Saudades da gaiola dourada

Hoje vejo a velha roda do lado de fora da gaiola e fico pensando, para que fui fugir da gaiola?…

Olho para o lado vejo hamsters felizes girando a roda como se não houvesse amanhã, suas gaiolas, muitas douradas são equipadas com um monte de tralha, quanto mais bonita e vistosa a gaiola, mais rápido gira a roda. Impressiona ver o hamster cansado se jogar da roda no sofá e ligar  o Imbecilizador, onde uma programação audiovisual o leva para um mundo de sonhos e consumo, que mostra o quanto é bom consumir, consumir, consumir… Veja como são belos e felizes os hamster consumistas, veja só aquele hamster do lado, diz a esposa, eles tem um cagador turbo, grande e confortável, e nos aqui neste cagador pequeno, você não tem vergonha não?!

Vendo isto o hamster olha para o relógio e pula na roda de volta e corre como se fosse alcançar o próprio rabo, um desespero por um cagador… Chega finalmente o cagador novo na gaiola de nosso amigo hamster, um hamster sério e trabalhador que não tem tempo para muita prosa. Hoje é domingo, e o hamster vai tomar uma cervejinha e ver um futebol, afinal ele merece. Chega em casa bêbado e acorda de ressaca com a cabeça latejando toma um “estupidex” e vai para a roda, gira como ninguém, mas dai começa a pensar, para que pensar??? O hamster para, toma uma birita a volta para a roda, acha o maior barato girar junto com ela, toma outra e decide girar a roda ao contrario e logo toma um esporro do Bank hamster. Como assim, girar ao contrário, você tem noção do perigo que é ser diferente? Consuma, consuma! O bom e nobre hamster volta a girar a roda novamente, a esposa hamster respira aliviada, pois já esta pensando em pintar a gaiola de ouro.  O cagador turbo já “orkutizou”, chique agora é ter a gaiola dourada, é o novo conceito em moradia diz a esposa hamster. Conceito do caralho! Resmunga o marido hamster pensando em como foi divertido girar a roda ao contrário, ria da cara do Bank hamster.

Neste domingo foi diferente, o hamster não foi tomar cerveja e nem assistir futebol, ficou apenas contemplando a roda pensativo…  Preocupada a esposa hamster o reprimiu: Você não sabe que pensar é perigoso?!  Em seguida ligou o Imbecilizador para tentar distrair o marido hamster,  este bateu a porta e saiu sem dizer para onde ia. Mais tarde ele voltou com um livro debaixo do braço: “A roda” de Hamster Max.  A esposa hamster aos prantos ajoelhou na frente do marido e implorou para que ele devolvesse aquele livro, ela lembrou o fim trágico  de todos que provaram daquela droga. Olha a miséria meu amor, eles abandonaram a roda e ficam debatendo e estudando o tempo todo, nem mesmo  possuem uma roda na gaiola, quando muito uma gaiola, são uns verdadeiros perdedores! A esposa implorou e o marido fingiu aceitar.  Mais tarde ele pegou as ferramentas e montou um dispositivo na roda, agora ele pode pedalar e ler enquanto faz a roda girar, a esposa morria de vergonha  afinal os maridos das amigas dela corriam elegantemente dentro da roda, já o nosso hamster parecia um pensador pedalando e debochando…

Nosso hamster saiu novamente e comprou livros e mais livros, lia e pedalava sem parar, a pobre esposa não sabia mais onde enfiar a cara.  O hamster comecou a pensar novamente, a esposa coitada, não podia comprar aquela ração “premium plus ultra du kacete”, teve de comer milho. O nosso hamster, resolveu sair e bateu de gaiola em gaiola convocando os vizinhos para conversar sobre uma idéia que ele teve.

No dia seguinte a esposa hamster acordou assustada pois tinham um monte de hamster na frente da gaiola, e o marido falou, fica calma vamos nos mudar, e começaram a alinhas as gaiolas, colocando uma ao lado da outra, mas o pesadelo estava por vir…. bom pelo menos para a visão consumista da esposa hamster, para o nosso heroi um sonho sendo posto em prática… Ela comeca a ver que os outros hamsters estavam retirando a roda de suas gaiolas e colocando na frente e enchendo de terra….  chegam na gaiola de nosso hamster e ele encontra a esposa de malas prontas, dizendo você decide: ou a roda ou eu! Não preciso dizer que a Sra Hamster teve de ir para a casa da mãe dela. Enquanto isto os hamsters plantavam nas velhas rodas nosso heroi havia criado uma comunidade capaz de suprir-se sem a necessidade de girar a roda indefinidamente, ele percebeu que consumia um monte de bobagem inúteis, que na pratica ele não necessitava. O Imbecilizador foi trocado por um Inteligentador conectado na Internet. Pouco a pouco a idéia maluca de nosso heroi peludo foi sendo disseminada, o tempo vago agora era preenchido com leituras, debates e a produção de conteúdo para seus blogs, sem contar que tinham tempo de fazer o mais importante, de compartilhar amor e afeto e ver os filhotes crescerem e participar disto, sem ter de terceirizar com babas e escola como no passado.

Mas o Bank hamster não estava gostando nada disto, as redes de imbecilização falavam diariamente dos perigos da Internet e do compartilhamento. Precisavam calar os hamsters revolucionários! Os Bank hamsters discutiram várias estratégias e começaram a coloca-las em prática, primeiro junto com a rede de imbecilização tentaram confundir as pessoas.  Diziam que os hamsters revolucionários eram produtores de “ratotóxicos”, e em nome da segurança trabalharam o mito de que as sementes plantadas em casa eram perigosas e poderiam ate mesmo produzir alucinações, por isto quem as consumia eram diferentes, agiam diferente, pensavam! Não colou! Muita gente estava trocando o Imbecilizador pelo Inteligentador e viram que a rede de imbecilizacao estava mentindo. Maldita Internet pensavam os Bank Hamsters, temos de eliminar a concorrência!

Os velhos e gordos Bank hamsters reuniram se em seu covil para discutir formas de  parar estes hamsters revolucionarios. Chegaram a conclusão de que o maior perigo não eram aquelas tribos de hamsters “sem rodas”,  poder estava mesmo é na Internet. Descobriram que os hamsters comuns usavam seus inteligentadores conectados à interner com a mesma eficiência dos imbecilizadores e sua rede decadente.

Perceberam que apenas os velhos hamsters, eram os poucos ainda controlados pelo sistema de imbecilização. Iniciaram a mais implacável campanha contra os Inteligentadores e a Internet, inventaram o “vicio em internet”, e para dar consistência ao factóide mostravam hamsters que haviam abandonado a roda por causa da Internet. Mostravam hamsters esclarecidos como sendo uma terrível consequência do excesso de informação, teve ate mesmo o Hamster Keen que escreveu um livro criticando os “sem roda” conectados, tentando provar que o modelo imbecilizante era melhor.

Vendo que não estavam surtindo efeito, os Bank hamsters se reuniram novamente, desta vez teremos de ser mais efetivos, temos de pensar numa forma de usar dogmas inquestionáveis para ter motivos para controlar a Internet, e dai surgiram os “maleficios” da rede foi um tal de falar em pedofilia e que hamsters velhinhos perdiam suas economias por causa de golpes virtuais.  Isto parece ter colado, mas será o benedito que ninguém parou para pensar que não existe pedofilia na Internet, e que os velhinhos são vitimas do desconhecimento e não da Internet. O que tem na Internet é pornografia infantil, resultado de um crime de pedofillia cometido em algum lugar, combater a pornografia infantil somente não vai resolver o problema. A Universidade de Hamstarvard fez um estudo mostrando que o aliciamento de menores pela Internet era insignificante, e mesmo assim as vitimas em geral já foram vitimas de aliciamento presencial. A culpa não era da Internet e sim dos pais hamsters, que so se preocupavam em rodar a roda, e terceirizavam a criação dos filhotes! Se não fosse isto teriam tempo de conversar com seus filhotes para orienta-los na Internet, mas como se eles mesmo não sabem usa-la?

Os Bank hasmters estavam conseguindo avançar, disseminaram medo, incertezas e dúvidas. Novas leia para “proteger” os filhotes e o hamsters velhos surgiam, e eram combatidas pelos “sem rodas”, que passaram a usar a rede como um canal de contra-informação.

Mais uma vez os Bank hamsters se reuniram no covil, desta vez  decidiram montar um verdadeiro plano de guerra, contrataram os melhores especialistas em Internet para desenvolver suas estratégias, perceberam que tinham de atuar em novas arenas, pois na legislativa era complicado, pois os “sem roda” sempre conseguiam ser ouvidos. Descobriram que regulamentar era mais fácil do que legislar, pois regulamento não precisa ser debatido. Mudaram de foco, na verdade abriram outras frentes, descobriram a governança da Internet, agora precisavam de uma forma de centraliza-la, assim tomariam o controle da Internet antes mesmo que os “Sem roda” pudessem fazer alguma coisa.  E assim decidiram juntar esforços com as empresas de telecomunicações, dando a elas mais lucro em troca de mais controle da rede. Só bastava agora colocar o plano em prática.

