Como as bolhas decidem eleições

A vitória de Trump deixou o mundo perplexo, não demorou muito para surgirem textos responsabilizando o Facebook e sua bolha pelo resultado inusitado, alias um tema que circulava mais pela esfera acadêmica e mais especializada ganhou uma popularidade fora do comum nos últimos dias, nunca vi tantos textos sobre o assunto publicados em tão curto espaço de tempo, e nos espaços reconhecidos do jornalismo global.

Sejamos justos, esta bola começou a ser levantada aqui nas nossas recentes eleições, eu mesmo no projeto Eleições 2016 ofereci dois workshops que visavam não só esta mais outras estratégias. A popularidade do tema veio a tona no Brasil com um artigo escrito pelo Professor Vinicius Wu e publicado no O Globo, onde ele falou que a maioria dos candidatos estavam na prática fazendo campanhas para suas próprias bolhas nas redes sociais.

Mas afinal o que são as bolhas e como elas podem decidir eleições?

Antes de mais nada é preciso entender uma coisa, a bolha não algo que você “entra” e muito menos coletiva, a bolha é pessoal e você mesmo a constrói em torno de si com a ajuda dos algoritmos.

O que são bolhas e algoritmos ?

É possível que você não compreenda o que é uma bolha ou filtro bolha e até mesmo o que é um algoritmo, e muito menos usar os dois para construir algo em torno de si, não se preocupe, vamos explicar.

Vamos partir do principio, Eli Pariser, um ciberativista que pesquisou o tema, e escreveu um excelente livro “O Filtro Invisível: O que a Internet está escondendo de você“, onde ele descreve didaticamente como surgiram os filtros invisíveis e dá à eles o nome de filtro bolha, também conhecido por bolha. Segundo Pariser, um dos visionários da tecnologia Nicholas Negroponte, pesquisador do MIT, já em 1994 pensava no que ele chamou de “agentes inteligentes”, que seriam algoritmos que funcionam como curador de conteúdo. As primeiras experiências com “agentes inteligentes” foram um desastre, mas Jeff Bezos desenvolveu o conceito do “agente inteligente” da Amazon com base no livreiro que te conhece e recomenda os livros que acredita lhe interessar. Para atingir este objetivo o algoritmo passou a registrar tudo que ocorria no site, quem via ou comprava um livro, e quais interessavam também, e rapidamente criou uma lógica de relacionamento capaz de apresentar com razoável margem de acerto sugestões de leitura com base em sua pesquisa, de onde acessa, e seu histórico de compra e busca, estava criada a primeira bolha eficiente.

Duas pessoas com dispositivos idênticos acessando o Google pela mesma rede, com as mesmas palavras chave nunca obterão os mesmos resultados.

Google também adotou um algoritmo com critérios que definem a relevância e aderência da busca com o que ele acredita que você esteja procurando, baseia-se em inúmeras variáveis, que envolvem desde seu histórico de busca até o local e dispositivo de onde esta sendo feita a pesquisa. Duas pessoas com dispositivos idênticos acessando pela mesma rede, com as mesmas palavras chave nunca obterão os mesmos resultados.  O mesmo acontece no Netflix, Facebook e diversas outras redes e serviços que você acessa, que estão sempre registrando e comparando um número cada vez maior de informações sobre você, seus relacionamentos e interesses para tentar acertar de forma eficiente o seu desejo. É o que ocorre com a linha do tempo do Facebook, que na prática não é ordenada cronologicamente, mas de acordo com o que algoritmo do Facebook julga relevante para você, é que você não percebe isto até prestar atenção nos detalhes.

Os problemas com as bolhas

A preguiça é da natureza humana, ter um algoritmo (curador) lhe oferecendo conteúdo e informação sob medida é quase um sonho, mas pode rapidamente se tornar um pesadelo.

Bolhas são invisíveis

O primeiro problema com as bolhas é que elas são invisíveis,  se você não sabe que elas existem, dificilmente irá percebe-las, e muitas vezes até mesmo consciente parece não perceber. As bolhas são algoritmos construidos para lhe oferecer conteúdo e informação que julgam mais adequadas para seus interesses.

Bolhas são algoritmos

Bolhas são algoritmos, modelos matemáticos, baseados em lógica, e por esta razão não são capazes de perceber elementos subjetivos como as suas emoções, linguagem corporal e contextos no qual são acionados… ainda…

Cathy O’Neil, cientista de dados apresenta em seu livro Weapons of Math Destruction, uma série de casos e levanta questões éticas e lógicas de diversos modelos matemáticos sobre big data, e como eles podem aumentar a desigualdade e ameaçar a democracia. Segundo O’Neil, modelos matemáticos são o motor de nossa economia digital e não são neutros e muito menos perfeitos, como ela apresenta nestas duas conclusões:

  1.  “Aplicações baseadas em matemática e que empoderam a Economia de Dados são baseadas em escolhas feitas por seres humanos falíveis”.
  2.  “Esses modelos matemáticos são opacos, e seu trabalho é invisível para todos, exceto os cardeais em suas áreas: matemáticos e cientistas computacionais. Seus vereditos são imunes a disputas ou apelos, mesmo quando errados ou nocivos. E tendem a punir pobres e oprimidos, enquanto tornam os ricos mais ricos em nossa sociedade”.

Você constrói a sua bolha

As bolhas não existem sem você, as bolhas que apresentam o conteúdo que acessa no Facebook, Google, Amazon, Netflix e outras são exclusivamente suas, e você às construiu. Muitos algoritmos comparam seus hábitos com outras pessoas que julgam semelhantes, mas eles precisam aprender sobre você. No Facebook por exemplo, o algoritmo chamado EdgeRank registra tudo que você faz, que postagens curte, comenta, compartilha, em quais clica, em quais passa mais ou menos tempo, e assim ele vai “aprendendo” a lhe agradar.

