Sustentabilidade Insustentável

Publiquei este texto originalmente no Blog Cidadão e no Trezentos há um ano, mas ele continua tão atualizado que decidi publica-lo novamente aqui, com pequenas modificações.

Acabamos de passar pelo evento a Hora do Planeta organizado pela WWF, a proposta era apagar a luz da sala por uma hora, das 20:30 às 21:30. Pouco antes o twitter “bombou” com a tag #horadoplaneta, uma profusão totalmente entrópica de frases e sacadas diversas, eu mesmo entrei na onda sugerindo:

A brincadeira continuou, diversos “twitts” sérios, e brincalhões surgiram, alguns fizeram justamente o contrário, disseram que muitos morreriam nas UTIs, que as luzes das teclas Caps Lock, Scroll Lock e Num Lock estavam apagadas e por ai vai. Isto é perfeitamente natural. Quando organizamos (ciberativistas)  o FlashMob em São Paulo foi a mesma coisa, muitos twitts sérios e muita gozação. Como publicitário posso dizer que é assim mesmo, a propagação da mensagem em mídias sociais tem muito do efeito borboleta, trabalha-se a percepção e ai torna-se hype, meme….

Mas meu post não é sobre publicidade, e sim sobre sustentabilidade, e o que vou falar agora certamente não vai agradar muita gente, mas acreditem ou não, não será o fundo preto que na verdade não economiza energia nenhuma, e nem a hora do planeta ou coisas assim que salvarão o mundo, até porque a hora do planeta é mais um evento midiático do que social, daqueles que engajam a sociedade replicante na tentativa de legitimar um ato social.  Na verdade o somatório de poucas atitudes podem sim, fazer a diferença, mas na prática, pegando carona no post da Maira, acredito que pouquissimas pessoas estão de fato se empenhando para tornar um mundo sustentável, são estes louvaveis e respeitados quixotes na luta contra a extinção da espécie humana.

Acredito muito que uma pequena atitude pode fazer a diferença, e ela não pode ser minimizada ou hostilizada, mas é que na verdade, em se tratando de vida sustentável somos quase todos hipócritas e egoistas, inclusive eu e você. Ao mesmo tempo em que nos tornamos verdes, continuamos agindo como se o mundo fosse um gigantesco shopping, continuamos consumindo compulsivamente, neste ritmo consumiremos em breve o planeta, parece que na prática estamos nos enganando para não nos sentirmos tão culpados, mas o verdadeiro pensar e agir ecologico deve vir lá de dentro, do fundo de suas convicções, ai sim você será um ser sustentável.

Para salvar o mundo, temos de mudar profundamente nosso estilo de vida, repensar o capitalismo, o consumo e até mesmo nossas vidas, que são consumidas diariamente na ardua de tarefa, que irônicamente se chama “ganhar a vida”, na verdade estamos vendendo a vida para consumir o planeta. Teremos de aprender a viver em coletividade, abandonar a privacidade do automóvel particular, eliminar o consumo de bens não recicláveis e outros até mesmo reciclaveis, adotar a cultura de otimização extrema de energia, teremos de abrir mão do conforto das lindas e práticas embalagens que adornam nossos mimos, teremos até mesmo de pensar no modelo de moradia, quem sabe o velho modelo de casa da familia onde gerações convivem sob o mesmo teto não seja uma solução? Temos de parar de usar combustiveis fósseis, temos de parar já com a idéia arriscada de extrair metano do fundo do mar.

Temos hoje em dia a tecnologia a nosso favor, a Internet esta ai conectando todo mundo, vamos interagir mais virtualmente, vamos lançar mão da digitalização de bens, vamos “teletrabalhar” mais, vamos repensar nossos espaços de estudo e de trabalho, vamos pensar que o deslocamento diario precisa ser minimizado, vamos invadir as ruas de bicicleta, além de fazer bem a saúde faz bem ao planeta. Temos de pensar seriamente no consumo, é preciso avaliar o impacto ambiental de cada novo bem a se adquirir, por exemplo um carro novo, já pensou quantos litros d’água e a quantidade de gases de efeito estufa são consumidos e produzidos na fabricação de um mero automóvel, que cinicamente se intitula mais econômico? Temos de pensar assim, agir assim.

