Voltamos ao domínio próprio

Pessoal, quando havia desistido do domínio entropia.blog.br não poderia imaginar que oportunistas iriam se apossar do domínio para oferecer produtos e serviços duvidosos.

Agora consegui recuperar o dominio, e não pretendo deixa-lo novamente.

Quero deixar claro que não conheço quem se apossou do domínio durante este período, e obviamente não posso responder por eles.

Anatomia do ativismo no BBB e a desconstrução dos estereótipos

Não sou fã de reality shows, tenho muitas críticas a estes tipos de entretenimento, mas em casa minha família acompanha todos eles. É BBB no almoço, na janta e depois também. As conversas sobre o reality são constantes por aqui. Não tenho como ficar de fora, muitos temas sensíveis surgem nestas conversas, e esta edição em especial está com um contingente grande de participantes negros. Segundo o IBGE, 54% da população brasileira é negra, e esta edição do reality tentou manter esta proporção.

A questão não é meramente matemática, mas sim o que está acontecendo na casa.

Não conheço o processo de seleção, mas acredito que devam existir avaliações psicológicas e psicograficas que permitam à direção do programa conhecer profundamente a personalidade dos participantes. Uma vez conhecidos, montar as possíveis dinâmicas esperadas no programa é uma questão simples para profissionais especializados em psicologia e sociologia.

O jovem e simpático Lucas foi o primeiro negro a ser ofertado ao achincalhe dos participantes, em especial dos participantes negros, que formaram o que esta sendo conhecido por “eixo do mal”. Lucas foi “cancelado” a partir dos ataques da psicologa e ativista Lumena, e sofreu assédio moral da cantora egocêntrica Karol Konca. O ataque ao Lucas se tornou ainda mais intenso a partir do momento em que ele e o Gilberto se beijaram. A pressão insuportável feita pelo eixo do mal, em especial pela própria Lumena, se deu em torno do questionamento da orientação sexual do rapaz, que não aguentou a pressão e pediu para sair do programa.

O episódio provocou uma verdadeira ebulição emocional no público que acompanha o reality. Se isto fosse um filme, é nesta hora a câmera iria cortar para mostrar o regozijo do vilão. Por falar em vilão, lembrei do fato, onde um vazamento mostra o audio do “Boninho” falando com o Projota sobre o Lucas, e ele diz: “O Lucas é um bom menino, mas ele omitiu que tinha problemas com a bebida. Quando ele bebe se transforma num monstro”.

Vamos parar um pouco, e olhar para os detalhes…

A refundação dos estereótipos

É impressionante a capacidade de refundar e reforçar estereótipos justamente quando a intenção é desconstrui-los. Pode ter sido a intenção da produção do programa criar uma oportunidade para trazer estas questões para o debate público, mas o que tem ocorrido tem sido o oposto.

Existem no âmago da sociedade brasileira inúmeros estereótipos que são repetidos e reforçados diariamente num processo recursivo que os fixa em nosso inconsciente, a ponto de acessa-los de forma automática.

Leonard Mlodinow no livro Subliminar diz que 95% da nossa capacidade cognitiva funciona de forma automática, e é para este campo da automação que estes preconceitos sedimentados vão.

Um exemplo interessante deste processo recursivo de consolidação de estereótipos em precoceitos pode ser tirado do livro Weapons o math destruction da Cathy O’Neil. Em determinado momento ela cita o PredPol, um sistema de inteligência artificial capaz de prever onde estão ocorrendo mais crimes com base no registro de delitos. O sistema foi usado pela policia de Los Angeles, que acabou delimitando as regiões de população mais pobre e negra como as regiões violentas. Isto ocorreu porque o próprio preconceito dos policiais foi assimilado pelo sistema, ao relatarem qualquer delito destas regiões, mesmo aqueles irrelevantes como pequenos furtos, e ao mesmo tempo relevarem delitos até mais graves em outras regiões, eles enviesaram os dados do PredPol.

Existem outras questões subjetivas que nos fazem reforçar nossos preconceitos, como diz o estudo da “Espiral do Silêncio” conduzido pela pesquisadora Elisabeth Noelle-Neumann em 1974. Segundo o estudo as pessoas optam por omitir-se, aceitando a opinião vigente do grupo, com receio de serem isoladas socialmente. Ou seja, aceitam os estereótipos e preconceitos construídos por seu grupo social, como medo de serem excluídas.

Ainda pelos submundos da mente humana, nosso processo cognitivo é repleto de automações, que nos fazem processar informações e tomar decisões de forma mais rápida. Estes processos são chamados de “heurísticas”, e já foram identificadas mais de 100 tipos diferentes, e estas heurísticas acabam reforçando nossas crenças, sedimentando ainda mais nossos preconceitos. Você já deve ter ouvido fala do “Viés de Confirmação”, que é uma heurística, que diz que tendemos a aceitar como verdade aquilo que dialoga com nossas crenças, e refutar tudo aquilo que a contraria. Outra heurística que acho pertinente aqui, é o viés da disponibilidade, que diz que tendemos a tomar decisões e conclusões com base nas informações imediatamente disponíveis em nossos esquemas mentais. Se estamos o tempo todo recebendo reforço de nossos preconceitos, é fácil concluir quais serão estas informações.

Percebe-se ai, o quanto estes estereótipos reforçam preconceitos, e quão profundo estes preconceitos permeiam o tecido social e a mente do indivíduo, dificultando muito sua desconstrução.

Ain! Que gente chata!

O primeiro passo para avançar contra estes estereótipos é enfrenta-los e desconstrui-los. Na prática toda luta de vitimas destes estereótipos se baseia nesta tarefa. E na verdade, todos somos vitimas de estereótipos e preconceitos em algum nível, nos colocando na posição de indignado.

Indignai-vos! Uma breve obra onde Stephane Hessel, explicita a necessidade de nos mantermos indignado. Para ele, muito da indignação é atrelada a eventos histórico, tornando-a pontual, porém defende que a pior das atitudes do ser humano é a indiferença, e a capacidade de indignar-se é completa quando integrada a capacidade de construir um altruísmo através da empatia. Stephane defende também a não violência e a insurreição pacífica como caminhos a serem trilhados nessa luta chamada vida.

