Carta aberta aos livres

Você ai com a máscara no queixo, com nariz de fora ou até sem máscara, entendo sua liberdade individual, mas estamos numa pandemia, onde as liberdades coletivas são mais importante.

A começar pela vida, não estamos de mimimi e nem se trata de uma gripezinha, mais de três mil liberdades individuais estão sendo perdidas todos os dias. Muitas delas como você, usufruíram da liberdade individual de não se proteger, e foram infelizes ao pagar com as próprias vidas, mas outros não tiveram escolhas, foram vitimas da sua liberdade individual, que não sabendo ser assintomático, ou até sabendo estar doente, contaminou aquele com quem interagiu.

É a pobre coitada que trabalha no caixa do supermercado que se contaminou de você que já não aguentava mais usar a máscara e a colocou no queijo e tabulou um papo animado com a sua próxima vítima.

Mas pode ser também a liberdade perdida do papai, da mamãe, tios ou avós, que pagaram com a vida, o seu direito de viver! Que mal tinha em tomar uma cervejinha com os amigos no boteco não é verdade?

Aquela balada clandestina, onde você beijou geral, e agora está ai entubado, jovem, e não pensou que receberia uma altíssima carga viral no beijo da morte daquela gata sensacional.

Alias sorte daquele que consegue ser entubado, mesmo que 80% dos que são entubados morrem de Covid, conseguir uma vaga na UTI está se tornando impossível, uma vez que os hospitais públicos e privados estão no limite.

Alias existe um sério problema aqui, pois hospitais e UTIs não funcionam sozinhos, ainda não chegamos a este nível de automação, existem humanos como você, que estão literalmente presos por conta da sua liberdade. São médicos, enfermeiros e toda equipe de limpeza e manutenção dos hospitais que estão com suas liberdades suspensas, porque você não pôde abrir mão da sua liberdade nem por um momento.

São humanos que tem família, amigos e amam as vida assim como você, mas estão na frente desta luta, como heróis anônimos, abrindo mão de estarem em casa com as pessoas que ama, para cuidar até de você, que pegou Covid na balada. Se você esta estressado com isso tudo, imagine eles? Que passam o dia todo no limite, expondo-se o tempo todo ao vírus, tentando salvar mais uma vida, e tendo de se conformar com aquelas que não pode salvar. Pense que eles não irão poder chegar em casa e abraçar a família, beijar os pais e filhos e cônjuges, pois estão sempre na iminência de estarem contaminados.

São pessoas como você, só que não descansam e nem desfrutam de um minuto de prazer, estão no limite, muitos adoecem e até morrem, na luta pela sobrevivência de pessoas como você.

Já estamos ha mais de um ano nesta luta, consegue imaginar-se, mesmo que por um segundo sendo um destes heróis?

Pois é, e ainda temos de implorar para que os governos tomem uma providência, aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, juntaram feriados e serão dez dias de lockdown, “nas coxas”, porque fora do município do Rio, bares e restaurantes estarão abertos, mas até mesmo aqui, academias de ginástica e igrejas abrirão ao público. Nem para fazer um lockdown decente nossos governantes prestam. Estes lockdowns “Nutela”, não resolvem o problema e ainda ajudam na construção da narrativa de que lockdown não funciona. Funciona sim, se bem feito, Araraquara que nos diga.

A mídia, de forma totalmente irresponsável chamou o lockdown do Rio, de super feriado, e pessoas que amam suas liberdades individuais caíram nas estradas, lotando cidades vizinhas, espalhando o vírus de forma ainda mais eficiente.

Não sei onde isso vai parar, mas se continuar assim, é sentar e esperar até a hora em que não existam mais brasileiros…