Classe mérdia

Eu cresci na zona sul, e depois em um condomínio de classe média alta e jacarepaguá, e confesso que analisando o “ambiente” em que cresci, compreendo claramente esta viralatice insana que ganha as redes.

A adoração aos Estados Unidos sempre esteve nos centros dos debates de nossos pais e vizinhos, porque lá era lindo, porque a faxineira americana tinha carro, porque lá as coisas funcionavam, porque o povo era limpinho, porque lá não tinha pobreza. E este discurso passava de pai para filho, toda minha geração foi contaminada com esta perspectiva cultural. Alias ai está o gancho!

Desde o pós guerra, os Estados Unidos exportaram seu mais importante ativo, a cultura americana. O engrandecimento da indústria cultural americana, e digo cinema, música, e até basicamente tudo que liamos quando criança. Eu mesmo lia todas as publicações das Disney e tinha todos os manuais que foram publicados. O sonho do viralata americano começava desde pequenino.

Ícones, valores e símbolos americanos permearam a cultura da tal classe média de uma forma que a única forma de se sentir no primeiro mundo era se tornando americano, abdicando da própria nacionalidade brasileira. Me lembro de minha tia comentar perplexa que a vizinha dela na Gávea ostentava orgulhosa a foto do filho brasileiro, com uniforme da marinha americana. Muitos amigos sonhavam mudar para os Estados Unidos, até eu sonhava em ser americano.

Não percebia como estes valores eram entregues nos filmes, revistas em quadrinhos e até nas músicas, só achávamos aquilo fantástico. We love america! Tínhamos vergonha de ser brasileiros, isto criou uma imagem curiosa, ninguém podia ver alguém falando inglês, sem lhe dar logo o status de celebridade. Quantos americanos das classes mais baixas não se sentiram assim em terra brazilis?

Muitos de minha geração foram para a “america”, e agem como se americanos fossem, apesar de estarem presos entre dois mundos, o de que nunca serão americanos de fato, e o de que nem brasileiros. São os intermundos, mas se estão felizes, que sejam.

Esta mesma classe média, ou seria melhor, mérdia, foi incapaz de se enxergar como primeiro mundo, quando no governo Lula, o Brasil se tornou a 6a maior economia, e tínhamos um respeitoso reconhecimento como nação emergente e progressista, eu mesmo vi isto por várias vezes nos fóruns da ONU que participei por anos. Essa classe mérdia pedia desculpa por nossa ousadia, pois até o ministro da Cultura, o Gil revolucionou o valor da cultura brasileira mundo afora, que ousadia!

Curioso ver que esta mesma classe mérdia que achava o máximo a faxineira andar de carro nos EUA, ficava indignada com a faxineira andando de carro e avião por aqui, e a gota d´água foi quando o filho da faxineira entrou na faculdade e o da patroa não.

Na verdade dentro deste ambiente social se cultivava uma noção de status e valores que não condiziam com os nosso valores brasileiros, brasilidade passou a ser brega, chique mesmo é ser americano. Isto criou uma estranha vergonha de nossos valores.

Olha, mérdia por mérdia, eu acho os EUA uma merda, a única coisa boa de se fazer por lá é compras, eu descobri isto depois de rodar o mundo, até a Africa é mais interessante, e a Europa, não da nem para comparar com os EUA, sem dúvida, depois do Brasil, a Europa é um continente interessante.

No fim das contas, vamos o país ser destruído por um presidente totalmente despreparado, mas legitimo representante desta classe mérdia da barra da tijuca, que prefere ser viralata dos EUA do que ter orgulho de ser brasileiro. Isto explica comportamentos bizzaros da família que conduz o país a deriva, e seu amor subserviente aos EUA, e as manifestações pró Trump dos viralatas que não aceitam ser brasileiros, mesmo que nunca serão americanos, apenas idiotas úteis…

Precisamos parar a espiral negativa!

