ACTA e o tripé do atraso

Os neoludistas estão lutando pela manutenção dos valores “analógicos”, a industria do copyright briga para ampliar seu poder e a midia tenta a todo custo prorrogar a sua morte já anunciada. Este três grupos atacam compulsivamente seu maior inimigo, que é ao mesmo tempo a maior invenção de todos os tempos: a Internet. Tudo por causa de uma ambição miope que se resume em manter-se na “zona de conforto”.

Os neoludistas não significam uma organização estruturada para manter os “velhos valores” em detrimento da tecnologia, é na verdade um conjunto não organizado de pessoas (políticos, juristas, empresários e até mesmo cidadãos comuns)  que possuem um alinhamento ideológico neoludista, e que exercem sua influência e são influenciados com base na ignorância tecnológica intencional ou não. A indústria do copyright vem compulsivamente atirando no próprio pé desde o momento da popularização da Internet, transformando seus consumidores em vitimas do próprio consumo.  Na tentativa de manter seu super ultra lucrativo modelo de negócios, a indústria do copyright procura posicionar-se acima de qualquer mortal estendendo seus tentáculos além dos direitos fundamentais e civis. Enquanto morre de dentro para fora, a midia vem tentando sobreviver num momento em que o jornalismo atinge sua melhor fase, é a implosão anunciada. Esta para se manter viva alinha-se com a indústria do copyright , fornecendo munição para os neoludistas atacarem os conectados que já são maioria no Brasil (já que em 2009 eram 45%), isto num ciclo interminável a ponto de não se conseguir saber mais onde tudo começou ou até mesmo quem influencia quem.

Os neoludistas, a indústria do copyright e a mídia formam o tripé do atraso, uma estrutura poderosa que sustenta o atraso que assola principalmente o terceiro mundo.

Pela ótica dos conectados é como se o tripé do atraso fosse o nobre decadente, que ainda se sente provido de poder e credibilidade com base em velhos dogmas e valores que aos poucos vão sendo suplantados, o resultado disto é uma exposição caricata de um ícone do passado. O tripé do atraso recusa-se a adaptar-se aos novos valores, acredita ainda ter poder para muda-los ou ignorá-los, propala um discurso patético que começa a fazer sentido somente para mentes conservadoras do próprio tripé, encerrando o discurso dentro do espaço do emissor retro alimentando-o. O tripé do atraso ainda enxerga as estruturas verticalmente, acredita que eles é quem produzem cultura, e não o povo. Não fazem a menor idéia do que seja a inteligência coletiva, que vem constantemente desmascarando as tentativas manipulatórias da mídia. Ainda pensam que existe alguém por trás disto, e não uma multidão como de fato é. O tripé do atraso ainda enxerga as velhas formas de comunicação, um emissor e muitos receptores, ignoram a comunicação em rede, obviamente porque não enxergam estruturas verticais e ainda buscam lideranças em tudo que combatem.

Na prática não podemos subestimar o tripé do atraso, eles são poderosos e não estão tão por fora da cultura digital como imaginamos, a Convenção de Budapeste, o AI5 digital e o ACTA [1],[2],[3] e [4] são indícios de que eles estão sendo assessorados por quem sabe. Em linhas gerais querem criminalizar a Internet como conhecemos, transformando-nos em criminosos do dia para a noite. Legislações deste tipo darão um tremendo aborrecimento e trarão um terrível atraso e um nível insuportável de controle.

O Ciberativismo da sociedade conectada no Brasil conseguiu paralisar a tramitação do AI5 digital, o Itamarati já se posicionou que não assina convenções de que não participa de sua elaboração, apesar disto, a Argentina assinou a convenção de Budapeste, mas ainda falta a decisão tramitar no congresso de lá, torceremos para que os ciberativistas Argentinos saibam se mobilizar para bloquear isto.

O caráter secreto do ACTA, assim como foi com o AI5 digital no inicio, é um dos fatores mais preocupantes. Pelo que foi divulgado e vazado anteriormente, o ACTA pretende justamente mudar os valores citados acima para alegria dos neoludistas, fazendo voltar tudo como era antes, a figura do intermediário, o controle da produção e a volta da economia da escassez, uma vez que as maliciosas cláusulas do ACTA irão literalmente acabar com o remix, com a criação, e principalmente com a liberdade na rede, senão com a própria rede.

Somos uma das nações mais promissoras em termos de cultura digital, temos um povo criativo, e livres seremos imbativeis, imagina unidos com nossos irmãos latinos, alias já deveríamos ter feito esta união há muito tempo. Temos três trunfos em andamento que temos de participar, pois o Marco Civil servirá de barreira contra o ACTA (temos de corrigir o que precisa ser corrigido), juntamente com a Reforma da Lei de Direito Autoral, e por fim o Plano nacional de Banda larga irá proporcionar uma intensa aceleração da inclusão e alfabetização digital, facilitando ainda mais nossa resistência.

