Precisamos parar a espiral negativa!

Há muito tempo venho avaliando a sociedade atual como sendo econocêntrica, aquela que tudo percebe pela ótica da economia, ou em outras palavras, a economia é a estrutura pela qual a sociedade avalia o mundo que a cerca. O Brasil, um país onde mais de 90% da população tem uma renda mensal inferior aos R$ 4.377,73, que são concedidos à titulo de auxilio moradia aos juízes, não parece fazer o menor sentido nos preocuparmos com o fato do índice BOVESPA ter caído ou o dólar ter subido, ou ainda que a projeção do PIB subiu 0,01%, quem dirá com a taxação de grandes fortunas. Ainda mais se levarmos em conta que 61,2% das famílias brasileiras estão endividadas, e 25,2% estão inadimplentes.

Em dos “polêmicos” textos dos Marco Gomes, ele abre com uma frase muito interessante:

Criaram a “classe média” para apaziguar quem iria se rebelar se percebesse que somos todos pobres: precisamos trabalhar para mantermos nosso estilo de vida e não morrermos de fome.

A polêmica se deu pela reação desmedida de alguns leitores ao título — “A quem interessa uma classe média que não se vê como pobre?”-, e ao conteúdo, crítico e realista. Mas esta noção de realidade é difícil para todo mundo, você por acaso se imagina pobre? Então deixa eu te mostrar uns dados e gráficos que extrai do PNAD de 2017 e algumas matérias por ai. Segundo o PNAD, o rendimento médio mensal do Brasileiro foi de R$ 2.178,00, menos da metade do auxilio moradia de um juiz. Assim como apenas 4% da população ganha em média R$ 9.782,00 e apenas 1% ganha em média R$ 27.213,00, vejamos o gráfico que montei a seguir:

Como você pode ver, a tal elite que representa o famoso 1% da população não são estes que ganham em média R$ 27.213,00. Olhando este gráfico, você que está na classe A ou B, se sente um milionário, visto que 65% da população ganha em média R$ 1008,00, então você ganha em média entre 9 e 27 vezes este valor.

Mas sabemos que tem gente ganhando muito mais de 27 mil por mês, provavelmente o IBGE expurgou os supersalários. Tomemos os juízes por exemplo, 71% ganha acima do teto constitucional que é de R$ 33.763,00 configurando um salário médio de R$ 42.505,66. Temos ainda os CEOs de grandes empresas, que ganham em média R$ 142.000,00 por mês. E não podemos deixar de incluir os apresentadores de TV, os 10 mais bem pagos, ganham em média a bagatela de R$ 1.000.000,00 por mês, tem ainda os donos e executivos das emissoras, jogadores de futebol, mas vamos ficar só com estes aqui mesmo. Colocando esta turma no gráfico anterior temos um cenário interessante:

Observe como as classes B e C, a dita classe média ficou insignificante, até mesmo a classe A, e visualmente pouco distante das demais classes abaixo dela. Se tirarmos uma média dos supersalários temos R$ 394.835,00 que é 14,5 vezes maior que o salário médio da classe A, 40,36 vezes maior que o salário médio da classe B, 75,73 vezes maior que o salário médio da classe C e 181,28 vezes maior que o salário médio do brasileiro em 2017!

Mas mesmo eles não são a tal elite, todos trabalham, a elite, ou seja, os ricos, não possuem salário, pois não trabalham, vivem literalmente do mercado financeiro, e suas riquezas permeiam diversas empresas, institutos e organizações que custeiam suas despesas e detém seus bens.

Porque somos uma sociedade míope?

Acredito que agora você compreenda melhor quem são os detentores das grandes fortunas que tanto se quer taxar, e que a sua distância social para a do trabalhador que recebe um salário mínimo é insignificante frente à sua distância para os mais ricos. Mas mesmo assim, boa parte da sociedade não enxerga isto, enxerga por uma perspectiva míope, ou seja, uma perspectiva imaginária e distorcida, mas que é diariamente estimulada por todos os meios de comunicação e valores culturais e históricos que pavimentam a sociedade brasileira.

Diferente da visão de igualdade e pertencimento do europeu, que consolidou com o pacto social do pós guerra, na reconstrução dos países e do continente, o brasileiro herdou uma cultura do desprezo de classe da época da escravidão em conjunção com a visão de subserviência de um país que ainda não perdeu a identidade de colônia, nossa visão de sociedade em muito se assemelha com o sistema indiano de castas.

Enquanto não rompermos com esta perspectiva, e guturalmente nos percebermos como uma nação, onde cada um tem um papel importante na sociedade, que merece ser admirado e respeitado pelo que representa, nunca sairemos desta espiral negativa que nos assombra periodicamente.

O Brasil está neste momento numa das piores espirais negativas que vi em meus pouco mais de 50 anos, nunca vi tanta intolerância, preconceito e ódio de classe. Também nunca vi nossa sociedade tão desorientada, generalizando o mal, e personificando o bem, reduzindo questões complexas a perspectivas cartesianas e polarizadas, como se estes assuntos fossem passíveis de resolver por uma lógica booleana.

Depois o impeachment, ou melhor do golpe de 2016, por causa deste comportamento assistimos passivamente o maior desmonte do Estado da história, nem mesmo na ditadura se chegou à tanto, mas nossa sociedade segue entretida, numa troca de papéis, sentimentos e ofensa, ora movido pela vergonha, ora pelo ódio, como se de fato fôssemos responsáveis pelo que esta acontecendo.

Somente se pararmos a espiral negativa conseguiremos enxergar com clareza e reagir a tempo de salvar o pouco que resta de Brasil, faça as pazes com seu amigo ou parente que você brigou por causa de bobagem, mostre que estamos do mesmo lado, que é bom que tenhamos opiniões divergentes, mas principalmente que agora estamos aberto a debater, com calma e sabedoria. Vamos aplicar uma visão crítica às informações e noticias que nos chegam, isto significa olhar com desconfiança, buscar o controverso, debater, ouvir, concluir e ainda assim, estar disposto a mudar novamente. Vamos fazer um exercício…

Pouca areia pro nosso caminhãozinho

Quando falei lá no inicio que não fazia sentido nos preocuparmos com a variação do dólar, do índice BOVESPA e do PIB, é porque este indicadores não nos afetam diretamente, vamos falar de caminhão e petróleo para você perceber o que estou dizendo.

O locaute ou greve dos caminhoneiros, que vem promovendo uma crise de abastecimento crescente, não só de combustível, mas também de produtos frescos como hortifrutigranjeiros, e agora a greve dos petroleiros, revelando um grave problema que passou despercebido. Enquanto a grande mídia responsabilizava o governo anterior por subsídios excessivos no preço dos combustíveis, a realidade vinha de dentro da petrolífera. Na gestão de Pedro Parente, desde outubro de 2016 a Petrobras adotou o pareamento com o preço internacional do Petróleo, por esta razão os combustíveis subiram tanto. Segundo a Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), esta política que vem ganhando o apelido de “America First!”, beneficiando as petrolíferas Americanas, estamos exportando quantidades enormes de petróleo bruto e importando quase todo combustível, tornando nossas refinarias ociosas.

Com o desemprego beirando os 14%, a política de preços da Petrobras só piora as coisas, indústrias de capital intensivo como a petrolífera, giram um verdadeiro ecossistema econômico em seu entorno, produtos e serviços auxiliares, por exemplo. Com a ociosidade das refinarias teremos em breve ainda mais desempregos. Só por esta razão o subsídio seria de longe a melhor alternativa, ainda assim, a AEPET destaca em sua nota que o subsídio dos governos anteriores nunca afetaram a geração de caixa. Mas a grande mídia cumpre seu papel, fazendo a população acreditar que foram os subsídios do governo anterior os responsáveis pelos sucessivos aumentos do preço dos combustíveis, escondendo a verdade, ou pelo menos a outra perspectiva do problema.

Ainda pensando em termos práticos, apesar de estarmos exportando petróleo como nunca, não iremos nos beneficiar deste aumento de receita por causa da PEC 241 que congela o orçamento da união por 20 anos. E ao conceder a exploração do precioso pre-sal às companhias estrangeiras, além do aumento do desemprego, corremos ainda o risco de ficarmos sem nossa reserva estratégica de petróleo em poucos anos.