O problema, como visto, é que bolhas são algoritmos, modelos matemáticos, que são recursivos, ou seja, estão sempre aprimorando e aprendendo com você, quando você não presta atenção à um post ou quando rejeita postagens e bloqueia pessoas ou simplesmente as ignora, o EdgeRank entende que você não quer mais este conteúdo e os suprime da sua linha do tempo, criando uma distorção da realidade que Eli Pariser chama de “Síndrome do Mundo Bom”.  A “Síndrome do Mundo Bom” é quando sua linha do tempo está tão “purificada” que só lhe apresenta conteúdos que alinham com você ideologicamente e lhe agradam, o mundo bom, esta justamente nesta percepção distorcida da realidade, onde “todos” pensam igual a você.

As bolhas são seu senso comum

A forma como o ser humano percebe o mundo, é complexa, o cérebro usa de atalhos para tomar decisões, que em sua maioria são intuitivas. Leonard Mlodinow no livro Subliminar demonstra o quanto nossas decisões são baseadas em questões subjetivas, tanto que segundo o autor alguns cientistas estimam que só temos consciência de cerca de 5% de nossa função cognitiva. Os outros 95% vão para além da nossa consciência e exercem enorme influência em nossa vida. Podemos não perceber, mas estamos formando o entendimento de senso comum em todos os ciclos sociais, inclusive nas nossas bolhas. O senso comum formado dentro de uma bolha purificada, que atingiu a “síndrome do mundo bom” é totalmente distorcido da realidade, e pode levar ao radicalismo.

Nos somos parte das bolhas dos outros

Assim como construímos nossas bolhas com conteúdos produzidos por outras pessoas, elas constroem suas bolhas com conteúdos que podem ser também os seus, as bolhas não são reciprocas, nem sempre o autor do conteúdo que te interessa, tem interesse por seu conteúdo. Como somos responsáveis pelo conteúdo que interessa à alguém, somos em algum nível influenciadores destas pessoas.

As bolhas são a nossa Matrix

Estamos sempre acreditando que nas redes sociais, em especial no Facebook, estamos publicando para o mundo, mas na prática, estamos publicando para um público bem restrito, de 3% a 6% do seus “amigos” e seguidores. Suas publicações só conseguem um alcance maior quando alguém as compartilha. Ou seja, estamos quase sempre recebendo informações das mesmas pessoas que nos interessam, e compartilhando para as mesmas que tem interesse em você. Nos sentimos falando para um público de milhões de pessoas, mas na prática seus ouvintes caberiam na maioria das vezes na sua sala de estar.

suabolhaSe fôssemos fazer uma ilustração de como seria sua bolha, teriamos algo como um diagrama de Venn, mas seria um diagrama tridimensional, mostrando como sua bolha é construida com a conexão de outras bolhas. O tamanho do espaço de interseção seria proporcional ao nível de interesse por temas de determinada bolha. Mesmo assim é necessário destacar que as relações das bolhas do conteúdo que você consome e a do conteúdo que você produz podem ser totalmente diferentes.

Como as bolhas podem influenciar uma eleição?

Agora que você já sabe o que são algoritmos, bolhas e seus problemas fica mais fácil compreender como elas podem influenciar não só uma eleição, mas em decisões importantes como aconteceu no golpe de estado sofrido no Brasil este ano. Vamos focar inicialmente no Facebook, uma rede social de tamanho nunca antes imaginado, um “veiculo de mídia” com dois BILHÕES de usuários, que representam 2/3 de todos os usuários com acesso à Internet no mundo. Com esta dimensão é impossível dissocia-lo de fazer parte da equação que avalia mudanças globais de comportamento social, como a emergência da extrema direita e a onda de ódio e polarização.

No início deste ano tornei público parte do meu projeto de pesquisa, com o qual estou desenvolvendo minha dissertação de mestrado – O poder político e ideológico do Filtro Bolha – nele constam alguns casos relevantes de como o Facebook pode influenciar os seus usuários, tanto o resultado de uma eleição quanto o próprio comportamento:

Influenciando uma eleição

Para Zittrain (2014) O Facebook pode decidir uma eleição sem que ninguém perceba isto. Em seu texto ele demonstra que a simples priorização de um candidato na linha do tempo é suficiente para isto, principalmente frente aos usuários indecisos. Para sustentar sua tese, Zittrain cita um estudo desenvolvido em 2 de Novembro de 2010, onde uma publicação que auxiliava encontrar a zona de votação nos Estados Unidos apresentava a opção do usuário clicar um botão e informar a seis amigos que já havia votado. Isto produziu um aumento no número de votantes na região do experimento.

Influenciando o comportamento dos usuários

A controvérsia em relação ao filtro bolha ganhou uma dimensão significativa, e passou a chamar a atenção não só de pesquisadores, mas principalmente de ativistas, advogados e políticos, quando um estudo desenvolvido por pesquisadores ligados ao Facebook concluiu que era possível alterar o humor dos usuários por contágio emocional pela rede social. O experimento consistia em transferir emoções por contágio sem o conhecimento dos envolvidos, Kramer et al. (2014, p. 8788 tradução nossa) e foi bem sucedido:

Em um experimento com pessoas que usam o Facebook, testamos se o contágio emocional ocorre fora da interação presencial entre os indivíduos, reduzindo a quantidade de conteúdo emocional na linha do tempo. Quando foram reduzidos expressões positivas, as pessoas produziram menos publicações positivas e mais publicações negativas; quando foram reduzidos expressões negativas, o padrão oposto ocorreu.