Bank hamsters do mundo todo decidiram formar acordos internacionais para controlar a Internet, o controle é importante contra os “sem roda”.  Redes sociais encantadoras foram cooptadas por reunir milhares ou até milhões de hamsters, formando verdadeiros jardins murados….  uma vez posicionados, em todas as arenas, os planos foram postos em pratica de forma simultânea, como se fosse uma verdadeira guerra, uma guerra desproporcional e com o objetivo de controlar o que antes era livre, uma guerra que tem por objetivo perpetuar o modelo da roda, o modelo que já não faz mais sentido. Não tem logica girar a roda continuamente, não queremos mais isto, fala o hamster revolucionario. Os ataques dos Bank hamsters são implacáveis, ao ponto do nosso revolucionário olhar para o lado e pensar: Quero voltar a ser um hamster burro, lobotomizado, não porque eu concorde com isto, mas porque já estou cansado desta guerra insana. Ao mesmo tempo percebe que sua mente não é mais a mesma, que agora ele é dono da própria subjetividade, e uma verdadeira dissonância cognitiva toma conta de seu corpo e sua alma, que o captura de seu momento de vacilo, para retornar a luta, a construção de um ideal, de um novo mundo do mundo dos hamsters sem roda….

Nota: Este texto foi criado num momento em que eu estava com um bloqueio de escrita, e brincando no Twitter produzi este texto, em pequenas pilulas de 140 caracteres em poucas horas.

2012 tempo de transição

Estamos em 2012, o mundo acaba agora no dia 21 de dezembro, aproveite! O mundo já acabou tantas vezes nos últimos anos que a cada “fim do mundo” ficamos mais céticos, já foram 242 previsões furadas desde o inicio dos tempos. Só de 1999 à 2012 tivemos 42, mas se tudo der errado os profetas ainda estão prevendo o fim do mundo para 2016, 2043 ou 2047… Vai que um dia alguém acerta!

Expectativas alarmistas sempre são um bom negócio, tem gente por ai fazendo bunkers e arcas para sobreviver ao fim do mundo, quantos não estão faturando muito com este novo fim do mundo? Lembra do bug do milênio e quanto a industria de TI faturou com o mito no final dos anos 90?

Previsões furadas a parte, o ano de 2012 carrega em torno de si uma aura de mudança, um importante conjunto de fatos e eventos que de uma forma ou de outra fará dele um ano marcante, um ano de transição, ou como diz a sabedoria Chinesa um ponto de mutação.

“Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força… O movimento é natural, surge espontaneamente. Por esta razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando dai, portanto, nenhum dano”

I Ching.

O ano de 2012 é realmente o ponto de transição, não a transição completa, mas o início irreversível dela, são a conjunção de vários fatores e eventos que juntos estão configurando esta mudança, a briga entre o novo e o velho existe há anos, e os mundos já estão em colisão desde o início do século como bem descreveu Nemo Nox em seu clássico Mundos em Colisão. No texto Nemo apresenta dois mundos: Planeta Alpha, onde a população desfruta de um ambiente de comunicação aberta e colaborativa; e o Planeta Ômega, onde as corporações têm controle quase absoluto sobre a informação que circula entre os habitantes, toda ela levando uma etiqueta com o preço de compra e as rígidas instruções de uso. O interessante de toda esta metáfora do “Mundos em Colisão” é que na verdade os dois mundos são um só.

O advento da Internet foi tão rápido e intenso que nós, os imigrantes digitais, fomos obrigados à adotar metáforas para entender e explica-lo: mundo real x mundo virtual. Uma dicotomia que fundamentou todo o debate desde 1994. Esta dicotomia sustentou leviandades, sustentou imbecilidades e pavimentou uma enorme gama de abobrinhas propaladas pelos neoludistas. O problema maior é quando estes neoludistas são políticos ou juristas, o preconceito pode causar desastres enormes como o famoso embate “Cicarelli x Youtube”, ou projetos de lei estúpidos como o AI5digital, SOPA, Hadopi e Sinde, só para citar alguns.

Medo e o preconceito são ingrediente de qualquer mudança, assim como a esperança e indignação, temos de admitir que a Internet teve um catalizador poderoso, pois as mudanças vistas nos últimos anos foram profundas e intensas. Este catalizador foi a comunicação, quem detê a comunicação, detém o poder, e a comunicação em rede além de poderosa é extremamente democrática, permitindo a todos fazerem parte de uma extensa rede não só de comunicação, mas também de construção cognitiva de conhecimento, uma vez que a Internet não é volátil.

Na edição 26 da Espírito Livre escrevi um artigo intitulado “A singularidade das multidões” onde desenvolvo a tese de que a tão falada singularidade tecnológica não se dará através do avanço da inteligência artificial, e sim da inteligência coletiva; e não serão as máquinas que dominarão o mundo e sim os nativos digitais.

Mas o que esta em jogo em 2012? Desde 2008 o mundo vem assistindo à uma crise de dimensões apocalípticas, diversos países do hemisfério norte estão com altas taxas de desemprego, e com grave recessão. O Brasil foi o último país a entrar na crise e o primeiro a sair, mas os países afetados pela crise estão caminhando de forma assustadora para uma espécie de neocolonialismo baseado em copyright, ou seja, estão super valorizando a questão do combate à pirataria e proteção da propriedade intelectual e direito autoral. SOPA, ACTA, HADOPI, Sinde e o famigerado AI5digital são exemplos claros de tentativas de controle da rede em nome deste movimento neocolonial. Os argumentos anteriores: combate ao ciberterrorismo, cibercrime e pedofilia estão perdendo força, mas no final das contas, o objetivo principal é controlar a Internet. Mas porque?

Em 2012 a Internet comercial completará 18 anos e junto com ela milhares de nativos digitais irão atingir a maioridade, mas quem são eles? Esta imprevisibilidade pode ser um dos motivos, quem lembra dos etnógrafos enviados à Campus Party pela Intel em 2009, estavam lá para pesquisar o comportamento dos nativos digitais, dos conectados. Creio que ainda não chegaram a uma conclusão de fato, pois a metodologia da etnografia em tempos digitais ainda esta em discussão. Sem dúvida alguma eles são diferente de nós os imigrantes digitais, sem a necessidade de transitar na dicotomia real x virtual, eles conseguem vivenciar a questão de que a Internet naturalizou e é tudo uma coisa só, a Internet faz parte do seu ecossistema. Certamente eles lidam melhor com as interações e construções em rede, eles pensam em rede, é como se nos fôssemos um programa rodando em linguagem interpretada e eles em linguagem compilada, estão revolucionando tudo, um perigo para o establishment!

É preciso adicionar um elemento a esta discussão, nem todo jovem de até 18 anos é um nativo digital, o letramento digital faz parte da sua construção, e este gap esta sendo reduzido em países que já perceberam que o seu maior ativo futuro esta justamente nos nativos digitais. Enquanto o Brasil esta ampliando este gap com seu PNBL neoliberal a R$ 35, com uma franquia de 300 MB por mês, e a sua pálida e inócua Secretaria Interministerial de Inclusão Digital; A India por exemplo esta ofertando à sua população banda larga à R$ 9,00 e Tablets a R$ 90,00!

A pesquisa “Digital Alternatives”, do Instituto Hivos, quebra alguns dogmas criados em torno do nativo digital, mostrando que existe uma grande pluralidade nesta parcela da sociedade, enterrando de vez as possíveis conclusões dos etnógrafos ai de cima. Todos os sinais apontam para um cenário muito bom, a pesquisa “O Sonho Brasileiro”, realizada com jovens de 18 a 24 anos, mostra alguns detalhes interessantes: 89% sentem orgulho em ser Brasileiro, 71% usam a Internet para fazer política e 75% pensam em fazer algo para o coletivo.

O debate amplia quando olhado por outros ângulos, entre 5 a 10% da população mundial será composta por este novo adulto já neste ano, e a maior concentração se dará nos países de terceiro mundo, quase a metade da população destes países esta abaixo de 18 anos. Enquanto nos países do primeiro mundo, a população esta envelhecendo e tende a ser mais conservadora, nos países do terceiro mundo, elas estão mais jovens e tendem a ser mais progressistas. Isto costura um cenário curioso, pois se de fato a “singularidade das multidões” ocorrer, ela será mais intensa justamente nos países de terceiro mundo.

As mudanças provocadas pela Internet estão sendo tão intensas e profundas que o próprio MidiaLab ressalta que não há nada que não seja afetado por ela, os intermediários entraram em crise, todos eles desde os partidos, sindicatos e até as grandes corporações. Crises precedem grandes mudanças, este ano veremos uma luta declarada, diferente da luta velada de outrora, contra a liberdade na rede, e uma outra ainda mais intensa no sentido contrário contando cada vez com a Inteligência das multidões, que vença o melhor!

Texto publicado originalmente para a revista Espirito Livre edição 33 de dezembro de 2011

 

 

ACTA, ou como os 1% querem subjugar os 99%

Legendei este interessante e didático vídeo produzido pelo La Quadrature du Net sobre o ACTA para o Mega Não. O video mostra em poucos minutos alguns dos problemas do ACTA, mas não todos. O ACTA é a tentativa dos grupos econômicos de colocar uma camada fortissima de controle não só na Internet como em toda sociedade. Dentre os problemas não citados no vídeo temos a inversão do onus da culpa, ou seja seremos culpados até provar inocência. Temos também a concessão de super poderes à agentes da alfândega que poderão apreender e escanear seus dispositivos eletrônicos sem sua autorização, e por ai vai. É importante que você assista este video, e o compartilhe. No Brasil, o Marco Civil da Internet é considerado pela EFF como um projeto de lei Anti-ACTA, mas o ideal mesmo é que o ACTA seja banido para sempre e sua derrota seja conhecida como mais uma vitória dos 99% contra os interesses de 1% da população.