Nos governos anteriores, o Brasil seguiu o sucesso norueguês com o pre-sal, destinando 100% dos seus royalties para a saúde e educação, a mesma Noruega que agora detém 25% do campo de Roncador na bacia de Campos, o Brasil perdeu, perdeu e vem perdendo, estamos fadados a um colapso em poucos anos. O golpe nos derrubou pirâmide de Maslow abaixo, antes visávamos o auto reconhecimento, e o pertencimento social, hoje estamos nos preocupando com o básico que é segurança, emprego e moradia.

Temos de mudar isto, mas não com o ódio, e sim com o amor…

 

Como se produz uma fake news…

Fake News Head

Vamos citar um caso “hipotético”, bem hipotético, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, muita coincidência…

Imagine que uma determinada desembargadora tenha recebido de uma amiga pelo WhatsApp, uma informação falsa, ou até mesmo um comentário, sobre uma vereadora assassinada. O texto dialoga com os valores da desembargadora, inclusive por causa do viés de confirmação, a desembargadora relutaria a acreditar em uma outra versão da Informação. Com base na informação recebida, a desembargadora faz uma declaração no Facebook, e aproveita para acrescentar mais alguns detalhes, deixando-a mais convincente pela sua perspectiva.

Este texto falso é sobre o assassinato de uma vereadora que investigava os abusos da policia em uma comunidade, tudo hipotético é claro.

Um jornal e uma revista de grande circulação, repercutem a declaração da desembargadora com um título clickbait, ou seja, um titulo sensacionalista que chama a atenção para a leitura do artigo. Na verdade, é um titulo que dialoga com o viés da confirmação de muitos, que irão compartilhar o link sem ao menos ler a matéria.

E na matéria, no final, a desembargadora declara à repórter que não conhecia a vereadora antes do assassinato. Como assim, se ela não sabia nada da vereadora, como pôde dizer no Facebook que a vereadora era associada ao narcotráfico????

Ou seja, a desembargadora criou e disseminou uma fake news, que foi repercutida pela grande mídia, e posteriormente reverberada pela Internet.

Agora tomemos esta história pela luz da narrativa que esta sendo construida pela mídia e pelas instituições governamentais sobre as fake news, ou seja:

A fake news como objeto central da narrativa, tendo como seus produtores e disseminadores os “militantes” e os “oportunistas” e como consequência uma séria ameaça à democracia. (Extraido de estudo recente que fiz sobre a narrativa do combate às fake news)

Diagrama Fake News

Do estudo que fiz sobre a narrativa do combate às fake news, elaborado após a leitura de oitenta noticias em torno da narrativa do combate às fake news publicadas na internet, no período de 1º de Outubro de 2016 à 22 de Janeiro de 2018, extraio o seguinte trecho:

Para o Senador João Alberto Souza (PMDB-MA) elas são uma grande ameaça à democracia(1). Segundo ele, o indivíduo que espalha notícia falsa comete crime de difamação, a punição deve ser agravada porque o prejuízo passa a ser de toda a sociedade. Para o Ministro do TSE Tarcisio Vieira, as fake news criam “consensos artificiais” e “prestam um enorme desserviço à democracia”(2) e o Estado deve atuar para proteger o eleitor. Para combater esta séria ameaça o Ministro Fux, que assumirá o TSE em Fevereiro de 2018, acredita ser necessário até bloqueio de bens e detenção de quem produzir e disseminar fake news(3). Já para a Polícia Federal, nas palavras do delegado Eugênio Ricas, poderá ser necessário usar a Lei de Segurança Nacional, editada em 1983, no último governo do regime militar, para coibir as chamadas fake news nas eleições deste ano caso não seja criada uma nova lei para combate-las(4). Em nota no Jornal O Estado de São Paulo em 19 de Janeiro de 2018, o diretor geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, afirmou ter acertado com o FBI a participação de um grupo de especialistas em fake news e dark web para elaborar um diagnóstico da utilização de informações falsas no Brasil.

O atual presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, criou um conselho especialmente para tratar da questão das fake news e reúne dez representantes de diferentes orgãos, incluindo o Centro de Defesa Cibernética do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro, e a ABIN.

A revista Veja publicou em 12 de Janeiro uma edição com destaque sobre o tema, e em um dos artigos com acesso público intitulado “A ameaça das Fake News”(5) apresenta um recorte dizendo que: “83% dos Brasileiros se preocupam com a enxurrada de noticias falsas que circulam na Internet”, e identifica dois tipos de “propagadores de fake news à solta”: “militantes empenhados em atacar a reputação dos adversários políticos de seus candidatos e empresas ou indivíduos que fabricam notícias falsas com o intuito de ganhar dinheiro por meio dos anúncios — sobretudo vindos do Google AdSense, braço de publicidade do Google”.

Sob esta perspectiva – que é extremamente equivocada – como você acha que se dará o desenrolar desta história?


Publicado originalmente no Medium

A Mafia do Copyright x Cultura Livre – um caso pessoal

Hoje me surpreendi com um email do Scribd informando que um documento meu havia sido removido por violação de Copyright, fiquei imaginando como eu mesmo poderia ter me violado, ou quem supostamente deteria o copyright do meu conteúdo intelectual, a mensagem não é nada clara como você pode ver abaixo:

Notificação Scribd

Ou seja, a mensagem não te informa o motivo e nem quem solicitou a retirada do meu conteúdo, e além do tom ameaçador não tem nenhuma informação adicional. Apenas descobri quem solicitou a retirada do documento quando cliquei no link do documento removido, dai pude ver que foi removido à pedido da ABDR.

Link do conteudo removido

Deste ponto em diante a tarefa estava em tentar adivinhar o que havia motivado o pedido de remoção do meu conteúdo pela ABDR sob alegação de violação de copyright, verifiquei que o texto original, publicado em 2008, continuava lá no Jornalistas da Web, assim como o texto revisado publicado aqui neste blog. No Scribd também encontrei a versão revisada do texto em PDF, bem como em outros blogs que reproduziram o texto. Então pude concluir que o que havia motivado a ordem de retirada não estava relacionada ao texto, foi quando abri o PDF que havia enviado ao Scribd e percebi na hora o que poderia ter motivado a ordem de remoção por parte da ABDR.

Reproducao
Copia da parte do texto que pode ter originado o pedido de remoção de conteúdo, com uma reprodução da capa do livro de Chris Anderson usada para divulgação

A foto de divulgação da capa de um livro foi motivo para apagar um texto inteiro!

Entendeu? Pois bem, todo o texto de minha autoria foi removido à pedido da ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos) por causa desta foto da capa do livro de Chris Anderson usado como divulgação pelo editor do Jornalistas da Web!

Ou seja, a Mafia do Copyright não esta nem um pouco preocupada em prejudicar os conteúdos livres, se dentro de um conteúdo livro tiver algo que a mafia sinta-se prejudicada, ela não hesitará em aniquilar. Existem infinitas situações absurdas envolvendo a mafia contra a cultura livre, o caso emblemático do “dancing baby” onde a mãe foi processada por publicar um vídeo de 29 segundos que tinha ao fundo uma música da Universal Music, ou aqui no Brasil a Folha de São Paulo processou o blog humoristico Falha de São Paulo sob os mais esdruxulos argumentos de violação de copyright. Existem mil outros casos, a EFF tem até mesmo o Hall da Vergonha, mas a mafia ignora isto.

A Mafia do Copyright quer eliminar a concorrência

Agora vamos entender as motivações, no caso da Folha x Falha, a primeira argumenta que o blog humoristico Falha estava violando seu copyright por usar fontes semelhantes a sua e que o blog poderia ser confundido com o site jornalistico…. é eu sei que você esta caindo na gargalhada, mas é verdade. No meu caso, o Jornalistas da Web colocou uma foto da capa do livro do Chris Anderson para divulgação e ao imprimir em PDF a foto foi junta, e esta foto da capa deu o “direito” a ABDR de requisitar a remoção do meu texto, e veja que até aqui estou apenas supondo, pois ainda não fiz a minha contra-notificação e não sei o motivo oficial.