Subjugando a subjetividade

Aqui é que entra o grande ponto, é possível influenciar massivamente usando o Facebook, desde que se conheça a rede e seu funcionamento, por exemplo, John Rendon (RAMPTON; STAUBER, 2003) que se define como um “guerreiro da informação e um administrador de percepções”, para ele a chave para modificar a opinião pública está em encontrar diferentes formas de dizer a mesma coisa. Este padrão pode ser perfeitamente encontrado na Síndrome do Mundo Bom.

A própria purificação da linha do tempo seria suficiente para mudar a percepção dos usuários e faze-los acreditar na sua versão dos fatos, mas apesar de muita gente construir seu senso comum pelo Facebook, há uma necessidade de reforçar a narrativa que se quer estabelecer, do contrário bastaria o usuário se afastar da rede social por alguns dias para reconstruir sua percepção de senso comum e entrar numa dissonância cognitiva em torno disto.

Como em todo bom filme de ficção, onde o protagonista é levado a crer numa realidade induzida, muitos os elementos em sua volta devem corresponder à narrativa que se quer induzir. O grande segredo está na aplicação das técnicas de comunicação radical, que usamos no ciberativismo contra o projeto de lei AI5digital, em 2008, quando ainda tínhamos o domínio absoluto das técnicas de comunicação na rede.

Na ocasião usamos as blogagens coletivas, onde dezenas de blogs postavam em uma data específica textos contra o projeto de lei, foram centenas de blogs, que mudaram radicalmente o resultado do Google quando se pesquisava sobre o tema, apresentando vários links contra o projeto no topo dos resultados.  O usuário do Facebook por exemplo costuma checar no Google sobre os temas que lhe interessam, e partindo do principio de que se ele já esta na síndrome do mundo bom, esta predisposto a compartilhar qualquer informação que corrobore com seu ponto de vista, independente da confiabilidade da fonte. Observe quantos blogs fakes surgiram nos últimos dois anos por aqui com textos contra o governo destituído.  O mesmo se deu nas eleições americanas, uma infinidade de textos falsos foram compartilhados, muitos por usuários fakes, mas parte significativa por usuários predispostos à faze-lo.

Uma outra técnica foi a de fragmentar a informação de modo a direciona-la para diferentes grupos de interlocutores, por exemplo no projeto de lei citado, um artigo propunha pena de dois anos de detenção se violado um software, na ocasião passamos a informação aos grupos de gamers, que o uso de bots daria dois anos de cadeia e a lei fosse aprovada. Com isto engaja-se mais gente, hoje com o WhatsApp a fragmentação é muito mais fácil, utiliza-se por exemplo o que O’Neil chama de marketing predatório, dialogando com o ponto de dor dos interlocutores oferecendo o alivio da dor. É assim que estão convencendo os mais inocentes à aceitar a reforma trabalhista, um dos argumentos é que o FGTS rendeu menos que uma determinada aplicação, e que seria melhor que o empregado recebesse e aplicasse o dinheiro, e impressiona como isto esta sendo disseminado. Nas eleições de 2014 e nas municipais deste ano, o volume de informação falsa contra adversários foi uma enormidade, o mesmo acredito ter sido feito nas eleições americanas.

Estes são duas das várias técnicas de comunicação radical, que podem reforçar a narrativa que se quer passar, e que passam a ganhar consistência quando devolvidas para o Facebook e compartilhadas por usuários comuns, produzindo uma grande bolha que é na verdade uma soma de milhares de bolhas individuais que estão alinhadas, e assim consegue-se subjugar a subjetividade de uma grande massa da sociedade, quanto mais se a mídia de massa também estiver alinhada na narrativa.

Por fim, este texto tem por objetivo apresentar mais uma reflexão sobre o debate, somando-se a outros tantos que foram publicados.

 

A Campus Party que todo mundo vê, mas poucos enxergam

Decidi fazer este post como um exercício, venho enfrentando um momento estranho, parece que perdi momentâneamente minha habilidade com a escrita, talvez seja porque tenho convivido com dinossauros mais do que o tolerável, tenho participado de reuniões onde as pessoas possuem pastas com email impresso!

Para tentar resgatar o meu verdadeiro eu, decidi me internar na Campus Party 2010. Fui convidado para uma palestra no Campus Forum na terça (26/01) e aproveitei para ficar até sábado (30/01), foi ótimo, revi gente conectada, gente do meu mundo e pude voltar a sentir o sabor da evolução, o frescor da brisa tecnológica e o calor humano de uma rede de pessoas. Foram momentos de extremo prazer, conversas produtivas, palestras, planos e celebrações, tudo girando em torno de um só tema, a sociedade conectada e o futuro do Brasil.

O que todo mundo vê e poucos enxergam?

Esta foi a terceira edição da Campus Party, e cada edição possui características marcantes, esta por exemplo estava muito focada em cibercultura e aspectos legais e operacionais da Internet. Mas um pequeno detalhes estava o tempo todo pulando na cara de todo mundo, seja nos slogans, nas falas, no material, nos banners e no site oficial: A Internet é uma rede de pessoas.


Bom se esta frase não tem nenhum significado a mais para você, é porque você é um dos que viu e não enxergou, mas não se preocupe, muitos não enxergaram. O fato de afirmar que a Internet é uma rede de pessoas contraria o mantra midiatico de que a Internet é uma rede de computadores, a Internet já deixou de ser uma rede de computadores há quase 10 anos.

A afirmativa de que a Internet é uma rede de pessoas subverte o conceito anterior de que a internet é uma rede de computadores, assim como hoje estamos na era da participação que subverteu o conceito da era da informação, mas curiosamente ambos os conceitos ultrapassados são ainda utilizados pela nossa jurássica mídia.