Formar uma rede popular de resistência ao ACTA esta sendo um grande desafio, esta rede terá de ser muito grande e terá de atravessar fronteiras, acredito que a partir deste momento esta sendo formada a rede mundial de ciberativismo contra o ACTA, vamos mostrar mais uma vez que a globalização social foi muito mais efetiva do que a globalização econômica, e que precisamos cada vez menos de intermediários.  Você pode não estar percebendo ainda, mas estamos caminhando pelo tabuleiro, onde a jogada final irá colocar em xeque o modelo econômico atual, os sinais já estão por ai, o momento agora é de leitura e debate, vamos entender o que é o ACTA, e agir com Sun Tzu fala em seu livro a arte da guerra: Se você conhecer a si mesmo e a seu inimigo nunca perderá a guerra. A corrida já começou, é a corrida do conhecimento, esta esperando o que?

Este post é uma resposta tardia à convocação para a blogagem coletiva contra o ACTA.

Créditos das fotos

Seu site por R$ 199,90

Certo dia, após uma breve leitura dos classificado de Informática, um determinado empresário decide que esta na hora de ter sua presença na internet, e liga para um anuncio que lhe chamou a atenção: “Seu site por R$ 199,90

Empresário: – Alô ?
Empresário: – De onde fala?
Anunciante: – Ô tio, é o Marcão, o webdesigner.
Empresário: – Marcão, eu vi seu anuncio que você promove empresas na Internet.
Anunciante: – Ô tiozão é isso mesmo, meu trabalho é bom e barato. Faço um site irado e ainda divulgo ele pela web.
Empresário: – E tudo isto por R$ 199,90?
Anunciante: – Tio, este é o preço justo, mais que isto é um roubo. Estas empresas cobram uma grana porque são mercenárias, meu serviço é irado.
Empresário: – Mas vai ficar bom?
Anunciante: – Tio, vamos usar tudo que é novidade: AJAX, XHTML, Flash, CSS e ainda vamo botá” um AdSensezinho.
Empresário: – E vão divulgar?
Anunciante: – Tio, webmarketing é nois! Tenho 10 milhões de e-mails cadastrados, a gente avisa a todo mudo do seu site. Vai ser show!
Empresário: – Ok, tá fechado.

Empresário pensa: – AJAX para que? Será que precisa limpar o monitor?

Diariamente, empresários mal informados são vitimas destes amadores. Ferramentas de publicação na internet são cada dia mais interativas e fáceis de usar, levando ao mercado uma enxurrada de curiosos despreparados.

Para o mercado profissional isto não é novidade, me lembro dos idos tempos de formação do PROMIT em 96, que este problema já existia. Alias o amadorismo é um problema recorrente em nossa sociedade, já nos habituamos à informalidade, temos amadores em basicamente todas as áreas. Com certeza ninguém se submeteria à uma cirurgia com um médico amador, mas constroem casas com base no know how prático de profissionais de construção, ou consertam seus carros com o quebra galho da esquina que também faz manutenção no aquecedor de gás.

Serviços amadores podem dar certo, o paciente pode sobreviver, a casa pode não cair, o carro e o aquecedor podem não colocar vidas em risco, mas não deixa de ser uma roleta russa. Para alguns um risco calculado, para a maioria pura ignorância.

Por que na hora da presença na internet isto tem de ser diferente? Alguns podem argumentar que muitos clientes simplesmente não necessitam de algo além do “site a R$ 199,90″. Pode até ser, mas estamos vivendo cada vez mais conectados, e os tempos do “web site corporativo estático” já eram. Hoje é preciso participar, interagir e relacionar. Um site estático esta condenado à invisibilidade digital, se não possui valor agregado e não presta nenhum serviço à seus visitantes então é um natimorto.

Ainda é comum as empresas delegarem assuntos de internet para seus departamentos de TI, mas existe uma tendência crescente de empresas que passaram seus assuntos de internet à seus departamentos de marketing. É preciso encarar um projeto de internet como um investimento, que irá proporcionar um retorno (ROI) de 300% em um ano, segundo a Closed Loop Marketing. Obviamente este ROI não é uma afirmativa, e sim uma probabilidade que tem como componentes mais importantes quem contrata e quem é contratado. Internet hoje em dia é assunto do departamento de marketing das corporações, e deve ser tratado com empresas especializadas em marketing digital, desta forma um ROI de 300% torna-se bem plausível.