Na prática com o advento da Internet, os intermediários estão se tornando obsoletos, ou como eu disse em “A espetacularização do combate à pirataria“:

Na verdade a Industria de Intermediação cultural quer, além dos lucros imorais, é evitar que a sociedade se dê conta de que ela se tornara obsoleta, ou pior, quer na verdade eliminar o seu principal concorrente: Nós mesmos.

Ou seja, não querem perder os mais de 90% que ficam com o trabalho dos escravos da cultura sob o argumento que os custos de produção, divulgação e distribuição são elevados, e como podem sustentar este argumento com a Internet provando justamente o contrario?

A Mafia Autoral quer melar o Marco Civil da Internet

O Marco Civil da Internet, que nos defenderia, ao menos no caso de sites hospedados no Brasil e/ou de empresas com escritório no país, sofreu um forte lobby da máfia autoral, que inseriu um paragrafo 2º no artigo 15, dando-lhes o direito de requisitar remoção de conteúdo sem ordem judicial, ou seja, querem trazer para o Brasil este “direito” que eles tem de sequestrar qualquer conteúdo que mesmo que supostamente, viole copyright, não é preciso dizer o estrago que isto vai ser para a Cultura Livre.

Por fim deixamos a critica de Frank La Rue, relator especial de direitos humanos da ONU, ao paragrafo 2º do artigo 15 do Marco Civil

Este post não termina aqui

Este post não termina aqui, vou enviar minha contra-notificação e os manterei informados em detalhes.

No limiar do ponto de ruptura

Estamos vivendo um momento extremamente crítico, movimentos globais nas quatro arenas (vídeo abaixo): Legal, Comportamental, Técnica e de Governança estão atuando em conjunto colocando em prática diversas estratégias para o controle da rede. Os atores deste processo são facilmente identificáveis: Na esfera corporativa são  os “atravessadores” do direito autoral e propriedade intelectual, as empresas de Telecomunicações, os bancos e a velha mídia. Na esfera governamental são as policias (em geral Federal), o judiciário, o executivo e o legislativo conservador. Estes atores atuam formando uma espécie de tripé que os sustentam, o Tripé do Atraso“, suas motivações são diversas, mas podemos reduzir a duas: dinheiro e poder.

Esta estratégia global de controle esta sendo conduzida com muita pressa, nas quatro arenas, e com planos de contingência em diversos níveis. Veja por exemplo que na arena legal tivemos a derrocada do SOPA no Congresso Americano e o surgimento do CISPA, o ACTA morreu na Comissão Européia, sendo negado pelo Parlamento Europeu, mas o TPP segue.  O maior risco à liberdade na rede está justamente na arena da Governança da Internet, pois em geral a sociedade desconhece os princípios de Governança da Internet (vídeo abaixo, e um movimento efetivo nesta arena pode realmente tomar o controle da Internet.

Ainda dentro do conceito de Governança da Internet residem conceitos sutis e mal interpretados são eles o conceito de neutralidade e a a separação entre serviço de valor adicionado e serviço de telecomunicações. Muita gente confunde neutralidade da Internet, que é um conceito técnico que se resume em isonomia no tráfego de dados, com conceitos como o da imparcialidade, dentre outros. No vídeo a seguir eu explico o conceito da Neutralidade, um princípio de extrema importância para a Internet e que precisa seguir estritamente as recomendações do CGI.BR, para continuemos com a Internet livre e universal. Deixar que governos e/ou empresas regulamentem a neutralidade pode ser um grave perigo para a rede, uma vez que apenas interesses econômicos e de controle serão os motores desta regulação.

No primeiro vídeo falo do conceito e da importância de separar o serviço de telecomunicações do serviço de valor adicionado, no Brasil por exemplo as empresas de Telecomunicações jamais deveriam poder prover acesso, mas como o fazem, querem agora através de um discurso leviano passar a mensagem de que nunca houve estas duas camadas, e isto justifica por exemplo o esvaziamento do CGI.BR que é o orgão normatizador responsável pela camada de valor adicionado. No Brasil esta distinção foi estabelecida pela Norma 4/95 da ANATEL. O atual Ministro das Comunicações, o Paulo Bernardo, defende a mudança na Norma 4/95, mesmo sobre fortes críticas, uma vez que estas mudanças seguirem os interesses das empresas de Telecomunicações poderão trazer graves danos à Internet.

Coincidências a parte, a tendência em modificar dois importantes conceitos de governança: neutralidade e a distinção dos conceitos de valor adicionado e serviço de telecomunicações, parece fazer parte de um movimento global e local, a própria ITU (UIT) agência da ONU responsável pelas telecomunicações esta desde fevereiro discutindo a portas fechadas mudanças no ITR, o regulamento global de telecom. Do que a sociedade civil já sabe, questões muito arriscadas tem surgido, inclusive a tendência de trazer a governança para debaixo dos governos. A consolidação desta discussão se dará em dezembro em Dubai, e ativistas do mundo todo estão preocupados com os resultados, uma vez que o ITU discute basicamente com representantes dos governos, e não envolve outros atores da sociedade em seus debates.  De forma preocupante vemos que esta tendência não esta ocorrendo apenas no Brasil e na ITU, nos Estados Unidos, o FCC por enquanto declinou de reclassificar a Internet como serviço de telecomunicações, mas ainda há risco. Resumindo parece estar havendo um movimento global para substituir o modelo multisetorial de governança, consolidado mundialmente como o melhor modelo, por um modelo focado apenas numa parceria entre o governo e as empresas de telecomunicações.

O Brasil possui um grande trunfo nesta luta que é o Marco Civil da Internet, considerado pelo Tech Dirt como um projeto de lei Anti-ACTA, e na verdade o Marco Civil pode nos proteger contra a maioria das ameaças, ou nos entregar de bandeja, tudo depende da redação que irá se tornar lei. Ciente disto o Ministro Paulo Bernardo em parceria com as Empresas de Telecomunicações fizeram um forte lobby e conseguiram esvaziar a sessão que iria vota-lo na Câmara dos Deputado no último dia 11/07. Ainda com base na redação mais recente, a regulamentação da neutralidade por decreto precisa ser mais bem detalhada, pois pode abrir uma brecha para a presidência simplesmente delegar esta função à ANATEL, através de decreto.

Ao que parece, o establishment tem pressa, muita pressa, pois eles  sabem que seus argumentos e discursos envelhecidos não irão encontrar eco frente à geração digital, que os interpretam da mesma forma como interpretamos o discurso dos “caçadores de bruxas” da Idade média. O ano de 2012 é o ano onde milhões de nativos digitais completarão 18 anos, e esta onda seguirá ano apos ano até que uma nova cultura possa se estabelecer… será que vai levar tanto tempo?

Uma tese é que ao mesmo tempo em que as corporações e governos se mobilizam em um movimento transnacional para controlar a Internet, a sociedade civil se mobiliza para resistir, o aquecimento desta tensão poderá antecipar o fenômeno da Singularidade das Multidões, trazendo à sociedade conectada uma capacidade cognitiva e coletiva jamais imaginada, provocando em curtissimo espaço de tempo profundas mudanças na sociedade, incluindo a quebra em massa de velhos paradigmas e a instalação de novos valores, vivenciaremos um choque geracional tão intenso que representará uma ruptura no que hoje entendemos por sociedade, economia, cultura e política.

Saudades da gaiola dourada

Hoje vejo a velha roda do lado de fora da gaiola e fico pensando, para que fui fugir da gaiola?…

Olho para o lado vejo hamsters felizes girando a roda como se não houvesse amanhã, suas gaiolas, muitas douradas são equipadas com um monte de tralha, quanto mais bonita e vistosa a gaiola, mais rápido gira a roda. Impressiona ver o hamster cansado se jogar da roda no sofá e ligar  o Imbecilizador, onde uma programação audiovisual o leva para um mundo de sonhos e consumo, que mostra o quanto é bom consumir, consumir, consumir… Veja como são belos e felizes os hamster consumistas, veja só aquele hamster do lado, diz a esposa, eles tem um cagador turbo, grande e confortável, e nos aqui neste cagador pequeno, você não tem vergonha não?!

