ACTA e o tripé do atraso

Os neoludistas estão lutando pela manutenção dos valores “analógicos”, a industria do copyright briga para ampliar seu poder e a midia tenta a todo custo prorrogar a sua morte já anunciada. Este três grupos atacam compulsivamente seu maior inimigo, que é ao mesmo tempo a maior invenção de todos os tempos: a Internet. Tudo por causa de uma ambição miope que se resume em manter-se na “zona de conforto”.

Os neoludistas não significam uma organização estruturada para manter os “velhos valores” em detrimento da tecnologia, é na verdade um conjunto não organizado de pessoas (políticos, juristas, empresários e até mesmo cidadãos comuns)  que possuem um alinhamento ideológico neoludista, e que exercem sua influência e são influenciados com base na ignorância tecnológica intencional ou não. A indústria do copyright vem compulsivamente atirando no próprio pé desde o momento da popularização da Internet, transformando seus consumidores em vitimas do próprio consumo.  Na tentativa de manter seu super ultra lucrativo modelo de negócios, a indústria do copyright procura posicionar-se acima de qualquer mortal estendendo seus tentáculos além dos direitos fundamentais e civis. Enquanto morre de dentro para fora, a midia vem tentando sobreviver num momento em que o jornalismo atinge sua melhor fase, é a implosão anunciada. Esta para se manter viva alinha-se com a indústria do copyright , fornecendo munição para os neoludistas atacarem os conectados que já são maioria no Brasil (já que em 2009 eram 45%), isto num ciclo interminável a ponto de não se conseguir saber mais onde tudo começou ou até mesmo quem influencia quem.

Os neoludistas, a indústria do copyright e a mídia formam o tripé do atraso, uma estrutura poderosa que sustenta o atraso que assola principalmente o terceiro mundo.

Pela ótica dos conectados é como se o tripé do atraso fosse o nobre decadente, que ainda se sente provido de poder e credibilidade com base em velhos dogmas e valores que aos poucos vão sendo suplantados, o resultado disto é uma exposição caricata de um ícone do passado. O tripé do atraso recusa-se a adaptar-se aos novos valores, acredita ainda ter poder para muda-los ou ignorá-los, propala um discurso patético que começa a fazer sentido somente para mentes conservadoras do próprio tripé, encerrando o discurso dentro do espaço do emissor retro alimentando-o. O tripé do atraso ainda enxerga as estruturas verticalmente, acredita que eles é quem produzem cultura, e não o povo. Não fazem a menor idéia do que seja a inteligência coletiva, que vem constantemente desmascarando as tentativas manipulatórias da mídia. Ainda pensam que existe alguém por trás disto, e não uma multidão como de fato é. O tripé do atraso ainda enxerga as velhas formas de comunicação, um emissor e muitos receptores, ignoram a comunicação em rede, obviamente porque não enxergam estruturas verticais e ainda buscam lideranças em tudo que combatem.

Na prática não podemos subestimar o tripé do atraso, eles são poderosos e não estão tão por fora da cultura digital como imaginamos, a Convenção de Budapeste, o AI5 digital e o ACTA [1],[2],[3] e [4] são indícios de que eles estão sendo assessorados por quem sabe. Em linhas gerais querem criminalizar a Internet como conhecemos, transformando-nos em criminosos do dia para a noite. Legislações deste tipo darão um tremendo aborrecimento e trarão um terrível atraso e um nível insuportável de controle.

O Ciberativismo da sociedade conectada no Brasil conseguiu paralisar a tramitação do AI5 digital, o Itamarati já se posicionou que não assina convenções de que não participa de sua elaboração, apesar disto, a Argentina assinou a convenção de Budapeste, mas ainda falta a decisão tramitar no congresso de lá, torceremos para que os ciberativistas Argentinos saibam se mobilizar para bloquear isto.