Na prática, o processo de reação e desconstrução é pleno em emoções, e cria uma atmosfera pesada, colocando todos os demais no lugar comum de algoz. Desta perspectiva surgem as expressões como luta contra o patriarcado pelas feministas, ou luta contra as regras da branquitude no tema em questão. Isto em um micro ambiente social, como a casa do BBB acaba criando um ”clima pesado”, levando os participantes a pisarem em ovos, cuidando para serem politicamente corretos.

Para quem está do lado de fora, a leitura é “Ain! Que gente chata!”, não pode nada!

E é exatamente esta narrativa que esta sendo construída, a leitura fora do contexto de construção de políticas públicas é exatamente este. Não que este comportamento seja errado, ele é desejado, em políticas públicas o papel dos radicais é importante para podermos deslocar a janela de consenso para uma posição mais favorável.

Mas dentro de um reality é a pior coisa a ser feita, parafraseando Paulo Freire, o sonho do oprimido é tornar-se opressor, mas só o amor constrói. Se tivesse um participante experiente em políticas públicas, como o Diplomata Rômulo Neves que participou em outra edição, ele certamente faria o papel de mediador, transformando os embates em produtivos debates.

A experiência em politicas públicas nos faz perceber a distinção entre os indivíduos e suas representações no embate, nos permitindo separar as pessoas de suas personas. Outro aspecto é compreender que o dialogo é a raiz do consenso, e que o consenso é a única forma de evoluir. Todo resto é desperdício de energia.

Talvez a primeira coisa que os ativistas deveriam buscar compreender são todos os aspectos que forjam estes estereótipos e preconceitos, e não apenas os aspectos cognitivos como descrevi acima, mas também históricos, culturais, sociais, regionais, econômicos e políticos.

Mapeando os atores de suas interlocuções poderiam identificar formas de expor os efeitos de uma cultura opressora dentro de um contexto que o próprio opressor, ou representante do grupo opressor, possa perceber, ativando sua empatia.

Por exemplo, certa vez li um relato em uma rede social de uma menina que toda vez que pegava um taxi ou um Uber, ao entrar fingia estar falando com alguém, passando os dados do carro e do motorista, e avisando que chegaria em tantos minutos. O relato dela passava por outras práticas de segurança comuns em festas e até mesmo para andar sozinha na rua. Aquilo me assustou, eu sou homem hetero, faço parte do estereótipo do patriarcado. Mas eu senti mesmo, e me impressionei quando vi a quantidade de comentários e interações de outras meninas relatando suas práticas ou confirmando fazer o mesmo, aquilo me encheu de vergonha de pertencer a um estereótipo opressor, e mudou completamente a minha compreensão do que é ser mulher em uma sociedade machista.

Este é o gancho, este é o caminho pelo amor, como diz Paulo Freire, e não violento como apregoa Stephane Hessel.

Em resposta, quando Lumena falou que era desconstruída, e que não queria cozinhar porque cozinhar esta associado ao estereótipo do negro, a resposta dos outros participantes deveria ser a negação do estereótipo, melhor que desconstruir um estereótipo, é dissolve-lo em conjunto com todos, independente de quem for. E esta dissolução é trabalho de formiga, e deve começar em casa, em primeiro lugar deixando de usar a palavra “negro” como adjetivo…

Sobre a vacina, não se anime tanto assim

Não estou querendo acabar com a festa de ninguém não, mas 2021 não vai ser fácil, mesmo que tenhamos milhões de doses de vacina contra o coronavírus disponíveis já em janeiro.

A ausência de um plano de vacinação dialoga perfeitamente com um ministro da saúde que não é da área, e com um presidente que brinca de rei e acredita mais nas abobrinhas de sua mente do que na ciência. Estes irresponsáveis fizeram um estoque de cloroquina para mais de 100 anos, quando deveriam estar fazendo estoque de agulhas e seringas.

De nada adianta termos milhões de doses de vacina se não temos como aplica-las, segundo especialistas serão necessárias ao menos 300 milhões de conjuntos de seringa e agulhas para vacinar a primeira dose da população pouco superior a 200 milhões de brasileiros. As vacinas escolhidas até então no país necessitam de duas doses, e o governo também comeu mosca nos acordos com outros fabricantes, se fosse um governo sério teria feito acordos com todos.

Os fabricantes necessitam de SETE meses para fabricarem 300 milhões de seringas, se ao invés de cloroquina, o governo tivesse feito estoque de seringas estaríamos numa boa, mas agora iremos esperar na melhor hipótese até Agosto de 2021 para voltarmos a normalidade.

Mas estes não é o único problema, o país nunca fez uma campanha de vacinação desta dimensão, é uma empreitada única, e ao que parece o MS deu ao um veterinário a coordenação da tarefa.

Vacinação não é um ato individual, é necessário imunizar entre 60 à 90% da população para atingir o efeito desejado e erradicar a cepa atual do coronavírus, quanto maior a cobertura imunizatória, maiores as chances de não termos novas ondas com novas mutações do coronavirus, tal qual na gripe. Mas estamos vendo ai o próprio presidente, do topo de sua ignorância, fazendo campanha contra as vacinas e contra o ato cívico de vacinar-se.

Da para continuar dissertando sobre as falhas e riscos, muita coisa pode dar errado, e com esta falta de compromisso, estratégia e especialistas, esta chance é muito maior, e seria um luxo imaginar que teremos planos de contingência.

O governo esta dando muita chance ao azar, e provavelmente também seremos reconhecidos mundialmente como a nação com o pior plano de imunização do planeta. E provavelmente continuaremos isolados do mundo, uma vez que presumo que assim como hoje é com a febre amarela, o certificado internacional de vacinação contra a COVID será exigido nas fronteiras deste mundão. E teremos condições e credibilidade para emitir este certificado?

O ato de egoísmo dos promotores do MP de São Paulo ao tentarem buscar previlégio para vacinação pode ser um sinal de que esta disputa poderá se multiplicar, e tem uma razão para isso, pode faltar vacina pra muita gente. Não sei se isto poderá provocar algum tipo de convulsão social, mas a possibilidade é bem concreta.

A estratégia de vacinação atende a critérios científicos e técnicos, mas é difícil prever isto em um país governado por um presidente que despreza a ciência e tem aparelhado as instituições estratégicas da saúde, cultura e educação, com replicadores de sua própria ignorância.