Vendo isto o hamster olha para o relógio e pula na roda de volta e corre como se fosse alcançar o próprio rabo, um desespero por um cagador… Chega finalmente o cagador novo na gaiola de nosso amigo hamster, um hamster sério e trabalhador que não tem tempo para muita prosa. Hoje é domingo, e o hamster vai tomar uma cervejinha e ver um futebol, afinal ele merece. Chega em casa bêbado e acorda de ressaca com a cabeça latejando toma um “estupidex” e vai para a roda, gira como ninguém, mas dai começa a pensar, para que pensar??? O hamster para, toma uma birita a volta para a roda, acha o maior barato girar junto com ela, toma outra e decide girar a roda ao contrario e logo toma um esporro do Bank hamster. Como assim, girar ao contrário, você tem noção do perigo que é ser diferente? Consuma, consuma! O bom e nobre hamster volta a girar a roda novamente, a esposa hamster respira aliviada, pois já esta pensando em pintar a gaiola de ouro.  O cagador turbo já “orkutizou”, chique agora é ter a gaiola dourada, é o novo conceito em moradia diz a esposa hamster. Conceito do caralho! Resmunga o marido hamster pensando em como foi divertido girar a roda ao contrário, ria da cara do Bank hamster.

Neste domingo foi diferente, o hamster não foi tomar cerveja e nem assistir futebol, ficou apenas contemplando a roda pensativo…  Preocupada a esposa hamster o reprimiu: Você não sabe que pensar é perigoso?!  Em seguida ligou o Imbecilizador para tentar distrair o marido hamster,  este bateu a porta e saiu sem dizer para onde ia. Mais tarde ele voltou com um livro debaixo do braço: “A roda” de Hamster Max.  A esposa hamster aos prantos ajoelhou na frente do marido e implorou para que ele devolvesse aquele livro, ela lembrou o fim trágico  de todos que provaram daquela droga. Olha a miséria meu amor, eles abandonaram a roda e ficam debatendo e estudando o tempo todo, nem mesmo  possuem uma roda na gaiola, quando muito uma gaiola, são uns verdadeiros perdedores! A esposa implorou e o marido fingiu aceitar.  Mais tarde ele pegou as ferramentas e montou um dispositivo na roda, agora ele pode pedalar e ler enquanto faz a roda girar, a esposa morria de vergonha  afinal os maridos das amigas dela corriam elegantemente dentro da roda, já o nosso hamster parecia um pensador pedalando e debochando…

Nosso hamster saiu novamente e comprou livros e mais livros, lia e pedalava sem parar, a pobre esposa não sabia mais onde enfiar a cara.  O hamster comecou a pensar novamente, a esposa coitada, não podia comprar aquela ração “premium plus ultra du kacete”, teve de comer milho. O nosso hamster, resolveu sair e bateu de gaiola em gaiola convocando os vizinhos para conversar sobre uma idéia que ele teve.

No dia seguinte a esposa hamster acordou assustada pois tinham um monte de hamster na frente da gaiola, e o marido falou, fica calma vamos nos mudar, e começaram a alinhas as gaiolas, colocando uma ao lado da outra, mas o pesadelo estava por vir…. bom pelo menos para a visão consumista da esposa hamster, para o nosso heroi um sonho sendo posto em prática… Ela comeca a ver que os outros hamsters estavam retirando a roda de suas gaiolas e colocando na frente e enchendo de terra….  chegam na gaiola de nosso hamster e ele encontra a esposa de malas prontas, dizendo você decide: ou a roda ou eu! Não preciso dizer que a Sra Hamster teve de ir para a casa da mãe dela. Enquanto isto os hamsters plantavam nas velhas rodas nosso heroi havia criado uma comunidade capaz de suprir-se sem a necessidade de girar a roda indefinidamente, ele percebeu que consumia um monte de bobagem inúteis, que na pratica ele não necessitava. O Imbecilizador foi trocado por um Inteligentador conectado na Internet. Pouco a pouco a idéia maluca de nosso heroi peludo foi sendo disseminada, o tempo vago agora era preenchido com leituras, debates e a produção de conteúdo para seus blogs, sem contar que tinham tempo de fazer o mais importante, de compartilhar amor e afeto e ver os filhotes crescerem e participar disto, sem ter de terceirizar com babas e escola como no passado.

Mas o Bank hamster não estava gostando nada disto, as redes de imbecilização falavam diariamente dos perigos da Internet e do compartilhamento. Precisavam calar os hamsters revolucionários! Os Bank hamsters discutiram várias estratégias e começaram a coloca-las em prática, primeiro junto com a rede de imbecilização tentaram confundir as pessoas.  Diziam que os hamsters revolucionários eram produtores de “ratotóxicos”, e em nome da segurança trabalharam o mito de que as sementes plantadas em casa eram perigosas e poderiam ate mesmo produzir alucinações, por isto quem as consumia eram diferentes, agiam diferente, pensavam! Não colou! Muita gente estava trocando o Imbecilizador pelo Inteligentador e viram que a rede de imbecilizacao estava mentindo. Maldita Internet pensavam os Bank Hamsters, temos de eliminar a concorrência!

Os velhos e gordos Bank hamsters reuniram se em seu covil para discutir formas de  parar estes hamsters revolucionarios. Chegaram a conclusão de que o maior perigo não eram aquelas tribos de hamsters “sem rodas”,  poder estava mesmo é na Internet. Descobriram que os hamsters comuns usavam seus inteligentadores conectados à interner com a mesma eficiência dos imbecilizadores e sua rede decadente.

Perceberam que apenas os velhos hamsters, eram os poucos ainda controlados pelo sistema de imbecilização. Iniciaram a mais implacável campanha contra os Inteligentadores e a Internet, inventaram o “vicio em internet”, e para dar consistência ao factóide mostravam hamsters que haviam abandonado a roda por causa da Internet. Mostravam hamsters esclarecidos como sendo uma terrível consequência do excesso de informação, teve ate mesmo o Hamster Keen que escreveu um livro criticando os “sem roda” conectados, tentando provar que o modelo imbecilizante era melhor.

Vendo que não estavam surtindo efeito, os Bank hamsters se reuniram novamente, desta vez teremos de ser mais efetivos, temos de pensar numa forma de usar dogmas inquestionáveis para ter motivos para controlar a Internet, e dai surgiram os “maleficios” da rede foi um tal de falar em pedofilia e que hamsters velhinhos perdiam suas economias por causa de golpes virtuais.  Isto parece ter colado, mas será o benedito que ninguém parou para pensar que não existe pedofilia na Internet, e que os velhinhos são vitimas do desconhecimento e não da Internet. O que tem na Internet é pornografia infantil, resultado de um crime de pedofillia cometido em algum lugar, combater a pornografia infantil somente não vai resolver o problema. A Universidade de Hamstarvard fez um estudo mostrando que o aliciamento de menores pela Internet era insignificante, e mesmo assim as vitimas em geral já foram vitimas de aliciamento presencial. A culpa não era da Internet e sim dos pais hamsters, que so se preocupavam em rodar a roda, e terceirizavam a criação dos filhotes! Se não fosse isto teriam tempo de conversar com seus filhotes para orienta-los na Internet, mas como se eles mesmo não sabem usa-la?

Os Bank hasmters estavam conseguindo avançar, disseminaram medo, incertezas e dúvidas. Novas leia para “proteger” os filhotes e o hamsters velhos surgiam, e eram combatidas pelos “sem rodas”, que passaram a usar a rede como um canal de contra-informação.

Mais uma vez os Bank hamsters se reuniram no covil, desta vez  decidiram montar um verdadeiro plano de guerra, contrataram os melhores especialistas em Internet para desenvolver suas estratégias, perceberam que tinham de atuar em novas arenas, pois na legislativa era complicado, pois os “sem roda” sempre conseguiam ser ouvidos. Descobriram que regulamentar era mais fácil do que legislar, pois regulamento não precisa ser debatido. Mudaram de foco, na verdade abriram outras frentes, descobriram a governança da Internet, agora precisavam de uma forma de centraliza-la, assim tomariam o controle da Internet antes mesmo que os “Sem roda” pudessem fazer alguma coisa.  E assim decidiram juntar esforços com as empresas de telecomunicações, dando a elas mais lucro em troca de mais controle da rede. Só bastava agora colocar o plano em prática.