O caráter secreto do ACTA, assim como foi com o AI5 digital no inicio, é um dos fatores mais preocupantes. Pelo que foi divulgado e vazado anteriormente, o ACTA pretende justamente mudar os valores citados acima para alegria dos neoludistas, fazendo voltar tudo como era antes, a figura do intermediário, o controle da produção e a volta da economia da escassez, uma vez que as maliciosas cláusulas do ACTA irão literalmente acabar com o remix, com a criação, e principalmente com a liberdade na rede, senão com a própria rede.

Somos uma das nações mais promissoras em termos de cultura digital, temos um povo criativo, e livres seremos imbativeis, imagina unidos com nossos irmãos latinos, alias já deveríamos ter feito esta união há muito tempo. Temos três trunfos em andamento que temos de participar, pois o Marco Civil servirá de barreira contra o ACTA (temos de corrigir o que precisa ser corrigido), juntamente com a Reforma da Lei de Direito Autoral, e por fim o Plano nacional de Banda larga irá proporcionar uma intensa aceleração da inclusão e alfabetização digital, facilitando ainda mais nossa resistência.

Formar uma rede popular de resistência ao ACTA esta sendo um grande desafio, esta rede terá de ser muito grande e terá de atravessar fronteiras, acredito que a partir deste momento esta sendo formada a rede mundial de ciberativismo contra o ACTA, vamos mostrar mais uma vez que a globalização social foi muito mais efetiva do que a globalização econômica, e que precisamos cada vez menos de intermediários.  Você pode não estar percebendo ainda, mas estamos caminhando pelo tabuleiro, onde a jogada final irá colocar em xeque o modelo econômico atual, os sinais já estão por ai, o momento agora é de leitura e debate, vamos entender o que é o ACTA, e agir com Sun Tzu fala em seu livro a arte da guerra: Se você conhecer a si mesmo e a seu inimigo nunca perderá a guerra. A corrida já começou, é a corrida do conhecimento, esta esperando o que?

Este post é uma resposta tardia à convocação para a blogagem coletiva contra o ACTA.

Créditos das fotos

Seu site por R$ 199,90

Certo dia, após uma breve leitura dos classificado de Informática, um determinado empresário decide que esta na hora de ter sua presença na internet, e liga para um anuncio que lhe chamou a atenção: “Seu site por R$ 199,90

Empresário: – Alô ?
Empresário: – De onde fala?
Anunciante: – Ô tio, é o Marcão, o webdesigner.
Empresário: – Marcão, eu vi seu anuncio que você promove empresas na Internet.
Anunciante: – Ô tiozão é isso mesmo, meu trabalho é bom e barato. Faço um site irado e ainda divulgo ele pela web.
Empresário: – E tudo isto por R$ 199,90?
Anunciante: – Tio, este é o preço justo, mais que isto é um roubo. Estas empresas cobram uma grana porque são mercenárias, meu serviço é irado.
Empresário: – Mas vai ficar bom?
Anunciante: – Tio, vamos usar tudo que é novidade: AJAX, XHTML, Flash, CSS e ainda vamo botá” um AdSensezinho.
Empresário: – E vão divulgar?
Anunciante: – Tio, webmarketing é nois! Tenho 10 milhões de e-mails cadastrados, a gente avisa a todo mudo do seu site. Vai ser show!
Empresário: – Ok, tá fechado.

Empresário pensa: – AJAX para que? Será que precisa limpar o monitor?

Diariamente, empresários mal informados são vitimas destes amadores. Ferramentas de publicação na internet são cada dia mais interativas e fáceis de usar, levando ao mercado uma enxurrada de curiosos despreparados.

Para o mercado profissional isto não é novidade, me lembro dos idos tempos de formação do PROMIT em 96, que este problema já existia. Alias o amadorismo é um problema recorrente em nossa sociedade, já nos habituamos à informalidade, temos amadores em basicamente todas as áreas. Com certeza ninguém se submeteria à uma cirurgia com um médico amador, mas constroem casas com base no know how prático de profissionais de construção, ou consertam seus carros com o quebra galho da esquina que também faz manutenção no aquecedor de gás.