Em outras palavras, a questão tecnológica da Internet já se naturalizou, de forma que é naturalmente ignorada pelo o usuário de tal forma que este já enxerga diretamente a parte social da rede. Nem mesmo a velha frase que diz que a Internet é uma rede de pessoas mediada por computador é mais uma afirmativa indiscutível, com o crescimento da ubiquidade do acesso fica difícil definir o que é de fato computador, um celular é um computador? Neste caso a rede poderia ser definida como uma rede de pessoas mediada por dispositivos conectáveis, mesmo assim esta afirmativa, apesar de correta, coloca uma barreira no seu entendimento, em um momento que a invisibilidade da tecnologia se faz necessária para dar valor ao aspecto humano da rede.

Há dois anos fiz uma análise da pirâmide da pirâmide de Maslow aplicada as mídias sociais, que orgulhosamente apelido de pirâmide de Caribé ou hierarquia das necessidades em mídias sociais. Nesta analise eu estabeleço que os dois primeiros degraus da pirâmide são o conhecimento tecnológico e o acesso, mas se olharmos pela ótica que venho tecendo acima, podemos dizer que na verdade a pirâmide esta se transformando em um losango, uma vez que estes dois primeiros degraus estão ficando cada dia mais invisíveis, o que de certa forma acelera a tão desejada “alfabetização digital”.

Não tirando a questão tecnológica da Campus Party, afinal é sim de certa forma a tecnologia em seus diferentes niveis de visibilidade que as pessoas buscam encontrar no evento, mas principalmente as pessoas buscam encontrar pessoas, a Campus Party é na verdade uma grande rede social ao vivo de pessoas conectadas, uma tangibilização da cauda longa, um encontro de muitas tribos que habitam o ciberespaço e este planeta chamado terra, pense nisto.

A miopia universitária

Pouco antes da Campus Party, conversando com um amigo, o Ronald Stresser, ele comentou que estava pensando em fazer um curso mais específico de mídias sociais, e respondi quase de imediato que a Campus Party era o melhor curso de mídias sociais que ele poderia fazer, foi uma resposta daquelas “bate pronto” e depois comecei a pensar no que falei e vi que havia acertado na mosca.

Na Campus Party vivencia-se a cultura digital o tempo todo, é um paraiso para etnografos, profissionais e pesquisadores de comunicação e alias qualquer área profissional que de alguma forma envolva a Internet. Neste ano tivemos dezenas de palestras, com temas diversos e riquissimos, encontro dos cerebros da cibercultura brasileira, dos ativistas, legisladores e parlamentares da liberdade na rede, visita de presidenciaveis, debates de software livre, jogos, midias sociais, musica, video, multimidia, robotica, casemod e um monte de outras coisas. Na Campus Party você faz parte do contexto e não apenas lê sobre ele, o aspecto informal do evento reflete a informalidade e a liberdade da rede, onde você vai alem do livro, pode interagir com os autores, e isto não tem preço.

Mas onde estão as caravanas organizadas pelas universidades? Imagine o valor para uma faculdade de Direito em participar dos debates a cerca do Marco Civil, assistir à uma palestra do Lessig e de quebra ainda conversar com varios juristas, parlamentares, e representantes da sociedade civil que se fizeram presentes? Imagine o valor para uma faculdade de Comunicação participar de debates sobre cibercultura com os maiores estudiosos da área no Brasil? Ou quem sabe as faculdades de Pedagogia participarem da discussão a cerca do novo modelo de Universidade levantado pela pesquisadora Ivana Bentes?

Poderia enumerar dezenas de outros casos, eu nem falei da área técnica, mas foi de propósito, mas pergunto: Afinal porque as universidades ainda sofrem do mal de Sísifo, e continuam seguindo o mesmo caminho secular ao invés de apresentar novas propostas e desafios?

Cluetrain 10 anos depois

Este artigo é uma tradução livre do artigo “The Clue Train 10 years on” de Karl long, com a devida autorização do autor.

O manifesto cluetrain, um livro concebido 10 anos atrás, previu e descreveu muitas das forças que foram disruptivas na economia, ativadas através da web 2.0.

Uma poderosa conversação global começou. Através da Internet, pessoas estão descobrindo e inventando novas maneiras de compartilhar rapidamente conhecimento relevante. Como um resultado direto, mercados estão ficando mais espertos-e mais espertos que a maioria das empresas.

O ponto “mercados são conversações” sempre foi verdadeiro, mas o impacto desta afirmação foi realizada bem lentamente pelos negócios através dos últimos 10 anos. Fantásticamente, os conselhos e os insights deste livro ainda continuam válidos, embora o tom seja um pouco polêmico neste ponto, entretanto, ninguém mais precisa ser convencido a cerca das verdades traçadas neste livro.

Houve recentemente um evento em New York para discutir a relevância do manifesto cluetrain 10 anos, que foi blogado ao vivo por Josh Bernoff da Forrester. Nesta conferência Doc Searls usou poucas palavras para falar de publicidade, o que acredito não ser nenhuma novidade, mas pensei em como as empresas e agências ainda estão viciados nos formatos incrementalmente ineficientes e decadentes, e que ainda não acreditam no que Doc falou:

  1. A publicidade como conhecemos ira acabar.
  2. Pessoas arrebanhadas em jardins emparedados e que acham que isto as colocam em uma sociedade, verão como isto é um absurdo. (Facebook, Orkut são exemplos.)
  3. Nos iremos constatar que os mais importantes produtores são aquelas que costumamos chamar de consumidores.
  4. O valor da cadeia será substituído pelo valor da constelação. (muitas conexões).
  5. “Qual o seu modelo de negócios?” não será mais a pergunta para tudo. (Qual o modelo de negócios para suas crianças?)
  6. Nos iremos fazer dinheiro maximizando o “efeito porque”.(”Efeito porque” é o que acontece quando você faz mais dinheiro porque há alguma coisa mais com ele) Ex: Pesquisar e blogar.
  7. Nos teremos a habilidade de gerenciar as empresas da mesma forma como elas nos gerenciam hoje. (Acordos entre empresas e consumidores não serão mais favoráveis às empresas.) Na Escola de Direito de Harvard eles chamam isto de VRM – Vendor Relationship Management, onde Doc Searls esta trabalhando no projeto VRM.
  8. Nos iremos casar a web viva com o valor da constelação. (A web viva não é apenas sobre estrelas. Relacionamentos de todos com todos.)