Bank hamsters do mundo todo decidiram formar acordos internacionais para controlar a Internet, o controle é importante contra os “sem roda”.  Redes sociais encantadoras foram cooptadas por reunir milhares ou até milhões de hamsters, formando verdadeiros jardins murados….  uma vez posicionados, em todas as arenas, os planos foram postos em pratica de forma simultânea, como se fosse uma verdadeira guerra, uma guerra desproporcional e com o objetivo de controlar o que antes era livre, uma guerra que tem por objetivo perpetuar o modelo da roda, o modelo que já não faz mais sentido. Não tem logica girar a roda continuamente, não queremos mais isto, fala o hamster revolucionario. Os ataques dos Bank hamsters são implacáveis, ao ponto do nosso revolucionário olhar para o lado e pensar: Quero voltar a ser um hamster burro, lobotomizado, não porque eu concorde com isto, mas porque já estou cansado desta guerra insana. Ao mesmo tempo percebe que sua mente não é mais a mesma, que agora ele é dono da própria subjetividade, e uma verdadeira dissonância cognitiva toma conta de seu corpo e sua alma, que o captura de seu momento de vacilo, para retornar a luta, a construção de um ideal, de um novo mundo do mundo dos hamsters sem roda….

Nota: Este texto foi criado num momento em que eu estava com um bloqueio de escrita, e brincando no Twitter produzi este texto, em pequenas pilulas de 140 caracteres em poucas horas.

Nota de falecimento

Acaba de falecer o CAPITALISMO!

Rituais de magia branca de olhos azuis e amarela de olhos puxados ainda tentarão dar sobrevida ao defunto inutilmente. Seus comparsas, a mídia golpista (PIG) tentarão ocultar o cadáver, mas a sociedade conectada, o quinto poder, irão mostrar a todos onde esta o corpo fétido. O establishment irá negar enfáticamente sua culpa no assassinato:

– Foram os emergentes!

– Foram os emergentes!

Eles dirão na mais manjada estratégia Maquiavélica, afinal o Inferno são os outros ja dizia Sartre.

Seus orfãos, os Bancos e Mega Corporações irão tentar, através do legado da privataria promovida pelo neoliberalismo, instalar o “neocolonialismo“, tentando extrair vorazmente da turma de baixo suas riquezas. Entretanto o povo de baixo já não é mais tão subserviente ao império, e a queda 2.0 da nobreza colocará o mundo de cabeça para baixo.

O capitalismo cognitivo, onde as pessoas são o centro e não o dinheiro, vazara de baixo para cima, trocando o “sistema operacional” da sociedade como prefetizou Rushkoff, e veremos uma profunda e gratificante mudança na sociedade, onde o pensar e agir coletivo é a normalidade como bem diz Shirky.


A nota acima foi inspirada pelo infográfico da divida americana, que mostra a divida total de 114,5 trilhões de dolares. Segundo o infográfico, um cidadão médio levaria 92 anos para acumular U$ 1 milhão, logo seriam necessário que 114.500.000 de americanos trabalhem 92 anos para pagar a dívida. Como a estimativa de vida do Americano esta em 78 anos, uma regra de três simples nos leva ao número de 135.051.282 cidadãos, o que equivale a quase 44% da população daquele país. Some-se a isto a crise que assola a Europa, onde a dívida impagável da Grécia é apenas a ponta do Iceberg e veremos um quadro dantesco.

Thomas Greco em seu livro “The End of Money and the Future of Civilization” ja preconizava isto, afinal o capitalismo vive de endividamento, somos todos endividados e não prosperos como nos fazem crer. Estamos sempre trocando de dívidas, e isto leva a um ponto onde o endividamento se torna uma escala logarítmica, que tende ao infinito, promovendo uma verdadeiro “stall”.

Então prepare-se vamos entrar em uma grande turbulência, a aeronave vai cair, mas muitos sobreviverão…

Nota: Depois de publicar este texto aos sete ventos sem me certificar do valor da dívida americana, fui informado que ela é de U$ 15 trilhões e fui averiguar e vi que na verdade 114,5 trilhões de dolares é o valor emprestado a descoberto pelos bancos americanos, o que na prática acaba dando no mesmo. A figura acima mostra dois “edificios ao lado da estatua da liberdade, o menor é equivalente à pilha de cédulas de U$ 100,00 da dívida americana e o maior que o World Trade Center é o total do empréstimo à descoberto dos bancos americanos.

Orwell & Huxley um ensaio distópico

Uma Distopia ou Antiutopia é o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utópica ou promove a vivência em uma “utopia negativa”. São geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo bem como um opressivo controle da sociedade. Nelas, caem-se as cortinas, e a sociedade mostra-se corruptível; as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis. Assim, a tecnologia é usada como ferramenta de controle, seja do Estado, de instituições ou mesmo de corporações.

Wikipédia

Nos meus tempos de criança costumava viajar no tempo assistindo às séries espetaculares de ficção, nos anos 60 e 70 era o que tinha de mais comum: Perdidos no Espaço, Viagem ao Centro da Terra, Terra de Gigantes dentre outros. Nasci na década que o homem foi à lua e assisti junto com minha família a transmissão ao vivo desta façanha, sempre fui fascinado pelo futuro, pelo espetáculo da evolução e pelo avanço da tecnologia. O blog Paleo Future me remete àqueles tempos, onde a visão futurística nunca se concretizou. Sempre curti ficção científica, mas ela sempre erra, é muito difícil prever o futuro, afinal o futuro não é feito apenas por idéias e conceitos, a sociedade é o grande determinante deste futuro, quem poderia imaginar um smartphone há dez anos? Quem poderia imaginar a Internet atual há dez anos? Eu tenho ousado imaginar como viveremos daqui há vinte anos, estou escrevendo uma ficção, mas só o tempo irá me dizer se estava certo. Imagine então autores de 1932 e 1949 escrevendo sobre o futuro, devem ter errado feio! Infelizmente não é o que parece. Em 1932 Aldous Huxley escreveu a distopia “Admirável Mundo Novo” e em 1949 George Orwell escreveu “1984″.

Huxley descreve um mundo futurista com um país transcontinental, onde os indivíduos são todos de proveta e manipulados geneticamente para que se encaixem em determinada casta e nela permaneça satisfeito por toda vida. No mundo de Aldous, a luxuria e o prazer são extremamente estimulados e não existem vínculos afetivos, que são combatidos com o estimulo à busca individual pela auto-realização. Neste mundo hipotético, vive-se para o consumo e o prazer. Depressões e pensamentos “negativos”, inclusive os de solidariedade, são combatidos com drogas de consumo livre e estimulado. Em Admirável Mundo Novo, existem países que não foram “civilizados” onde sua sociedade, dita selvagem, constrói famílias e vínculos afetivos de forma natural, os sentimentos de solidariedade, família e pertinência são muito comuns no mundo dos selvagens.

Em 1984 o mundo futurístico também é compostos por países transcontinentais, e o cenário é de total vigilantismo e totalitarismo. Todas as residências são vigiadas pela “teletela” que pela descrição se assemelha à uma TV que também transmite áudio e vídeo à uma central, livros e a escrita privada eram proibidos. Ao contrário do cenário de Huxley, o de Orwell prevê a manutenção da estrutura familiar, e coíbe veemente a luxuria e o prazer. No mundo de Orwell todos trabalham pelo coletivo e em sua maioria são funcionários do Estado. O lazer é coletivo, cidadãos são praticamente obrigados a frequentarem clubes públicos, da mesma forma que são obrigados à assistirem os discursos do “Grande Irmão”, que parece ser um personagem criado para representar o líder supremo, mas que ninguém nunca viu o rosto. Assim como a vida não tem valor algum na distopia de Huxley, na de Orwell ela além de não ter valor, corre o risco de nunca ter existido, pois o Ministério da Verdade, tem por função apagar os registros históricos em todos os meios, de pessoas e fatos que possam colocar o regime do Grande Irmão em risco.