Serviços amadores podem dar certo, o paciente pode sobreviver, a casa pode não cair, o carro e o aquecedor podem não colocar vidas em risco, mas não deixa de ser uma roleta russa. Para alguns um risco calculado, para a maioria pura ignorância.

Por que na hora da presença na internet isto tem de ser diferente? Alguns podem argumentar que muitos clientes simplesmente não necessitam de algo além do “site a R$ 199,90″. Pode até ser, mas estamos vivendo cada vez mais conectados, e os tempos do “web site corporativo estático” já eram. Hoje é preciso participar, interagir e relacionar. Um site estático esta condenado à invisibilidade digital, se não possui valor agregado e não presta nenhum serviço à seus visitantes então é um natimorto.

Ainda é comum as empresas delegarem assuntos de internet para seus departamentos de TI, mas existe uma tendência crescente de empresas que passaram seus assuntos de internet à seus departamentos de marketing. É preciso encarar um projeto de internet como um investimento, que irá proporcionar um retorno (ROI) de 300% em um ano, segundo a Closed Loop Marketing. Obviamente este ROI não é uma afirmativa, e sim uma probabilidade que tem como componentes mais importantes quem contrata e quem é contratado. Internet hoje em dia é assunto do departamento de marketing das corporações, e deve ser tratado com empresas especializadas em marketing digital, desta forma um ROI de 300% torna-se bem plausível.

Segundo a pesquisa “Business to business survey 2007″ da Enquiro, 83% das empresas usam a Internet para localizar potenciais fornecedores. Um site bem construído é “achavel”, “usável” e “acessível”, para isto é necessário uma equipe especializada e não mais um profissional que sozinho produza todo resultado. Gerente de projetos, Arquiteto de informação, Webdesigner com enfase em webstandards, webdeveloper com ênfase em aplicações client e server side, Gerente de Marketing digital com ênfase em SEO, além de outros especialistas formam uma equipe para desenvolver um projeto de internet de resultados, e você ainda acha que dá para fazer isto tudo à R$ 199,90 ?

A Campus Party que todo mundo vê, mas poucos enxergam

Decidi fazer este post como um exercício, venho enfrentando um momento estranho, parece que perdi momentâneamente minha habilidade com a escrita, talvez seja porque tenho convivido com dinossauros mais do que o tolerável, tenho participado de reuniões onde as pessoas possuem pastas com email impresso!

Para tentar resgatar o meu verdadeiro eu, decidi me internar na Campus Party 2010. Fui convidado para uma palestra no Campus Forum na terça (26/01) e aproveitei para ficar até sábado (30/01), foi ótimo, revi gente conectada, gente do meu mundo e pude voltar a sentir o sabor da evolução, o frescor da brisa tecnológica e o calor humano de uma rede de pessoas. Foram momentos de extremo prazer, conversas produtivas, palestras, planos e celebrações, tudo girando em torno de um só tema, a sociedade conectada e o futuro do Brasil.

O que todo mundo vê e poucos enxergam?

Esta foi a terceira edição da Campus Party, e cada edição possui características marcantes, esta por exemplo estava muito focada em cibercultura e aspectos legais e operacionais da Internet. Mas um pequeno detalhes estava o tempo todo pulando na cara de todo mundo, seja nos slogans, nas falas, no material, nos banners e no site oficial: A Internet é uma rede de pessoas.


Bom se esta frase não tem nenhum significado a mais para você, é porque você é um dos que viu e não enxergou, mas não se preocupe, muitos não enxergaram. O fato de afirmar que a Internet é uma rede de pessoas contraria o mantra midiatico de que a Internet é uma rede de computadores, a Internet já deixou de ser uma rede de computadores há quase 10 anos.

A afirmativa de que a Internet é uma rede de pessoas subverte o conceito anterior de que a internet é uma rede de computadores, assim como hoje estamos na era da participação que subverteu o conceito da era da informação, mas curiosamente ambos os conceitos ultrapassados são ainda utilizados pela nossa jurássica mídia.

