Apolônio, a divergencia, a convergencia e o zig zag evolutivo

Há 20 anos…

Apolônio Silva era um cara moderno, quando chegava em casa ligava seu possante amplificador Taunus, colocava seu long play de vinil do César Camargo Mariano para tocar no seu Technics SL 1200 MKII , e deliciava-se em sua poltrona. Seu ouvido era invadido com o puríssimo som que os long plays de vinil produziam. Na sala de TV, sua esposa, dona Ofélia, assistia à sua novela predileta com uma imagem super nítida, graças à novíssima tecnologia de recepção via satélite, aquela antena gigantesca ficava horrível em seu quintal, mas valeu a pena ter vendido o carro de dona Ofélia para comprá-la. Seu filho mais velho, o Eustáquio, já com 16 anos era um excelente Discotecário, ele passava horas treinando as mixagens que aprendia ouvindo o Ivan Romero na Radio Cidade .

Junior, o filho caçula estava querendo ganhar de aniversário um TK 85 , um computador pessoal incrível que estava sendo anunciado, assim poderia aproveitar aquela TV preto e branco velha, que estava jogada no fundo da garagem. Lindaura a filha do meio, vivia pendurada no telefone, ninguém conseguia entender como uma adolescente de 13 anos tinha tanto assunto para falar com as amigas, na verdade isto não preocupava muito, pois a família tinha duas linhas de telefone, alias tinha até uma central de telefonia na casa, um exagero para a época.

A família de Apolônio era muito ligada em tecnologia, eles eram considerados “pra frentex”, já no final dos anos 80, Apolônio comprou um equipamento de Laserdisc , os discos laser do tamanho de um LP continham em geral Vídeo Clips de excelente qualidade, e o equipamento tinha saída para ligar no equipamento de som. Apolônio não era purista, mas seu vizinho, o Otávio, ficava de “cabelo em pé” só de pensar em ligar a TV no seu equipamento de som Marantz

20 anos se passaram e…

Dona Ofélia ainda lembra do dia em que o caseiro ficou super contente quando faturou vinte pratas vendendo aquela velha antena parabólica para o moço da carrocinha. Seu Apolônio e dona Ofélia ainda continuam morando na mesma casa, as crianças cresceram e somente o Junior ainda mora com os pais.

A casa dos Silva evoluiu muito nestes anos, hoje em dia, um sistema de automação e conforto digital integra as soluções de telefonia, segurança e automação propriamente dita. De qualquer ponto da casa é possível atender ao vídeo porteiro, alias quando não tem ninguém em casa o sistema começa a ligar para os telefones de uma lista criada pelo seu Apolônio e permite que o interlocutor fale a distância com quem esta na porta da casa dos Silva, se for o caso é possível até abrir a porta para esta pessoa entrar.

Os vizinhos na verdade nunca consegue saber quando de fato os Silva estão em casa, pois o sistema de automação emula a presença da família com precisão, acendendo e apagando as luzes, a TV o som, a bomba da piscina e até o sistema de irrigação, tudo é automatizado. Dona Ofélia gosta muito do robô aspirador que limpa a casa diariamente, já o Seu Apolônio ainda gosta de cuidar do jardim, mesmo tendo um robô que apara todo o gramado .

Para suportar toda esta tecnologia, a casa dos Silva sofreu uma pequena reforma, alias estava precisando mesmo. Nesta reforma, um sofisticado sistema de cabeamento estruturado foi criado, para suportar as novas tecnologias de voz, dados e imagens. Hoje em dia é difícil determinar que cabo proporciona o quê: O acesso à internet vai pela TV a Cabo, mas também tem TV a cabo pela linha telefônica, Telefonia pela TV a cabo, e até mesmo TV pela Internet.

O sistema de entretenimento digital implantado pelo Junior permite criar programações com os vídeos e fotos da família que são servidos diretamente pelo servidor dos Silva, e tudo pela TV, Computador, PDAs e até mesmo no celular. O sistema de som ambiente conta agora com mais de 10.000 estações de rádio do mundo inteiro, e a TV via Internet não fica por baixo, as milhares de estações que existem possibilitam um leque de opções antes inimagináveis. Até o Otávio, o vizinho purista do seu Apolônio entrou na nova onda de conforto digital.