Segundo a pesquisa “Business to business survey 2007″ da Enquiro, 83% das empresas usam a Internet para localizar potenciais fornecedores. Um site bem construído é “achavel”, “usável” e “acessível”, para isto é necessário uma equipe especializada e não mais um profissional que sozinho produza todo resultado. Gerente de projetos, Arquiteto de informação, Webdesigner com enfase em webstandards, webdeveloper com ênfase em aplicações client e server side, Gerente de Marketing digital com ênfase em SEO, além de outros especialistas formam uma equipe para desenvolver um projeto de internet de resultados, e você ainda acha que dá para fazer isto tudo à R$ 199,90 ?

Sustentabilidade Insustentável

Publiquei este texto originalmente no Blog Cidadão e no Trezentos há um ano, mas ele continua tão atualizado que decidi publica-lo novamente aqui, com pequenas modificações.

Acabamos de passar pelo evento a Hora do Planeta organizado pela WWF, a proposta era apagar a luz da sala por uma hora, das 20:30 às 21:30. Pouco antes o twitter “bombou” com a tag #horadoplaneta, uma profusão totalmente entrópica de frases e sacadas diversas, eu mesmo entrei na onda sugerindo:

A brincadeira continuou, diversos “twitts” sérios, e brincalhões surgiram, alguns fizeram justamente o contrário, disseram que muitos morreriam nas UTIs, que as luzes das teclas Caps Lock, Scroll Lock e Num Lock estavam apagadas e por ai vai. Isto é perfeitamente natural. Quando organizamos (ciberativistas)  o FlashMob em São Paulo foi a mesma coisa, muitos twitts sérios e muita gozação. Como publicitário posso dizer que é assim mesmo, a propagação da mensagem em mídias sociais tem muito do efeito borboleta, trabalha-se a percepção e ai torna-se hype, meme….

Mas meu post não é sobre publicidade, e sim sobre sustentabilidade, e o que vou falar agora certamente não vai agradar muita gente, mas acreditem ou não, não será o fundo preto que na verdade não economiza energia nenhuma, e nem a hora do planeta ou coisas assim que salvarão o mundo, até porque a hora do planeta é mais um evento midiático do que social, daqueles que engajam a sociedade replicante na tentativa de legitimar um ato social.  Na verdade o somatório de poucas atitudes podem sim, fazer a diferença, mas na prática, pegando carona no post da Maira, acredito que pouquissimas pessoas estão de fato se empenhando para tornar um mundo sustentável, são estes louvaveis e respeitados quixotes na luta contra a extinção da espécie humana.

Acredito muito que uma pequena atitude pode fazer a diferença, e ela não pode ser minimizada ou hostilizada, mas é que na verdade, em se tratando de vida sustentável somos quase todos hipócritas e egoistas, inclusive eu e você. Ao mesmo tempo em que nos tornamos verdes, continuamos agindo como se o mundo fosse um gigantesco shopping, continuamos consumindo compulsivamente, neste ritmo consumiremos em breve o planeta, parece que na prática estamos nos enganando para não nos sentirmos tão culpados, mas o verdadeiro pensar e agir ecologico deve vir lá de dentro, do fundo de suas convicções, ai sim você será um ser sustentável.

Para salvar o mundo, temos de mudar profundamente nosso estilo de vida, repensar o capitalismo, o consumo e até mesmo nossas vidas, que são consumidas diariamente na ardua de tarefa, que irônicamente se chama “ganhar a vida”, na verdade estamos vendendo a vida para consumir o planeta. Teremos de aprender a viver em coletividade, abandonar a privacidade do automóvel particular, eliminar o consumo de bens não recicláveis e outros até mesmo reciclaveis, adotar a cultura de otimização extrema de energia, teremos de abrir mão do conforto das lindas e práticas embalagens que adornam nossos mimos, teremos até mesmo de pensar no modelo de moradia, quem sabe o velho modelo de casa da familia onde gerações convivem sob o mesmo teto não seja uma solução? Temos de parar de usar combustiveis fósseis, temos de parar já com a idéia arriscada de extrair metano do fundo do mar.

Temos hoje em dia a tecnologia a nosso favor, a Internet esta ai conectando todo mundo, vamos interagir mais virtualmente, vamos lançar mão da digitalização de bens, vamos “teletrabalhar” mais, vamos repensar nossos espaços de estudo e de trabalho, vamos pensar que o deslocamento diario precisa ser minimizado, vamos invadir as ruas de bicicleta, além de fazer bem a saúde faz bem ao planeta. Temos de pensar seriamente no consumo, é preciso avaliar o impacto ambiental de cada novo bem a se adquirir, por exemplo um carro novo, já pensou quantos litros d’água e a quantidade de gases de efeito estufa são consumidos e produzidos na fabricação de um mero automóvel, que cinicamente se intitula mais econômico? Temos de pensar assim, agir assim.