Em outras palavras, a questão tecnológica da Internet já se naturalizou, de forma que é naturalmente ignorada pelo o usuário de tal forma que este já enxerga diretamente a parte social da rede. Nem mesmo a velha frase que diz que a Internet é uma rede de pessoas mediada por computador é mais uma afirmativa indiscutível, com o crescimento da ubiquidade do acesso fica difícil definir o que é de fato computador, um celular é um computador? Neste caso a rede poderia ser definida como uma rede de pessoas mediada por dispositivos conectáveis, mesmo assim esta afirmativa, apesar de correta, coloca uma barreira no seu entendimento, em um momento que a invisibilidade da tecnologia se faz necessária para dar valor ao aspecto humano da rede.

Há dois anos fiz uma análise da pirâmide da pirâmide de Maslow aplicada as mídias sociais, que orgulhosamente apelido de pirâmide de Caribé ou hierarquia das necessidades em mídias sociais. Nesta analise eu estabeleço que os dois primeiros degraus da pirâmide são o conhecimento tecnológico e o acesso, mas se olharmos pela ótica que venho tecendo acima, podemos dizer que na verdade a pirâmide esta se transformando em um losango, uma vez que estes dois primeiros degraus estão ficando cada dia mais invisíveis, o que de certa forma acelera a tão desejada “alfabetização digital”.

Não tirando a questão tecnológica da Campus Party, afinal é sim de certa forma a tecnologia em seus diferentes niveis de visibilidade que as pessoas buscam encontrar no evento, mas principalmente as pessoas buscam encontrar pessoas, a Campus Party é na verdade uma grande rede social ao vivo de pessoas conectadas, uma tangibilização da cauda longa, um encontro de muitas tribos que habitam o ciberespaço e este planeta chamado terra, pense nisto.

A miopia universitária

Pouco antes da Campus Party, conversando com um amigo, o Ronald Stresser, ele comentou que estava pensando em fazer um curso mais específico de mídias sociais, e respondi quase de imediato que a Campus Party era o melhor curso de mídias sociais que ele poderia fazer, foi uma resposta daquelas “bate pronto” e depois comecei a pensar no que falei e vi que havia acertado na mosca.

Na Campus Party vivencia-se a cultura digital o tempo todo, é um paraiso para etnografos, profissionais e pesquisadores de comunicação e alias qualquer área profissional que de alguma forma envolva a Internet. Neste ano tivemos dezenas de palestras, com temas diversos e riquissimos, encontro dos cerebros da cibercultura brasileira, dos ativistas, legisladores e parlamentares da liberdade na rede, visita de presidenciaveis, debates de software livre, jogos, midias sociais, musica, video, multimidia, robotica, casemod e um monte de outras coisas. Na Campus Party você faz parte do contexto e não apenas lê sobre ele, o aspecto informal do evento reflete a informalidade e a liberdade da rede, onde você vai alem do livro, pode interagir com os autores, e isto não tem preço.

Mas onde estão as caravanas organizadas pelas universidades? Imagine o valor para uma faculdade de Direito em participar dos debates a cerca do Marco Civil, assistir à uma palestra do Lessig e de quebra ainda conversar com varios juristas, parlamentares, e representantes da sociedade civil que se fizeram presentes? Imagine o valor para uma faculdade de Comunicação participar de debates sobre cibercultura com os maiores estudiosos da área no Brasil? Ou quem sabe as faculdades de Pedagogia participarem da discussão a cerca do novo modelo de Universidade levantado pela pesquisadora Ivana Bentes?

Poderia enumerar dezenas de outros casos, eu nem falei da área técnica, mas foi de propósito, mas pergunto: Afinal porque as universidades ainda sofrem do mal de Sísifo, e continuam seguindo o mesmo caminho secular ao invés de apresentar novas propostas e desafios?

Cluetrain 10 anos depois

Este artigo é uma tradução livre do artigo “The Clue Train 10 years on” de Karl long, com a devida autorização do autor.

O manifesto cluetrain, um livro concebido 10 anos atrás, previu e descreveu muitas das forças que foram disruptivas na economia, ativadas através da web 2.0.