Há muito tempo venho avaliando a sociedade atual como sendo econocêntrica, aquela que tudo percebe pela ótica da economia, ou em outras palavras, a economia é a estrutura pela qual a sociedade avalia o mundo que a cerca. O Brasil, um país onde mais de 90% da população tem uma renda mensal inferior aos R$ 4.377,73, que são concedidos à titulo de auxilio moradia aos juízes, não parece fazer o menor sentido nos preocuparmos com o fato do índice BOVESPA ter caído ou o dólar ter subido, ou ainda que a projeção do PIB subiu 0,01%, quem dirá com a taxação de grandes fortunas. Ainda mais se levarmos em conta que 61,2% das famílias brasileiras estão endividadas, e 25,2% estão inadimplentes.

Em dos “polêmicos” textos dos Marco Gomes, ele abre com uma frase muito interessante:

Criaram a “classe média” para apaziguar quem iria se rebelar se percebesse que somos todos pobres: precisamos trabalhar para mantermos nosso estilo de vida e não morrermos de fome.

A polêmica se deu pela reação desmedida de alguns leitores ao título — “A quem interessa uma classe média que não se vê como pobre?”-, e ao conteúdo, crítico e realista. Mas esta noção de realidade é difícil para todo mundo, você por acaso se imagina pobre? Então deixa eu te mostrar uns dados e gráficos que extrai do PNAD de 2017 e algumas matérias por ai. Segundo o PNAD, o rendimento médio mensal do Brasileiro foi de R$ 2.178,00, menos da metade do auxilio moradia de um juiz. Assim como apenas 4% da população ganha em média R$ 9.782,00 e apenas 1% ganha em média R$ 27.213,00, vejamos o gráfico que montei a seguir:

Como você pode ver, a tal elite que representa o famoso 1% da população não são estes que ganham em média R$ 27.213,00. Olhando este gráfico, você que está na classe A ou B, se sente um milionário, visto que 65% da população ganha em média R$ 1008,00, então você ganha em média entre 9 e 27 vezes este valor.

Mas sabemos que tem gente ganhando muito mais de 27 mil por mês, provavelmente o IBGE expurgou os supersalários. Tomemos os juízes por exemplo, 71% ganha acima do teto constitucional que é de R$ 33.763,00 configurando um salário médio de R$ 42.505,66. Temos ainda os CEOs de grandes empresas, que ganham em média R$ 142.000,00 por mês. E não podemos deixar de incluir os apresentadores de TV, os 10 mais bem pagos, ganham em média a bagatela de R$ 1.000.000,00 por mês, tem ainda os donos e executivos das emissoras, jogadores de futebol, mas vamos ficar só com estes aqui mesmo. Colocando esta turma no gráfico anterior temos um cenário interessante:

Observe como as classes B e C, a dita classe média ficou insignificante, até mesmo a classe A, e visualmente pouco distante das demais classes abaixo dela. Se tirarmos uma média dos supersalários temos R$ 394.835,00 que é 14,5 vezes maior que o salário médio da classe A, 40,36 vezes maior que o salário médio da classe B, 75,73 vezes maior que o salário médio da classe C e 181,28 vezes maior que o salário médio do brasileiro em 2017!

Mas mesmo eles não são a tal elite, todos trabalham, a elite, ou seja, os ricos, não possuem salário, pois não trabalham, vivem literalmente do mercado financeiro, e suas riquezas permeiam diversas empresas, institutos e organizações que custeiam suas despesas e detém seus bens.

Porque somos uma sociedade míope?

Acredito que agora você compreenda melhor quem são os detentores das grandes fortunas que tanto se quer taxar, e que a sua distância social para a do trabalhador que recebe um salário mínimo é insignificante frente à sua distância para os mais ricos. Mas mesmo assim, boa parte da sociedade não enxerga isto, enxerga por uma perspectiva míope, ou seja, uma perspectiva imaginária e distorcida, mas que é diariamente estimulada por todos os meios de comunicação e valores culturais e históricos que pavimentam a sociedade brasileira.

Diferente da visão de igualdade e pertencimento do europeu, que consolidou com o pacto social do pós guerra, na reconstrução dos países e do continente, o brasileiro herdou uma cultura do desprezo de classe da época da escravidão em conjunção com a visão de subserviência de um país que ainda não perdeu a identidade de colônia, nossa visão de sociedade em muito se assemelha com o sistema indiano de castas.