No caso da publicidade em redes sociais, dê uma lida no artigo da Business Week sobre a eficiência da publicidade em redes sociais.

Profissionais de marketing falam que pelo menos 4 em 10.000 pessoas que visualizam suas campanhas em sites de redes sociais clicam nelas.

Voltando ao tema “mercados são conversações” seguramente na pior das hipótese é uma publicidade falsa, sem autenticidade, monólogo, porque empresas tem pavor de manter uma conversação, é isto que as pessoas percebem? O que elas percebem? Provavelmente o volume de publicidade, será que a melhor destas campanhas pode provocar ao menos uma centelha de conversação?

Então me diga que mecanismos a sua agência de propaganda proporciona para ajudar a “continuar a conversação” ?

Fonte: The Clue Train 10 years on at ExperienceCurve

O marketing de hoje, de amanhã e depois de amanhã

Como faço questão de não esconder, sou um leitor voraz, daqueles que esta sempre carregando um livro na pasta, e tem pelo menos dois na mesa de cabeceira, alem é claro, de centenas na estante. Este livro sobre o qual pretendo falar aqui é diferente, não me custou literalmente nada, e é um dos melhores livros sobre marketing emergente que li em português até então, trata-se do “best downloaded” Marketing depois de amanhã, do Ricardo Cavallini.

Cavallini é um cara que sabe o que fala, o livro explica de forma quase didática os temas emergentes do marketing, do novo paradigma da comunicação, é uma habilidade e tanto e uma prova de conhecimento. Einstein ja falava que uma forma de testar seu conhecimento sobre qualquer coisa é tentar ensina-la para a sua avó, acredito que a avó de Cavallini ja esteja entendendo de marketing e saiba diferenciar um viral de um buzz, ou que a midia de massa esteja em queda por conta dos prosumers que foram preconizados no Manifesto Clue train, é claro.

Gosto do jeito de escrever do Ricardo, descontraido, claro e sem muitos rodeios, mas sem deixar de ser bem fundamentado. O livro é um verdadeiro guia para diversos públicos:

  • Para os estudantes de comunicação para conhecerem um pouco além do que usualmente aprendem nas faculdades, algumas até explicam alguma coisa, mas se bobear formam “recém obsoletos”;
  • Aos profissionais experientes para poderem se reciclar e não perderem o equilibrio quando puxarem a escada que os sustenta no topo da cadeia da comunicação;
  • Aos curiosos para saberem um pouco mais sobre tudo que nos cerca em termos de marketing;
  • Aos empreendedores para descobrirem novas formas de ganhar dinheiro;
  • E finalmente aos avessos à publicidade para saberem o que mais devem evitar para não serem incomodados, se bem que como Cavallini diz no livro, o marketing de interrupção vem em franca decadência.

O livro, prefaciado por Washington Olivetto, é dividido em dez capitulos, começando por uma panorâmica atual, uma breve olhada no contexto da internet e em seguida levanta voo em direção a coisas muito interessantes como TV Digital, Advergaming, Mobile, Dispositivos de conexão ( a internet das coisas), novos displays, micropagamentos e finalmente novas possibilidades. Para quem gosta do assunto é um daqueles livros para se ler em um fim de semana chuvoso, na tela do computador enquanto os novos displays ainda não estão acessíveis. Não tem porquê não ler, o livro é gratuito e vale cada byte consumido em seu download.

Pérolas da cibercultura, um post que vale por um cursinho

Depois do meu último post, me convenci de que realmente precisamos de novas ferramentas e novos conceitos para entender o que esta acontecendo hoje no mercado da comunicação. Para isto decidi reunir e publicar aqui os links para as principais pérolas da cibercultura na minha opinião. São elas definições, conceitos, textos e até e-books completos.

Redes

O entendimento de redes no sentido mais amplo, e não técnico, é teoria fundamental para o entendimento de tudo na cibercultura. É necessário entender que somos “nós” desta rede, e que nossos grupos são “clusters” e que tudo em termos de rede possui comportamento em rede, com grande capilaridade e com grande entropia.

Um entendimento técnico necessário é o proprio conceito original da Internet, criada na época da Guerra Fria, sua estrutura foi concebida para resistir à um bombardeio atômico, e desta forma pavimenta o conceito hoje conhecido como Mundo de Pontas (World of Ends).

Uma boa dica para entendimento de redes é o e-book “Redes – uma introdução às dinamicas da conectividade e da auto-organização” publicado pelo WWF Brasil.

Comportamento

Uma das mais sensacionais pérolas do comportamento no ciberespaço é o Manifesto Cluetrain (O manifesto do trem de evidências) que trata de forma simples e direta o comportamento social e de consumo na Internet. Veja também o post “Cluetrain 10 anos depois” publicado no Buzz Makers.

Outro texto muito interessante é o Mundos em colisão, que narra de uma forma simpática o choque cultural que se reflete como a dicotomia “nova x velha mídia” ou “real x virtual” passando pelo contraste “Copyright x Creative Commons” com bastante propriedade. Por falar em Copyright x Creative Commons, um bom e-book sobre isto é o Cultura Livre (uma excelente tradução do Free Culture). A cultura open source faz parte do DNA do ciberespaço, já o habitava no seu núcleo, na sua camada técnica, e foi fundamentalmente o propulsor da WWW.