Uma poderosa conversação global começou. Através da Internet, pessoas estão descobrindo e inventando novas maneiras de compartilhar rapidamente conhecimento relevante. Como um resultado direto, mercados estão ficando mais espertos-e mais espertos que a maioria das empresas.

O ponto “mercados são conversações” sempre foi verdadeiro, mas o impacto desta afirmação foi realizada bem lentamente pelos negócios através dos últimos 10 anos. Fantásticamente, os conselhos e os insights deste livro ainda continuam válidos, embora o tom seja um pouco polêmico neste ponto, entretanto, ninguém mais precisa ser convencido a cerca das verdades traçadas neste livro.

Houve recentemente um evento em New York para discutir a relevância do manifesto cluetrain 10 anos, que foi blogado ao vivo por Josh Bernoff da Forrester. Nesta conferência Doc Searls usou poucas palavras para falar de publicidade, o que acredito não ser nenhuma novidade, mas pensei em como as empresas e agências ainda estão viciados nos formatos incrementalmente ineficientes e decadentes, e que ainda não acreditam no que Doc falou:

  1. A publicidade como conhecemos ira acabar.
  2. Pessoas arrebanhadas em jardins emparedados e que acham que isto as colocam em uma sociedade, verão como isto é um absurdo. (Facebook, Orkut são exemplos.)
  3. Nos iremos constatar que os mais importantes produtores são aquelas que costumamos chamar de consumidores.
  4. O valor da cadeia será substituído pelo valor da constelação. (muitas conexões).
  5. “Qual o seu modelo de negócios?” não será mais a pergunta para tudo. (Qual o modelo de negócios para suas crianças?)
  6. Nos iremos fazer dinheiro maximizando o “efeito porque”.(”Efeito porque” é o que acontece quando você faz mais dinheiro porque há alguma coisa mais com ele) Ex: Pesquisar e blogar.
  7. Nos teremos a habilidade de gerenciar as empresas da mesma forma como elas nos gerenciam hoje. (Acordos entre empresas e consumidores não serão mais favoráveis às empresas.) Na Escola de Direito de Harvard eles chamam isto de VRM – Vendor Relationship Management, onde Doc Searls esta trabalhando no projeto VRM.
  8. Nos iremos casar a web viva com o valor da constelação. (A web viva não é apenas sobre estrelas. Relacionamentos de todos com todos.)

No caso da publicidade em redes sociais, dê uma lida no artigo da Business Week sobre a eficiência da publicidade em redes sociais.

Profissionais de marketing falam que pelo menos 4 em 10.000 pessoas que visualizam suas campanhas em sites de redes sociais clicam nelas.

Voltando ao tema “mercados são conversações” seguramente na pior das hipótese é uma publicidade falsa, sem autenticidade, monólogo, porque empresas tem pavor de manter uma conversação, é isto que as pessoas percebem? O que elas percebem? Provavelmente o volume de publicidade, será que a melhor destas campanhas pode provocar ao menos uma centelha de conversação?

Então me diga que mecanismos a sua agência de propaganda proporciona para ajudar a “continuar a conversação” ?

Fonte: The Clue Train 10 years on at ExperienceCurve

O marketing de hoje, de amanhã e depois de amanhã

Como faço questão de não esconder, sou um leitor voraz, daqueles que esta sempre carregando um livro na pasta, e tem pelo menos dois na mesa de cabeceira, alem é claro, de centenas na estante. Este livro sobre o qual pretendo falar aqui é diferente, não me custou literalmente nada, e é um dos melhores livros sobre marketing emergente que li em português até então, trata-se do “best downloaded” Marketing depois de amanhã, do Ricardo Cavallini.

Cavallini é um cara que sabe o que fala, o livro explica de forma quase didática os temas emergentes do marketing, do novo paradigma da comunicação, é uma habilidade e tanto e uma prova de conhecimento. Einstein ja falava que uma forma de testar seu conhecimento sobre qualquer coisa é tentar ensina-la para a sua avó, acredito que a avó de Cavallini ja esteja entendendo de marketing e saiba diferenciar um viral de um buzz, ou que a midia de massa esteja em queda por conta dos prosumers que foram preconizados no Manifesto Clue train, é claro.