O que mais impressiona nas duas distopias, é sua aderência ao cenário sócio cultural do século XXI, seguindo a máxima de “Tostines” não saberemos dizer que Huxley e Orwell acertaram suas visões ou se foram seguidos como quem segue uma cartilha.

No século XXI, ou melhor na sociedade pós-moderna, o capitalismo neoliberal segue em franca atividade, apesar da crise de 2008, por conta do consumismo insano, que leva a sociedade a ver no consumo seu maior objetivo de vida, quase uma religião. As pessoas são avaliadas por seus padrões de consumo e o processo de obsolescência programada e percebida criam constantemente signos e indicadores que acabam expondo quem esta ou não dentro destes padrões. O sistema financeiro sustenta a vida útil deste sistema perverso, adicionando novos entrantes sempre que necessários.

Neste sistema que corrompe e aprisiona, seus participantes lembram os hamsters que giram as rodas em suas gaiolas na expectativa de encontrarem o seu final, tal como a maldição de Sísifo. Presos neste sistema, pouco tempo sobra para os valores realmente importantes da vida. Nossos filhos ainda não são produzidos em escala industrial como na distopia de Huxley, mas os prisioneiros do consumismo estão sempre terceirizando o afeto e educação de seus filhos, e de quebra estão minando os laços afetivos, que passam a ser substituídos por laços de consumo. Troca-se o afeto pelos presentes, estamos ensinando desde cedo a nossos filhos que o consumo é ainda mais importante que as relações consanguíneas, e que fazer girar a roda de Sísifo é a tarefa mais importante de todas, custe o que custar! Não podemos deixar de observar que hoje muito tratam seus pares como produtos, destinados a satisfazer seus desejos.

Constatar que nossa sociedade trata pessoas como bens de consumo, e laços afetivos estão cada vez mais enfraquecidos, potencializados por relações hedonicamente fúteis, nos leva a pintar um cenário muito parecido com o de Huxley, quanto mais se adicionarmos o estilo de vida citado nos parágrafos anteriores.

Paradoxalmente, o capitalismo tido como o grande paladino que iria salvar a humanidade do totalitarismo do comunismo, tem se tornado cada vez mais um regime totalitário, mas como isto pode acontecer?

Estamos presenciando hoje em dia o surgimento de um quinto poder, o do e-Cidadão, que vem a somar-se aos três poderes do Estado e o poder das corporações. Os poderes do Estado estão limitados às fronteiras geográficas das nações, por outro lado as corporações estão se tornando gigantes transnacionais, e não só isto, estão crescendo tanto verticalmente como horizontalmente, transformando-se em oligopólios. Se levarmos em conta que das 100 maiores economias do planeta, 51 são corporações, não temos mais dúvidas de que elas estão se tornando muito mais poderosas que as nações, sobrepujando de forma cruel os três poderes do Estado.

Felizmente estamos assistindo nesta primeira década do século XXI, o surgimento de forças transnacionais de cidadãos conectados, que estão derrubando ditaduras e promovendo mudanças substanciais dentro de suas nações. Finalmente um poder que poderá se opor ao poder das corporações! Enquanto o capitalismo é tido por Bauman como um parasita que corroí a sociedade, quero concluir que a sociedade organizada e conectada, a e-Cidadania, transformou-se no parasita que corroí o capitalismo. Estas duas forças, ou blocos de poder são transnacionais e eficientes, ou seja, a globalização social parece ter se dado de forma mais rápida e eficiente do que a globalização econômica, e pior, se deu de forma descontrolada, fugiu ao controle do establishment.

Não podemos nos esquecer da globalização política, da criação de grandes blocos como o surgido na Europa, que parece ser uma forma dos três poderes do Estado ganharem força e transnacionalidade, mas que vem dando claros sinais de que não vai muito bem. Estamos querendo homogeneizar o que não pode ser homogeneizado, a diversidade é saudável em qualquer sistema. Mas de qualquer modo esta tendência de formação de blocos transnacionais nos remete às duas distopias, e faz sentido, quanto menos interlocutores são necessários, mais fácil é a negociação.

Este cenário promete ficar ainda pior, pois vários especialistas estão prevendo o crescimento ainda maior das corporações, que tenderão a se tornar “mega corporações”, e com isto poderão ter um poder praticamente ilimitado. Mas existe o poder da e-Cidadania para contrapor-se a isto, a sociedade conectada esta compartilhando conhecimento, arte, entretenimento, e até mesmo amor e compaixão sem a necessidade do intermediário, ou não? Redes sociais também são corporações e para piorar o cenário, os servidores raiz de DNS da Internet estão subordinados à OMC!

Estamos sendo manipulados, estão nos dando linha como uma pipa que sobe ao sabor dos ventos ascendentes? O poder corporativo poderá de uma hora para outra apertar um botão e desconectar os e-cidadãos? De que lado estão as corporações online, e de quem é o conteúdo que produzimos e publicamos online nestas redes sociais?

Estamos caminhando para um novo totalitarismo, o totalitarismo do capital, e o poder corporativo sabe que desarticular a e-cidadania não é tão simples como mandar desligar os servidores raiz. Por esta razão cria-se, com a ajuda laboriosa da mídia mainstream. o momento Hobbesiano com o objetivo claro de fazer crer que a Internet é um espaço sem lei, para forçar o Estado a criar formas de controla-lo. O poder corporativo só não mandou desligar a Internet porque assim como a sociedade ele também depende dela, e depende de um rígido sistema de controle de propriedade intelectual e industrial para impedir que os e-cidadãos deixem de ser seus parasitas e volte a parasita-los livremente.

Pelo exposto nos temos de tomar algumas atitudes essenciais para evitar que sejamos cooptados por um novo regime totalitarista.

  • Nos politizarmos mais, nos preocuparmos com as questões de nossa sociedade;
  • Aumentar a influência da sociedade civil na governança da rede;
  • Nos aliarmos os poderes do Estado;
  • Desconstruir incansavelmente o momento hobbesiano;
  • Pensar e construir alternativas para uma Internet;
  • Pensar local e agir global;
  • Repensar nossa relação com o consumo;
  • Pensar e novas formas de organização social.

Créditos: A imagem foi obtida no Paleo Future

UPDATE 14/09/14 – Recentemente li o artigo que fora públicado no final de 2010 que dialoga perfeitamente com este.

A Cauda Longa do Jornalismo

Esta é uma atualização de um artigo meu publicado no Jornalistas da Web em 2008.

É curioso como a humanidade tende a tratar transições e evoluções de forma apocalíptica. Foi assim com a chegada do rádio, da TV, e não poderia ser diferente com a Internet. O tema ficou em “banho maria” por alguns anos, pois além de não haver uma penetração considerável, ainda não haviam soluções que dessem margem ao jornalismo colaborativo, ou melhor, ao jornalismo crowdsourcing. Os anos se passaram, e a população conectada cresceu de forma surpreendente. Nos Estados Unidos, 95% dos jovens estão conectados. No Brasil, praticamente 50% da população acessa a Internet. Este crescimento associado a ferramentas como blogs, microblogging, fotoblogs, videoblogs, mapas, mashups e tudo isto potencializado pela computação cada vez mais ubiqua, deu espaço a um novo jornalismo, ao jornalismo crowdsourcing. E conseqüentemente ao interminável debate entre o jornalismo tradicional e o jornalismo crowdsourcing. O primeiro argumenta que o segundo é imaturo, e este, que o jornalismo tradicional é jurássico.

É uma comparação impossível, é preciso levar em consideração que uma grande mudança nas relações pessoais e econômicas foi provocada pela Internet. Esta mudança foi sistematizada por Chris Anderson, em seu best seller “A Cauda Longa“. A Internet possibilitou uma capilaridade nunca antes vista, atingindo nichos renegados e muitas vezes totalmente desconhecidos. A principio, o estudo de Anderson provocou surpresa, mostrando a todos que a cauda longa é maior do que o mainstream, e engorda cada vez mais por conta daqueles que viviam no mainstream e agora podem se juntar às suas tribos. É preciso levar em conta que a imprensa tradicional esta focando no mainstream, e que a imprensa social está focando na cauda longa.