Assista e indigne-se!!!

Transcrição

Você consegue imaginar seu provedor de Internet policiando tudo que você faz online?
Você consegue imaginar medicamentos genéricos que poderiam salvar vidas serem banidos?
Você consegue imaginar sementes que podem alimentar milhares sendo controladas e retidas em nome de patentes?
Isto será realidade com o ACTA.

ACTA – o Acordo Comercial Anticontrafação.
Disfarçado de acordo comercial, ACTA vai mais, muito além disto.
Ao longo dos últimos 3 anos, ACTA foi secretamente negociada por 39 países.
Mas os negociadores não foram representantes democraticamente eleitos.
Eles não nos representam, mas decidiram leis pelas nossas costas, ignorando processos democráticos.
Eles impuseram novas leis criminais para parar o compartilhamento de arquivos on-line.

ACTA visa tornar os serviços de internet e provedores de acesso legalmente responsáveis pelo que os usuários fazem on-line.
Transformando-os em policiais e juízes privados do copyright, censurando suas redes.

O efeito inibidor sobre a liberdade de expressão será devastador.

Em nome das patentes, ACTA dará às grandes corporações o poder de barrar medicamentos genéricos, antes deles chegarem às pessoas que os necessitam
E impedir o uso de certas sementes para cultivo.

O Parlamento Europeu irá votar o ACTA em breve.
Esta votação será a ocasião para dizer não, de uma vez por todas, para este acordo perigoso.

Como cidadãos, devemos pressionar nossos representantes para rejeitar o ACTA.

A singularidade das multidões

multidão (latim multitudo, -inis) s. f.

  1. Grande número de pessoas (ou de coisas).
  2. Aglomeração; montão.
  3. Povo; populacho; turba.

Ao pensarmos em multidão imaginamos o caos, desorganização, confusão, contra produção. Assim foi por muitos anos no espaço da racionalidade. Práticas educacionais e corporativas buscaram na padronização o caminho para o progresso, alinhados à cultura da produção em massa da Revolução Industrial. Até mesmo o lema da nossa bandeira: Ordem e Progresso; parece nos remeter a esta lógica, uma lógica profundamente entremeada nos valores e princípios da sociedade do século XX. Praticamente uma verdade absoluta e intangível que serviu de base para a construção das estruturas sociais e organizacionais até então conhecidas: Hierarquia vertical, comando em cascata, broadcasting e o gênio solitário.

Foto: Afonso Lima

No final do século XX, os EUA abriram a Internet à humanidade, até então uma infra-estrutura tecnológica em rede que servia para a comunicação e armazenamento de dados entre acadêmicos e militares. Tim Berners-Lee adicionou à esta camada uma nova camada de comunicação, a WWW. A apropriação da WWW livre e a consolidação dos conceitos de usabilidade e acessibilidade, pavimentaram o que hoje chamamos de web 2.0. Se observarmos “fora da caixa”, tudo que evoluiu na verdade configurou na redução da curva de aprendizagem, e consequentemente facilitou enormemente o acesso, tornando as camadas tecnológicas da rede invisíveis. A partir dai a Internet transformou-se em uma rede de pessoas, iniciando um processo sem retorno de profundas mudanças em todas as esferas da sociedade.

Crowdsourcing, as multidões fazendo acontecer

O Software Livre é sem dúvida nenhuma o caso mais notável de crowdsourcing. É uma construção caótica de software, com uma organização sem lideres, e sem hierarquias, jogando por terra valores e princípios “inegociáveis” do século passado. Muitos ainda não entendem como é possível produzir desta forma, outros tantos nunca irão entender, pois teriam de destituir-se de velhos e sedimentados princípios e valores, e muita gente não esta disposta à isto. Ainda são do tempo do “Em time que esta ganhando não se mexe”, azar o deles? Não, esta resistência à mudança tem sido a mola mestra do ACTA e outras práticas daninhas à rede como o AI5 digital. Estes neoludistas enxergam a Internet como uma ameaça, e nós como uma oportunidade única. Estamos em rota de colisão.

A nosso favor estão as pessoas de mente aberta, como o Rob McEwen CEO da GoldCorp, uma mina de ouro Canadense, que em 1999 estava à beira da falência. Depois de encantar-se pelo espírito livre e desbravador do Linux, que ele assistiu em uma conferência no MIT. Apesar de seus funcionários e especialista dizerem que não era mais possível extrair ouro da mina, ele acreditou que alguém poderia ter a solução. McEwen criou o concurso Goldcorp Challenge, que prometia distribuir U$575.000 aos que tivessem as melhores idéias para extrair ouro. Rob compartilhou dados secretos, como plantas, mapas, estudos e tudo mais que fosse necessário. O resultado do concurso foi fantástico, além da economia, equivalente a três anos de funcionamento, foram identificados 110 pontos de extração, e metade deles jamais haviam sido identificados pela Empresa. A GoldCorp pulou de um faturamento de U$ 100 milhões por ano para U$ 2 bilhões.

O caso da GoldCorp é emblemático porque é um caso que os analógicos entendem, é um exemplo incontestável do poder das multidões. Outros casos interessantes estão se construindo à nossa volta, como os diversos projetos de crowdfunding, onde indivíduos investem e decidem coletivamente como o capital será aplicado. A Wikipedia é outro caso fantástico, bem como as próprias redes sociais, elas não são nada sem nossa participação, sem nos o Facebook, Orkut, Youtube e outros não seriam nada, apenas uma boa idéia. E o mais incrível e que continuamos a agregar valor à estas redes, pois não visamos o retorno material, nossas motivações são outras. O documentário Us Now nos mostra vários casos de crowdsourcing, até mesmo um time de futebol, o Ebbsfleet united, com mais de 30 mil donos e técnicos que decidem de forma colaborativa até mesmo a escalação do time. Us Now também mostra exemplos de auto-organização que apontam para novas formas de governo, de democracia participativa.

Na esfera do governo, temos projetos inovadores no Brasil, como as consultas públicas do Marco Civil da Internet , Reforma da Lei de Direito Autoral e outras. Estas consultas foram feitas de forma livre à população pela Internet, um caso digno de registro de crowdsourcing no processo legislativo. Por falar em processo legislativo, temos também no Brasil o e-Democracia, uma rede social ligada à Câmara dos Deputados, que permite discutir temas em destaques e propor novos temas para debate. Ainda não temos nenhum projeto de colaboração como o Challenge Americano, onde diferentes órgãos do governo, apresentam problemas à sociedade e recompensam financeiramente àqueles que apresentam as melhores soluções.

O Crowdsourcing.org  é uma rede social especializada no crowdsourcing, e identifica basicamente sete grupos de estudo do tema:

  • Crowdfounding – Financiamento coletivo;
  • Cloud Labor (Trabalho em nuvem) – Aproveitamento de grupos virtuais de trabalho, disponíveis sob demanada para a realização de tarefas e projetos;
  • Collective Creativity (Criatividade coletiva) – Uso de grupos de talentos para desenvolvimento original de arte, design, mídia e conteúdo;
  • Open Innovation (Inovação aberta) – Uso de fontes externas à entidade ou grupo para gerar, desenvolver e implementar ideias;
  • Collective Knowledge (Conhecimento coletivo) – Desenvolvimento de células de conhecimento e informação a partir de grupos distribuidos de colaboradores;
  • Community Building (Construção de comunidades) – Desenvolvimento de comunidades através de grupos que compartilhem das mesmas paixões;
  • Civic Engagement (Engajamento cívico) – As ações coletivas que tratem de questões de interesse público.

Como vemos, ainda estamos começando a usar o poder das multidões, as pessoas estão começando a entender que juntas possuem um poder ilimitado, que não dependem dos intermediários e representantes. Governos e corporações também estão entendendo…

Individuo coletivo

Nos meus tempos de criança acreditávamos na figura do gênio solitário, filmes e desenhos animados nos mostravam cientistas isolados do mundo e acompanhados de um assistente burro, uma bela metáfora. É impressionante, mas hoje em dia muita gente ainda acredita no gênio solitário, tivemos nossas subjetividades subjugadas como sempre. Felizmente o mito do gênio solitário esta sendo derrubado nos tempos digitais do século XXI, avise aos “analógicos” da sociedade! Scott Berkun, ex-engenheiro da Microsoft, em seu livro “The Myths of Innovation” joga este conceito por água abaixo, e de quebra ainda enterra a idéia de que grande inovações vieram por epifania. Berkun explora uma questão muito importante, e que nos simplesmente sublimamos: Não estamos sozinhos, o ser humano é um ser social. Seja qual forma as idéias irão tomar, se produto material, imaterial ou bem cultural, elas são da coletividade. As idéias são construídas em coletividade, o “dono” dela tem sido aquele que consegue sistematiza-las ou utiliza-la para um propósito específico. O legado do século passado ainda insiste no fato de que as idéias são do primeiro a registrar a sua patente.

