Confesso que fiquei morrendo de inveja do pessoal que foi ao Campus Party, para me manter informado montei um live stream no Twitter usando o TwitterFeed. Vi várias coisas, li diversos posts e fiquei por dentro dos acontecimentos, até dei meus palpites via twitter, interferindo em tempo real com o que acontecia.
A cobertura do Jornalismo Social foi bem eficiente, permitindo à qualquer um acompanhar ao vivo todo o evento. Posts, twitts, videos e fotos publicados em midias sociais deram o tom, proporcionando-me uma sensação de estar lá, sem ter saido do home office. Isto não quer dizer que eu não tenha acompanhado algo sobre o Campus Party na mídia tradicional, acompanhei sim, pelo G1, IDG Now!, e outros que apareciam no meu live stream. Infelizmente percebi que os mais tradicionais da velha midia estavam mais interessados em retratar o aspecto bizzaro e inusitado do evento, deixando de mostrar o que realmente interessava. Algumas destas reportagens deixaram transparecer um estereótipo Geek completamente desatualizado no imaginário coletivo de seus autores e editores.
Os campuzeiros fizeram muitas brincadeiras com a imprensa, e até foram hostis vaiando os palestrantes no painel “A Imprensa e o meio digital“, quando a blogosfera foi colocada na berlinda. Alias durante todo o evento, os mundos estavam literalmente em colisão, como sabiamente retrata este clássico de Nemo Nox.
E natural que isto aconteça, mas estávamos acostumados com choques culturais à cada geração, à cada dez anos em média, mas agora na era da geração conectada, isto acontece com uma freqüência cada vez maior, e com uma intensidade muito maior, talvez um ano seja um período de tempo muito grande agora.
Eu ja havia decidido que não escreveria sobre o Campus Party, até que vi este post do Michel Lent, no inicio pensei que o Michel havia se tornado um dinossauro, sempre o admirei por sua visão de vanguarda, mas o que estava acontecendo? Foi quando eu percebi que na verdade ele soube narrar com perfeição, o que um leigo enxergaria na blogosfera. É neste dilúvio informacional, que ele chama de ruído, que estamos habituados à nos informar, para isto usamos ferramentas que nos ajudam à enxergar na neblina. Os leitores mais tradicionais, enxergam este ruído e acabam buscando referências do mundo real, que são as mídias tradicionais.
Depois o René de Paula Jr, publicou um podcast falando dos erros e riscos da guerra nova x velha mídia. Na percepção dele, não existe motivação para tal, e mesmo se existisse o embate poderia se dar de outra forma, até porque da maneira que vem sendo conduzido a credibilidade da blogosfera pode ser colocada em xeque. René fala da importância de conhecer o “inimigo” por dentro, para que se possa ter uma visão desprovida de preconceitos acredito eu. Sun Tzu em seu classico a Arte da Guerra fala algo parecido: “Conheça si e seu inimigo e ganhe todas as batalhas”.
Mas não existe guerra, não existe batalha, nem é possível comparar a Imprensa Tradicional com a Imprensa Social, apesar do objetivo de ambas ser a informação, as motivações, aspirações, e estrutura socio-econômica-organizacional das duas são totalmente diferentes, é como querer comparar cebolas com laranjas.
Mas então porque existe esta hostilidade ? Lembra do caso Estadão x Blogs? Foi uma campanha do Estadão que subestimava os blogueiros, onde um macaco “Bruno” fazia um blog de economia e outras peças com a mesma tônica. Segundo a Talent, a agência que bolou as campanhas, uma parcela significativa da blogosfera é fútil, o que é verdade, mas as peças não faziam esta distinção e a coisa pegou muito mal.
A repercussão foi tão negativa que o Estadão organizou um debate, debate este que tinha por objetivo comparar cebolas com laranjas, ou seja o corporativismo da mídia tradicional com o crowdsourcing da blogosfera. Ou seja continuaram errando, e de certa forma hostilizaram ainda mais os blogueiros no debate, e a “lava” continuou fervendo. Nem mesmo o “Limão“, projeto do Estadão amenizou este “ranço”.
Notáveis representantes da blogosfera acham que esta discussão não vai levar a lugar nenhum. Edney fala que este assunto esta ficando chato, opinião compartilhada pelo Inagaki, e Jonny Ken mostra que a discussão é inocua e quem tem telhado de vidro não deve jogar pedra para o alto. Mas toda esta confusão acaba sendo requentada por mais preconceitos, como o fato ocorrido com Fugita, que relata um flagrante de preconceito com a blogosfera na coletiva de imprensa de encerramento do Campus Party.
E quem pensa que os motivos acabaram, então fique atento à nova campanha da Leo Burnet que pode requentar a discussão. Uma coisa importante é que a blogosfera tenha em mente que seus blogs são seus alter EGO, e que levar todo tipo de provação à ponta de faca, acaba deixando a blogosfera igual o “Bobão do play”, aquele cara que todo mundo gosta de implicar. Pense nisso…
20/02/08 – Saiu um post bem interessante por Thiane Loureiro no blog da Edelman
Referências : Linkadas ao longo do texto e fotos: Flickr do Radar Cultura, editadas e disponíveis na mesma licença