Aliás por falar em emparelhamento, Bolsonaro colocou militares alinhados com ele para controlar a politica de aprovação de vacinas, ou seja, colocou seus capangas para prejudicar a liberação da vacinas com interesses políticos.

Não consigo imaginar um bom cenário para 2021, vejo mais quebradeira, mortes, e a economia caindo a níveis nunca vistos, isto porque é impossível prosperar e consumir em um ambiente tão incerto.

A conta vai ser muito alta, acredito que o país levará décadas para se recuperar… de sua própria ignorância…


Publicado originalmente em 06/12/2020 no Medium

Classe mérdia

Eu cresci na zona sul, e depois em um condomínio de classe média alta e jacarepaguá, e confesso que analisando o “ambiente” em que cresci, compreendo claramente esta viralatice insana que ganha as redes.

A adoração aos Estados Unidos sempre esteve nos centros dos debates de nossos pais e vizinhos, porque lá era lindo, porque a faxineira americana tinha carro, porque lá as coisas funcionavam, porque o povo era limpinho, porque lá não tinha pobreza. E este discurso passava de pai para filho, toda minha geração foi contaminada com esta perspectiva cultural. Alias ai está o gancho!

Desde o pós guerra, os Estados Unidos exportaram seu mais importante ativo, a cultura americana. O engrandecimento da indústria cultural americana, e digo cinema, música, e até basicamente tudo que liamos quando criança. Eu mesmo lia todas as publicações das Disney e tinha todos os manuais que foram publicados. O sonho do viralata americano começava desde pequenino.

Ícones, valores e símbolos americanos permearam a cultura da tal classe média de uma forma que a única forma de se sentir no primeiro mundo era se tornando americano, abdicando da própria nacionalidade brasileira. Me lembro de minha tia comentar perplexa que a vizinha dela na Gávea ostentava orgulhosa a foto do filho brasileiro, com uniforme da marinha americana. Muitos amigos sonhavam mudar para os Estados Unidos, até eu sonhava em ser americano.

Não percebia como estes valores eram entregues nos filmes, revistas em quadrinhos e até nas músicas, só achávamos aquilo fantástico. We love america! Tínhamos vergonha de ser brasileiros, isto criou uma imagem curiosa, ninguém podia ver alguém falando inglês, sem lhe dar logo o status de celebridade. Quantos americanos das classes mais baixas não se sentiram assim em terra brazilis?

Muitos de minha geração foram para a “america”, e agem como se americanos fossem, apesar de estarem presos entre dois mundos, o de que nunca serão americanos de fato, e o de que nem brasileiros. São os intermundos, mas se estão felizes, que sejam.

Esta mesma classe média, ou seria melhor, mérdia, foi incapaz de se enxergar como primeiro mundo, quando no governo Lula, o Brasil se tornou a 6a maior economia, e tínhamos um respeitoso reconhecimento como nação emergente e progressista, eu mesmo vi isto por várias vezes nos fóruns da ONU que participei por anos. Essa classe mérdia pedia desculpa por nossa ousadia, pois até o ministro da Cultura, o Gil revolucionou o valor da cultura brasileira mundo afora, que ousadia!

Curioso ver que esta mesma classe mérdia que achava o máximo a faxineira andar de carro nos EUA, ficava indignada com a faxineira andando de carro e avião por aqui, e a gota d´água foi quando o filho da faxineira entrou na faculdade e o da patroa não.

Na verdade dentro deste ambiente social se cultivava uma noção de status e valores que não condiziam com os nosso valores brasileiros, brasilidade passou a ser brega, chique mesmo é ser americano. Isto criou uma estranha vergonha de nossos valores.

Olha, mérdia por mérdia, eu acho os EUA uma merda, a única coisa boa de se fazer por lá é compras, eu descobri isto depois de rodar o mundo, até a Africa é mais interessante, e a Europa, não da nem para comparar com os EUA, sem dúvida, depois do Brasil, a Europa é um continente interessante.

No fim das contas, vamos o país ser destruído por um presidente totalmente despreparado, mas legitimo representante desta classe mérdia da barra da tijuca, que prefere ser viralata dos EUA do que ter orgulho de ser brasileiro. Isto explica comportamentos bizzaros da família que conduz o país a deriva, e seu amor subserviente aos EUA, e as manifestações pró Trump dos viralatas que não aceitam ser brasileiros, mesmo que nunca serão americanos, apenas idiotas úteis…

Existe um cérebro invisível por trás da emergência extremista?

Recentemente Leandro Demori publicou um texto no The Intercept, apontando evidências de que a emergência extremista é um projeto global. No texto ele aponta algumas coincidências nos discursos de representantes dos governos Italiano, Húngaro e Brasileiro.

Segundo Demori, na Italia, assim como no Brasil há uma perseguição contra a educação, e o que eles chamam de doutrinação marxista. Ainda segundo Demori:

Salvini, Bolsonaro e Orbán são políticos da nova onda de populismo de extrema direita. Não é coincidência que seus inimigos sejam os mesmos: professores (e jornalistas, “o comunismo”, George Soros etc). Todos estão seguindo um manual extremamente previsível de anti-iluminismo.

O texto de Demori não é muito longo, mas apresenta pistas que precisam ser investigadas.

Também não há dúvidas da influência pela manipulação das mídias sociais, através de fake news impulsionadas por bots e perfis fakes, com a precisão cirúrgica do microtargeting, tendo como principal mentor Steve Bannon, que esteve envolvido na campanha de Donald Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil. e há forte evidências de seu envolvimento no Brexit.

Não podemos deixar de considerar a exclusão recorde de 2,2 bilhões de contas falsas pelo Facebook no primeiro trimestre de 2019, coincidindo com o período pré-eleitoral na Europa.

Para colocar mais um elemento nesta questão, o economists Eduardo Moreira denuncia em um vídeo no Youtube, que o governo brasileiro está querendo sumir com as informações oficiais.

No vídeo o Eduardo demonstra que os links que pesquisava sumiram do Google, antes os resultados eram os primeiros, depois sumiram. O fato me chamou a atenção para um detalhe.