Gosto do jeito de escrever do Ricardo, descontraido, claro e sem muitos rodeios, mas sem deixar de ser bem fundamentado. O livro é um verdadeiro guia para diversos públicos:

  • Para os estudantes de comunicação para conhecerem um pouco além do que usualmente aprendem nas faculdades, algumas até explicam alguma coisa, mas se bobear formam “recém obsoletos”;
  • Aos profissionais experientes para poderem se reciclar e não perderem o equilibrio quando puxarem a escada que os sustenta no topo da cadeia da comunicação;
  • Aos curiosos para saberem um pouco mais sobre tudo que nos cerca em termos de marketing;
  • Aos empreendedores para descobrirem novas formas de ganhar dinheiro;
  • E finalmente aos avessos à publicidade para saberem o que mais devem evitar para não serem incomodados, se bem que como Cavallini diz no livro, o marketing de interrupção vem em franca decadência.

O livro, prefaciado por Washington Olivetto, é dividido em dez capitulos, começando por uma panorâmica atual, uma breve olhada no contexto da internet e em seguida levanta voo em direção a coisas muito interessantes como TV Digital, Advergaming, Mobile, Dispositivos de conexão ( a internet das coisas), novos displays, micropagamentos e finalmente novas possibilidades. Para quem gosta do assunto é um daqueles livros para se ler em um fim de semana chuvoso, na tela do computador enquanto os novos displays ainda não estão acessíveis. Não tem porquê não ler, o livro é gratuito e vale cada byte consumido em seu download.

Mainstream x mystream e o cauda longa da comunicação

A dicotomia nova x velha midia esta tomando ares maniqueistas, e o pior, é uma comparação que não devia nem existir, é como comparar agua e óleo. A velha midia com seu estilo tradicional e corporativo acusa a nova mídia de amadorismo, e esta compara a velha midia com os dinossauros, e por ai segue um improdutivo desenrolar de alfinetadas. Enquanto a discussão levanta poeira, um importante exercício que citei no meu último post deixa de ser feito: “Temos de correr o risco de enxergar o que não queremos ver, e com isto ganhar o precioso tempo hábil para nos reconfigurarmos e seguirmos o trem da evolução, para não sermos pegos de surpresa e sermos atropelados por ele.

É preciso levar em consideração que uma grande mudança nas relações pessoais e econômicas foi provocada pela internet. Esta mudança foi sistematizada por Chris Anderson, em seu best seller “A Cauda Longa“. A internet possibilitou uma capilaridade nunca antes vista, atingindo nichos renegados e muitas vezes totalmente desconhecidos. A principio o estudo de Anderson provocou surpresa, mostrando a todos que a cauda longa é maior do que o mainstream, e engorda cada vez mais por conta daqueles que viviam no mainstream e agora podem se juntar às suas tribos. É preciso levar em conta que a imprensa tradicional esta focando no mainstream, e que a imprensa social na cauda longa.

Existe um outro elemento importante, que é a informação, abundante no ciberespaço, é o catalizador da evolução. O crowdsourcing é a personificação desta evolução. O cidadão conectado tem pressa, muita pressa, a instantaneidade é o resultado, ele quer saber agora, o que acontece agora, quer interagir com a noticia. O Jornalismo cidadão é visto como ruído pelo público mainstream, mas é extremamente eficiente para seus apreciadores, e isto a velha mídia precisa entender e estudar.

Existem outros elementos, temos de montar um cenário complexo para entender o que acontece e principalmente montar a estratégia para a reconfiguração da mídia tradicional. Eu não acredito que ela vá morrer, acredito sim, que ela em alguns anos não será nada parecida com que vemos hoje em dia.