Lindaura mudou-se para outro estado, e junto com o marido abriu uma Empresa de call center. A Empresa de Lindaura é especializada em terceirização de atendimento, seja ele telefônico ou pela Internet. Utilizando-se de tecnologias como VoIP , VXML e Flash Media Server , a Empresa de Lindaura presta um serviço pra lá de interessante, inclusive para o exterior. O VoIP permite a Lindaura ter em sua Empresa um número local para cada cidade, estado ou país onde ela atua. Graças a estas tecnologias Lindaura passa horas fazendo vídeo conferência com a família que sempre foi muito unida.

Os Silva esperam ansiosos pelo padrão de TV Digital a ser adotado no Brasil, modernos como eles só, os Silva já definiram o seu padrão predileto: Nem o Americano, Nem o Europeu e muito menos o Japonês, e sim o Brasileiro, o SBTVD. O padrão Brasileiro irá oferecer mais de mil canais que podem ser de subida ou descida, e os Silva já estão pensando em criar uma TV Comunitária para ajudar na divulgação dos projetos sociais das comunidades de seu bairro. E você, o que acha do processo de evolução tecnológica ? Qual o próximo passo ?


Este post foi publicado originalmente no Flash Brasil.

2015 a Internet capturada

A expectativa para a Campus Party 2015 já não era grande, aliás pouco importa agora, fazia pouco tempo que a Internet havia acabado, agora a rede é toda facetada, mil pacotes de serviços, aquele blog que eu gostava de acompanhar demora demais para carregar, e sempre aparece uma mensagem para conhecer um novo blog, que paga mais taxa de visibilidade às empresas de Telecom, as novas donas da antiga Internet. É tudo muito complicado, cada provedor de acesso oferece um pacote de serviço diferente, uns com 100 horas de Skype, outros com vídeos ilimitados, mas só no Youtube, tal como na telefonia celular no fim é tudo a mesma enrolação. A criatividade esta em baixa, cada novo protocolo precisa ser analisado pelos novos donos da Internet, tenho me sentido uma espécie de prisioneiro, as pessoas com quem me relacionava nas redes sociais estão mais distantes, nem todos assinam o mesmo plano agora.  Sinto fortemente que minha liberdade ficou no passado junto com a Internet, aquele negócio de democratização do  conhecimento e inclusão digital agora parece não fazer o menor sentido, Internet é só para quem pode pagar, agora temos a Internet do rico, bem mais cara, a “ilimitada” que é semelhante a que conhecemos hoje, os milhões de opções de pacotes e a Internet de pobre que é uma vergonha. A universalização, ou melhor o PNBL ficou restrito ao email e navegação sem figuras, qualquer outro serviço é tão lento que lembra as velhas conexões discadas de 14,4 kbps, tanto que as pessoas o tem chamado de Plano Nacional de Bandinha Lerda, alias ninguém esta dando importância para isto agora.

Marco Civil

Eu que vivia xingando o Facebook que sempre ordenava minha timeline pelo que eles julgavam mais relevante, estou pagando a língua, o sistema de curadoria das Teles que investiga toda a minha navegação, alias investiga a de todo mundo, decide com base nisto o que eles acham mais relevantes para mim, e em geral acertam, já não consigo mais resistir e furar o bloqueio, me prendi dentro de um jardim murado. A Internet esta cheia de filtros bolha, e cada um tem a sua Internet, com entretenimento sob medida, uma verdadeira droga que acaba viciando seres humanos que são preguiçosos por natureza. A inteligência coletiva foi substituída pelo sistema de curadoria que avaliam nossos relacionamentos e os interesses e provê a informação sob medida.  Hoje eles controlam nosso conteúdo, na verdade estão controlando nossos cérebros, voltamos a ser os bons e velhos hamsters na gaiola, bestas úteis ao sistema.