Somos parte da multidão, somos construtores da subjetividade coletiva, assim como nossa subjetividade é produto desta construção. Para ser mais correto, podemos afirmar que somos prosumidores de nos mesmos e ao mesmo tempo de todos nossos peers, que também são nossos prosumidores. No século passado isto era entendido pelo provérbio que dizia que “o homem é produto do meio”, mas o meio mudou, e o provérbio mostrou-se incompleto. Hoje podemos dizer que “o homem é produto do meio e o meio é produto do homem”, isto num ciclo crescente de construção cognitiva e coletiva do conhecimento. Quanto mais conectada a sociedade, mas visíveis ficam velhos conceitos que estão sendo subjugados, estamos quebrando velhas regras com uma voracidade incrível. Hoje entendemos que somos feitos de células, e a nossa “alma” de colaboração. É preciso entender que somos todos “eu” coletivo, que carregamos em nos um pouco de cada um, e vice versa.. Isto vale para tudo, saber, negócios, política e informação, ninguém é alguém sozinho. É preciso entender que o conhecimento pertence à sociedade, e que esta, e somente esta, tem a capacidade e o direito de transforma-lo de forma nunca antes imaginada na história da humanidade.

Os seis graus que nos separam

O importante fator das profundas e definitivas mudanças que estamos passando em nossa sociedade é o fato de estarmos novamente conectados em rede, novamente porque muito provavelmente estivemos conectados em rede quando ainda selvagens. A natureza irracional e burra esta repleta de exemplos de estruturas em rede, colméias, formigueiros, movimentos dos mares, planetas, e até mesmo nossa estrutura celular e neural! O homem civilizado cometeu um grande equivoco ao confundir a seletividade evolutiva com a organização estrutural das diversas sociedades, aprendemos equivocadamente que necessitamos de uma estrutura de poder vertical, poucos pensam e muitos executam, mais uma bela metáfora do capitalismo. Estão sempre buscando lideres em tudo…

Albert-László Barabási é um estudioso de redes, matemático, sistematizou esta estrutura e conseguiu provar matematicamente a teoria dos seis graus de separação. Segundo Barabási, apesar de seremos milhões conectados em rede, estamos de fato, distantes de qualquer outro por apenas seis pessoas. Barabási explica que as estruturas de redes são complexas e os hubs são indispensáveis ao funcionamento destas estruturas. Hubs por exemplo são indivíduos com alto capital social, ou sites e serviços populares. Os hubs são atalhos entre os milhões de nós da rede, de qualquer rede.

Fritjof Capra, compila no livro “A Teia da Vida”, várias contribuições da física, da matemática e da biologia para a compreensão dos sistemas vivos e, especialmente, de seu padrão básico de organização. Capra identifica a rede como esse padrão comum a todos os organismos vivos. “Onde quer que encontremos sistemas vivos – organismos, partes de organismos ou comunidades de organismos – podemos observar que seus componentes estão arranjados a maneira de rede. Sempre que olhamos para a vida, olhamos para redes. (…) O padrão da vida, poderíamos dizer, é um padrão de rede capaz de auto-organização”. Em seu livro “As Conexões Ocultas”, Capra tenta aplicar os princípios apresentados em “A Teia da Vida” na análise de fenômenos sociais – como o capitalismo global, a sociedade da informação, a biotecnologia e os movimentos contra-hegemônicos da sociedade civil.

A singularidade será das multidões

Conforme a Wikipedia, singularidade tecnológica é a denominação dada a um evento histórico previsto para o futuro, no qual a humanidade atravessará um estágio de colossal avanço tecnológico em um curtíssimo espaço de tempo. Vários cientistas, entre eles Vernor Vinge e Raymond Kurzweil, e também alguns filósofos afirmam que a singularidade tecnológica é um evento histórico de importância semelhante ao aparecimento da inteligência humana na Terra. Ainda não existe consenso sobre quais seriam os agentes responsáveis pela singularidade tecnológica, alguns acreditam que ela decorrerá naturalmente, como conseqüência dos acelerados avanços científicos. Outros acreditam que o surgimento iminente de supercomputadores dotados da chamada superinteligência será a base de tais avanços.

Na minha opinião a singularidade não será tecnologia, e sim das multidões, quanto maior a penetração da Internet na sociedade e quanto mais intensa for apropriação do crowdsourcing, mais rapidamente teremos as mudanças. Estas mudanças tenderão a ser de forma exponencial, não significa que mais um participante produza um incremento unitário, mas sim que este incremento leve em conta que o crowdsourcing é um processo retro-alimentando. Desta forma, nesta equação temos de considerar o que já fora construído e o potencial agregador e construtor do novo player, considerando inclusive seu capital social. Capital social este determinado em função da rede de relacionamento e do poder interativo e comunicacional deste indivíduo. Esta singularidade se dará na intensa construção cognitiva e coletiva do saber, potencializando ao máximo o conceito da Inteligência Coletiva sistematizado pelo filósofo Pierre Levy. Este fenômeno se dará possivelmente no momento em que a geração digital atingir a maturidade. Esta geração terá todos os conjuntos de afinadades, dogmas e valores para o processo pleno da construção e uso da Inteligência Coletiva, caracteristicas estas que nos imigrantes digitais não temos e nunca teremos, mas teremos o privilégio de vislumbrar o nascimento de uma nova sociedade infinitamente mais inteligente que a nossa, e profundamente interconectada, mudando radicalmente o mundo que conhecemos.

Uma vez entendido isto, podemos imaginar o tamanho do poder que a sociedade conectada poderá vir a ter, numa matriz dos poderes instituídos, este seria o quinto poder. Hoje temos os três poderes do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário que são poderes locais, e o quarto poder que é o corporativo que é enorme e transnacional e atualmente exerce uma enorme força sobre os Estados. Se levarmos em conta de que das 100 maiores economias do mundo, 51 são corporações. Dá para sentir o tamanho da força do quarto poder, eles simplesmente são mais poderosos que as nações. Entretanto o poder das corporações é avaliado em função do capitalismo, e da cultura da escassez. Douglas Rushkoff avalia que o capitalismo é na verdade o “sistema operacional” da sociedade, e que assim como ele no passado substituiu o “sistema operacional” vigente, nada impede que ele venha a ser substituído em breve, e a minha tese da singularidade das multidões prevê isto como citado no parágrafo anterior. Thomas Greco, em seu livro “The end of money and the future of civilization” coloca mais lenha na fogueira, mostrando que o modelo capitalista é auto-destrutivo e insustentável e que a partir da crise de 2008, a coisa só tende a piorar. Greco aponta na direção que estamos tomando. Mas o que virá depois do capitalismo? Segundo o Professor Giuseppe Cocco o que esta se construindo é o Capitalismo Cognitivo, uma forma de capitalismo que tem o conhecimento e a informação como principais riquezas e valoriza as competências cognitivas e relacionais.

Mesmo antes da troca do “sistema operacional” da sociedade, veremos o quinto poder chegar a um patamar de igualdade ao quarto. Se configurarem as previsões, as mudanças serão profundas e alavancarão o quinto poder como o maior poder da sociedade, ou seja, a própria sociedade conectada será o seu maior poder. Temos movimentos políticos e sociais acontecendo pelas multidões conectadas, o Mega Não e o Ficha Limpa no Brasil, 15-M na Espanha, o Stop Acta a nível mundial e troca de poder no Egito só para citar alguns. Os sinais estão por ai, e os envolvidos estão cientes e tomando suas providências, eles tem pressa. Em 2012 teremos a maior idade de uma parcela significativa da geração digital, eles tem pressa, muita pressa.

Texto ampliado e adaptado do que publiquei originalmente na Revista Espirito Livre numero 26, de maio de 2011

Ato em Brasilia contra o AI5 Digital representará a vontade de mais de 350 mil Brasileiros

As petições do Mega Não,  da Avaaz, do IDEC, a Carta do Fórum da Cultura Digital e a Petição dos Coletivos somam mais de 350 mil assinaturas contra o PL84/99, popularmente conhecido como AI-5 Digital ou PL Azeredo. O projeto ressuscitou na Câmara após os supostos ataques aos sites do Governo. No último dia 13 de julho, uma audiência pública foi realizada para que a nova legislatura tenha mais conhecimento do mérito do polêmico PL84/99, entretanto como são muitos os problemas do projeto, um Seminário será realizado no próximo dia 24 com quatro painéis abrangendo as questões técnicas, comerciais e sociais do projeto.

No mesmo dia 24 às 13h, um ato será realizado pela Avaaz, IDEC e movimento Mega Não, na rampa do Congresso Nacional, com o objetivo de formalizar a entrega da petição da Avaaz com 170 mil assinaturas contra o AI5 Digital e protestar contra o projeto.  Na somatória, com as demais petições do IDEC e do Movimento “Mega Não” desses últimos anos, já são mais de 350 mil assinaturas  mostrando o repudio da sociedade contra este projeto, que irá criminalizar práticas cotidianas e trazer graves retrocessos ao país, retirando o Brasil da vanguarda como nação conectada e com grande potenciais nesta área.