O que pode esta havendo com relação ao Google e estas informações que estão sumindo, pode ter relação com o decreto 9756/19, que “centraliza” os endereços de internet de diversos órgãos do governo (URLS). Isto somado a mudança do nome de alguns ministérios impacta sensivelmente em muitas URLs do governo, mudando-as completamente. Pelo decreto, projetos, secretarias, e outros que possuíam seus próprios endereços de Internet, passam a ser meras pastas sob o endereço do ministério. É importante destacar que para desaparecer com informações na Internet, basta eliminar os links, e no caso do Google isto é feito internamente quando há alguma denuncia ou ordem judicial, ou pela perda de relevância do conteúdo linkado.

O decreto muda significativamente diversas URLs e URIs do governo federal, derrubando sua visibilidade em ferramentas como o Google. Ao mudar as milhares de URLs e URIs, elas perdem “relevância” no Google, pois os webcrawlers que constroem e mantém a sua base de dados, irão encontrar uma enorme quantidade de links quebrados, que levam à página não encontrada ou conduzem a um excesso de redirecionamento, como no exemplo do fazenda.gov.br que agora é economia.gov.br.

O índice de visibilidade do Google, se assemelha ao ranking de artigos acadêmicos, ou seja, quanto mais citações melhor a avaliação. Como os endereços das citações quebraram, o ranking das informações procuradas cai.

O decreto, com validade a partir de sua publicação em 11 de Abril de 2019, em edição extra do Diário Oficial, parece atender ao timming perfeito, dificultando o acesso a informações importantes relacionadas aos temas relevantes como a Reforma da Previdência e Reforma Tributária. Além de inúmeros temas secundários. Os endereços do governo brasileiro na Internet vão levar algum tempo, que pode se estender por alguns meses, para recuperar sua relevância e visibilidade na Internet.

Coincidências ou não, o que parecia ser um decreto inútil e sem sentido, esta servindo como uma gigantesca cortina de fumaça para esconder informações relevantes do governo.

Se há ou não um cérebro invisível por trás desta emergência extremista, é importante identificá-lo o quanto antes, sabe-se lá o que está por trás desta onda de anti-iluminismo descrita por Demori, espero que não seja uma nova idade das trevas…

O homem sem fé

Não sei como as pessoas sobrevivem sem fé?

Não estamos falando de fé religiosa, estamos falando da fé em si, daquele sentimento interno que nos faz manter alguma esperança, daquele fio de teimosia que nos faz crer que apesar de toda adversidade, alguma coisa vai dar certo.

Estamos falando daquele sentimento que nos faz emergir olhando para a frente para vislumbrar uma pequena luz bem distante.

Estamos falando daquele sentimento que nos faz crer que hoje será melhor que ontem, que este mês melhor que o mês passado, que este ano será melhor.

A fé que nutrimos repleta de simpatias no Reveillon frente a um ano novinho em folha que desperta. A fé que nos faz pensar em yin-yang, a filosofia taoista da dualidade, onde os opostos andam juntos e nos faz perceber que sempre o bom é o outro lado do ruim, e que basta olhar por outro ângulo para vermos o bom, se não o vemos, ao menos podemos acreditar que ele está ali.

A fé… a fé que move montanhas pelo simples fato de que acreditamos que isto seja possível.
A fé que cura, a fé que nos acalenta, a fé que nos mantém vivos.

Ter fé não significa religiosidade, ter fé significa acreditarmos em nós, ter fé significa amor.

Amor por si, pelos seus, pelo próximo, pelo mundo. Amor pelo próximo significa praticar o altruísmo e a empatia. O exercício de dar ao próximo a fé que ele busca, pelo simples fato de saber que alguém o compreende, que alguém de alguma maneira se preocupa com ele.

A fé acalenta, a fé acalma, mas a fé pode falhar pelo simples fato do homem deixar de acreditar em um futuro possível. Quando todas as luzes distantes parecem ter se apagado, e o amor vai dissipando, e com ele a sua capacidade de ser um homem de fé. O homem sem fé é amargo, o homem sem fé é um homem aprisionado em si mesmo, preso em uma cela que não o permite ver a luz distante por mais intensa que esta seja.

Alguns chamam isto de depressão, mas na verdade é falta de fé.
Dê fé a quem precisa, exercite seu altruísmo e sua empatia, é dando que se multiplica.

Não deixe o mundo perder a fé.

João Carlos Caribé
Janeiro de 2018

A natureza da Internet

Na construção de políticas públicas de Internet, seja nos fóruns de governança, parlamentos ou em outro espaço de construção, muito tempo e energia são investidos em torno da definição da natureza da Internet, sem que seus interlocutores em geral tomem ciência disto. Cada stakeholder defende que a natureza da rede seja a que melhor serve à seus interesses. Para uns a Internet é uma rede de negócios, para outros uma rede de telecomunicações, ou mídia para muitos, campo de batalha para outros, uma gigantesca rede de construção coletiva e cognitiva de conhecimento, uma rede de pessoas, uma rede de inclusão, uma rede de conhecimento, uma ferramenta ou até mesmo uma rede militar.

Na prática ao definir a sua visão da natureza da Internet, o interlocutor vislumbra uma “arena” na qual seus valores e pontos de vista tornam-se mais plausíveis, deixando-o mais confortável na construção de seus argumentos.  Faz parte da estratégia política e diplomática a transmutação em torno da natureza do objeto, voluntária ou involuntariamente, tanto para reforçar argumentos quanto para construir a percepção de dissenso, ou pela simples complexidade do objeto em pauta. Você pode imaginar que a simples transmutação em torno do objeto, no caso a natureza da Internet, pode inviabilizar infindáveis horas investidas em construções de políticas de Internet. Quanto este objeto é a Internet, que é relativamente novo e ainda esta sendo apropriado, temos um objeto liquido em torno do qual circulam diversas definições de sua natureza, onde todas são válidas, mas mesmo juntas não conseguem chegar a definir sua natureza.

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A natureza da Internet ainda é um “anekantavada“, expressão que refere-se aos princípios do pluralismo e da multiplicidade de pontos de vista, em que a verdade e a realidade são entendidos de forma diferente consoante a perspectiva, e que nenhum ponto de vista consegue abranger toda a verdade. O anekantavada pode ser explicado facilmente pela parábola dos cegos e o elefante, onde cada cego interpretava o animal conforme sua percepção da parte que tocava. Todos tinham suas interpretações em torno da natureza do animal, e que mesmo juntas não definiriam toda a verdade à cerca da natureza do elefante.