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Centralizaram o mundo de pontas, o valor da Internet que sempre foi nas pontas, sempre foi resultado das conexões, relacionamentos e compartilhamentos foi substituído por um modelo sedutor, hoje em dia falar em mundo de pontas ou manifesto cluetrain não faz o menor sentido, apenas enche nossos olhos de lágrimas quando lembramos do futuro que deixou de existir. As pessoas não estão mais ficando inteligentes juntas, estão ficando imbecis isoladamente, aos poucos o revolucionário sistema de comunicação e interação social que chegou ao status de ecossistema vai ficando no passado… Sinto um forte aperto no coração  de pensar que lutei anos da minha vida, que me doei literalmente para que a próxima geração tivesse um mundo melhor que o meu, e hoje sofro ao vê-los preso a um sistema ainda mais perverso que o antigo capitalismo. Pelo menos no século XX o capitalismo estava associado à democracia, era nisto que acreditávamos, hoje o vemos lado a lado com o totalitarismo, um pesadelo que juntou o pior de Admirável mundo novo com o pior de 1984.

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Já estamos ficando sem voz, com tanto controle na rede fica difícil qualquer tentativa de mobilização, mesmo que nossa articulação vença o controle de conteúdo, não temos mais uma massa crítica disposta a construir um meme…. ah… memes… que saudades de vocês, que saudades do tempo que nossos devices eram uma janela para o mundo, e que conseguíamos interagir com milhares de pessoas com facilidade. Tinhamos até blogueiros fazendo revolução, hoje em dia ninguém mais acessa seus conteúdos, o sistema de conteúdo cria mil obstáculos para isto.

Penso que ano que vem teremos Olimpíadas aqui no Rio, mas que se dane, sempre tenho a sensação de que foram os Mega Eventos que aceleraram a implantação deste sistema totálitario, o tal plano nacional de defesa cibernética transformou a nós, ativistas da rede, em criminosos da noite para o dia, na prática a visão perversa deste projeto era de calar as vozes dissonantes que impediriam o avanço dos projetos de controle da rede…

O MANIFESTO, A ÚLTIMA CHANCE…

Isto felizmente AINDA é uma história de ficção, mas se não fizermos nada IMEDIATAMENTE será nossa realidade em bem pouco tempo, veja que além do tal plano de defesa cibernética o Brasil assinou o novo tratato na UIT que vem com um padrão de inspeção profunda de pacotes junto, o Y2770.  Além disto a configuração da Câmara é das piores, o novo presidente da casa é lobista conhecido das Teles, assim como o novo lider do PMDB. O Novo presidente, que esta na Câmara desde a época da Ditadura já mandou um recado para a TV Câmara que ela terá de seguir as determinações dele. Com isto ficará ainda mais difícil aprovar o Marco Civil, que nos salvaria de parte dos terrores citados.

Para completar a tragédia, o representante do SindiTeles Brasil, que representa as maiores empresas de Telecom, já expos na Campus Party 2013 o seu modelo de “neutralidade” onde quer oferecer um leque de serviços e vender prioridade de tráfego, e também quer ter acesso aos nossos dados de navegação.

O cenário é o pior possível, se a sociedade não acordar e se mobilizar AGORA iremos certamente perder a Internet e a nossa liberdade!!

Revolução Digital Já! Todos juntos, todos por uma causa, todos os movimentos pela liberdade!

Ocupem tudo!

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No fim, todos voltaram a ser verdes…

Existe vida em um planeta muito distante, pesquisadores estudam a história de sua espécie. Descobriram que a vida inteligente surgiu do continente de Akuarelus, onde a milhares de anos, eram todos indivíduos verdes. Viviam inicialmente do extrativismo e eram nômades, e assim foram migrando pelo planeta. Aos poucos foram evoluindo, construindo ferramentas, descobrindo a agricultura a pecuária e deixaram de ser nômades, instalaram-se em diferentes locais do globo. Isto se deu ao longo de milhares de anos, e os indivíduos verdes foram evoluindo geneticamente, adaptando-se a sua nova condição e ao seu ambiente. Em alguns lugares ficaram amarelos, em outros azuis e em outros continuaram verdes, na verdade existia uma intensa matriz de cores entre o azul e o amarelo, mas todos, apesar da cor, eram biologicamente iguais, a cor era uma consequencia da adaptação ao meio ambiente.