A consulta pública do Marco Civil da Internet, uma das respostas do Governo ao PL 84/99 sob a pressão da sociedade, tornou-se um dos casos pioneiros na chamada hiperdemocracia, um caso inédito que passou a ser modelo de legislação participativa, tendo recebido mais de 2000 contribuições durante esta consulta. A sociedade clama pelo arquivamento definitivo do PL84/99 e pela aprovação do Marco Civil da Internet, que responde pelos anseios da sociedade e pela demanda por segurança, liberdade e privacidade na rede.

Por um pais mais justo, pela estado democratico do século XXI vamos todos juntos dar um definitivo Mega Não ao Ai5 Digital.

Programação das atividades

  • 23/08 – das 14h às 18h – Tuitasso com as tags #ai5digital e #atoAi5Digital convocando para o Ato e para o Seminário.
  • 24/08 – das 8:30 às 18h – Seminário no plenário 13 da Câmara a partir das 8:30 ate 18h
  • 24/08 – às 13h – Manifestação na rampa de acesso do Congresso Nacional.
  • 25/08 – Blogagem coletiva contra o Ai5 Digital com foco nos eventos do dia 24 para potencializar o alcance das atividades (convocatória será divulgada no Mega Não)

 

Sobre o PL 84/99

O projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados em 2003 e enviado ao Senado. No Senado tramitou com o numero PLC 89/03, e em 2005 recebeu uma nova redação proposta pelo então Senador Eduardo Azeredo, tornando-o um projeto extremamente polêmico. Em julho de 2008 o projeto foi aprovado no Senado em caráter extra pauta (não estava na agenda do dia), e em conjunto com o projeto da CPI da Pedofilia, sob o argumento de que era para combater esta prática.

Por ter sofrido mudanças no Senado, o projeto retornou à Câmara em 2008, para votar ou vetar a nova redação. Na ocasião, o Deputado Julio Semeghini protocolou e teve aceito o pedido de tramitação em regime de urgência. Entretanto a reação popular contra o projeto intensificou-se e com base na grande polêmica em curso o Deputado Paulo Teixeira protocolou um pedido para o projeto tramitar nas comissões estratégicas e teve seu pedido aprovado.

No final de 2009, atendendo às pressões da sociedade o Presidente Lula solicita ao Ministro da Justiça Tarso Genro que coloque em consulta pública o projeto do Marco Civil da Internet. Neste momento, o projeto PL84/99 ficou congelado na Câmara, aguardando o final da consulta pública, e seu envio para o Congresso Nacional.

No final de 2010, sem nenhuma razão explicita o PL 84/99 foi “descongelado” e recebeu parecer em algumas comissões. Logo no inicio da nova legislatura, o Azeredo, agora como Deputado foi o relator do PL84/99 na CCTCI e tentou vota-lo na comissão no final de maio, no calor dos supostos ataques hackers. Na ocasião o Deputado Emiliano José Protocolou uma audiência pública que fora realizada no dia 13/07 deste ano. E no mesmo evento a Deputada Luiza Erundina protocolou um pedido de Seminário que será realizado no próximo dia 24.

O PL84/99 necessita ser votado na CCTCI e na CCJC para então ir a plenário e ser votado em definitivo. Em seguida segue para aprovação ou veto total ou parcial da Presidência da República.

Os principais problemas no PL84/99 estão nos artigos 285-A, 285-B, 163-A, 171 e 22 conforme detalhado neste estudo.

A Internet sob cerco, os hackers não são o perigo real

Para quem pensa que os ataques são o real perigo que ronda a Internet, vamos deixar claro que não, o perigo maior é a criação do Momento Hobbesiano que a mídia esta fazendo. Ela fala de “onda de ataques” antes mesmo dos sites brasileiros terem sido atacados, como quem segue um script, o clima midiatico nos faz ter esta percepção subjugando nossa subjetividade como já sabemos. A mídia, ou melhor o PIG, este mesmo que cria maniacos como o Assasino de Realengo, agora esta querendo criar mais um factoide, factoide este sumariamente dizimado pelo Altiere Rohr.

Veja o video abaixo que produzi para o Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas com base na palestra que proferi no Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas em Belo Horizonte no início deste mês, e entenda as reais ameaças que cercam a Internet, e surpreenda-se.

 

Os perigos da recentralização do mundo de pontas

A Internet foi concebida para ser operada de forma descentralizada, justamente para resistir à um ataque nuclear, paranóia muito comum durante o período da guerra fria. As maiores apropriações da rede foram feitas justamente dentro desta premissa, tanto as apropriações tecnológicas como o P2P como sociais como o crowdsourcing e o poder da auto organização.  O P2P é um protocolo que permite a troca de pacotes de pessoa à pessoa, ou melhor de muitas pessoas para muitas pessoas, com isto é possivel transmitir uma considerável massa de dados, sem sobrecarregar servidores ou braços da rede. O poder do crowdsourcing, da inteligência coletiva e da auto organização continuam um mistério para muitos, mas sabemos que sua base conceitual é justamente a descentralização e a ausência de uma liderança e da ultrapassada estrutura hierárquica.

Existem três manifestos que na minha opinião dizem muito a respeito da cibercultura, a nossa cultura, e das características fundamentais da rede. São eles o Manifesto Cluetrain, o Manifesto da Cultura Livre e o Mundo de Pontas.

O mundo de pontas trata justamente desta questão da descentralização que é a alma da cibercultura, a alma da internet. Ele mistura um pouco da estrutura da rede com as pessoas, é um passeio pelas camadas da conectividade como uma radiografia do complexo ecossistema social que se forma no século XXI, e tudo de uma forma bem simples. O manifesto destaca a clássica frase de John Gilmore: “A Internet interpreta a censura como um defeito e roteia para contorná-la”, numa constatação de que é impossível censurar a Internet. Outro trecho interessante é na declaração a seguir:

Não é o fim do mundo, é o mundo de pontas

Quando Craig Burton descreve a arquitetura burra da Internet como uma esfera oca composta inteiramente de pontas, ele está usando uma imagem que mostra o que é mais extraordinário sobre a arquitetura da Internet: retire o valor do centro e você viabilizará um crescimento louco de valor nas pontas interconectadas. Porque, claro, se todas as pontas estão conectadas, cada uma com cada uma e cada uma a todas, as pontas deixam de ser pontos finais.

E o que nós, pontas, fazemos? Qualquer coisa que pode ser feita por qualquer um que quer mover bits.

Notou nosso orgulho em dizer “qualquer coisa” e “qualquer um”? Isso decorre diretamente da arquitetura simples e burra da Internet.

Porque a Internet é um acordo, não pertence a nenhuma pessoa ou grupo. Não às empresas estabelecidas que operam a espinha dorsal (“backbone”). Não aos provedores que nos fornecem conexões. Não às empresas de “hosting” que nos alugam servidores. Não às associações de indústrias que acreditam que sua sobrevivência é ameaçada pelo que nós outros fazemos na Internet. Não a qualquer governo, não interessa quão sinceramente acredita que está tentando manter seus cidadãos seguros e complacentes.

Conectar à Internet é concordar em crescer o valor na periferia. E aí algo realmente interessante acontece. Todos estamos igualmente conectados. A distância não importa. Os obstáculos desaparecem e pela primeira vez a necessidade humana de conectar pode ser realizada sem barreiras artificiais.

A Internet nos dá os meios de nos tornarmos um mundo de pontas pela primeira vez.

Nos sabemos usar este ecossistema à nosso favor,  mas o establishment (Tripé do atraso) também sabe, ou melhor pode pagar para quem sabe trabalhar para ele. Desde a campanha eleitoral, que venho afirmando categoricamente que a Internet esta sofrendo um cerco técnico, altamente qualificado. São verdadeiros profissionais que estão usando e analisando a estrutura da rede e reduzindo comportamentos à modelos matemáticos, como um derradeiro esforço para recuperar o poder do establishment, que vem se diluindo rapidamente, e se não ficarmos atentos eles irão conseguir!

Os movimentos dos cercos técnicos, que é como chamo o movimento do establishment acima, atuam em diversas esferas, seja na trollagem, ou seja na manipulação das percepções e também agora parecem estar atacando como verdadeiros lobos em pele de cordeiro no sentido de recentralizar a web. O bacana disto tudo é que as duas teses dos perigos da recentralização vieram de meu filho, um típico representante da geração digital, sinal de que esta geração esta atenta. A primeira tese é o perigo das nuvens e agora os práticos serviços de download remoto de torrents.

Nuvens podem causar temporais

A midiaticamente propalada computação nas nuvens vem aos poucos mostrando a sua verdadeira face, que é a a de recentralizar o mundo de pontas, eu nunca havia percebido isto até que um dia meu filho me apresentou o Onlive, um site de jogos nas nuvens que a partir do pagamento de uma mensalidade permite que você jogue até mesmo a partir de um set top box para a TV. A Som Livre também lançou um serviço nas nuvens, o Escute, musicas com DRM que estão disponíveis por uma pequena mensalidade, uma conveniência que pode aprisionar, basta que tenhamos dispositivos moveis com custos de conexão mais baixos e velocidades mais altas, o próximo passo poderia ser a redução da “desnecessária” memória dos mesmos em detrimento da “performance”, isto sem contar da “conveniente” conectividade permanente.

