ou quais partes de cada uma compõe um conjunto sensato.
Muitos críticos irão dizer que a cura para o trojan intelectual esta nos livros e eu digo que não, por uma razão muito simples, os livros fazem parte da indústria cultural, no modelo de publicação atual, com base no copyright, faz do editor uma espécie de filtro de conteúdo, com amplos poderes para decidir o que deve ou não ser publicado. Quando o autor for o legitimo detentor dos direitos sobre sua obra, e quando ele tiver o poder de decidir a publicação, ai sim teremos um quadro onde os livros também farão parte da cura.
Dentro desta visão crítica que estou criando a nova categoria do blog, a que decidi chamar de mantras da irracionalidade, onde farei uma leitura crítica de diversas máximas que muitos usam como verdadeiros mantras emitidos irracionalmente.
O capitalismo cria a mercadoria e também cria seu consumidor. A crise do sistema mercantil aparece refletida no próprio consumidor. A internet como solução tem uma armadilha, uma pseudo liberdade de manifestação, uma relativa irrelevância do que dizemos (a economia da atenção) uma espécie de reserva aparentemente ilimitada para sonhos cujas fronteiras são a vigilância e a próxima guerra (cyberwar). Assim mesmo, pensar sobre as saídas, ver de forma otimista as possibilidades já se apresenta virtualmente como solução.
O consumismo é uma das grandes doenças sociais da atualidade. Sempre bato nesta tecla no blog porque precisamos educar melhor nossos filhos de forma a que eles aprendam a consumir melhor e com mais responsabilidade.
O consumismo, por exemplo, leva adolescentes a cometerem mais crimes.
E todos nós precisamos nos reeducar.
Cara,
eu já tava pra comentar aqui nest post tem uns dias. Aí você me fala do lance do trabalho Slow. Fiquei instigado.
Fico pensando, interessantemente você é publicitário. Tem um choque em tudo isso, não?
Bem, comigo tem um choque porque a Administração, como diria o Omar Akouf, é o braço armado da economia liberal. Rs Rs
A Internet surgiu como uma grande avenida para a liberdade de expressão através da possibilidae de auto-publicação, sem custos ou censura, independente da máquina editorial. Nesse sentido apareceu como uma revolução nas ondas da comunicação. Mas a necessidade de revolução é muito mais abrangente e urgente, tanto quanto impossível, pelo menos vendo de onde me coloco. A doença do consumismo é de cura difícil e morosa, a não ser que haja um colapso traumático do sistema, repentino e fatal. Mas o tempo urge, o planeta Terra não consegue mais encaixar os golpes que a humanidade lhe desfere e devolve em número e grau. Infelizmente quem recebe o retorno nem sempre é quem agrediu. Assistimos à criação artificial de pseudo-necessidades que resultam em produtos que abusam dos recursos existentes de matéria prima e energia, numa geração acelerada de resíduos resultantes da rápida obsolescência dos produtos pelo culto paranóico da novidade. O mundo ocidental cultivou uma relação leviana de superficialidade com o ambiente de que fazemos parte e dependemos. E agora não há como sair. Os remédios são lentos e a deterioração é veloz.
Gostaria de agradece-los pelas palavras supracitadas. Simplismente adquiri duas formas de dizer o que pensava a anos. 1. torjan intelectual 2. mantras da irracionalidade. Perfeitas definições ao meu ver. Keep the good work. Best regards.
Mais uma vez agradeçe-los pelas sábias palavras. keep the good work. best regards.