Esta civilização continuou evoluindo, a liderança não se dava mais pela força, e sim pela habilidade intelectual, e principalmente pela sua experiência. Os indivíduos continuaram vivendo em grupos, e seus descendentes continuavam nas mesmas vilas, que logo se tornaram cidades. Nestas cidades culturas se formavam, cada cidade, cada pais com suas crenças e valores, e em sua maioria todos eram da mesma cor, eram todos “iguais”.

Alguns exploradores amarelos, agora providos de cavalos e curiosidade, seguiam viagem em busca de novas civilizações, em seu material genético e em sua história não constava mais a origem de sua espécie, não tinham como entender o movimento migratório que ela fez, e muito menos o que o motivou. Certo dia um grupo de exploradores encontrou uma vila, viu que nela existiam indivíduos azuis, ficaram curiosos em conhecer estes indivíduos, que logo demonstraram sua curiosidade recíproca. Se olharam, se tocaram, com a curiosidade de quem nunca havia imaginado que existiria indivíduos diferentes. Estavam ai descobrindo os diferentes, e com esta descoberta veio a dúvida: Quem será a civilização mais avançada?

Os exploradores amarelos observaram que os azuis viviam de forma mais simples, em casas menos arrojadas, e com simplismo concluíram que os azuis eram menos evoluídos, e pior, que eram inferiores. Por outro lado no sistema de valores dos azuis quem era menos evoluído eram os amarelos, que não sabiam mais caçar e muito menos seguir os rituais dos azuis. Eram civilizações diferentes, com crenças e valores diferentes, construídos por motivações exclusivas e ligadas ao ambiente em que estavam inseridos. Os exploradores amarelos retornaram a sua cidade, e ao chegar falaram de uma estranha civilização de azuis.

Não se falava em outra coisa, só se falavam dos diferentes, e assim um mito estava sendo construído, estavam conceituando os azuis, ou melhor estavam construindo um preconceito a cerca dos azuis. A ignorância e o preconceito construíram uma péssima imagem dos azuis, na verdade todo este preconceito já era direcionado aos diferentes, e ai neste contexto se inseriu um novo diferente, os azuis.

Anos depois um grupo de exploradores azuis chegou à cidade, achando que iriam encontrar os amáveis amarelos que conheceram, sua cultura concebeu um preconceito positivo dos amarelos, chegaram à cidade de peito aberto e foram recebidos sob intenso ataque. Perplexos recuaram e ficaram imaginando o que poderia estar acontecendo, porque razão eles foram recebidos daquele jeito? Porque tanta hostilidade? Os exploradores azuis retornaram a sua cidade e ao chegar falaram da hostilidade dos amarelos, e um novo preconceito se construira, era mal entendido sobre mal entendido, no final das contas a hostilidade agora era bilateral.

Como em toda sociedade, existem críticos e pensadores, que acabam construindo um sistema de crenças e valores diferente de seus iguais, curiosamente dois grupos de dissidentes, um azul e um amarelo resolveram deixar suas cidades para criar uma nova cidade, uma cidade onde a cor não faria parte do sistema de valores, e onde todos são iguais. Esta vila de azuis e amarelos cresceu e se tornou uma grande cidade de cidadãos verdes, diversos tons de verde, e com o passar do tempo poucos eram os indivíduos azuis ou amarelos. Os pouco que existiam eram imigrantes da cidade dos azuis ou da cidade dos amarelos, novos dissidentes.

A cidade dos verdes vivia pacificamente, enquanto a hostilidade entre os azuis e amarelos crescia sem parar, os cidadãos das duas cidades já agiam de forma irracional, atacavam qualquer diferente que via pela frente, os azuis não podiam entrar na cidade dos amarelos e vice-versa. A hostilidade estava ficando paranóica, os amarelos enviaram uma mensagem para os verdes para não acolherem mais indivíduos azuis, o mesmo fizeram os azuis que pediram aos verdes para não acolherem mais amarelos. Os verdes que não tinham hostilidade contra nenhuma outra cor, e muito pelo contrario, faziam questão de ignorar este detalhe da pele, responderam que além de não acatar com o pedido dos amarelos e dos azuis, estavam abertos para receber dissidentes das duas cidades.