Por fim, salvar o planeta pode ser uma verdadeira revolução em nossas vidas, mas temos de deixar de ser egoistas, temos de pensar coletivo, agir coletivo, antes que o próximo cataclisma venha nos ensinar…

Manifesto da Cultura Livre

Tomei a liberdade de fazer uma tradução à “toque de caixa” do Manifesto da Cultura Livre, publicado originalmente pelo coletivo Free Culture, como segue:

A missão do movimento da Cultura Livre é construir uma estrutura participativa para a sociedade e para a cultura, de baixo para cima, ao contrário da estrutura proprietária, fechada, de cima para baixo. Através da forma democratica da tecnologia digital e da internet, podemos disponibilizar ferramentaas para criação, distribuição, comunicação e colaboração, ensinando e aprendendo através da mão da pessoa comum – e através da verdadeiramente ativa , informada e conectada cidadania: injustiça e opressão serão lentamente eliminadas do planeta.

Nos acreditamos que a Cultura deve ser uma construção participativa de duas mãos, e não meramente  de consumo. Não nos contentaremos em sentar passivamente na frente de um tubo de imagem de midia de mão única. Com a Internet e outros avanços, a tecnologia existe para a criação de novos paradigmas, um deles é que qualquer um pode ser um artista, e qualquer um pode ser bem sucedido baseado em seus méritos e não nas conexões da industria.

Nos negamos a aceitar o futuro do feudalismo digital, onde nos não somos donos dos produtos que compramos, mas nos são meramente garantidos uso limitado enquanto nos pagamos pelo seu uso. Nos devemos parar e inverter a recente e radical expansão dos direitos da propriedade intelectual que ameaçam chegar a um ponto onde se sobreporão a todos os outros direitos do indivíduo e da sociedade.

A liberdade de construir sobre o passado é necessária para a prosperidade da criatividade e da inovação. Nós iremos usar e promover o nosso patrimônio cultural, no domínio público. Faremos, compartilharemos, adaptaremos e promoveremos conteúdo aberto. Iremos ouvir a música livre, apreciar a arte livre, assistir filmes livres, e ler livros livres. Todo o tempo, iremos contribuir, discutir, comentar, criticar, melhorar, improvisar, remixar, modificar, e acrescentar ainda mais ingredientes para a “sopa” da cultura livre.

Ajudaremos todo mundo à entender o valor da nossa abundância cultural, promovendo o software livre a o modelo open source. Vamos resistir à legislação repressiva que ameaça as liberdades civis e impede a inovação. Iremos nos opor aos dispositivos de monitoramento à nivel de hardware que impedirão que os usuários tenham controle de suas próprias máquinas e seus próprios dados.

Não permitiremos que a indústria de conteúdo se agarre à seus obsoletos modelos de distribuição através de uma legislação ruim. Nós seremos participantes ativos em uma cultura livre de conectividade e produção, que se tornou possível como nunca antes pela Internet e tecnologias digitais, e iremos lutar para evitar que este novo potencial seja destruído por empresas e controle legislativo. Se permitirmos que a estrutura participativa, e de baixo para cima, da Internet seja trocada por um serviço de TV a cabo – Se deixarmos que paradigma estabelecido para criação e distribuição se reafirme – Então a janela de oportunidade aberta pela Internet terá sido fechada, e  teremos perdido algo bonito, revolucionário e irrecuperável.

O futuro esta em nossas mãos, devemos construir um movimento tecnológico e cultural para defender o comum digital.

Leia, divulgue, replique, traduza, republique mas não fique ai parado!

Publicado também no Trezentos , Xô Censura e no meu blog no Cultura Digital

A espetacularização do combate à pirataria

Confesso que estava torcendo para que o processo movido contra o The Pirate Bay fosse um tiro na água, a industria de intermediação cultural precisava encontrar um freio, mas infelizmente a justiça Sueca considerou os donos do site culpados. Na verdade, conforme Ronaldo Lemos, a decisão aumenta o escopo dos direitos autorais e assim começa a passar por cima de direitos individuais, como a privacidade.

Assim como no caso do Napster, os resultados são muito mais negativos para a Industria de intermediação cultural do que os benefícios diretos de uma ação como esta, mesmo que os valores extorsivos e utópicos cobrados nestas ações fossem exequiveis, ainda sim, a balança penderia contra ela. Na verdade a intenção dos representantes da industria de intermediação cultural não é ressarcir-se do pseudo e majorado prejuizo, e sim a prática secular da execução em praça pública:

Execução em praça pública
Execução em praça pública

O objetivo de FOUCAULT, em Vigiar e Punir[bb], é descrever a história do poder de punir como história da prisão, cuja instituição muda o estilo penal, do suplício do corpo da época medieval para a utilização do tempo no arquipélago carcerário do capitalismo moderno. Assim, demonstrando a natureza política do poder de punir, o suplício do corpo do estilo medieval(roda, fogueira etc.) é um ritual público de dominação pelo terror: o objeto da pena criminal é o corpo do condenado, mas o objetivo da pena criminal é a massa do povo, convocado para testemunhar a vitória do soberano sobre o criminoso, o rebelde que ousou desafiar o poder. O processo medieval é inquisitorial e secreto: uma sucessão de interrogatórios dirigidos para a confissão, sob juramento ou sob tortura, em completa ignorância da acusação e das provas; mas a execução penal é pública, porque o sofrimento do condenado, mensurado para reproduzir a atrocidade do crime, é um ritual político de controle social pelo medo.
Juarez Cirino dos Santos (PDF)

É uma prática repressiva comumente utilizada pela Indústria de intermediação cultural, os “alvos” são criteriosamente escolhidos levando-se em conta o impacto e o potencial de marketing, dentro  desta estratégia a escolha do The Pirate Bay foi perfeita.

Entretanto esta prática tem surtido cada dia menos efeito, questões como ética e honestidade vem sendo colocadas em xeque por quem deveria dar o exemplo, e como já previa o Manifesto Cluetrain, as pessoas juntas estão ficando mais sabidas que as corporações, e consequentemente menos sujeitas às suas manipulações. As corporações já parecem saber disto, mas como os duendes de Quem mexeu no meu queijo[bb], tentam sobreviver no seu super ultra lucrativo modelo de negócios, que há muito faz água, na esperança de que um dia tudo voltará a ser como antes, nem que eles tenham de dar uma “ajudazinha”.

Curioso mesmo é o tamanho do poder que a Indústria de intermediação cultural possui, poder este que pretende ser ampliado pelo secretissimo ACTA. Mesmo levando-se em conta que quanto maior o mito midiático, maior a subserviência da sociedade e consequentemente maior o poder em combate-lo, ainda assim acho o poder da Industria de intermediação cultural desproporcional.

Na verdade existe um tremendo discurso hipócrita que começa no conceito de direito autoral, enquanto a manipulada sociedade acredita que o pobre músico passará fome se suas músicas forem pirateadas na Internet, o que ocorre é que há muito o pobre músico cedera seus direitos à gravadora. E dependendo do quanto “leonino” é este contrato, o músico deixa de ter qualquer autoridade sobre a sua obra intelectual. Pergunto ai quem é o maior vilão da história?

Na verdade a Industria de Intermediação cultural quer, além dos lucros imorais, é evitar que a sociedade se dê conta de que ela se tornara obsoleta, ou pior, quer na verdade eliminar o seu principal concorrente: Nós mesmos.

Publiquei este artigo também no Xô Censura e no Trezentos

Ensaio sobre a beleza

Venho desenvolvendo um trabalho de gerenciamento na reforma do Theatro Municipal, um belissimo edifí­cio histórico no centro do Rio de Janeiro, e ir ao centro para mim é uma eventualidade, e por ser fora da rotina é relativamente prazeroso. Costumo observar pessoas, o tempo todo, sou um observador nato, presto atenção em tudo que consigo: Nas pessoas, nos lugares, nos veículos, paisagem urbana, e tudo mais que estiver no meu campo visual, ou seria melhor dizer no meu campo sensorial? Afinal temos cinco sentidos para interagir com o mundo e obviamente um estimulo acaba chamando outro. Não costumamos cheirar o que vemos ou tentamos ouvir o que tocamos, muito menos tocar, o que na verdade gostarí­amos, e estamos vendo, mas estaríamos invadindo o espaço de outra pessoa, e isto deve ser consentido.

Definir o que é belo é uma missão complexa, o belo não pode ser associado apenas aquilo que vemos, pois afinal se fosse assim, os portadores de deficiência visual não teriam o direito de achar nada belo. A beleza é um atributo sensorial, o cego julga a beleza com o tato, com o olfato e a audição. Talvez definir que belo é aquilo que nos proporciona prazer sensorial, seja o mais próximo da definição efetiva que possamos chegar.

O cheiro agradável, o sabor delicioso, a textura suave, o som emocionante ou paisagem incrí­vel, são sinônimos de beleza, ou seriam os seus componentes?   O atributo sensorial é na verdade o chamariz, e um belo chamariz provoca uma reação em intensidade proporcional, atrai, chama a atenção, mas não é tudo, acho que a percepção da verdadeira beleza esta na conjunção dos sentidos, o que chamamos popularmente de “quí­mica”, algo como “rolou uma quí­mica” para justificar um intenso relacionamento.

Esta quí­mica é na verdade uma harmônica conjunção destes sentidos, uma mistura perfeita, que percebemos como a beleza. A complexidade é muito maior de que simplesmente a mistura sensorial, não se trata de alquimia, existem outros componentes como a emoção e o prazer que acabam retroalimentando esta percepção, percepção esta que varia de um indivíduo para outro.