É como se os leitores de fanzines habitassem a cauda longa, e os leitores dos grande jornais, a cabeça da cauda, o mainstream, e isto não quer dizer que esta relação seja excludente. Na prática, a capilaridade da Internet permitiu conectar nichos com interesses similares, formando os meganichos, que habitam o inicio da cauda, próximo ao mainstream. Quanto maior o nicho, mais genérica a informação. A tendência do crescimento dos meganichos, tanto em quantidades, como em tamanho, provoca dois movimentos na cauda: ela engorda e se alonga. Engorda por conta crescimento dos meganichos, e se alonga por conta dos novos nichos que surgem.

Existe um outro elemento importante, que é a informação. Abundante no ciberespaço, é o catalizador da evolução. O crowdsourcing é a personificação desta evolução. O cidadão conectado tem pressa, muita pressa. A instantaneidade é o resultado, ele quer saber agora, o que acontece agora, quer interagir com a noticia. O Jornalismo cidadão é visto como ruído pelo público mainstream, mas é extremamente eficiente para seus apreciadores, e isto a velha mídia precisa entender e estudar.

A questão da confiabilidade

Constantemente a credibilidade do jornalismo social é posta em xeque, os veículos tradicionais defendem que somente eles estão aptos a noticiarem com credibilidade, e que o jornalismo social não é confiável. Trata-se de uma meia verdade, uma vez que os veículos tradicionais cometem verdadeiras gafes, como o caso do “Homem diminui o dedo para usar o iPhone“, noticiado pelo Estadão. A confiabilidade do jornalismo social é diretamente proporcional ao número de fontes, ou a credibilidade conquistada por algumas delas. Um grande número de fontes permite ao leitor avaliar por amostragem o que é ou não confiável, e assim construir a sua percepção de confiabilidade de algumas fontes. Muitos blogs publicam matérias de alta qualidade e confiabilidade, uma vez que, para alguns, o blog é uma fonte de status e/ou receita, e o leitor é o seu mais valioso ativo.

Em termos de número de fontes, velocidade e interação, o microblogging revelou-se um grande aliado do jornalismo social, e o Twitter é de longe a mais popular ferramenta de microblogging. O caso do incêndio na Califórnia foi notório, mas não o único coberto via Twitter. A grande “sacada” é que em microblogging o texto é limitado a 140 caracteres e o celular é uma potencial ferramenta jornalística. Textos via SMS para o Twitter, fotos e vídeos via email para o Flickr e YouTube respectivamente e, na outra ponta, temos a noticia em qualquer dispositivo. É o verdadeiro crowdsourcing jornalístico.

Conectando os dois mundos

Existem diversos projetos com o objetivo de conectar os dois mundos. O mais notório deles é o OhmyNews, um jornal colaborativo com “cara” de jornal. Outro projeto bem interessante é o Paper.li, que produz um jornal diário automático com base no que você e quem você segue tuitam, ou listas ou ainda tags específicas. Tem também o Tabbloid que produzr um Jornal em PDF de acordo com feeds específicos. No Brasil, temos o próprio Jornalistas da Web, o Jornal de Debates e as redes de blogs que estão se formando, numa tendência a universalizar o jornalismo crowdsourcing.

 

Mantras da irracionalidade – direito autoral

Você já parou para pensar sobre o direito autoral e a propriedade intelectual? Bom eu venho pensando muito a respeito há anos, e tenho chegado à conclusões surpreendentes, verdadeiras aberrações que são aceitas e replicadas pela sociedade como verdadeiros mantras da irracionalidade, aqueles mantras que foram imputados em sua mente por muito tempo, pela grande e dominadora mídia, e hoje você os repete sem pensar e com toda convicção. Você não os repete?  Ótimo, então vamos à algumas provocações:

  • Se um acadêmico não é remunerado permanentemente por uma Tese, porque o autor de um livro tem de ser?
  • Se um publicitário não é remunerado permanentemente por uma peça que criou, porque o produtor de cinema tem de ser?
  • Se um engenheiro não é permanentemente remunerado por um projeto que ele fez, porque o musico tem de ser?

Quando um engenheiro faz um projeto, ele assina a responsabilidade por ele, seja este engenheiro independente, funcionário ou responsável por uma Empresa. Este projeto tem um preço que é ditado por um mercado e é pago na forma combinada apenas uma vez. E por toda vida, este engenheiro pode ser responsabilizado por algum dano que seja comprovado como falha de projeto, e isto pode ter custos indetermináveis. Por outro lado, o músico não tem este risco enorme, afinal qual a chance de sua música provocar dano à alguém? Se ele não falar mal de ninguém e nem criar polêmica com a letra e não copiar outro músico, o risco é zero. Quando acaba um projeto o engenheiro já tem de estar fazendo outro, a vida dele é fazer projetos, ele se remunera por um projeto atrás do outro, até que chega ao fim de sua carreira. A partir dai ele vai ter de viver com suas economias, e sua pensão do INSS, e se foi previdente, da sua previdência privada. Com o músico é diferente, ele tem todos estes direitos do engenheiro e ainda tem a chance de criar “projetos” que irão sustenta-lo e a sua familia por muitos anos. Entendemos que cada música é um projeto, ou cada CD, e suas músicas proporcionam renda através de shows e da venda de CDs e faixas avulsas, mas não é só isto, tem mais!

Temos no caso da música o ECAD, que é uma entidade que fiscaliza e taxa qualquer estabelecimento que ouse tocar música! Não sei se existe transparência nesta arrecadação e nem se tem garantia de que todos os músicos serão remunerados de forma justa. Para mim o ECAD é uma aberração socialmente aceita, os estabelecimentos estão divulgando a música e ainda pagam por isto! Mas imaginemos se tivesse um ECAD na engenharia. Ele iria avaliar uma obra e cobraria uma taxa pela provável utilização dos projetos, ou seja, cada vez que um projeto fosse consultado, la estaria o ECAD da engenharia cobrando mais um níquel, acharíamos isto normal?

Acadêmicos investem anos de suas vidas em estudos e pesquisas, produzem teses e mais teses que são largamente utilizadas pela sociedade e industria de modo geral, algumas destas teses se transformam em livros, mas é a excessão e não a regra. Os resultados das pesquisas são utilizados em benefício da sociedade, são de fatos uteis em todas as esferas da humanidade, seja na economia, na saúde, educação, poder público, e etc.. A remuneração do acadêmico em geral vem das universidades, e de bolsas de pesquisa, e quando se aposentam tem o mesmo destino do engenheiro que citei logo acima. Quanto ao ECAD da academia, bom imagine você mesmo…

Mas e os autores de livros, bom assim como os músicos e pintores eles possuem o dom da arte, autores trabalham bem para escrever livros, não posso negar, mas nem todos os autores são realmente autores de seus livros, mas isto é outro papo. Por este livro o autor recebe a remuneração da sua venda, e também de palestras e eventos que participa. E quando se aposenta tem os mesmos direitos do engenheiro e do acadêmico, e ainda recebe os direitos por seus livros por muitos anos. Ainda bem que não tem ECAD dos livros, mas ja tem gente pensando em criar algo parecido e cobrar uma taxa das copiadoras…

Bom não vamos falar de publicitários e cineastas, seria mais um parágrafo comparando laranjas com maças, e daria mais trabalho para a minha conclusão, então vamos falar dos pintores de arte.

O pintor de arte ganha dinheiro vendendo suas obras, a atendendo à pedidos especiais, e ganha uma remuneração do “ECAD” dos pintores cada vez que alguém admira suas obras… ué? Não é assim não? Mas pô! Pintor não é artista? Porque este preconceito?

Bom que tem o músico e o autor de livro que o engenheiro, acadêmico e pintores de arte não tem? Vamos dar um tempo para você pensar…. pensou?