Azuis e amarelos entraram em guerra, e dentro de um estado de excessão existe muita permissividade, soldados azuis se relacionavam com mulheres amarelas e soldados amarelos com mulheres azuis. No fim da guerra houve um intenso baby boom, de bebês verdes. As duas cidades agora tinham cidadãos diferentes, filhos de seus iguais com “aqueles malditos” soldados inimigos. As pobres crianças verdes sofreram todo tipo de discriminação, cresceram sob esta égide, eram culpados até prova ao contrário. Tudo que acontecia de errado era culpa dos malditos verdes.

Os verdes adultos casaram com amarelos, azuis, ou até outros verdes, misturando cada vez mais as cores, com o tempo existia um grande núcleo verde em cada cidade, mas infelizmente continuavam sofrendo preconceito, inclusive os azuis e amarelos que casavam-se com os verdes. Um sistema claro de separação de cores foi instalado, de forma a garantir que ainda existiriam azuis e amarelos puros, pois estes verdes eram os “vira lata” da sociedade.

As cidades dos azuis e dos amarelos não tinham o sistema de valores da cidade dos verdes que por não ter conflitos evoluia vertiginosamente. Com a evolução, com o poder, chegara a arrogância, agora os verdes eram de fato superiores aos amarelos e azuis, e passaram a ser a sociedade dominante, os diferentes agora eram os amarelos e os azuis. Não demorou muito para o poder dos verdes romper com os valores liberais construídos durante séculos, começaram a tratar os cidadãos amarelos e azuis como cidadãos de “segunda categoria”, passaram a impedir sua entrada em sua cidade.

Tudo isto acabou unindo as cidades dos azuis e dos amarelos, que ao longo dos tempos foram se relacionando até que poucos azuis e amarelos restaram no planeta. Todos voltaram a ser verdes, todos iguais, e agora? Quem são os melhores?

Postado em 2009 no Trezentos

O dinossauro e o Barcamp

Figueiredo é o presidente de uma grande gravadora, a Anta Records. Figueiredo dedicou a sua vida à Anta Records, entrou lá como office boy e fez carreira até chegar à presidência, se orgulha de cada passo, cada degrau que escalou para chegar onde chegou. Seu Figueiredo fez uma carreira vertical, antigamente era assim. Com uma forte dose de romantismo, a carreira vertical, é um sinônimo corporativo do “aprender com os próprios erros”. Mas o tempo passou, ainda bem! Hoje as carreiras são horizontais, muitos empregos, muitas culturas, tornam as empresas e os executivos mais competitivos.

A Anta Records é tudo na vida do seu Figueiredo, ele se orgulha de ter lançado diversos sucessos, orgulha-se de sua relação com as radios e sua eficiente rede de distribuição, orgulha-se de possuir os melhores estudios do mercado, afinal tem realmente do que se orgulhar. Seu Figueiredo chegou lá, esta tranquilo, realizado, mas seu novo assistente, o Junior Silva vem tirado seu sono.

Junior Silva é um garoto antenado, filho de Apolônio Silva, o Junior sempre gostou de música e tecnologia. Conseguiu o emprego na Anta Records como assistente do seu Figueiredo. Seu Figueiredo pode ser um “dinossauro”,  mas percebe que alguma coisa esta acontecendo e que o filho do seu vizinho moderninho, poderia lhe mostrar o caminho. Apesar disto, seu Figueiredo é um cara “osso duro de roer”, ao mesmo tempo que quer inovação tem pavor de perder seu “status quo”.

Um belo dia Junior percebeu que a oportunidade para “digitalizar” o analógico seu Figueiredo havia surgido, e então correu para a sala do seu Figueiredo, abriu a porta esbaforido e falou:

– Seu Figueiredo, tenho otimas ideias para o senhor, vai acontecer um Barcamp no próximo sábado e imagino que podemos encontrar grandes oportunidades para Anta Records.

Figueiredo fitou o Junior pensativamente, levantou suas fartas sobrancelhas alternadamente, colocou a mão no queixo, parecia pensativo. Depois de alguns segundos soltou um sorriso e exclamou:

– Junior, em que um acampamento de manguaceiros pode nos ajudar?

Ai meu Deus! Pensou Junior,  ja vi que vou ter de explicar detalhadamente ao Seu Figueiredo, haja paciência, mas vamos lá:

– Seu Figueiredo, de onde você tirou a ideia de que vamos à um acampamento de manguaceiros?