Por falar em Free, este será o novo livro do Chris Anderson, o autor do Cauda Longa. O Free promete ser um profundo estudo sobre a cultura atual, onde empresas lucram cada vez mais cobrando cada vez menos, ou até nada. Na Wired tem um PDF que já da uma ideia de como será o livro, mas se preferir pode ler na web mesmo.

Existem ainda os clássicos teóricos da comunicação como Manuel Castells e Marshal McLunhan que não podem ficar de fora.

Midias sociais

Não podemos deixar de falar da teoria dos seis graus de separação, que fundamenta diversas redes sociais, onde em sintese, você esta ligado à qualquer outra pessoa no mundo, por outras seis. Existem outras, inclusive a que descrevi aqui mesmo no blog, relacionando Maslow e as midias sociais.

O assunto não esgota aqui, é apenas um começo, mas te garanto que boa parte já foi citada, convido você à completar a lista ai nos comentários.

update 02/05 – O Marco Gomes fez um post sensacional, praticamente um manifesto, se você leu os textos acima com cuidado, veja a personificação do estudo no post: Eu faço parte da revolução

SIVA, o mix de marketing 2.0

Uma coisa interessante é que desde que foi implantado por Jerome McCarthy em 1960, o mix de marketing, os 4 Ps, sempre foi o framework mais importante no entendimento do marketing.

SIVA e os 4PsIsto foi assim até que o artigo “In the Mix: A Customer-Focused Approach Can Bring the Current Marketing Mix into the 21st Century” por Chekitan S. Dev e Don E. Schultz saiu na edição de janeiro/fevereiro de 2005 da revista Marketing Management.

Este artigo muda totalmente o paradigma do mix de marketing, que antes era visto da empresa em direção ao mercado alvo, conforme figura ao lado.

No artigo, Schultz e Chekitan, literalmente viram o mix de ponta cabeça, e avaliam a oferta pela ótica do consumidor, e nesta ótica, o que antes eram os 4Ps, viram o SIVA (Solução, Informação, Valor e Acesso).

Para efeito comparativo temos:

4 Ps SIVA
Produto Solução
Preço Valor
Promoção Informação
Praça Acesso

SIVA em detalhes

  • Solução – Como a solução é apropriada para solucionar os problemas e necessidades do consumidor?
  • Informação – O consumidor conhece bem sobre a oferta, se sim, através de quem ? Ele sabe o suficiente para permitir ao consumidor fazer uma boa decisão de compras?
  • Valor – O consumdor percebe o valor da transação, quanto ela custa, qual serão os beneficios, o que ele terá de sacrificar, qual será a sua recompensa?
  • Acesso – Onde o consumidor pode encontrar a solução? O quanto facilmente, local ou remotamente ele pode compra-la ou recebe-la via delivery?

SIVA e Marketing 2.0

Quem esta na internet há pelo menos oito anos deve lembrar que o grande propulsor de tudo que esta acontecendo hoje, que chamamos de web 2.0, comecou com uma grande mudança de paradigma na construção e implementação web. Em torno de 2001 dois assuntos comecaram a dominar este ambiente: Usabilidade e Acessibilidade. O tema bateu de frente com a questão estética, até então dominante e acabou encaminhando para um entendimento de que o usuário é elemento mais importante na internet. Dai para frente, descobrir que os usuários queriam mais do que simplesmente ser um leitor, foi um pulo.

Quem sabe a classica pergunta de um milhão de dolares: “Qual o futuro da comunicação e do marketing” possa comecar a ser respondida? Até então uma incógnita e muitas hipóteses, simplesmente porque existe uma grande possibilidade de estarmos cometendo o erro de avaliar um novo mercado com velhas ferramentas…

A imensa distância entre o que você vê e o que você compra

A essência da foto publicitária está em retratar da melhor forma o produto anunciado. Obviamente na fotografia[bb] de alimentos, todos os ingredientes são cuidadosamente escolhidos, e na composição do produto vários artifícios são utilizados para dar ao alimento uma bela aparência, tornando-o ainda mais apetitoso. A prática de vender sonhos, transformar necessidades em desejos é comum na publicidade, e para isto vale maquiar a realidade para transforma-la em algo um pouco fantasioso estimulando o consumidor.

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Geralmente, estes lindos alimentos fotografados são incomíveis. Segundo site Don’t Buy It, cuja missão é tornar os futuros consumidores mais espertos, os estilistas alimentares utilizam práticas nada apetitosas:

  • Quando fotografar sanduiches com sementes, como milho ou ervilhas, cole-as com cola tudo ou fixe-as com alfinetes.
  • Aplique spray a prova d’agua nas superfícies para evitar que elas fiquem úmidas.
  • Cozinhe apenas o lado externo das carnes e deixe o centro crú para deixa-la com uma bela aparência e aspecto de frescor.
  • Pinte as carnes, em especial hamburguers com óleo e pigmento marrom.
  • Para fazer as marcas de grill, use um metal bem quente como um ferro de solda por exemplo.
  • Utilize apenas as fatias centrais dos mais belos tomates e aplique neles uma mistura de glicerina e água para dar uma aparência de frescor.
  • Use toalhas de papel dobradas como fraldas para que a gordura e o sangue das carnes não escorram para o pão.
  • Escolhas folhas bem verdes, saudáveis sem marcas marrons ou falhas.

Quando Chris Locke, Doc Searls, David Weinberger escreveram em 1999 o Manifesto Cluetrain, estavam informando ao mundo que o consumidor estava mudando, e conectados e juntos ficaram muito mais inteligente que a soma de suas inteligências. O novo consumidor esta ficando cada vez mais refratário à publicidade. Veja que o filme sincero da Dove Evolution, que transformou-se em um imenso buzz, acabou por ganhar o Gran Prix de Cannes este ano, sem ter sido veiculado na TV. Este comportamento escancara para quem quer ver, que o consumidor quer sinceridade e transparência, quer interagir com pessoas e não com super-heróis ou ficção., quer realidade e não fantasia.