A natureza da Internet ainda é um “anekantavada”, expressão que refere-se aos princípios do pluralismo e da multiplicidade de pontos de vista, em que a verdade e a realidade são entendidos de forma diferente consoante a perspectiva, e que nenhum ponto de vista consegue abranger toda a verdade.

Na busca desta definição vale analisar como pensadores tratam a natureza humana. O antropologista Clifford Geertz diz que seres humanos são animais inacabados, ou seja, que é da natureza humana ter uma natureza humana a qual é praticamente o produto da sociedade em que vivemos. A nossa natureza humana é muito mais criada do que é descoberta. Nos moldamos a natureza humana moldando as instituições nas quais as pessoas vivem e trabalham.

Barry Schwartz no livro Why we work diz que a natureza humana sera alterada pelas teorias que temos, que são elaboradas para explicar e nos ajudar a entender os seres humanos.

Pela ótica de Geertz e Schwartz a natureza humana é produto da sociedade em que vivemos, ou seja, a natureza humana é dependente do seu entorno, ela muito mais criada em resposta ao contexto onde esta inserida do que descoberta. Por esta linha, é interessante identificar inicialmente o contexto onde a Internet está inserida, e isto nos remete às arenas que citei anteriormente.  As arenas não são o contexto, a própria Internet é o contexto, estamos justamente buscando a natureza do contexto, as arenas são neste caso as diferentes aproximações à este contexto. Avaliar a natureza da Internet usando as mesmas ferramentas com que se avalia a natureza humana é um claro equivoco. Ainda no campo das aproximações podemos chegar ao conceito de ecossistema:

Ecossistema (grego oikos (οἶκος), casa + systema (σύστημα), sistema: sistema onde se vive) designa o conjunto formado por todas as comunidades bióticas que vivem e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que atuam sobre essas comunidades.

Leslie Daigle, uma das poucas pesquisadoras à estudar o tema, parece basear seu estudo “On the nature of the Internet” na busca do entendimento da natureza da Internet baseado no conceito de ecossistema, analisando três pontos:

  • Delinear a natureza técnica da Internet;
  • Articular as propriedades imutáveis ​​do Internet (os “invariantes”);
  • Buscar o equilibrio entre estes dois elementos para examinar os desafios atuais enfrentados pela Internet..

O estudo da Leslie vale a pena ser cuidadosamente lido, estudado e comentando, e a conclusão dialoga muito bem com a provocação inicial deste artigo, como segue:

A Internet não é um acidente, e enquanto ele se desenvolveu através da evolução em resposta a mudanças de requisitos, o seu desenvolvimento não foi aleatória ou impensado. Existem propriedades essenciais da Internet que deve ser apoiadas para que ela continue sua sequência de sucesso continuado. Já não é possível compreender a natureza da Internet sem considerar o mundo em que ela existe – como tal, as considerações de tecnologia podem estar no centro de determinar o que funciona (ou não) para a Internet, mas um quadro não-técnico para discutir eventuais compensações é imperativo. Os invariantes podem servir como uma estrutura útil para discutir os impactos sem ter que se aprofundar nos detalhes intrincados da tecnologia que impulsiona a Internet. Com o quadro em mente, discussões de políticas podem se concentrar no que pode ser feito para resolver um problema e avaliar os impactos potenciais sobre a Internet.

A provocação inicial deste texto visava leva-lo à uma reflexão e desejo continuar esta busca ou atualização que no meu enteder vai além do que foi visto até então.

Freguesia, a autofagia de um bairro

Em meados dos anos 70 quando me mudei para a Freguesia em Jacarepaguá, ainda era um adolescente da Zona Sul carioca e tive a certeza de ter me mudado para o “fim do mundo”. A sensação era como tivesse ido parar muito distante da civilização, cavalos, carroças e vacas disputavam as vias com os poucos carros… bicicletas eram o meio de transporte mais usado, e respeitado.

Nos finais de semana seguíamos tranquilamente de bicicleta pela Av Ayrton Senna, na época chamava-se via 9 e era de mão dupla, até o trailer Gavião na Alvorada, na época uma praia praticamente deserta na Barra, afinal nem ônibus passava lá. Na Freguesia existiam pouquíssimos prédios, a ponto da pessoa dizer que morava no prédio da rua tal (era o único da rua), a maioria morava em casa, casas com enormes jardins e pequenas florestas privativas, herança de quando Jacarepaguá era povoada de sítios e chácaras, quase todo mundo tinha piscina e alguns tinham quadras de esportes, era divertido viver ali. Os invernos eram bem frios, e os verões nem tão quentes, mas invariavelmente refrescados pelas chuvas no final da tarde, que sempre pegávamos na praia antes de voltar para casa.

O cinema era Cisne e o restaurante Sorvetex, não tinha shopping, nem nada, até que um dia surgiu ao lado do Carrefour o “Shopping Show”, fomos lá assistir ao show de inauguração em uma arena montada no estacionamento, com alguns novatos como a Elba Ramalho, com pernas lindas pelas quais logo me apaixonei. A partir dai o programa de final de semana incluía uma ida ao Barra Shopping cujo cinema não passava o pacote tríplice pornochanchada do Cisne, mas nos deixava mais próximos dos filmes exibidos nos cinemas da civilização, não precisar ir ao Cine Leblon para assistir a um filme novo já fora um grande avanço.

O progresso da região seguiu seu curso, não podemos dissociar a Barra da Freguesia, principalmente pela ótica do morador de Jacarepaguá que sempre teve a Barra como extensão de seu habitat. No final dos anos 80, a orla da Barra foi “urbanizada”, trailers foram retirados, incluindo famosos como o Via 11, e o Boa da Noite, calçadões com ciclovias substituíram o prazer de estacionar o carro na beira da areia, que insistia em invadir o asfalto. Duplicaram a Av. das Américas e criaram as pistas laterais, fizeram tanto aterro que imaginávamos que já estavam deixando os tuneis do Metrô ou que teríamos as passagens de nível previstas no plano Lucio Costa, mas nada disto foi feito…

Enquanto isto na Freguesia surgiam novos edifícios com amplos apartamentos, com o objetivo de atrair compradores, que invariavelmente procuravam casas.