A constante nas organizações modernas é a própria mudança

Uma imagem Sempre que nos defrontamos com fatos que ameaçam nosso status quo, buscamos comportamentos e fatos semelhantes no passado. Isto nos faz crer que estamos presenciando um “remake”, e de certa forma aliviam a ameaça. Ninguém esta imune a isto, é um comportamento comum, eu mesmo tentei negar para mim mesmo por dois anos, o estouro da bolha da internet. Spencer Johnson escreveu seu best seller “Quem mexeu no meu queijo[bb]“, que acredito eu, deva seu maior sucesso à identificação do leitor com seus personagens e sua história.

Sintetizando o livro “Sobreviver não é o bastante” de Seth Godin[bb], a mensagem que fica é “A constante nas organizações modernas é a própria mudança“.

Kotler cita em seu livro, Marketing para o século XXI[bb], que Akio Morita tinha uma estratégia de criar três equipes para todos seus produtos: Uma para o seu desenvolvimento propriamente dito, outra para desenvolver um produto melhor e uma terceira para torna-lo obsoleto. Esta saudável prática de canibalismo corporativo vem sendo sistematicamente evitada sob todos os aspectos, é utilizada apenas por empresas antenadas.

Em caso recente, no 4o Congresso de Publicidade, mudaram o nome do painel de “O modelo brasileiro de remuneração das agências de publicidade” para “A Valorização, a Prosperidade e a Rentabilidade da Indústria da Comunicação”.

Mas por quê isto tem de ser assim? Temos medo de mudar, e atacamos tudo que nos remete à esta necessidade, principalmente no Brasil, onde o empreendedorismo não é uma prática tão valorizada quanto um bom e seguro emprego numa estatal. Para quê mudar? Não se mexe em time que esta ganhando? Não mesmo ? Ou seria melhor dizer: Em time que esta ganhando a mudança é uma constante ?

Quando estamos nesta discussão, se a web é ou não o bicho papão que ameaça nossa tranquilidade, a minha opinião é de que primeiro temos de ser imparciais, e em seguida aumentar nosso ângulo de visão, ou como dizem os Americanos, ativar nossa visão de passaro. Temos de correr o risco de enxergar o que não queremos ver, e com isto ganhar o precioso tempo hábil para nos reconfigurarmos e seguirmos o trem da evolução, para não sermos pegos de surpresa e atropelados por ele.

Foto: Foto obtida no banco de imagens Stock.Xchng produzida por Zoran Ozetsky

Pérolas da cibercultura, um post que vale por um cursinho

Depois do meu último post, me convenci de que realmente precisamos de novas ferramentas e novos conceitos para entender o que esta acontecendo hoje no mercado da comunicação. Para isto decidi reunir e publicar aqui os links para as principais pérolas da cibercultura na minha opinião. São elas definições, conceitos, textos e até e-books completos.

Redes

O entendimento de redes no sentido mais amplo, e não técnico, é teoria fundamental para o entendimento de tudo na cibercultura. É necessário entender que somos “nós” desta rede, e que nossos grupos são “clusters” e que tudo em termos de rede possui comportamento em rede, com grande capilaridade e com grande entropia.

Um entendimento técnico necessário é o proprio conceito original da Internet, criada na época da Guerra Fria, sua estrutura foi concebida para resistir à um bombardeio atômico, e desta forma pavimenta o conceito hoje conhecido como Mundo de Pontas (World of Ends).

Uma boa dica para entendimento de redes é o e-book “Redes – uma introdução às dinamicas da conectividade e da auto-organização” publicado pelo WWF Brasil.

Comportamento

Uma das mais sensacionais pérolas do comportamento no ciberespaço é o Manifesto Cluetrain (O manifesto do trem de evidências) que trata de forma simples e direta o comportamento social e de consumo na Internet. Veja também o post “Cluetrain 10 anos depois” publicado no Buzz Makers.