Enquanto não rompermos com esta perspectiva, e guturalmente nos percebermos como uma nação, onde cada um tem um papel importante na sociedade, que merece ser admirado e respeitado pelo que representa, nunca sairemos desta espiral negativa que nos assombra periodicamente.

O Brasil está neste momento numa das piores espirais negativas que vi em meus pouco mais de 50 anos, nunca vi tanta intolerância, preconceito e ódio de classe. Também nunca vi nossa sociedade tão desorientada, generalizando o mal, e personificando o bem, reduzindo questões complexas a perspectivas cartesianas e polarizadas, como se estes assuntos fossem passíveis de resolver por uma lógica booleana.

Depois o impeachment, ou melhor do golpe de 2016, por causa deste comportamento assistimos passivamente o maior desmonte do Estado da história, nem mesmo na ditadura se chegou à tanto, mas nossa sociedade segue entretida, numa troca de papéis, sentimentos e ofensa, ora movido pela vergonha, ora pelo ódio, como se de fato fôssemos responsáveis pelo que esta acontecendo.

Somente se pararmos a espiral negativa conseguiremos enxergar com clareza e reagir a tempo de salvar o pouco que resta de Brasil, faça as pazes com seu amigo ou parente que você brigou por causa de bobagem, mostre que estamos do mesmo lado, que é bom que tenhamos opiniões divergentes, mas principalmente que agora estamos aberto a debater, com calma e sabedoria. Vamos aplicar uma visão crítica às informações e noticias que nos chegam, isto significa olhar com desconfiança, buscar o controverso, debater, ouvir, concluir e ainda assim, estar disposto a mudar novamente. Vamos fazer um exercício…

Pouca areia pro nosso caminhãozinho

Quando falei lá no inicio que não fazia sentido nos preocuparmos com a variação do dólar, do índice BOVESPA e do PIB, é porque este indicadores não nos afetam diretamente, vamos falar de caminhão e petróleo para você perceber o que estou dizendo.

O locaute ou greve dos caminhoneiros, que vem promovendo uma crise de abastecimento crescente, não só de combustível, mas também de produtos frescos como hortifrutigranjeiros, e agora a greve dos petroleiros, revelando um grave problema que passou despercebido. Enquanto a grande mídia responsabilizava o governo anterior por subsídios excessivos no preço dos combustíveis, a realidade vinha de dentro da petrolífera. Na gestão de Pedro Parente, desde outubro de 2016 a Petrobras adotou o pareamento com o preço internacional do Petróleo, por esta razão os combustíveis subiram tanto. Segundo a Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), esta política que vem ganhando o apelido de “America First!”, beneficiando as petrolíferas Americanas, estamos exportando quantidades enormes de petróleo bruto e importando quase todo combustível, tornando nossas refinarias ociosas.

Com o desemprego beirando os 14%, a política de preços da Petrobras só piora as coisas, indústrias de capital intensivo como a petrolífera, giram um verdadeiro ecossistema econômico em seu entorno, produtos e serviços auxiliares, por exemplo. Com a ociosidade das refinarias teremos em breve ainda mais desempregos. Só por esta razão o subsídio seria de longe a melhor alternativa, ainda assim, a AEPET destaca em sua nota que o subsídio dos governos anteriores nunca afetaram a geração de caixa. Mas a grande mídia cumpre seu papel, fazendo a população acreditar que foram os subsídios do governo anterior os responsáveis pelos sucessivos aumentos do preço dos combustíveis, escondendo a verdade, ou pelo menos a outra perspectiva do problema.

Ainda pensando em termos práticos, apesar de estarmos exportando petróleo como nunca, não iremos nos beneficiar deste aumento de receita por causa da PEC 241 que congela o orçamento da união por 20 anos. E ao conceder a exploração do precioso pre-sal às companhias estrangeiras, além do aumento do desemprego, corremos ainda o risco de ficarmos sem nossa reserva estratégica de petróleo em poucos anos.