Uma indústria intermediadora! Afinal lançar livros e discos tem um alto custo e demanda uma forte estratégia de marketing, por isto que os intermediários ficam com pelo menos 90% da arrecadação. Isto se justificava no século passado, antes do advento da Internet. Nos anos 80 os equipamentos e a produção de um disco eram impossíveis às pequenas bandas e livros tinham altos custos de diagramação e impressão.

Hoje pequenos estúdios que custam menos de R$ 100,00 a hora podem produzir CDs com ótima qualidade e temos a Internet para divulgar o trabalho, então para que precisamos das gravadoras? Nos não precisamos, quem precisa são os dinossauros, os músicos desconectados, os músicos da antiga. É importante lembrar que se você tem mais de 16 anos, então você é um imigrante digital, e para ser entendido precisa falar com os dois mundos.

Gravadoras são poderosas, movimentam verdadeiras fortunas, segundo o relatório mais recente da APBD, no ano passado (2009) o mercado movimentou R$ 358.432 milhões com a venda de música nos formatos físicos (CD, DVD e Blu-ray) e formatos digitais (via Internet e telefonia móvel), e registrou um crescimento de 159,4% das vendas digitais via Internet, e ainda reclamam. E segundo a IFPI, neste mesmo ano o mercado fonográfico girou U$ 140 bilhões, ou quase 5% do PIB Brasileiro no mesmo período, e ainda culpam a pirataria por não arrecadarem mais, pois sim

Com este dinheiro todo eles tem um poder gigantesco e esta é a unica explicação para esta diferença entre o tratamento dos nossos atores aqui citados, mas afinal estamos aqui defendendo o direito autoral pô! Como assim? Olha aquele disco ali em cima, o suposto direito autoral que falamos é na verdade o direito do intermediário sobre os direitos do autor, e este em muitos casos não tem nem o direito de reproduzir suas próprias músicas, o Teatro Mágico que o diga…

Pois é e olha que eu ainda não entrei na questão da propriedade intelectual! E nem vou. Para isto pretendo fazer outro texto educativo como este, por enquanto vamos jogar pedras no meu blog, que venham os comentários!

 

Desculpe, mas eu te enganei este tempo todo…

Quem não perde o chão com uma confissão destas? Dá logo um frio na barriga, a testa começa a transpirar, as mãos ficam geladas, a respiração forte e o coração parece querer sair pela boca. A expressão de incredulidade se mistura com a do ódio, o chão desaparece e você sai juntando os cacos, porque suas convicções acabaram de se despedaçar.

Se você passa dos trinta, só usa a Internet para funções básicas e costuma pautar suas opiniões pela mídia recomendo que pare de ler este post agora ou prepare seu coração para a revelação que vem a seguir.

Antes do advento da Internet quase todas as informações nos chegavam pela mídia, rádio, TV, jornais e revistas, e alguma informação exclusiva do papo de bar ou de algum amigo bem informado. Não existia comunicação em rede, a maioria das informações nos chegavam via veículos de massa. Nossas escolhas se davam entre poucos veículos, e a diversidade era praticamente nenhuma. Em linha gerais elegíamos nossos veículos de confiança e pronto, não existia como confronta-los para saber se determinada informação era plausível e correta ou não, tinhamos de confiar, éramos da geração cultura da confiança.

Para esta geração os assuntos giram em torno dos fatos apresentados pelos veículos da grande mídia, as opiniões sempre dadas por especialistas no tema, e raramente se questionava o grau de conhecimento dos especialistas e a imparcialidade do veículo, a geração da confiança acredita nos seus e pronto. Bastavam que dois veículos de confiança apresentassem a mesma posição à cerca de um tema e pronto, era a verdade absoluta!

Mas o quanto se pode confiar neles de fato? Para isto temos de voltar para o início da década de 60, quando houve o Golpe de 64. Muitos veículos foram úteis para criar um clima favorável ao Golpe, seja por inocência ou por interesse, e muitos veículos e grupos de comunicação cresceram exponencialmente durante a ditadura.

Dentro das estratégias dos golpistas, havia uma necessidade de levar rápida e eficientemente informação e entretenimento à maior parte da população, foi nesta época que foram instaladas o maior número de repetidoras de TV, e enquanto a venda dos aparelhos de TV disparavam o preço do aparelho despencava, a razão manifesta era para a nação torcer na copa da 70. Todos juntos vamos pra frente Brasil…. Brasil Ame-o ou deixe-o… Uma festa! mas a motivação latente, aquela que não se percebe de primeira, era manter o povo entretido e (de)informado enquanto as coisas aconteciam no alto comando lá no Planalto Central, e ninguém ouvisse os gritos vindo dos porões da ditadura ou questionasse suas motivações, tudo não passava de um maniqueismo fantasioso bem planejado para a implantação da Ditadura.

A estética sempre foi um fator aliado à confiança, veja por exemplo o Manifesto porta na cara, quanto melhor a estética maior a confiança, dai a necessidade de estabelecer um padrão de qualidade como nos mostra o documentário Muito Além do Cidadão Kane, a manutenção de um padrão de qualidade esta intimamente relacionado à seriedade e confiabilidade. Não vá me dizer que aquela revista semanal em papel couchê com fotos bem feitas, diagramação impecável e infográficos lindos não parece mais confiável que outra publicação feita em papel reciclado e com tinta a base de soja, e é justamente o contrário! Eu não quero dizer que não se tenha de investir na estética, mas é justamente neste caminho que os veículos se distanciam e o problema não é necessariamente a estética e sim a percepção, a relação latente que se tem com ela, e é ai que o Brasileiro entra bem. Esta relação com a estética, entretenimento e informação atuam na nossa subjetividade, é quase um canal subliminar para manipular-nos.

Estas estratégias aliadas a tantas outras que foram apontadas pelos grandes filósofos da comunicação transformaram a comunicação e uma arma, junte isto à cultura de consumo de Victor Lebow e presto! Conseguimos tudo, o povo vai estar bem ocupado neste ciclo vazio e irracional e nos do poder podemos nos manter seguros onde estamos.  Se estes detentores do quarto poder tivessem um ataque de sinceridade eles falariam para você: Desculpe, mas eu te enganei este tempo todo…

Sinto muito meu amigo, você chamava seu filho, sobrinho ou seja lá quem for de alienado só porque ele ou ela passavam muito tempo frente ao computador, agora vai ter de admitir que alienado era você, afinal acima de tudo também não via nada de errado em passar muito tempo em frente a TV ou lendo jornais coloridos e revistas em papel couchê não é?

Uma nova sociedade esta surgindo com o advento da Internet, esta maldita Internet segundo o tripé do atraso, esta sociedade conectada não assiste muito TV, não gosta nem de jornais e nem de revistas, mas nem por isto é desinformada, é alias muito mais bem informada que você. Eles nasceram e cresceram no meio de uma tsunami de informação, dentro de uma cultura da abundância e entendem o ciberespaço como uma extensão de sua memória. Esta nova geração lê muito, aprende muito, debate muito, mas tudo na tela, no metaverso, no reverso da lógica e na contramão do passado. Não confiam em nada e nem ninguém, suas relações se dão por muitos laços fracos, suas convicções por muita desconfiança e suas amizades por afinidade ideológica. Como bom espécime da pós modernidade este novo individuo se permite mudar de opinião quantas vezes julgar necessário. A construção de seu conhecimento e sua subjetividade se dá através da comparação, faz uso da inteligência coletiva como se fosse sua, e no fim chegam a uma conclusão que pode mudar mais adiante sem culpas nem ressentimento, eles são a geração da cultura da desconfiança.

Por fim, a mídia como conhecemos precisa se reciclar, ela sempre focou na mensagem média para o usuário médio padronizado, mas em tempos de cauda longa o que mais temos é a diversidade, clusters e mais clusters com participantes tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais e igualmente voláteis e nem tão volúveis como se imagina. Se a mídia não se reciclar ela se tornará obsoleta quando a geração da cultura da confiança for maioria, daqui pouco menos de duas décadas…

Recomendo a leitura do meu artigo: A matriz de forças da sustentabilidade na página 37 da edição 17 da Espirito Livre.