Bom, mas onde esta o problema disto? Imagine que a moda pegue, nossos computadores voltariam a ser terminais quase burros, conectados à inteligente e centralizada nuvem para a qual pagariamos mensalidades para termos acesso à nossas produções, preferencialmente em formato proprietário. Ou seja, a inteligência da rede migraria para o centro, tornando-se vulnerável e mais facilmente controlável. José de Alcántara disponibilizou o e-book “La neutralidad de la Red” que dada a importância o disponibilizou sob a forma de domínio público, abrindo mão de quaisquer direitos. Neste e-book Alcántara faz exatamente esta abordagem, observem as topologias de rede abaixo:

No livro ele descreve que na rede centralizada, toda comunicação passa necessáriamente por um ponto central, de modo que o desaparecimento deste ponto irá desarticular totalmente a rede. A rede descentralizada é compostas de várias redes centralizadas interconectadas, entretanto a ruptura dos nós centrais das redes, ou a desconexão destas irá facilmente desarticular toda a rede, por fim a rede distribuída é radicalmente diferente das demais, não existe nó central, e a supressão de um ou mais nós não afetara a comunicação de forma alguma, esta é a Internet que temos hoje.

Jose também fala dos riscos da recentralização, apresentando-o como os serviços, não só das nuvens, como podemos entender as redes sociais privadas, APIs e protocolos fechados e proprietários, veja este trecho do livro:

La recentralización de la infraestructura

Aparte de los proveedores de acceso a Internet, cuyo objetivo principal es el de hacer valer su posición privilegiada -actualmente son la única puerta de acceso real a Internet- para obtener un beneficio desproporcionado, existe otro grupo de empresas que pretenden desequilibrar la balanza de la neutralidad de la Red a su favor: se trata de los grandes prestadores de servicios por Internet.

En esencia, estos prestadores de servicio actúan ofreciendo sus computadoras al público general, de forma que éste utiliza la infraestrectura como si de un servicio centralizado más se tratase, en lo que se conoce por el nombre de Infraestructura como servicio (Iaas).2.43.

Estos servicios de infraestructura centralizados funcionan de muy diferente manera e incluyen desde los servicios de computación en la nube,2.44 en los que el prestador de servicio alquila computadoras y potencia de cálculo para el propósito que el cliente desee, hasta los servicios de software centralizado en los que el prestador de servicio no sólo centraliza la infraestructura sino también el software. En general, tanto uno como otro disminuyen el grado de distribución de la Red.

Acredito que tenha ficado mais claro o grande risco da recentralização da rede, recomendo fortemente a leitura do e-book de Alcántara.

Centralizadores de torrents

O genial protocolo P2P, que é a base fundamental para a manutenção da liberdade na rede na construção de mecanismos anti-censura como sistematizado neste texto na EFF. Como citado no inicio deste texto, é um protocolo que permite a transferência otimizada de uma grande massa de dados sem sobrecarregar servidores e braços da rede. Com base neste protocolo surgiu o BitTorrent um protocolo de distribuição de arquivos. O BitTorrent funciona basicamente assim: Para cada arquivo ele constroi um mapeamento e vai capturando partes de arquivos de diversos usuários, os seeders. Todo usuário ao mesmo tempo que baixa um arquivo por BitTorrent esta ao mesmo tempo enviando partes dele para outros, quanto mais “seeders” mais rapidamente os arquivos são transferidos.

Surge então o LeechMonster, um “prático” serviço que baixa os torrents para você “anonimamente” e permite que você posteriormente os baixe via http ou ftp em alta velocidade. Um prático serviço a principio, mas veja que ele irá tirar milhares de “seeders” e será apenas um “seeder”, e aos poucos justamente por falta de “seeders” o serviço se tornará mais indispensável, e na mesma proporção irá matar o BitTorrent que se tornará uma solução muito lenta, recentralizando a rede mais uma vez.

Portanto, fique atento, não aceite “almoço gratis” com facilidade, pense antes se ele vai ser uma alta conta a pagar no futuro…

Foto: a imagem do globo com as peças foi produzida por Sanja Gjenero

Postado originalmente no Trezentos.

Não alimente os trolls…

Trolls são velhos conhecidos desde antes do advento da Internet, já existiam nos tempos do BBS, ou melhor sempre existiu na história da humanidade alguem à debochar das pessoas e provoca-las. A trollagem é uma característica inata da raça humana, tem gente dizendo até que o Inri Cristo é um excentrico que leva a vida em trollar a humanidade, vai saber né?

Um troll, na gíria da internet, designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nelas. O termo surgiu na Usenet, derivado da expressão trolling for suckers (lançando a isca para os trouxas), identificado e atribuído ao(s) causador(es) das sistemáticas flamewars e não os trolls, criaturas tidas como monstruosas no folclore escandinavo.

Wikipedia

Estamos sempre sujeitos à interferência dos trolls, a melhor forma de lidar com eles sempre foi a de não “alimenta-los”, sem “alimento” eles não proliferam e acabam indo buscar atenção em outra freguesia. Nos anos 90 eram comuns as trollagens nas listas de discussão que provocavam muitas vezes guerras inflamadas (flamewars) e era um “Deus nos acuda”, perdia-se o foco do debate e muitas vezes até amigos. No verbete sobre Trolls na Wikipedia você vai encontrar as principais técnicas que eles utilizam, e vai ver também que muitas vezes eles atacam em grupos e que os grupos podem ser compostos por vários avatares controlados por uma única pessoa ou grupo de pessoas.  As motivações que levam à trolagem são em geral: auto-afirmação, ideologia, fanatismo, sacanagem, simplesmente ociosidade. Muitos trolls buscam apenas diversão para combater o tédio, mas a maioria deles também porta alguma característica mal-resolvida de personalidade, como trauma, fracasso financeiro e amoroso e até patologias psicológicas.

Os antigos trolls de lista migraram para as redes sociais, em especial o Orkut e o Twitter, sendo este último uma rede social com grande aderência à lógica da rede. O Twitter hoje é a ferramenta mais eficiente para articulações, em pouco tempo é possivel disseminar uma informação para milhares de pessoas.

Não podemos deixar de registrar aqui os trolls políticos, que prefiro chamar de trolls profissionais, consolidados em abundância nas eleições de 2010. Estes trolls habilmente disseminavam inverdades, derrubavam trending topics, e provocavam a militância oposta com o intuito de desarticula-la. Como eles surgiram, e principalmente para onde foram são ainda perguntas sem respostas, será que foram para algum lugar ou ainda estão ai “vivinhos” da Silva? Uma coisa é certa, esta campanha teve uma participação fundamental da sociedade conectada, estrategistas éticos usavam as boas práticas da WOMMA, outros abusavam de scripts e subterfúgios condenáveis para atingir seus objetivos. O trabalho das multidões serviu à uma fantástica onda de desconstrução de factoides, foi uma campanha bem interessante, digna de ser documentada e registrada nos anais da história do país.

Voltando à questão dos trolls profissionais, eles diferente do tradicional, seguem em geral uma estratégia e conhecem bem a dinâmica de rede. Para derrubar um trending topic no Twitter, por exemplo, basta configurar um perfil bot para retuitar tudo que encontrar em uma determinada hashtag. Com isto o Twitter percebe que o crescimento de uma hashtag não é orgânico, ou seja proveniente de vários usuários, e a penaliza retirando dos trend topics. Isto aconteceu recentemente com a tag #foraAnaDeHollanda, para atender à este objetivo basta monitorar determinada tag ou os trends no Twitter e ativar o bot como e quando for necessário, nada ético, mas bastante usado.

A dinâmica da rede

Para entender como os trolls profissionais conseguem se disseminar no Twitter, vamos entender um pouco da dinâmica da rede. Observe a figura abaixo, do lado esquerdo, em verde, temos um perfil forte. Este perfil em geral é seguido e segue outros perfis fortes (2º nível) e com eles possui uma boa interação e atingem facilmente os seguidores de 3º e 4º niveis, podemos dizer que este perfil é bastante influente e que possui um “capital social” elevado, a construção de sua rede de relacionamento é orgânica e se dá de forma gradual e sólida com base em uma relação de confiança. Do lado direito temos um perfil fraco, que possui muitos seguidores de 2º nível, que em geral foram adicionados por script e não possuem com ele nenhuma afinidade, estão ali apenas fazendo número. Poucos seguidores interagem com este perfil, e em geral eles não possuem um alcance significativo, mal chegam ao 3º nível e possuem um “capital social” muito baixo. Isto demonstra que o número de seguidores não é um indicador seguro de capital social, é bem possível por exemplo que um perfil com 1000 seguidores seja muito mais influente que um com mais de 100.000, reforçando a tese de que em mídias sociais a qualidade das relações é mais importante que a quantidade.

Mas então como os fakes, que em geral são perfis fracos e inócuos fazem para atingir seus objetivos ? Eles contaminam os perfis fortes trolando-os, vamos tentar entender como isto funciona.