Por fim, salvar o planeta pode ser uma verdadeira revolução em nossas vidas, mas temos de deixar de ser egoistas, temos de pensar coletivo, agir coletivo, antes que o próximo cataclisma venha nos ensinar…

E o papel de cocô vai ajudar a salvar o mundo

O ser humano é criativo, com certeza vamos achar soluções efetivas para sobreviver ao aquecimento global, ou quem sabe até reverte-lo, são ideias simples como esta que podem revolucionar muita coisa.

Li hoje no Boing Boing um curioso post sobre papel de merda de elefante. Uma empresa de papel de cocô de elefante faz belissimas agendas a partir do cocô desidratado e desodorizado do elefante. O fabricante explica:

“Nos conseguimos fazer aproximadamente 25 folhas grandes de papel à partir de uma única peça de cocô de elefante. Ou seja, em torno de 10 cadernos de notas incluindo as capas e contracapas.”

Caderno feito com papel de cocô de elefante

O negócio é um tanto bizarro e imaginei que fosse alguma pegadinha elaborada, e pesquisando no “oráculo” encontrei a Tailandesa Elephant Dung Paper, que também é especializada na arte do papel de cocô de elefante. Confesso que além do site muito mais bonito, os seus produtos de cocô de elefante são igualmente mais simpáticos. Elephante Dung Paper tem uma extensa linha de produtos tais como caixas ,lembrancinhas , conjuntos, porta retratos e lindos papeis coloridos, como você pode ver abaixo.

Objetos feitos com papel de cocô de elefante

Quando pensei ter visto tudo sobre esta fantástica forma de salvar o mundo, deparei-me com a arte espetacular dos elefantes, ou seja, quadros pintandos em papel de cocô de elefante pelos elefantes !!

Quadro pintado por elefantes

Neste ponto, como apaixonado pelas causas ambientais com sou, decidi entrar de cabeça no estudo da merda de elefante, e acabei descobrindo que o Mr Wanchai foi o inventor desta tecnologia.

“Mr Wanchai, no caminho que usava para ir ao trabalho observava uma fábrica de papel natural, e ele ficava impressionado com a simplicidade do processo que usava fibras naturais para fabricar papeis de alta qualidade feitos a mão. Ele então decidiu visitar o Centro Tailandes de Conservação dos Elefantes e observou pilhas e pilhas de cocô de elefante. Ele observou bem um cocô de elefante e concluiu que era cheio de fibras. Esta foi a fonte da ideia.”

Existem também fatos curiosos sobre o cocô de elefante:

  1. Um elefante médio consome 250 kg de fibras diariamente e produz um cocô de 50kg;
  2. O cocô de elefante nem fede muito (segundo eles);
  3. Cocô de elefante tem no minimo 50% de fibras;
  4. Elefantes fazem a primeira parte no processo de fabricação de papel, obtem as fibras.

Mas não é só o cocô de elefante que é usado para fabricar papel, tem o papel de cocô de carneiro, de alce com calça jeans (site em sueco), e até de urso panda. O pessoal da Tazmania já comercializa papel de cocô de canguru há mais de dois anos, conforme atesta esta nota na rede ABC.

A única coisa que não achei foi a fabricação de papel de cocô de gado, se o papel de cocô virou um presente, um souvenir tão cobiçado, não entendo porque no Brasil ainda não fabricamos papel de cocô de boi, já que por possuir um dos maiores rebanhos do mundo, levamos a fama de atacar a camada de ozônio com pum de vaca.

Update: Bush ganhou papeis timbrados do Primeiro ministro do Sri Lanka em 2002, a coisa é antiga e Bush perdeu a chance de criar a International Shit Paper >:)

Na prática a ideia é muito boa, uma vez que colabora para a preservação dos elefantes, reduz o desmatamento, e de quebra ainda gera midia espontãnea por causa da inusitada matéria prima.

Update 27/03: Excrementos de urso panda serão usados para fazer papel higiênico.