Tentando ser mais claro, é como se a percepção do belo tivesse além do aspecto sensorial, o tempo, relacionamento e repetição. Analisando por ai temos que a percepção da beleza vai do evidente para o sutil com o passar do tempo. Isto explica por exemplo a preferência por alimentos doces e com consistência e sabor mais evidentes na infância e preferência por alimentos com consistências, docura e sabores mais sutis na fase adulta. Lembre-se que adolescentes escolhem seus parceiros por padrões meramente Aristotélicos, a beleza precisa ser evidente, ja o homem maduro percebe as mais discretas sutilezas na mulher, enxerga muito além das formas, é uma percepção muito mais elaborada. Isto não quer dizer por exemplo que o homem maduro não seja atraido pela beleza Aristotélica, mas isto deixa de ser a única regra, o fator tempo, repetição e relacionamento expandem a percepção do belo.

Esta lançada a questão, afinal, o que é a beleza para você?

Educação, ainda precisamos do velho modelo?

Irapuan Martinez, um velho amigo, sempre defendia a tese de que Internet se aprende na Internet, esta afirmativa ja faz quase dez anos. Por muito tempo argumentei que não era bem assim, afinal eu tinha um Centro de Treinamento Macromedia, e precisava defender o argumento de que aprendendo comigo era mais rápido.

Mas o tempo passou e meu filho cresceu digitalmente livre, nunca instalei nenhum software de controle, e ele sempre teve o proprio computador. Ensinei-o a se defender digitalmente, e sobrevivemos. Ele usou esta liberdade para aprender à aprender. Na web ele aprendeu Perl, Ruby, C#, ActionScript 3, Modelagem de jogos, aprendeu a gerenciar e construir servidores de MMORPG, modelagem de mundos virtuais e agora estava no quarto aprendendo modelagem no Maya, e a cada dia me surpreende com uma novidade.  Tudo isto com poucos livros, alias os poucos livros sobre o assunto continuam novinhos, ele não os usa, aprendeu tudo na Internet. O espirito do consumismo hedônico da nova geração nele se deu pelo conhecimento, ele é um devorador de conhecimento, mas não demonstra nenhum apego com ele, joga fora projetos sem a menor cerimonia.

Meu filho costuma chamar a escola dele de Jurássica, apesar de ter lousas digitais, não permite que o aluno use nenhum equipamento eletrônico em sala de aula. Ele não quer um notebook, pois não pode rodar os seus jogos prediletos, nem um mini notebook porque não o deixarão usar na sala de aula.

O que acabei de relatar do meu filho, é um retrato do que vem por ai, ele não é a media, faz parte de uma minoria digitalmente alfabetizada, a grande maioria das pessoas ainda utilizam a tecnologia sob a égide do preconceito midiaticamente construido, desta forma sempre tiveram a internet sob uma visão distorcida, uma internet como um mundo de perversidade e maldade, e repleta da bobagens e com nada para ensinar, azar o deles.

E é no conflito destes dois mundos que foco meu artigo, que não tem objetivo conclusivo, apenas de levantar a discussão. A semente da questão se deu pelo último Descolagem de 2008, foram várias palestras interessantes e a do Luli, apesar dele aplicar uma dinâmica de locutor às suas palestras, pesquei muitos insights interessantes. Um deles foi sobre o que acontece com a tecnologia no ambiente educacional foi mais ou menos assim:

O educador não entende a tecnologia, o desconhecimento apresenta-se como uma ameaça, e esta ameaça é respondida como o entendimento de que a tecnologia é nociva. Dai surge o bordão de que na Internet só tem bobagem, e que ela “come criancinhas”.

Na verdade sugiro que você leia sobre o Descolagem #3 Educação, e vejam os videos disponíveis, todos os palestrantes tiveram insights interessantes, foi um compartilhamento sublime de conhecimento.

Voltando à discussão, em breve mais crianças serão digitalmente alfabetizadas, com a ubiquidade do acesso à Internet, o computador é o único vilão que os papais dinossauros enxergam. Mas onde iremos chegar?

Simples, muito simples, como diz o Luli, as escolas são verdadeiras redes sociais, ninguem vai para a escola para aprender, vai para encontrar com os amigos, aprendem como consequencia. Alias é justamente no aprender e ensinar que esta a questão.