Para comprovar isto, basta uma simples busca no Google e econtrará centenas de posts e artigos que falam do tema “food advertising x reality”. Uma das respostas que me chamou a atenção foi um link no Digg, cujo post recebeu até o momento 3866 votos e nada menos que 274 comentários.

Voltando ao aspecto dos alimentos, fica pergunta: Será que teremos de colocar fotos reais nas peças publicitárias ou teremos de fazer um bom marketing de serviços aliado a P&D para produzir alimentos cada vez mais parecidos com a suas fotografias?

Fontes: Boing Boing e Jeff Kay’s the West Virginia Surf Report

Apertem os cintos, o consumidor mudou!

Não se trata de uma nova versão da classica comedia pastelão, e sim de mais uma constatação de que o mercado mudou e continua mudando numa velocidade cada vez maior. Os sinais estão por toda parte: Este ano as verbas publicitárias digitais estão superando as mais tradicionais mídias, o mercado da comunicação está mudando, os publicitários não entendem de internet e o consumidor fica cada dia mais sabido e exigente, isto sem falar na quebra da comunicação corporativa por conta das redes sociais que ja são usadas como potentes ferramentas de CRM.

O perfil do novo consumidor vem sendo traçado com frequencia, alias cada dia fica mais dificil traçar algum perfil, o consumidor esta “derretendo” engordando a cauda longa que não para de crescer. Este novo consumidor é a antintese do consumidor de massa do passado. Antes consumia-se para pertencer à uma “tribo”, hoje também! Só que as “tribos” diminuiram e ficaram mais diversificadas.

O agente catalizador da evolução sempre foi a infomação, hoje temos isto de sobra, alias temos em excesso. Com o advento da Internet cada consumidor de informação passa a ser um emissor de uma comunicação em rede, um ambiente liquido, onde a informação pode ser fragmentada, reconstruida, fundida e novamente fragmentada… No meio do ecossistema da nova comunicação, a publicidade é interpretada como ruído e é descartada na primeira fragmentação, ou pior, muitas vezes totalmente descartada antes mesmo de ser exibida.

Quem viveu os primórdios da Internet no Brasil deve lembrar como este mercado se comportava. Era um imenso latifundio a ser explorado, projetos e ideias mirabolantes surgiam a todo instante, o espirito empreendedor ganhava auras de desbravador, e a Internet parecia uma infidável mina de ouro. Vivemos hoje entropia semelhante no mercado da comunicação, a diferença é que encontrar a formula ideal pode ser a chave da sobrevivência em um futuro muito próximo.

Quebrando paradigmas

Tem muito profissional de comunicação que nunca vai entender o novo consumidor, e muito menos o que houve com o mercado de comunicação. Não que ele não tenha capacidade intelectual para isto, ele não conseguirá entender isto com os fundamentos teóricos e ferramentas usuais ele não possui uma vivência que permita este entendimento, não faz parte da sua cultura. Muitos paradigmas precisam ser quebrados:

  • Mídia – Esqueça mídia, para de pensar em mídia, pare de tentar tangibilizar um conceito que não se aplica ao novo consumidor. Mídia simplesmente não faz sentido para um público que tem a liberdade de escolher se quer ou não ser impactado pela propaganda. Lembre-se em tempos de comunicação líquida, o meio é a mensagem.
  • Internet não é midia – Internet não é midia, quem te disse isto? Internet hoje é um complexo ecossistema social que chamamos de ciberespaço. Chamar a internet de mídia é subestimar a sua capacidade, ela não chega a ser o metaverso em si, afinal ela esta muito presente no mundo real, mas possui autonomia suficiente para sê-lo. Temos de “destangibilizar” nosso conceito de mídia, a Internet congrega informações, serviços, lembranças e emoções, tudo em bits, tudo líquido.
  • Internauta é mãe ! – Tratar um usuário de internet por internauta é uma forma de distancia-lo, é trata-lo como um ser diferente. As interpretações podem ser desde uma forte dose latente do emitente em tentar manter seu status quo, como a simples tentativa de rotular um grupo de pessoas. Descontando a face emocional do discursso, sobra a ignorância. A nova cultura é a cibercultura, é a cultura da geração conectada, que a cada dia expande tanto horizontalmente quanto verticalmente atingindo indivíduos cada vez mais novos e mais velhos. Se sou um internauta posso afirmar que em muito breve todos seremos, então os diferentes serão os desconectados.
  • Vivemos cada vez mais conectados – Quem pensa que a internet fica no computador precisa rever seus conceitos. Foi risível a matéria do Fantástico deste fim de semana, onde uma mãe desesperada “desligou a internet” do filho viciado. Enquanto existir esta “guerra” entre o real e o virtual vão existir interpretações tendenciosas como estas. O problema é psicológico, o vício poderia ser em qualquer coisa. Mas voltando ao assunto, há muito a internet “saiu” do computador, hoje ela é acessível por wap (celular), pelo telefone (VXML) e integrando soluções com dispositivos como o RFID, além é claro da TV Digital que corre um sério risco de ser engolida pela IPTV. O certo é que vivemos cada vez mais conectados, nossas casas, carros, eletrodomésticos e o que mais for possivel imaginar estarão conectados.

Este artigo não tem a ambição de ser conclusivo, nem tem uma visão generalista, apenas tem por objetivo apontar fortes tendências. Ele foi motivado por um artigo que retrata a visão de profissional que é muito parecida com a minha, e como me resaltou o Gilberto Pavoni, ele possui a grife “Forrester Research”. Eu na verdade pesquiso para montar a minha pequena agência que vai nascer mês que vem, mas construi um background suficiente para um cargo executivo em uma grande agência. O futuro? Who Knows the future?