Nos governos anteriores, o Brasil seguiu o sucesso norueguês com o pre-sal, destinando 100% dos seus royalties para a saúde e educação, a mesma Noruega que agora detém 25% do campo de Roncador na bacia de Campos, o Brasil perdeu, perdeu e vem perdendo, estamos fadados a um colapso em poucos anos. O golpe nos derrubou pirâmide de Maslow abaixo, antes visávamos o auto reconhecimento, e o pertencimento social, hoje estamos nos preocupando com o básico que é segurança, emprego e moradia.

Temos de mudar isto, mas não com o ódio, e sim com o amor…

 

O poder político e ideológico do filtro bolha

Foto de Colin Adamson

O poder político e ideológico do filtro bolha

O estudo da linha do tempo do Facebook

O texto a seguir é parte do meu pré projeto para mestrado, que torno público como contribuição ao debate atual em torno da conjuntura que o Brasil vive neste início de março de 2016.

Introdução

Em Maio de 2015 pesquisadores do Facebook publicaram um estudo intitulado “Exposure to ideologically diverse news and opinion on Facebook” (BAKSHY et al., 2015). O estudo focava em duas criticas mais comuns em torno do algoritmo do Facebook: Com cada vez mais indivíduos buscando informações cívicas nas redes sociais, o algoritmo poderia criar “câmeras de eco”, onde as pessoas são mais expostas a informações compartilhadas por seus pares ideológicos. A outra questão focava como o algoritmo classificava e buscava as informações exibidas na linha do tempo da rede social. Segundo Pariser (2012) o algoritmo criava um “filtro bolha”, onde somente conteúdo ideologicamente atraente era trazido à tona, isolando o usuário da diversidade.

O resultado apresentado mostra que os usuários estão expostos a uma quantidade substancial de conteúdo a partir de amigos com pontos de vista opostos, e que o mix de conteúdo encontrado na rede social é produto de uma escolha pessoal, e que apenas entre em 5 a 10% do que não se alinha à visão política do usuário é omitido.

Por conta desta conclusão, o estudo ganhou pelos críticos, ativistas e acadêmicos, o apelido de “Facebook’s it’s not our fault study”. Destes, Zeynep Tufecki (2015), socióloga ligada ao Berkman Center, de Harvard aponta algumas inconsistências. Em primeiro lugar foram tomados dados de um pequeno grupo de usuários, aqueles que se auto-identificam politicamente. Presume-se que esses que se auto-identificam são mais propensos a criarem uma bolha informativa em torno de si, uma vez que já estão politicamente definidos. A outra questão é que há uma brutal variação entre a probabilidade de uma informação ser visualizada quando disposta no topo da página ou mais embaixo. Ou seja, o Facebook não precisa omitir determinado link ou informação, basta dispô-lo no fim da linha do tempo, reduzindo substancialmente a possibilidade de ser visto. Por exemplo, um link tem 20% de possibilidade de ser clicado estando no topo da página. Esse número cai para menos de 10% se estiver na décima posição e vai a quase 5% se, além de estar em décimo, não for ideologicamente alinhado a esse usuário. A supressão automática de posições políticas diversas à nossa, somada às regras utilizadas para o ordenamento das publicações são dois elementos que se complementam e não podem ser analisados em separado.

Para Pariser (2015), o estudo erra em pressupor que a escolha do usuário faz mais sentido do que responsabilizar o algoritmo do Facebook. Para ele existem duas preocupações em relação ao filtro bolha: que os algoritmos ajudem os usuários a se cercarem de informações que dão suporte às suas crenças, e que os algoritmos classifiquem como menos importante o tipo de informação que é mais necessária em uma democracia – notícias e informações sobre a a maioria dos temas sociais importantes (“hard-news”). Enquanto o estudo foca no primeiro problema, ele deixa rastros para o segundo, uma vez que apenas 7% dos usuários clica no que o estudo chama de “hard-news”, noticias de carater cívico, enquanto a maioria clica em “soft-news”, que são amenidades.

