A instantaneidade, o crowdsourcing e o jornalismo social

Há menos de 20 anos, o máximo de instantaneidade, em termos jornalísticos, que a humanidade conhecia eram a TV e o radio. As chamadas de extra na telinha e no “dial” anunciavam um fato relevante, mas poucas eram as fontes de informação, a noticia era pré-digerida pelo emitente. Vinte e quatro horas depois, poderíamos obter mais detalhes nos jornais e posteriormente nas revistas, ai então um pouco de diversidade e controvérsia, mas tudo muito ameno. As informações eram filtradas em escolhidas por diretores e redatores, e nossa liberdade de escolha se restringia à poucas opções. Naquele tempo, em um caso como o do incêndio recente na California, ocorrido em 20 de outubro deste ano, levaríamos pelo menos duas semanas para termos um volume de informação significativo a respeito do caso, coisa que hoje temos a disposição 24 horas depois. A diversidade então, impossível comparar. Imagine um verbete em uma enciclopédia então, só no ano seguinte, e não em poucas horas como ocorre na Wikipedia.

Desde os primeiros segundos, diversas pessoas começaram a cobertura do incêndio através de seus blogs, Twitter, YouTube, e não menos relevante, através da Wikipedia. A cobertura se dá de forma descentralizada com as pessoas “Twittando” através de seus celulares, postando em seus blogs a partir de seus smartphones, ou até mesmo de seus notebooks. A forma de conexão com a Internet hoje em dia, definitivamente não é fator determinante para o crowdsourcing, estamos cada vez mais conectados[bb], e a tendência é nos conectarmos de forma cada vez mais ubiqua, até o ponto onde a excessão será não estar conectado, os desconectados serão os Amishs do século XXI.

A grande espiral evolutiva continua acelerada e com o raio cada vez menor, a instantaneidade é primordial, queremos saber agora, o que acontece agora, para isto os veiculos tradicionais parecem verdadeiros paquidermes, até mesmo as midias tradicionais no meio digital são lentas. Uma hora, meia hora pode ser muito tempo, queremos saber dos fatos em tempo real, queremos praticamente interagir com eles. Vivemos conectados, notebooks[bb], smartphones[bb], e até mesmo simples celulares via SMS ou MMS, pouco importa, o que importa é interagirmos em tempo real, noticiarmos em tempo real, coisa que os dinossauros da comunicação não entendem. Se entendessem poderiamos pedir ao camera para posicionar-se um pouco mais a direita, ou avisar ao reporter que “aquele cara ali de boné” parece estar sabendo dos fatos. É a vida em tempo real, é a vida conectada, é a informação ubiqua.

Constantemente a credibilidade do jornalismo social é posta em xeque, os veiculos tradicionais defendem que somente eles estão aptos a noticiarem com credibilidade, e que o Jornalismo Social não é confiavel. Trata-se de uma meia verdade, uma vez que os veiculos tradicionais cometem verdadeiras gafes, como o caso do “Homem que diminui o dedo para usar o iPhone” noticiado pelo Estadão. A confiabilidade do Jornalismo social é diretamente proporcional ao número de fontes, ou a credibilidade conquistada por algumas delas. Um grande número de fontes permite ao leitor avaliar por amostragem o que é ou não confiavel, e assim construir a sua percepção de confiabilidade de algumas fontes. Muitos blogs publicam matérias de alta qualidade e confiabilidade, uma vez que para alguns, o blog é uma fonte de status e/ou receita e o leitor é o seu mais valioso ativo.

Em termos de número de fontes, velocidade e interação, o micro-blogging revelou-se um grande aliado do Jornalismo social, e o Twitter é de longe a mais popular ferramenta de micro-blogging. O caso citado acima, do incêndio na California, foi notório mas não o único coberto via Twitter. A grande “sacada” é que em micro-blogging o texto é limitado a 140 caracteres e o celular[bb] é uma potencial ferramenta jornalistica. Textos via SMS para o Twitter, fotos e videos via e-mail para o Flickr e YouTube respectivamente e na outra ponta temos a noticia em qualquer dispositivo, é o verdadeiro crowdsourcing jornalístico.

Um dos “twitteiros” que cobriram o incêndio na California, o Nate Ritter criou uma ferramenta genial, o HashTags, baseado nas populares hash tags utilizadas no Twitter. O HashTags simplesmente captura e grava todos os posts feitos por uma determinada #tag, para isto basta que você tenha uma conta no Twitter adicione o usuário hashtags, que é um bot. A partir deste momento todas as tags que você utilizar serão gravadas no HashTags, e em tempo real. Enquanto escrevia este post, “twittei” usando a tag #entropia, fiz algumas dicas sobre o HashTags nas tags #hint , #dica e #tags. O HashTags mostra ainda um pequeno grafico de atividade de cada tag, possibilitando visualmente identificar qual tag esta quente ou não.

Na minha opinião, HashTags está para o jornalismo crowdsourcing assim como o Twitter está para o micro-blogging, estamos presenciando os contornos da nova economia, da economia Free, de economia crowsourcing. E você o que acha?

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Update 18/12/07 – Existe um novo serviço, o TerraMinds que não funciona como o HashTags mas ele indexa todos os usuarios do Twitter e permite pesquisar por nome de usuário ou palavra chave. Igualmente útil para o Jornalismo Crowdsourcing