– O que mais poderia ser “Bar Camping”, que não um acampamento em um bar, deve ser nojento isto. Que tipo de gente frequenta um negócio destes?

– Seu Figueiredo, estes eventos são frequentados por profissionais de diversas áreas, blogueiros, formadores de opinião, hubs de mídias sociais, e gente de todo tipo. E não é um acampamento num bar.

– Junior, este pessoal pode ficar acampado, mas eu estou muito velho para acampamentos, prefiro que você peça a dona Terezinha para reservar um Hotel para mim, ao menos eu vou ao “Bar do hotel”. Alias para que eles vão levar hubs para o acampamento? E o que é este tal de “Bar Camping” afinal?

– Seu Figueiredo, hub é o nome dado à formador de opinião, são elos chaves no Buzz Marketing. Barcamp é uma desconferência.

Seu Figueiredo solta uma sonora gargalhada, e fala:

– Junior, desconferência seria uma conferência ao contrário? Seria o público no palco e o palco no público? Vamos ter de chegar la falando nossos nomes de trás para frente?

– Boa Seu Figueiredo ! É quase isso, na verdade é uma espécie de conferência onde não existe pauta, e qualquer um pode debater, não existe uma linha clara entre público e palestrante,  o evento é bem informal, mas é bem interessante.

– Tudo bem Junior, acho que estou entendendo; mas me diga, este negócio de midia social é coisa daquele presidente barbudo?

– Não seu Figueiredo, não é não, depois eu explico ao senhor. Agora preciso me inscrever no Barcamp.

– Também quero ir Junior, me inscreve também no Bar Camping, quero ver de perto como é que são estes hubs e o que é esta tal de mídia social.

– Tudo bem seu Figueiredo, vou inscrever o senhor também.

Duas semanas se passaram e amanhã é dia de BarCamp, as sugestões de temas estão quentissimas, mas Junior esta preocupado, tem certeza que o seu Figueiredo vai meter o pé na jaca, principalmente porque um dos temas é o caso do Radiohead, a gravadora RCRD LBL e outros inovadores…

(continua…)

Nota: Isto é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

E se… 2030… Um ensaio de como viveremos em 2030

Um irritante som invade minha cabeça, é como se ele perfurasse meu crânio e tocasse dentro de meu cérebro, olho em volta para descobrir a origem deste incomodo e percebo uma intensa luz que cintila suavemente, acompanhando o som que agora acaricia meus tímpanos, o ruído irritante cessara. A luz já não cintila mais, é forte e intensa… o que é isso ? Estou tremendo ! Percebo que estou deitado e me dou conta que a minha programação de despertar estava em execução, o tremor era do meu colchão[bb]. Levantei, esfreguei os olhos, olhei pela janela e vislumbrei o mundo do lado de fora, ele ainda esta lá. Nuvens rosadas formavam imagens interessantes, iluminadas pela vermelhidão do sol que estava nascendo, é um verdadeiro caleidoscópio da natureza. O sistema de som da casa anuncia que meu banho[bb] esta pronto, e que dentro de 15 minutos o café[bb] estará servido. Saudades daquele tempo em que saia para comprar pão, e sentia o cheiro do café sendo preparado. Um pouco mais de dez anos foram suficientes para mudar o mundo, afinal se não fosse assim a humanidade estaria encrencada.

O banho estava ótimo, quando acabei de me secar ouvi o bip que vinha do espelho: Hoje eu teria reunião na central de interação pessoal da empresa, afinal hoje era quarta, dia de interação corporativa. Toquei no espelho para sinalizar que havia lido a mensagem. Antes de sair fui dar um beijo no João, meu filho, mas me lembrei que à esta hora ele já estaria na aula. Arrisquei assim mesmo, entrei no quarto e dei um beijo nele, era hora do intervalo e a professora estava corrigindo os exercícios, e ele falou apontando para a tela do computador: – Olha pai, acertei tudo, e a professora do outro lado endossou: – O João é muito bom aluno, esperamos ele aqui na sexta que é dia de interação pessoal e sociabilização. Acenei positivamente com um sorriso e me despedi, já estava de saída.