Existem algumas ressalvas apontados por Pariser no estudo, O mecanismo de marcação ideológica não significa o que parece que ele significa. Como os autores do estudo mencionam, e para muitos passa despercebido, é que isto não é uma medida de polarização partidária com a publicação. É uma medida de quais artigos tendem a ser mais compartilhados por um grupo ideológico do que o outro, existem hard-news que não são partidários. É difícil calcular a média de algo que está em constante mudança e diferente para todos. É um período de tempo muito longo para uma rede social que está constantemente se reinventando, muitas coisas aconteceram no período de tempo da pesquisa (07 de Julho de 2014, a 07 de Janeiro de 2015). A amostragem do estudo representa apenas 9% dos usuários do Facebook que declaram seu posicionamento político. É realmente difícil separar “escolha individual” e o funcionamento do algoritmo. O algoritmo responde ao comportamento do usuário em lotes diferentes, há um ciclo de feedback que pode diferir drasticamente para diferentes tipos de pessoas.

Tanto o estudo apresentado pelo Facebook, quanto suas críticas, e aqui citamos apenas duas, são conseqüência de diversos estudos e criticas anteriores, das quais destacamos duas bem controversas que motivaram a proposta deste projeto de pesquisa.

Para Zittrain (2014) O Facebook pode decidir uma eleição sem que ninguém perceba isto. Em seu texto ele demonstra que a simples priorização de um candidato na linha do tempo é suficiente para isto, principalmente frente aos usuários indecisos. Para sustentar sua tese, Zittrain cita um estudo desenvolvido em 2 de Novembro de 2010, onde uma publicação que auxiliava encontrar a zona de votação nos Estados Unidos apresentava a opção do usuário clicar um botão e informar a seis amigos que já havia votado. Isto produziu um aumento no número de votantes na região do experimento.

A controvérsia em relação ao filtro bolha ganhou uma dimensão significativa, e passou a chamar a atenção não só de pesquisadores, mas principalmente de ativistas, advogados e políticos, quando um estudo desenvolvido por pesquisadores ligados ao Facebook concluiu que era possível alterar o humor dos usuários por contágio emocional pela rede social. O experimento consistia em transferir emoções por contágio sem o conhecimento dos envolvidos, Kramer et al. (2014, p. 8788 tradução nossa) e foi bem sucedido:

Em um experimento com pessoas que usam o Facebook, testamos se o contágio emocional ocorre fora da interação presencial entre os indivíduos, reduzindo a quantidade de conteúdo emocional na linha do tempo. Quando foram reduzidos expressões positivas, as pessoas produziram menos publicações positivas e mais publicações negativas; quando foram reduzidos expressões negativas, o padrão oposto ocorreu.

Objetivos

Este projeto de pesquisa tem por objetivo compreender a forma como o filtro bolha afeta o fluxo e a classificação de informações e consequentemente, como afeta o posicionamento político e ideológico do usuário do Facebook no Brasil.

Com base nos estudos de Zittrain (2014) e Kramer et al (2014) torna-se possível começar a desenhar este recorte. A influência política proposta transcende a mera questão eleitoral apontada por Zittrain, estamos falando do posicionamento do indivíduo frente às questões políticas e ideológicas. O estudo do contágio emocional pelas redes sociais, não deixa dúvida da existência de mecanismos passíveis de influenciar as emoções dos usuários através da manipulação do fluxo de informação, da mesma forma que é perfeitamente plausível trabalhar com as questões que envolvam seus princípios e valores.

Para atingir este objetivo é necessário identificar e compreender os principais algoritmos, ou parte destes, utilizados pelo Facebook na classificação das informações apresentadas ao usuário. Uma vez identificados estes processos, torna-se imperativo complementar com o suporte teórico para identificar de que forma os processos possam interferir no posicionamento ideológico e político deste usuário.