Cada um de nos temos em termos de informação um “Twitter” diferente, a única forma de possuirmos a mesma timeline seria seguirmos exatamente as mesmas pessoas, mas isto não existe. Cada um de nos segue diversas pessoas e muitos seguem as mesmas pessoas, são estes que conectam os diferentes “clusters” no caso o meu e o seu. Da mesma forma as demais pessoas de sua timeline seguem pessoas em comum e pessoas diferentes e isto é que é sensacional, pois permite o transito de informações entre diferentes clusters. Quando uma mesma informação é comum em diversos clusters ela em geral tem relevância suficiente para se tornar um trending topic, e quando ela é repetida freneticamente também consegue aumentar a chance de ser vista. No Twitter que é baseado em uma timeline, mesmo sendo assincrono, uma mensagem tuitada há uma hora por alguém que você segue provavelmente não será mais vista por você, a não ser que ele o cite na mensagem ou que ela seja repetida pelo mesmo emitente ou retuitada por outro que você siga. Um tema muito retuitado por muitas pessoas vira um “meme” e transcende os clusters a ponto de invadir diversos outros, atingindo um público incomensurável. No Brasil a mídia tem se pautada muito pelo Twitter, em geral as redações de diversos veículos ficam monitorando os trending tópics e vão atrás da história para fazer a matéria, neste ponto o meme já transcendeu a comunicação em rede, e foi arrebatado pelo mainstream.

O troll profissional que em geral possui um perfil fraco conhece esta dinâmica e provoca de forma agressiva, em geral com ofensas e crimes verbais diversos formadores de opinião que indignam-se e dão inicio ao meme esperado por ele. Transforma-lo em um meme, seja lá por que razão ou meio, é em linhas gerais o objetivo do troll, e denuncia-lo silenciosamente e comunicar aos seus peers de forma discreta é a melhor estratégia, um troll que não contamina, não se cria. Não alimente os trolls…

UPDATE:

  1. Aparentemente não ficou claro no texto, então é importante ressaltar que nem todo troll é fake, e nem todo fake é um troll.
  2. Na figura que representa os perfis fracos e fortes, apesar de ser uma estrutura visivelmente vertical, esta relação se da de forma horizontal, a perfeita representação gráfica ser daria de forma radial, só não a fiz assim por falta de tempo e habilidade técnica.

Este post foi publicado originalmente no Trezentos.

 

Mantras da Irracionalidade – Carros são poder

Na noite de sexta feira (25/02/11) um motorista atropelou intencionalmente dezenas de ciclistas que faziam uma manifestação pacífica em Porto Alegre. Ele simplesmente arrancou e foi jogando os ciclistas para o alto, um ato criminoso e hediondo. Quem lê não acredita que exista na sociedade dita civilizada tal monstro, mas infelizmente existem, e muitos! Mas se você ainda não acreditou ser possível tamanha loucura então assista aos vídeos abaixo, mas prepare-se, as imagens são fortes:

Não vou entrar no mérito e nem nos detalhes do caso, já tem muita gente falando a respeito, meu objetivo é desconstruir mais  mantras da irracionalidade (conceitos e valores que estão equivocados e que são repetidos como sendo a verdade além da verdade, subvertendo a nossa própria subjetividade).

Helton fez uma ótima reflexão sobre o caso de onde extraio algumas partes que servem de ponto de partida para nossa desconstrução:

[..]Mas eis que então se abate sobre nós o Martelo de Thor, personificado por um irresponsável e infelizmente típico representante

  • de uma classe sócio-econômica
  • de um modelo de comportamento
  • de um modelo de pensamento

que – e é assim… – tem PODER para oprimir e agredir.

E o que mais entristece é que esses modelos de comportamento e pensamento:

  • são conhecidos, mas não são questionados ou combatidos;
  • são, ao contrário, estimulados por uma série de forças sociais e econômicas;
  • têm esse estímulo ratificado cooperativamente pelo Governo, que deveria ser o primeiro órgão regulador a, em benefício da coletividade, combatê-lo.[..]

Helton segue ainda citando trechos do livro “Fé em Deus e Pé na tábua” do renomado sociólogo brasileiro Roberto da Matta, de onde tiro recortes que interessam à minha linha de raciocínio:

[..]No Brasil, o papel de motorista e seus veículos são lidos como emblemas de desigualdade. Há um contraste entre o gozo doato de dirigiu o prazer de estar ao volante, com uma total ignorância da responsabilidade civil deste ato no que diz respeito às suas consequências. Escapa aos motoristas qualquer conotação negativa do veículo, como sua potência e sua capacidade para produzir acidentes, danos e mortes.[..]

[..]Temos, então, por um lado, os motoristas (que enfiam o pé na tábua), que se pensam como tendo somente privilégios e direitos; e, por outro, os pedestres (englobados pela fé em Deus), vistos como subcidadãos cujo atributo é ter um conjunto de deveres ou obrigações. Neste sentido,  fomos tão longe em nosso descaso com qualquer compromisso com a igualdade como um dever (e um direito) de todos, que os motoristas têm o privilégio de ocupar as ruas usando-as como bem entenderem, assim como as calçadas e praças.[..]

As primeiras declarações do Delegado Gilberto Almeida Montenegro sobre o incidente com movimento “Massa Crítica” estavam completamente contaminadas com os “trojan intelectuais” que quero demonstrar.

[..]Faz a tua manifestação, mas não impede o fluxo de automóveis. Se tu impedes, dá confusão, dá baderna, dá acidente. Fica o alerta”, afirmou.[..]

[..]De acordo com o delegado, ainda não é possível afirmar que o motorista teve a intenção de atropelar o grupo de ciclistas. “Eu não sei o que aconteceu, preciso ouvir ele. Daí nós vamos ver se houve intenção”, afirmou Montenegro.[..]

Indignou-se? Muita gente na web ficou indignada, e com toda razão, o @setesete77 respondeu com precisão que bicicleta é veículo, e não atrapalha o trânsito, elas estavam sendo o trânsito. Mas infelizmente muita gente não entende isto, como o Delegado Montenegro, o “trojan intelectual” descrito por Roberto da Matta acima, há muito intronizou nestas mentes.

É nesta luta que o Massa Critica tem focado, o de mostrar que bicicleta também é veiculo, que tem tanto direito de uso das vias como os outros veículos. É difícil entender isto com clareza em um sistema de valores onde as pessoas são avaliadas por sua forma de consumo, pelo que ela aparenta ser. É a visão centrada no capital, a lógica do capital e do consumo que aprisiona e absorve o cidadão. Cidadão este que vive o mito de Sísifo, transitando cegamente entre trabalho, consumo e prazer, mas sempre dentro da ótica centrada no capital, onde o prazer está no ato de consumir, e o consumo é quase uma religião do deus Capital como idealizou Victor Lebow.

O @caouivador segue criticando as afirmativas do Delegado equivocado, e “ousou” comparar os direitos dos pedestres com os dos motoristas. Imagine se os motoristas podem esperar dois minutos para dobrarem a esquina e fugir dos “lentos” ciclistas…


Já o @massacriticaPOA foi preciso, foi no cerne da questão, foi exatamente no núcleo do “trojan intelectual”, questiona justamente a prática jurídica envolvendo acidentes de carro, sempre são registrados como acidente, nunca os motoristas são punidos criminalmente como deveriam.

Segundo o Código Brasileiro de Trânsito (CBT), bicicletas e pedestres devem ter prioridade sobre os carros. Não respeitar esta prioridade é considerado infração gravíssima, mas isto não é fiscalizado pelo poder público e nunca um motorista fora multado por ameaçar um pedestre ou um ciclista. O mesmo poder público que não coíbe a prática da invasão dos espaços dos pedestres pelos “poderosos” motoristas, e o mesmo poder que possui representantes como o Delegado Montenegro e outros com a mesma ótica centrada no capital e no poder, e não no coletivo e no cidadão comum.

Por conta das afirmativas do Delegado Montenegro e pela insistência do PIG em minimizar a culpa do atropelador, rapidamente surgiu a tag #montenegrofacts e o avatar de protesto abaixo. Estas respostas rápidas nos leva a perceber que a Internet esta cada vez mais parecida com uma teia de aranha, onde qualquer movimento em uma de suas bordas, alerta todos os pontos da rede, estamos todos conectados!

Embora muitos neguem, ou até não percebam, praticamente todos temos nossa subjetividade manipulada, seja por dogmas, princípios e valores que foram introjetados em nossa cultura ou por algumas técnicas manipulatórias usadas pela mídia de massa, vulgo PIG. Precisamos questionar nossas convicções, perguntar a elas se elas são mesmo nossas! Para isto é preciso que você desconstrua-as em suas mentes e tente enxergar as coisas por uma outra ótica. Pense por exemplo como seria um mundo onde todos tivessem o mesmo direito de ir e vir, independente do veículo que usam, uma utopia dirá você…

Douglas Rushkoff é meu autor predileto na prática da desconstrução do pensamento. Em seu livro Life Inc, ele começa contando uma história simples mas emblemática que é mais ou menos assim:

Era véspera de Natal e ele estava em frente ao seu apartamento colocando o lixo para fora quando um homem o assaltou. Mais tarde ele postou uma mensagem em um grupo de discussão do seu bairro, para que os vizinhos tomassem cuidado para não serem vitimas de assalto também. As duas primeiras respostas que ele recebeu foram de pessoas furiosas, criticando-o por ter postado aquilo, pois esta notícia poderia afetar o valor de seus imóveis. Rushkoff ficou perplexo com o fato das pessoas darem mais importância ao valor de mercado de suas casas do que ao lado humano de sua vizinhança.

São observações óbvias do cotidiano distorcido como estas, que nos fazem perceber que não somos donos de nossas subjetividades, tomá-las de volta exige que nos afastemos do ciclo Sísifico do consumo e paremos para pensar nos verdadeiros valores da vida. Obviamente não interessa ao “establishment” que façamos esta reflexão, senão poderemos descobrir que os verdadeiros valores da vida não custam dinheiro algum.