Ops! Se eu esquecer de dar um beijo na minha esposa ela pode ficar magoada, relações pessoais e demonstração de afeto são muito importantes no nosso micro-ambiente social, no nosso lar. Mas não foi possível, pois ela estava em uma teleconferência no home office[bb], a reunião começou cedo, eram aqueles clientes de Portugal. Apenas joguei um beijo no ar e fui correspondido e sai satisfeito.

Fico em frente de casa esperando o transporte coletivo que irá me levar à central de interação, o transporte individual é praticamente proibitivo. Com as rígidas regras ambientais o preço do combustível fóssil, o mais poluente, foi parar na estratosfera por conta dos ditos tributos verdes. Fica mais barato encher o tanque de Champagne[bb]. Mesmo no meu carro que faz facilmente 50 km por litro, o custo é muito alto, isto sem contar com a cota semanal de quilometragem. Não vejo a hora de comprar um carro à hidrogênio.

Com a necessidade urgente de reduzir substancialmente a emissão de CO2, os governos priorizaram soluções para minimizar a necessidade de deslocamento. O transporte coletivo foi otimizado ao máximo, você traça seu roteiro e envia para uma central, que automaticamente aloca veículos que passarão na sua rota, você é pego em casa e com vaga garantida. Não existem mais as linhas de ônibus, somente de trem e metrô. A capacidade do veiculo coletivo é proporcional ao fluxo, é otimizado ao máximo, com isto a lucratividade das transportadoras justificou todo investimento em adaptação para seus veículos à hidrogênio. Etanol e biodiesel não eram a solução, reduziam a emissão de gases, mas não na proporção que se fez necessária.

Um comportamento curioso, é que como passamos a maior parte de nosso tempo nos nossos ambientes familiares, quando encontramos estranhos sentimo-nos motivados a conversar, conta-se histórias e piadas e o tempo passa voando. Com menos veículos nas ruas, e as paradas dos coletivos programadas, as vias que antes viviam engarrafadas, agora mais desertas, se tornaram vias de trafego rápido. Há 20 anos isto seria encarado como uma piada de mau gosto, uma utopia.

Estou quase chegando ao centro da cidade, quem conheceu o centro há 20 anos, hoje deve estranhar, esta tão vazio que parece um sábado a tarde. Algumas empresas mudaram suas centrais de interação para o subúrbio, mas a minha preferiu manter o velho escritório[bb] no centro. O bom é que o centro não é mais tão cinzento, hoje temos arvores e alguns prédios ficaram abandonados e foram transformados em florestas verticais, parece uma montanha verde esculpida, só vendo para entender. Aquele ar quente e seco e que entrava rasgando nossas narinas foi substituído por um ar leve e fresco que carrega com sigo o clima da floresta, respira-se com prazer.

Desco do transporte e ando em direção à central de interação da minha empresa, cruzo o saguão, deserto mas imponente, uma forte luz varre minha vista por uma fração de segundos e uma gravação me informa para aguardar alguns minutos, pois outras pessoas estão chegando para o mesmo andar. São as novas normas verdes, até o transporte vertical, vulgo elevador, fora otimizado, o consumo de energia é racionalizado ao extremo. Coletores fotovoltaicos armazenam a energia solar em baterias, a iluminação quando não natural é LED , que possui um consumo muito baixo e uma iluminação eficiente. Curioso mesmo são as soluções de iluminação[bb] decorativa com fibras óticas, coletores na fachada capturam a luz que é transmitida pela fibra ótica e brotam do chão, do teto, de jardineiras, de todos os lugares possíveis e imaginários, formando um show visual que não deixa nenhum ônus com a natureza, simplesmente não gasta energia, captura a luz solar e a utiliza para iluminar[bb] interiores, genial. Pedro esta chegando, vejo que ele, um sexagenário como eu esta em forma, lembro que há 20 anos eu era um gordo e hoje sou um esbelto jovem de 60, pilulas, tecnologias alimentares e os avanços da medicina simplesmente varreram a obesidade do planeta. Cumprimento Pedro com um caloroso abraço, e o sistema de som anuncia que já podemos subir, as portas do elevador se abrem e entramos.

(continua…)