Justificativa

Os algoritmos dos filtro bolha, são desenvolvidos para proporcionar uma melhor experiência para o usuário, oferecendo a ele opções de conteúdo cada vez mais adequados à suas expectativas. Para atingir este objetivo eles “aprendem” através de diversos indicadores como “likes”, comentários, compartilhamentos e o tempo gasto em cada publicação no Facebook, e comparam seu perfil com outros usuários que de uma forma ou de outra, o algoritmo identifica como semelhante a você. Obviamente existem outros métodos e indicadores que aprimoram o resultado apresentado ao usuário. É importante considerar que estes algoritmos estão constantemente reavaliando suas preferências, de tal forma que se tornam recursivos, a ponto de criarem o que Pariser (2012) chama de “Síndrome do Mundo Bom”. A Síndrome do Mundo Bom é uma “purificação” dos interesses do usuário dada a forma como ele se relaciona na linha do tempo, e que o afasta de publicações que não são compatíveis com seus interesses.

Ao conectar estas questões informacionais com o conhecimento de autores de outros campos de estudo como sociologia, psicologia e filosofia, encontramos e identificamos os mecanismos pelos quais o poder político e ideológico do filtro bolha é exercido. Como exemplo, John Rendon (RAMPTON; STAUBER, 2003) se define como um “guerreiro da informação e um administrador de percepções”, para ele a chave para modificar a opinião pública está em encontrar diferentes formas de dizer a mesma coisa. Este padrão pode ser perfeitamente encontrado na Síndrome do Mundo Bom.

Partindo do principio que a grande maioria dos usuários da Internet desconhece a existência do filtro bolha, é de extrema importância produzir um estudo que possa orientar tanto os especialistas como o cidadão comum, tanto a cerca da existência de tal filtro, como seu impacto em diferentes partes de sua subjetividade.

Mantras da irracionalidade – Prosperidade

Mantras da irracionalidade são dogmas, conceitos e valores repetidos e assimilados por nossa sociedade que foram injetados em nossa cultura por estratégias de comunicação. São mantras que não nos pertencem, e que não resistem à uma analise. Muitos se surpreendem de repeti-los e ficam ainda mais surpresos em perceber que eles nunca foram questionados e que nunca foram construidos pelos indivíduos. O mundo a nossa volta esta cheio disto, aos poucos vamos revelando por aqui.

Vamos pensar um pouco em prosperidade, quem é prospero ou não em nossa sociedade e como avaliamos isto. Prosperidade é ter ou parecer ter? Prosperidade é ser ou parecer próspero? Somos prósperos ou meros coadjuvantes em um perverso sistema de poder? Mas afinal o que é prosperidade?

Prosperidade (do latim prosperitate) refere-se à qualidade ou estado de próspero, que, por sua vez, significa ditoso, feliz, venturoso, bem-sucedido, afortunado

Apolônio e Esnóbio

Imaginemos dois irmãos, Apolônio e Esnóbio. Apolônio nunca deu valor ao consumismo, mora na mesma casa no subúrbio há anos, é uma casa simples, mas muito confortável e espaçosa. Seu carro é um velho modelo 2005, mas está em boas condições, atende às necessidades de sua família. Apolônio leva uma vida confortável e sem sobressaltos. Esnóbio sempre foi ambicioso, mora em um apartamento em um luxuoso condomínio, a duas quadras da praia, seu carro é um modelo do ano, e leva uma vida agitada, trabalha muito e tem pouco tempo para a família, ao contrário de seu irmão Apolônio que tem a família em primeiro lugar.

Creio que você que esta lendo este texto já tenha feito juizo, então pergunto: Qual dos dois irmãos é o mais próspero: Apolônio ou Esnóbio? Não precisa responder agora, vamos continuar a história.

A esposa de Apolônio estava comentando com ele, que todo mês o irmão quer fazer uma retirada extra na empresa da família, eles são sócios em uma empresa de auto serviço. Apolônio já cansou de aconselhar o irmão à mudar seu estilo de vida, que se continuasse assim não haverá dinheiro suficiente para atender seus caprichos. Esnóbio invariavelmente respondia ao irmão que ele pensava pequeno e que nunca iria sair daquela casa do subúrbio e ia continuar andando com aquela “lata velha”. Apolônio não se importava, afinal nunca pensou em sair dali, a casa era boa, espaçosa e a vizinhança bem agradável. Como são sócios ambos fazem retiradas iguais, inclusive as extras. Além da sociedade com o irmão, Esnóbio da aula na faculdade a noite, ele enche os olhos dos alunos, como modelo de sucesso.