Já parou para pensar que o filme Matrix pode não ter sido uma ficção construida em torno da tese da singularidade tecnológica, e sim uma fábula debochando deste sistema? Aliás não precisamos ficar presos só neste exemplo, Aldous Huxley previu em seu livro distópico Admirável Mundo Novo, escrito em 1932, uma sociedade perfeita, com castas, sem vínculos afetivos e familiares, onde seus membros dedicavam-se plenamente ao prazer e ao consumo e onde as sociedades tradicionais eram vistas como “selvagens”.

Para que possamos começar a entender porque nossa sociedade dá tratamento privilegiado aos crimes automotivos e aos automóveis, vamos avaliar a base desta questão.

Observe o tamanho e o poder da Indústria que orbita em torno do automóvel. São petrolíferas, metalúrgicas, montadoras e todo um conjunto de atividades econômicas que circundam estas potências de Capital Intensivo. Esta Indústria emprega milhões de pessoas e possuem uma participação significativa no PIB dos países onde estão instaladas. São vistas pela ótica capitalista como de extrema importância para as nações onde estão instaladas, mesmo que os custos sócio ambientais sejam maiores, estes curiosamente não fazem parte da avaliação.

Por conta desta cadeia industrial já tivemos guerras, e todo tipo de jogo do poder para subjugar tanto o consumidor como os produtores de matéria prima, o primeiro que não deve enxergar o verdadeiro custo do seu automóvel e o segundo que não deve enxergar a verdadeira importância e custo social de suas matérias primas. Transformar os produtores de matéria prima em consumidores do produto acabado é o objetivo  primordial de qualquer indústria. Quanto mais se consome, menos se pensa, e o capital concentra-se no meio, no intermediador das pontas, curiosamente oposto à Internet onde seus valores estão nas pontas.

Neste sistema, a publicidade hoje trabalha na percepção, no fazer sentido, na esfera do parecer, não se vende mais um produto com foco em seus atributos e qualidades e sim nas supostas emoções e fantasias que este produto poderá proporcionar. Indústrias não fazem publicidade para mostrar as vantagens de andar a pé ou de bicicleta da mesma forma, o fazem da forma antiga, focando nas qualidades e não na fantasia e emoções.

Na construção distorcida da realidade por conta de tudo que falei acima, possuir um carro dá ao proprietário a percepção de poder, de status, leva ele para o mundo maravilhoso da fantasia, mesmo que ele seja dono apenas de uma mínima parcela, o Banco que financiou seja o verdadeiro dono do “mimo”.  Este tão almejado símbolo de status faz com que muitos “possuam” carros que muitas vezes custem mais que suas próprias casas! Não podemos esquecer que os bancos fazem parte deste sistema, e que são eles na verdade o maior proprietário de automóveis.

Todo este interesse e poder agora desnudados nos fazem perceber o quanto seria difícil admitir que um carro seja uma arma e que em caso de acidente o motorista seja considerado um criminoso tal qual se tivesse portando-a. Se assim fosse não seria possível vender a fantasia de possuir um carro. Sendo este uma arma, muitos iriam desistir de comprar um carro por conta dos riscos de dirigi-lo. E por fim para dar uma sensação de justiça neste sistema perverso de valores, temos a indústria da multa que terceiriza a responsabilidade do motorista, fazendo-o crer que se não dirigir alcoolizado ou rápido demais não estaria pondo em risco a vida de ninguém…

Guerra ao crime na sociedade do espetáculo

Eu como todo Carioca sou vitima do crime, somos todos prisioneiros numa das mais lindas cidades do Mundo e paradoxalmente uma das mais violentas. Esta violência tem altos e baixos, e por muito anos ela ficou restrita às áreas mais pobres da cidade, mas as áreas pobres não ficaram restritas à periferia da cidade, hoje o Rio de Janeiro tem mais de 1000 favelas, e basicamente não se anda por mais de vinte minutos na cidade sem avistar uma, a não ser que você vá de metrô, ou esteja atravessando a ponte Rio Niterói.

Seguindo esta linha de raciocínio é fácil culpar as favelas por tudo isto, o inferno sempre são os outros já dizia Sartre, Maquiavel no seu estudo “O Principe” também ressalta que é sempre bom termos a mão alguem para colocar a culpa, e desviar a atenção de nos mesmos.  Na linha de Sartre pensa a sociedade hermética, aquela que vive no mundo fantástico da “umbigolândia”, a mesma que no caso recente da guerra ao crime no complexo do Alemão torceu por uma chacina, para muitos seria mais fácil bombardear logo a favela do que perder tempo tentando prender bandido.

Este raciocínio imediatista e raso esta repleto de emoção ou de ignorância, existe dentro de nós uma forte tendência ao revanchismo e à prática da Lei de Talião do Código de Hamurabi: Olho por olho, dente por dente. A emoção subjuga a razão, e uma verdadeira caça às bruxas ganha corpo. Com picos de racionalidade muitos começam a desconstruir o mecanismo da violência e vão encontrando “culpados” por todos os lados, como se neste caso houvesse apenas um culpado. Depois de atacarem os traficantes varejistas e os pobres começam a atacar os consumidores das drogas, estão percorrendo o caminho da descontrução da violência.

Pobre sociedade hermética, perdida dentro de seu limitado espaço ideológico aguardando o parecer do próximo comentarista e especialista na TV para fazer um “upgrade” na sua subjetividade e então repetirem os mantras da irracionalidade. Seria cretino de minha parte não reconhecer que a sociedade hermética esta dentro do seu processo cognitivo, mas que este está severamente contaminado com preconceitos, egoísmo e muita, mas muita ignorância.

Esta é a sociedade que representa o público médio das TVs, uma média entre a completa estupidez e nivel médio escolar, nada além disto, um grupo social que não conseguem imaginar sistemas mais complexos do que o maniqueismo, a luta do bem contra o mau, do pobre contra o rico, dentro de uma diversidade que não supera um par. É a sociedade do espetáculo, de que a vida é um consumo, um espetáculo, a sociedade dos zoológicos humanos nas TVs, da espetacularização da desgraça alheia, da criminalização da pobreza e dos movimentos sociais.

É uma sociedade vazia e que no seu espaço ideológico clama por maniqueismo, aqueles que amam ver a luta do bem contra o mau, e acreditam que o bem é bem porque é bem e o mau porque é mau, desconhecem a complexidade dos fatores que construíram estes atores na sociedade.

É uma sociedade dita civilizada, trabalham, consomem, trabalham, consomem, num ciclo interminável e cada vez mais insano. Não perdem tempo com a aquisição de novos conhecimentos fora do seu escopo profissional e muito menos com relações pessoais fora de seu ciclo de networking. Trabalham não esta vendo? Estão construindo o País! Estão girando a roda da economia como hamsters na gaiola, estão cada vez mais egoístas, o consumo os torna assim, nada que não estiver dentro do seu espaço sócio ideológico tem importância, principalmente aqueles chatos e teóricos fracassados que pregam um novo paradigma ideológico. Idolatram grandes empreendedores e ignoram grandes pensadores, sonham com um futuro farto, onde poderão adquirir todos os seus mimos, e pouca importância dão a construção do seu eu, afinal o importante é ter, ou melhor parecer, ser é apenas um detalhe sem valor.

Em linhas gerais nossa sociedade esta em um acelerado processo de imbecilização, quanto menos pensarem e mais consumirem e se consumirem, melhor para os grandes empreendedores que sabem que estes imbecis nunca chegarão além do fantasioso mundo do ter, mesmo sonhando em ganhar na loteria e por epifania atingir a tão almejada posição, quem sabe não participar do próximo reality show? São escravos dentro do próprio sistema que ajudam a construir e correm atrás de um futuro artificial e egoista como o jumento corre atrás da cenoura presa à sua cabeça.

Não é surpreendente agora entender porque queriam ver um espetáculo na TV, o Tropa de Elite 3 como muitos falaram. Lutas armadas com grandes baixas nos caras maus, mesmo que alguns inocentes fossem mortos, afinal eram pobres e não fariam muita falta à roda da economia, assim devem pensar eles… Sorte que emergiu a Voz da Comunidade, mostrando à esta gente que na favela tem gente de valor, chegaram como uma semente de esperança e foram logo acolhidos pela grande mídia, se tornaram parte do espetáculo, uma parte boa, que trouxe um sopro de esperança.

Membros da sociedade hermética são incapazes de entender uma diversidade maior do que dois e jamais entenderiam a complexa ação que deve ser desenrolada para realmente resolver o problema do crime organizado, uma ação com diversas forças em diversas camadas que devem ser coordenadas para um sucesso provável. Não são apenas as forças que relacionam fornecedores e consumidores, mas também as que facilitam ambos, as que constroem os atores do bem e do mau, os beneficiados em todos os níveis, é um trabalho intenso, mas que não dará muito espetáculo, e principalmente porque poderá mexer no “establishment” de poderes e poderosos que poderão sair prejudicados. Por estas e por outras, optam pelo espetáculo, pela imbecilização da sociedade, para que esta não venham clamar por uma solução efetiva para o crime organizado, que vá além da militarização das favelas pelas chamadas UPPs.