Outro texto muito interessante é o Mundos em colisão, que narra de uma forma simpática o choque cultural que se reflete como a dicotomia “nova x velha mídia” ou “real x virtual” passando pelo contraste “Copyright x Creative Commons” com bastante propriedade. Por falar em Copyright x Creative Commons, um bom e-book sobre isto é o Cultura Livre (uma excelente tradução do Free Culture). A cultura open source faz parte do DNA do ciberespaço, já o habitava no seu núcleo, na sua camada técnica, e foi fundamentalmente o propulsor da WWW.

Por falar em Free, este será o novo livro do Chris Anderson, o autor do Cauda Longa. O Free promete ser um profundo estudo sobre a cultura atual, onde empresas lucram cada vez mais cobrando cada vez menos, ou até nada. Na Wired tem um PDF que já da uma ideia de como será o livro, mas se preferir pode ler na web mesmo.

Existem ainda os clássicos teóricos da comunicação como Manuel Castells e Marshal McLunhan que não podem ficar de fora.

Midias sociais

Não podemos deixar de falar da teoria dos seis graus de separação, que fundamenta diversas redes sociais, onde em sintese, você esta ligado à qualquer outra pessoa no mundo, por outras seis. Existem outras, inclusive a que descrevi aqui mesmo no blog, relacionando Maslow e as midias sociais.

O assunto não esgota aqui, é apenas um começo, mas te garanto que boa parte já foi citada, convido você à completar a lista ai nos comentários.

update 02/05 – O Marco Gomes fez um post sensacional, praticamente um manifesto, se você leu os textos acima com cuidado, veja a personificação do estudo no post: Eu faço parte da revolução

SIVA, o mix de marketing 2.0

Uma coisa interessante é que desde que foi implantado por Jerome McCarthy em 1960, o mix de marketing, os 4 Ps, sempre foi o framework mais importante no entendimento do marketing.

SIVA e os 4PsIsto foi assim até que o artigo “In the Mix: A Customer-Focused Approach Can Bring the Current Marketing Mix into the 21st Century” por Chekitan S. Dev e Don E. Schultz saiu na edição de janeiro/fevereiro de 2005 da revista Marketing Management.

Este artigo muda totalmente o paradigma do mix de marketing, que antes era visto da empresa em direção ao mercado alvo, conforme figura ao lado.

No artigo, Schultz e Chekitan, literalmente viram o mix de ponta cabeça, e avaliam a oferta pela ótica do consumidor, e nesta ótica, o que antes eram os 4Ps, viram o SIVA (Solução, Informação, Valor e Acesso).

Para efeito comparativo temos:

4 Ps SIVA
Produto Solução
Preço Valor
Promoção Informação
Praça Acesso

SIVA em detalhes

  • Solução – Como a solução é apropriada para solucionar os problemas e necessidades do consumidor?
  • Informação – O consumidor conhece bem sobre a oferta, se sim, através de quem ? Ele sabe o suficiente para permitir ao consumidor fazer uma boa decisão de compras?
  • Valor – O consumdor percebe o valor da transação, quanto ela custa, qual serão os beneficios, o que ele terá de sacrificar, qual será a sua recompensa?
  • Acesso – Onde o consumidor pode encontrar a solução? O quanto facilmente, local ou remotamente ele pode compra-la ou recebe-la via delivery?

SIVA e Marketing 2.0

Quem esta na internet há pelo menos oito anos deve lembrar que o grande propulsor de tudo que esta acontecendo hoje, que chamamos de web 2.0, comecou com uma grande mudança de paradigma na construção e implementação web. Em torno de 2001 dois assuntos comecaram a dominar este ambiente: Usabilidade e Acessibilidade. O tema bateu de frente com a questão estética, até então dominante e acabou encaminhando para um entendimento de que o usuário é elemento mais importante na internet. Dai para frente, descobrir que os usuários queriam mais do que simplesmente ser um leitor, foi um pulo.

Quem sabe a classica pergunta de um milhão de dolares: “Qual o futuro da comunicação e do marketing” possa comecar a ser respondida? Até então uma incógnita e muitas hipóteses, simplesmente porque existe uma grande possibilidade de estarmos cometendo o erro de avaliar um novo mercado com velhas ferramentas…