No final dos anos 90, deu-se o inicio do fim, uma explosão imobiliária irresponsável e desmedida na Freguesia (Jacarepaguá), promoveu a aniquilação de casas com grandes terrenos amplamente arborizados, colocou em seu lugar gigantescos monstros de concreto armado que mudaram completamente o micro-clima da região. Agora mesmo em pleno inverno sopra um vento quente e irradia um calor intenso das ruas e dos monstros de concreto. Certamente iremos disputar com Bangu o “status” de região mais quente do município.

Como todo problema não vem desacompanhado, a concentração insana de pessoas, onde era uma casa agora é o habitat de dezenas de famílias, o número de veículos explodiu, que somados a péssimo e monopolista sistema de transporte público, imobiliza os habitantes da região em intermináveis e poluidores engarrafamentos. Uma rápida ida de 10 a 15 minutos ao Barra Shopping dos anos 80, pode significar até mais de uma hora atualmente.

Definitivamente a Freguesia esta se tornando uma região inviável de se morar e viver, e imagino que estamos a beira de uma crise imobiliária que no Rio terá inicio por aqui, jogando para baixo os preços dos imóveis da região, e nos tornando assim prisioneiros, pela simples inviabilidade financeira, de uma região da qual tudo de bom fora extraído.

Não estou preconizando uma crise imobiliária estou usando de fatos e observações para isto, basta observar a quantidade crescente de salas comerciais e apartamentos vazios na região, bem como a queda dos valores venais e/ou de aluguel. Compare isto ao cenário nacional, e veremos que uma grave crise acena, e uma crise que não tem como algoz o governo, como muitos querem fazer você acreditar, mas uma crise provocada pelos bancos e pela ganância imobiliária que tenta a todo custo sustentar uma bolha imobiliária insustentável, em especial na Freguesia, onde os preços subiram tanto que chegaram próximos aos do Recreio e Barra da Tijuca.

Se ainda assim não acredita em crise imobiliária, seguem alguns links:

 

 

 

O paradoxo do progresso

Desde que me entendo por gente vejo a tecnologia mudar o mundo à minha volta, os homens foram a lua, satélites e mais satélites, robôs nas fábricas, computadores, inteligência artificial, e muita ficção científica. Desde então a sociedade assistiu seu espaço ser invadido pela tecnologia. Tudo em nome do progresso que não poderia parar. Tivemos de assistir nossos postos de trabalho serem aniquilados, profissões dizimadas, e a tecnologia pouco a pouco ganhar o centro das atenções. Sindicatos, associações e outros representantes de coletivos foram a luta, mas sem sucesso, afinal o progresso não pode parar. O progresso é aliado do capital, o trabalho é despesa, o objetivo é o lucro.

Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: a fita cassete vai acabar com a indústria fonográfica!

Pela ótica do capital esta tudo correto, quem lembra da reengenharia, um conceito até interessante, mas que fora usado como artifício para provocar a maior onda de demissões de todos os tempos. O capitalismo sempre foi focado no lucro, tanto que mão de obra até hoje é entendida como insumo, assim como os materiais, um orçamento sempre foi composto de insumos e lucro. Lucro este desejado, a palavra de ordem é competitividade, temos de ser competitivos, afinal o capitalismo é selvagem, e somente os mais competitivos sobrevivem. Entenda que não é nada pessoal, dizia o patrão ao demitir funcionários de longa data, é a busca pela competitividade e sobrevivência da empresa que esta em jogo, empresas não podem ter coração…

Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O video cassete vai acabar com a indústria cinematográfica!

A Arte da Guerra do Pai rico, que virou a própria mesa antes do Safari de Estratégias do Príncipe, na busca de um monge que virou executivo. Até hoje não sabemos quem roubou meu queijo, e nem quem foi o Fora de Série que chegou no Ponto da Virada em Caminhos e Escolhas na busca de um Freakonomics. Mesmo que o Marketing seja Lateral ou vá além do Buzz, ou gerenciamos a experiência do consumidor ou tentamos entender a cabeça do Brasileiro. O líder do Futuro faz uma Liderança Radical, diz que Sobreviver não é o bastante e não gosta de Sundae de Almôndegas. Tanta coisa fora sistematizada para alavancar o progresso, para girar a roda da fortuna em prol da competitividade e do lucro.

Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O CD vai acabar com o LP!

Meados dos anos noventa, o fim do mundo estava próximo, o bug do milênio que assombrava todo mundo, na verdade era apenas mais um mercado construído em cima de dúvidas e incertezas. Estávamos sendo usados mais uma vez. As profecias diziam: o fim do mundo esta próximo! A Internet chegou, uma nova parafernália eletrônica que chega para divertir os nerds e conectar os acadêmicos, um espaço de poucos. A Internet chegou!

Como falavam em globalização! O mundo como uma maravilhosa aldeia global, onde todos consumiriam alegremente, anunciavam o inevitável fim da cultura local, e enalteciam as maravilhas de mundo globalizado. Na prática estavam alinhavando novos mercados, o progresso não pode parar! Aquele tênis bacana é produzido no terceiro mundo por mão de obra escrava com uma marca registrada nos “Staites” que valia mais do que custava o sapato, que não valia nada. Era o tal do insumo que ficou pequeno perto do lucro, a ciência do preço agora contava com um fator de subjetividade ainda não entendido, mas pouco importa, felizes consumidores pagavam lucros exorbitantes para ostentar seu mimo. As corporações cresciam, cresciam como nunca…

Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: Pirataria é crime!

B2B, B2C, G2B, G2C, A2Z; A2Z,G2B,B2C,G2C,B2B, e-learing, e-enterprise, e-commerce, e-gov, e-tudo. e-Siglas e letras 3 letras povoaram o vocabulário corporativo. A Economia Digital ensinava a Vender seu Peixe na Internet e tudo Fazia Sentido. Webonomics levou ao Net Gain, mas We the Media ainda não haviam estabelecido as Novas Regras da Comunidade. O capitalismo virou bits, o free shop ficou à dois cliques de distância, que beleza! Globalização! O mundo agora ficou pequeno, e todo mundo achando tudo muito lindo, não percebiam a intenção latente, a nova ordem era transformar empresas em mega corporações, maiores e mais poderosas que as nações…

Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: Agora quem manda são as corporações, afinal oferecemos aquilo que o fizemos desejar.