O modelo falido de educação no Brasil pode ficar pior, e corre o risco das crianças surpreenderem seus professores com informações e novidades que eles mesmos não sabiam. Alguns mitos foram e serão quebrados, e isto demanda uma reação rapida por parte dos educadore e escolas, é uma questão de sobrevivência, antes que eles se tornem obsoletos:

  1. Ensinar a aprender – Para muitos não existe outra opção, o professor precisa mastigar a informação e deposita-la na cabeça do aluno, mas isto é uma herança do secular sistema educional, onde um professor fala e os alunos escutam. É um mal tão sedimentado em nossa sociedade, que quando o professor tenta ser diferente, ensinando a aprender por exemplo, é criticado. Mas o certo é isto, é ensinar à aprender, aprendendo à aprender o aluno aprende a filtrar as informações, mas se o aluno aprender sozinho para que serve o professor?
  2. Orientador e motivador – O professor passa a atuar como um orientador e motivador, um instigador da curiosidade, ensina ao aluno a buscar informações relevantes, a confrontar as discordantes e principalmente o ensina à tirar suas próprias conclusões.
  3. Internet só tem bobagem – Acho que não tem bobagem maior do que esta afirmativa, e o pior é que as crianças estão descobrindo que estão sendo enganadas por seus professores, afinal não é bem assim. Tem bobagem sim, mas tem muita coisa relevante.
  4. A informação precisa ser sistematizada – Esta ai um caso curioso, a sistematização da informação para aplicação em sala de aula é uma herança do tempo que o acesso ao conhecimento era elitizado, hoje em dia muita gente compartilha informação relevante na web, e esta informação esta acessível a qualquer um. A essência esta em ensinar ao aluno à sistematizar estas informação, quem sabe um roteiro de pesquisa não ajude?
  5. Tecnologia tira a atenção do aluno – Na verdade o aluno esta acostumado a interagir, e a buscar informações com velocidade, a nova geração esta ficando multitarefa, é aquela geração que usa o computador assiste TV e ainda pode estar ouvindo música, tudo ao mesmo tempo, “zapeando” de um para o outro na hora em que um tiver algo relevante. Imagine este mesmo aluno sentado numa carteira assistindo a um único discurso vindo de uma única fonte, no caso o professor. Esta na hora de virar a tecnologia a favor da educação.
  6. Use as novas tecnologias – Não evite as tecnologias, a proibição de celular em sala de aula é uma grande bobagem, a nova geração é conectada, e diferente do que se preconizava, tem intensa vida social online, e tem boa parte do seu lazer digital em grupo. As escolas deveriam aprender com a industria dos Games, porque não uma aula por semana no Second Life? Porque não adaptar um MMORPG para ensinar história? Porque não pedir um trabalho de Geografia no Google Maps, ou modelo de física no Flash?

A questão é que não faço ideia de como pode ser o novo modelo de educação, não sou educador, sou publicitário e professor eventual, posso estar falando um monte de bobagens, mas ao menos emito minhas opiniões, compartilho minhas ideias, gosto de uma boa e construtiva discussão.

E você acha que o velho modelo educacional ainda sobrevive quantos anos?

Entropia negativa e a crise existencial

O Orlando publicou um interessante post no Netnografando, repito aqui alguns trechos e comento a seguir:

[..] Na nossa luta diária pela sobrevivência quem alcança o poder para falar também tem o poder de calar. Blogueiros Profissionais estão fechando bons negócios, sendo contratados para iniciativas em Social Media, montando novas empresas, mas não blogam mais. [..]

[..] Constatei numericamente o que já vinha percebendo. O SimViral (11,4 posts por semana) é disparadamente o campeão dos blogs que acompanho. A maioria está na média de 4 posts por semana. Já a turma da Blog Content está assim: Inagaki (3,5), Edney (2,6) Ian Black (1,6), Gustavo Jreige (0,2).[..]

[..] Blogueiros Pró = Organizações; Google = Organização; Google = Entropia negativa; Entropia negativa = Blogueiros Pró. [..]

Uma ótima reflexão do Orlando, para mim ela tem várias leituras, é quase um manual de planejamento pessoal, deixa eu explicar:

Eu tive uma experiência de vida que segue o caminho inverso destas teoria, trabalhei por 13 anos em Engenharia, fazia projetos, acompanhava Obras no Rio e Costa Verde, viajava muito. Achava obra um saco, mas era o meu ganha pão. Na ansia de tornar meu trabalho “tragável” desenvolvi a técnica de enxergar o lado bom das coisas: Se tinha de viajar, levava a namorada, se tinha de ir à obra, ia cedo para “voar” de tarde e coisas assim. A minha busca por prazer onde só tinha desprazer me levou a construir uma gestão eficiente, descartando bobagens e vaporizando estratégias micro-políticas corporativas. Tudo me baseando numa filosofia que tinha numa placa que herdei de minha avó que dizia: “Se o destino lhe der um limão, faça uma limonada”

Voltando ao post do Orlando, um dos casos mais gritantes de entropia negativa ele não citou, que foi o caso do Fugita, ele praticamente desapareceu. Ele pode não estar percebendo, mas esta sofrendo um processo lento e gradual de queda no share of mind, e pior pode estar ficando desatualizado. Curioso é que como você falou, o corporativismo provoca esta entropia negativa.