Publicitários não entendem de Internet ?

A mudança de paradigma, a quebra do status-quo, o impacto disruptivo eminente tem deixado muitos publicitários completamente perdidos. Eu ja havia preconizado que nos próximos anos veremos a queda da propaganda e a ascensão do marketing, não que eu seja um guru, ou esteja rogando uma praga, mas as evidências estão ai para quem quiser ver.

O antigo modelo de negócios das agência de publicidade esta sendo aos poucos delapidado, anunciantes querem o BV, agencias dividem suas comissões, anunciantes criam suas houses cada vez mais. Mas ainda bem que o bom e velho anuncio de 30″ gera uma boa receita… Mas até quando?

Esta por enquanto é uma pergunta sem resposta, a resposta que posso dar é que as agências precisarão se reconfigurar para sobreviverem, se estão contando com a TV Digital para isto, esquecam, o tempo previsto para implantação no Pais de 10 anos é uma eternidade em termos de “Internet time”. Até la ela ja estará obsoleta pela IPTV que estará acessível a todos. E se você acha que estou enganado, apostando na Internet para a classe C, então é porque você não leu a ultima pesquisa publicada pela Datafolha e encomendada pela F/Nazca que aponta um contigente de 49 milhões de usuários a partir de 12 anos, contigente este que pode chegar á 60 milhões se levarmos em conta usuários abaixo desta idade, e com uma penetração de quase 40% na classe C.

Quem foi ao Digital Age 2.0 (e eu infelizmente não fui) pôde assistir ao “debate” entre o Luis Grottera – CEO da TBWA\BR com a Suzanna Apelbaum sócia da Hello!. O debate levantou polêmicas como pode ver:

No Techbits:

É possível perceber claramente que Grottera é conservador, estilo antigo e a Suzana mais antenada nas novas tecnologias. Em uma discussão que perguntava se o comercial de 30 segundos da TV estaria com os dias contados, Groterra defendeu que uma campanha na TV gera recall (lembrança por parte dos consumidores) ao redor de 20 a 30%. Então se você investir 10 milhões de reais, 8 milhões foram jogados fora, mas 2 milhões aproveitados. E, segundo ele, essa é uma boa média. Ainda segundo o Grottera, vale mais investir na TV do que na internet, mídia que ficará cara tanto quanto a TV daqui alguns anos.

Peraí… acho que ele não leu a Cauda Longa. Peraí… 8 milhões jogados fora e somente 2 aproveitados? Peraí… Claro, já entendi. Ele está defendendo o seu peixe.

Já a Suzana Apelbaum defendeu a internet. Não sei como não saiu uma briga mais feia, hehe! Na internet é possível direcionar totalmente os esforços publicitários. Cem mil reais investidos no Google dão retorno de porcentagem muito maior. Não há desperdício com o ruído como o fato dos consumidores zapearem entre os canais.

No Tecnocracia:

Hypes à parte, a Internet está revolucionando a forma de fazer propaganda. Aliás, a Internet está finalmente sendo feita por pessoas, sobre pessoas e para pessoas e com isso está revolucionando a forma com que as pessoas fazem e absorvem propaganda, TV, conteúdo, notícias, entretenimento, etc. O consumidor não quer mais assistir comerciais na TV – o próprio Martin Lindstrom em sua palestra afirmou que a criança de hoje é capaz de acompanhar 5.4 canais de TV simultaneamente, contra 1.7 canais de um adulto médio. Nós mudamos de canal durante as propagandas; Nós compramos canais por assinatura para fugir da propaganda da TV aberta; Nós assistimos ao Joost, baixamos episódios pela Internet, vemos vídeos no YouTube. Nós selecionamos a propaganda que queremos ver.

No Techbits, Fugita lembra que o Grand Prix de Cannes este ano foi um filme que nunca foi à TV.

Se você não concorda comigo então una-se ao Elton John, que esta liderando uma campanha para fechar a Internet.

Os dinossauros são miopes !

Já tem algum tempo que venho ensaiando um post, ou uma série de posts, sobre o que chamo de a nova extinção dos dinossauros. A cada ação desesperada do RIAA, Viacom e outros dinossauros do Copyright, esta motivação volta a tona e se reforça.

Uma noticia no Info Online, sobre uma produtora que processou o YouTube, usando o mesmo advogado do namorado da Cicarelli, teve seu pedido acatado pela 10ª Câmara de Direito Privado do TJSP e condenou o YouTube a pagar uma multa diária enquanto os “pedaços” do video Pelé Eterno não forem retirados do ar.

Quando os dinossauros vão entender que eles serão responsáveis pela sua propria extinção ?

Não adianta lutar contra a corrente, é que nem nadar em mar aberto, se você nadar contra a corrente você morre afogado, se segui-la, com um pouco de esforço se salva. O consumidor e sua relação com o consumo mudaram!

Os dinossauros do Copyright vivem querendo “matar” todos que “ousam” infrigir seus “direitos”. Por conta desta visão miope e imediatista, a produtora Anima Produções deixou de faturar muitos caraminguás por conta da venda e/ou locação do video.

Na minha opinião, estes “pedaços” são a maior propaganda do video, quem gosta de futebol e Pelé vai procurar o video inteiro para comprar e/ou alugar, deixaram de fazer uso de um excelente Buzz  que tinham a disposição, tudo por conta de uma visão imediatista e miope do mercado.

So para fechar, a Microsoft é a Microsoft de hoje graças à Pirataria, pois se não fosse a pirataria eles não teriam a imensa base instalada e nem a cultura de seus produtos tão cristalizada.

Acordem dinossauros, voces serão extintos, os sinais estão por todos os lados….