Descobriram o usuário, a Internet ficou popular, ficou fácil para qualquer um produzir, criar e compartilhar, deixem eles brincar diziam as novas nações-corporações, afinal o Culto dos Amadores não podem nos ameaçar. Mas as Novas Regras da Comunidade mostravam o Valor das Redes que através de seus Trust Agents corriam em busca de Socialnomics, mas na verdade estavam muito mais interessados no Group Genius. Esta sociedade conectada, alinhadas por ideologias eram vistas como excelentes oportunidades de negócios, afinal nichos e mega nichos sempre seduziram qualquer corporação em busca de novos mercados. Eles “brincavam”, faziam mashups, blogs, e se conectavam através de redes sociais. Excelente dizia o establishment, nosso plano de dominação vai de vento em popa…

Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O mundo de pontas esta se alinhando com o Manifesto Cluetrain.

Inteligência coletiva, cognição interativa, pensamento globalizado, juntos os usuários ficavam mais inteligentes, mais inteligentes que a soma das suas inteligências. Inteligência coletiva, crowdsourcing, dinheiro P2P, mobilização coletiva e o povo foi para as ruas sem um lider específico, sem uma pauta específica, a indignação mostrou sua cara. Era a crise da representativade que estava em jogo, era o modelo atual do mundo que estava em jogo, como diz Rushkoff, eles querem trocar o sistema operacional do establishment e dar um reboot geral.

Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O povo unido jamais será vencido!

Precisamos parar este trem diz o establishment preocupado, vamos estudar esta tal de Internet que agora quer nos pegar, vamos mudar a regra do jogo, vamos controlar as informações, basta dizer que pobres velhinhos são roubados na Internet, ou falar de pedofilia, ou ainda de gente pelada na rede, o velho discurso da pirataria não colava mais, mas TPP vem ai para nos vingar. Enquanto isto vamos dominar a infra-estrutura dizendo que Internet é telecomunicações, dizendo que Internet é um espaço de negócios e que deve seguir as regras do mercado, assim calamos nossos inimigos, e voltamos a lucrar como nunca.

Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: Quem manda no seu pais somos nós!!!

Saudades da gaiola dourada

Hoje vejo a velha roda do lado de fora da gaiola e fico pensando, para que fui fugir da gaiola?…

Olho para o lado vejo hamsters felizes girando a roda como se não houvesse amanhã, suas gaiolas, muitas douradas são equipadas com um monte de tralha, quanto mais bonita e vistosa a gaiola, mais rápido gira a roda. Impressiona ver o hamster cansado se jogar da roda no sofá e ligar  o Imbecilizador, onde uma programação audiovisual o leva para um mundo de sonhos e consumo, que mostra o quanto é bom consumir, consumir, consumir… Veja como são belos e felizes os hamster consumistas, veja só aquele hamster do lado, diz a esposa, eles tem um cagador turbo, grande e confortável, e nos aqui neste cagador pequeno, você não tem vergonha não?!

Vendo isto o hamster olha para o relógio e pula na roda de volta e corre como se fosse alcançar o próprio rabo, um desespero por um cagador… Chega finalmente o cagador novo na gaiola de nosso amigo hamster, um hamster sério e trabalhador que não tem tempo para muita prosa. Hoje é domingo, e o hamster vai tomar uma cervejinha e ver um futebol, afinal ele merece. Chega em casa bêbado e acorda de ressaca com a cabeça latejando toma um “estupidex” e vai para a roda, gira como ninguém, mas dai começa a pensar, para que pensar??? O hamster para, toma uma birita a volta para a roda, acha o maior barato girar junto com ela, toma outra e decide girar a roda ao contrario e logo toma um esporro do Bank hamster. Como assim, girar ao contrário, você tem noção do perigo que é ser diferente? Consuma, consuma! O bom e nobre hamster volta a girar a roda novamente, a esposa hamster respira aliviada, pois já esta pensando em pintar a gaiola de ouro.  O cagador turbo já “orkutizou”, chique agora é ter a gaiola dourada, é o novo conceito em moradia diz a esposa hamster. Conceito do caralho! Resmunga o marido hamster pensando em como foi divertido girar a roda ao contrário, ria da cara do Bank hamster.

Neste domingo foi diferente, o hamster não foi tomar cerveja e nem assistir futebol, ficou apenas contemplando a roda pensativo…  Preocupada a esposa hamster o reprimiu: Você não sabe que pensar é perigoso?!  Em seguida ligou o Imbecilizador para tentar distrair o marido hamster,  este bateu a porta e saiu sem dizer para onde ia. Mais tarde ele voltou com um livro debaixo do braço: “A roda” de Hamster Max.  A esposa hamster aos prantos ajoelhou na frente do marido e implorou para que ele devolvesse aquele livro, ela lembrou o fim trágico  de todos que provaram daquela droga. Olha a miséria meu amor, eles abandonaram a roda e ficam debatendo e estudando o tempo todo, nem mesmo  possuem uma roda na gaiola, quando muito uma gaiola, são uns verdadeiros perdedores! A esposa implorou e o marido fingiu aceitar.  Mais tarde ele pegou as ferramentas e montou um dispositivo na roda, agora ele pode pedalar e ler enquanto faz a roda girar, a esposa morria de vergonha  afinal os maridos das amigas dela corriam elegantemente dentro da roda, já o nosso hamster parecia um pensador pedalando e debochando…

Nosso hamster saiu novamente e comprou livros e mais livros, lia e pedalava sem parar, a pobre esposa não sabia mais onde enfiar a cara.  O hamster comecou a pensar novamente, a esposa coitada, não podia comprar aquela ração “premium plus ultra du kacete”, teve de comer milho. O nosso hamster, resolveu sair e bateu de gaiola em gaiola convocando os vizinhos para conversar sobre uma idéia que ele teve.