No caso específico dos blogs pessoais destes blogueiros citados, eles serão suplantados por novos blogs, de novos blogueiros, seus fãns, ávidos por escrever e produzir conteúdo de qualidade, baseado nos blogs que eles idolatram.

Esta observação que o Orlando citou não é um caso isolado, boa parte da população parece sofrer da síndrome da entropia negativa no tocante ao prazer, por conta da entropia positiva no trabalho. Se levarmos para o lado social, os que já passaram dos 30 devem perceber que aos 20 viviam em intensa entropia, uma balada após a outra, novidades em sequência, puro prazer, a melhor fase de nossa vida, àquela que ficará para sempre em nossa memória. Depois vem a familia, o trabalho, filhos e quando percebemos trocamos de persona, aquele cara descolado virou um coroa careta. Quando tentamos contato com a nova juventude, percebemos que ficamos desatualizados, girias, conceitos, cultura, hábitos, tudo diferente, entramos em choque não sei se mais pela diferença cultural ou pela constatação que ficamos tempo demais afastados do “mundo”.

Este cenário pode se repetir em diversos contextos, seja ele profissional, educacional, pessoal, digital, não importa qual. O que importa é como o Orlando levantou, a existência de uma entropia negativa e que vai acabar provocando uma entropia positiva em outro extremo, seja isto bom ou ruim. O problema em si não está nesta transição entrópica, mas sim no tempo e na frequência que ela dura. Se ela fosse freqüente, não teríamos choques, se tivessemos condições de transitar com facilidade entre estes dois estados, melhor ainda.

Voltando para o exemplo corporativismo x blogs, ou profissão x lazer, podemos ver que algumas empresas perceberam não por esta ótica, mas costumam dar um tempo a seus funcionários, no Google 20% do tempo para projetos pessoais, uma empresa Brasileira (esqueci o nome) instituiu o “dia do endredon” onde o funcionário tem o direito de faltar um dia na semana. E contrariando todas as expectativas estes funcionários tornam-se mais produtivos.

Os alquimistas já diziam: A diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem.

Pense nisto…

A constante nas organizações modernas é a própria mudança

Uma imagem Sempre que nos defrontamos com fatos que ameaçam nosso status quo, buscamos comportamentos e fatos semelhantes no passado. Isto nos faz crer que estamos presenciando um “remake”, e de certa forma aliviam a ameaça. Ninguém esta imune a isto, é um comportamento comum, eu mesmo tentei negar para mim mesmo por dois anos, o estouro da bolha da internet. Spencer Johnson escreveu seu best seller “Quem mexeu no meu queijo[bb]“, que acredito eu, deva seu maior sucesso à identificação do leitor com seus personagens e sua história.

Sintetizando o livro “Sobreviver não é o bastante” de Seth Godin[bb], a mensagem que fica é “A constante nas organizações modernas é a própria mudança“.

Kotler cita em seu livro, Marketing para o século XXI[bb], que Akio Morita tinha uma estratégia de criar três equipes para todos seus produtos: Uma para o seu desenvolvimento propriamente dito, outra para desenvolver um produto melhor e uma terceira para torna-lo obsoleto. Esta saudável prática de canibalismo corporativo vem sendo sistematicamente evitada sob todos os aspectos, é utilizada apenas por empresas antenadas.

Em caso recente, no 4o Congresso de Publicidade, mudaram o nome do painel de “O modelo brasileiro de remuneração das agências de publicidade” para “A Valorização, a Prosperidade e a Rentabilidade da Indústria da Comunicação”.

Mas por quê isto tem de ser assim? Temos medo de mudar, e atacamos tudo que nos remete à esta necessidade, principalmente no Brasil, onde o empreendedorismo não é uma prática tão valorizada quanto um bom e seguro emprego numa estatal. Para quê mudar? Não se mexe em time que esta ganhando? Não mesmo ? Ou seria melhor dizer: Em time que esta ganhando a mudança é uma constante ?

Quando estamos nesta discussão, se a web é ou não o bicho papão que ameaça nossa tranquilidade, a minha opinião é de que primeiro temos de ser imparciais, e em seguida aumentar nosso ângulo de visão, ou como dizem os Americanos, ativar nossa visão de passaro. Temos de correr o risco de enxergar o que não queremos ver, e com isto ganhar o precioso tempo hábil para nos reconfigurarmos e seguirmos o trem da evolução, para não sermos pegos de surpresa e atropelados por ele.

Foto: Foto obtida no banco de imagens Stock.Xchng produzida por Zoran Ozetsky