No dia seguinte a esposa hamster acordou assustada pois tinham um monte de hamster na frente da gaiola, e o marido falou, fica calma vamos nos mudar, e começaram a alinhas as gaiolas, colocando uma ao lado da outra, mas o pesadelo estava por vir…. bom pelo menos para a visão consumista da esposa hamster, para o nosso heroi um sonho sendo posto em prática… Ela comeca a ver que os outros hamsters estavam retirando a roda de suas gaiolas e colocando na frente e enchendo de terra….  chegam na gaiola de nosso hamster e ele encontra a esposa de malas prontas, dizendo você decide: ou a roda ou eu! Não preciso dizer que a Sra Hamster teve de ir para a casa da mãe dela. Enquanto isto os hamsters plantavam nas velhas rodas nosso heroi havia criado uma comunidade capaz de suprir-se sem a necessidade de girar a roda indefinidamente, ele percebeu que consumia um monte de bobagem inúteis, que na pratica ele não necessitava. O Imbecilizador foi trocado por um Inteligentador conectado na Internet. Pouco a pouco a idéia maluca de nosso heroi peludo foi sendo disseminada, o tempo vago agora era preenchido com leituras, debates e a produção de conteúdo para seus blogs, sem contar que tinham tempo de fazer o mais importante, de compartilhar amor e afeto e ver os filhotes crescerem e participar disto, sem ter de terceirizar com babas e escola como no passado.

Mas o Bank hamster não estava gostando nada disto, as redes de imbecilização falavam diariamente dos perigos da Internet e do compartilhamento. Precisavam calar os hamsters revolucionários! Os Bank hamsters discutiram várias estratégias e começaram a coloca-las em prática, primeiro junto com a rede de imbecilização tentaram confundir as pessoas.  Diziam que os hamsters revolucionários eram produtores de “ratotóxicos”, e em nome da segurança trabalharam o mito de que as sementes plantadas em casa eram perigosas e poderiam ate mesmo produzir alucinações, por isto quem as consumia eram diferentes, agiam diferente, pensavam! Não colou! Muita gente estava trocando o Imbecilizador pelo Inteligentador e viram que a rede de imbecilizacao estava mentindo. Maldita Internet pensavam os Bank Hamsters, temos de eliminar a concorrência!

Os velhos e gordos Bank hamsters reuniram se em seu covil para discutir formas de  parar estes hamsters revolucionarios. Chegaram a conclusão de que o maior perigo não eram aquelas tribos de hamsters “sem rodas”,  poder estava mesmo é na Internet. Descobriram que os hamsters comuns usavam seus inteligentadores conectados à interner com a mesma eficiência dos imbecilizadores e sua rede decadente.

Perceberam que apenas os velhos hamsters, eram os poucos ainda controlados pelo sistema de imbecilização. Iniciaram a mais implacável campanha contra os Inteligentadores e a Internet, inventaram o “vicio em internet”, e para dar consistência ao factóide mostravam hamsters que haviam abandonado a roda por causa da Internet. Mostravam hamsters esclarecidos como sendo uma terrível consequência do excesso de informação, teve ate mesmo o Hamster Keen que escreveu um livro criticando os “sem roda” conectados, tentando provar que o modelo imbecilizante era melhor.

Vendo que não estavam surtindo efeito, os Bank hamsters se reuniram novamente, desta vez teremos de ser mais efetivos, temos de pensar numa forma de usar dogmas inquestionáveis para ter motivos para controlar a Internet, e dai surgiram os “maleficios” da rede foi um tal de falar em pedofilia e que hamsters velhinhos perdiam suas economias por causa de golpes virtuais.  Isto parece ter colado, mas será o benedito que ninguém parou para pensar que não existe pedofilia na Internet, e que os velhinhos são vitimas do desconhecimento e não da Internet. O que tem na Internet é pornografia infantil, resultado de um crime de pedofillia cometido em algum lugar, combater a pornografia infantil somente não vai resolver o problema. A Universidade de Hamstarvard fez um estudo mostrando que o aliciamento de menores pela Internet era insignificante, e mesmo assim as vitimas em geral já foram vitimas de aliciamento presencial. A culpa não era da Internet e sim dos pais hamsters, que so se preocupavam em rodar a roda, e terceirizavam a criação dos filhotes! Se não fosse isto teriam tempo de conversar com seus filhotes para orienta-los na Internet, mas como se eles mesmo não sabem usa-la?

Os Bank hasmters estavam conseguindo avançar, disseminaram medo, incertezas e dúvidas. Novas leia para “proteger” os filhotes e o hamsters velhos surgiam, e eram combatidas pelos “sem rodas”, que passaram a usar a rede como um canal de contra-informação.

Mais uma vez os Bank hamsters se reuniram no covil, desta vez  decidiram montar um verdadeiro plano de guerra, contrataram os melhores especialistas em Internet para desenvolver suas estratégias, perceberam que tinham de atuar em novas arenas, pois na legislativa era complicado, pois os “sem roda” sempre conseguiam ser ouvidos. Descobriram que regulamentar era mais fácil do que legislar, pois regulamento não precisa ser debatido. Mudaram de foco, na verdade abriram outras frentes, descobriram a governança da Internet, agora precisavam de uma forma de centraliza-la, assim tomariam o controle da Internet antes mesmo que os “Sem roda” pudessem fazer alguma coisa.  E assim decidiram juntar esforços com as empresas de telecomunicações, dando a elas mais lucro em troca de mais controle da rede. Só bastava agora colocar o plano em prática.

Bank hamsters do mundo todo decidiram formar acordos internacionais para controlar a Internet, o controle é importante contra os “sem roda”.  Redes sociais encantadoras foram cooptadas por reunir milhares ou até milhões de hamsters, formando verdadeiros jardins murados….  uma vez posicionados, em todas as arenas, os planos foram postos em pratica de forma simultânea, como se fosse uma verdadeira guerra, uma guerra desproporcional e com o objetivo de controlar o que antes era livre, uma guerra que tem por objetivo perpetuar o modelo da roda, o modelo que já não faz mais sentido. Não tem logica girar a roda continuamente, não queremos mais isto, fala o hamster revolucionario. Os ataques dos Bank hamsters são implacáveis, ao ponto do nosso revolucionário olhar para o lado e pensar: Quero voltar a ser um hamster burro, lobotomizado, não porque eu concorde com isto, mas porque já estou cansado desta guerra insana. Ao mesmo tempo percebe que sua mente não é mais a mesma, que agora ele é dono da própria subjetividade, e uma verdadeira dissonância cognitiva toma conta de seu corpo e sua alma, que o captura de seu momento de vacilo, para retornar a luta, a construção de um ideal, de um novo mundo do mundo dos hamsters sem roda….

Nota: Este texto foi criado num momento em que eu estava com um bloqueio de escrita, e brincando no Twitter produzi este texto, em pequenas pilulas de 140 caracteres em poucas horas.