Agora você que esta lendo este texto tem condições de avaliar qual dos dois irmãos é o mais prospero? Então vamos continuar:

Apolônio comenta com a esposa que o irmão estava pagando quase 2 mil Reais por mês de condomínio, e ainda tinha a prestação do apartamento e do carro, que o irmão estava na verdada afundado em dívidas, trabalhava atrás do dinheiro e não na frente dele. Apolônio não conseguia aceitar o estilo de vida do irmão, achava que ele estava se tornando um escravo do consumo. Com sua casa e carros quitados, as retiradas de Apolônio estavam indo para aplicações da família, que todo ano viajava para o exterior, em especial este ano que o filho de Apolônio estava se preparando para fazer faculdade na França. O casamento de Esnóbio estava por um fio, sua esposa não podia aceitar o fato de não poder comprar um novo vestido para ir à festa da amiga socialite, e o filho do casal ainda não havia chegado do cursinho pré-vestibular, o menino estudava feito um louco para passar para uma faculdade pública, já que o pai falou que não iria pagar faculdade para marmanjo.

Veja você minha cara leitora e meu caro leitor, creio que não haja dúvida sobre quem de fato é próspero e quem não é. Nossa sociedade é assim, temos uma tendência enorme ao reducionismo, por conta disto somos vitimizados pelos mantras da irracionalidade. Esnóbio apesar de ter uma renda maior que Apolônio e apresentar sinais externos de prosperidade é na prática muito menos prospero que o irmão suburbano Apolônio. Imagino que não haja surpresa nesta revelação, mas vamos aos fatos.

A casa e o carro de Apolônio já estão quitados, apesar de ambos valerem 1/3 do valor do apartamento e do carro de Esnóbio, neste quesito o patrimônio de Apolônio é maior. O sistema é perverso, mesmo que Esnóbio tenha quitado 2/3 das parcelas do financiamento do seu carro, ele ainda esta devendo o valor do carro, mas o valor de compra e não de revenda, deste modo tudo que ele pagou até então no carro não teve impacto no seu patrimônio. O mesmo se dá com seu apartamento, ele esta pagando, mas ainda deve dois apartamentos. No caso de Esnóbio, ele não tem patrimônio algum, ele trabalha para girar a perversa roda do sistema bancário, que oferece crédito como se estivesse oferecendo deliciosas guloseimas para as crianças.

Quantos Esnóbios você conhece por ai?

O paradoxo do progresso

Desde que me entendo por gente vejo a tecnologia mudar o mundo à minha volta, os homens foram a lua, satélites e mais satélites, robôs nas fábricas, computadores, inteligência artificial, e muita ficção científica. Desde então a sociedade assistiu seu espaço ser invadido pela tecnologia. Tudo em nome do progresso que não poderia parar. Tivemos de assistir nossos postos de trabalho serem aniquilados, profissões dizimadas, e a tecnologia pouco a pouco ganhar o centro das atenções. Sindicatos, associações e outros representantes de coletivos foram a luta, mas sem sucesso, afinal o progresso não pode parar. O progresso é aliado do capital, o trabalho é despesa, o objetivo é o lucro.

Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: a fita cassete vai acabar com a indústria fonográfica!

Pela ótica do capital esta tudo correto, quem lembra da reengenharia, um conceito até interessante, mas que fora usado como artifício para provocar a maior onda de demissões de todos os tempos. O capitalismo sempre foi focado no lucro, tanto que mão de obra até hoje é entendida como insumo, assim como os materiais, um orçamento sempre foi composto de insumos e lucro. Lucro este desejado, a palavra de ordem é competitividade, temos de ser competitivos, afinal o capitalismo é selvagem, e somente os mais competitivos sobrevivem. Entenda que não é nada pessoal, dizia o patrão ao demitir funcionários de longa data, é a busca pela competitividade e sobrevivência da empresa que esta em jogo, empresas não podem ter coração…

Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O video cassete vai acabar com a indústria cinematográfica!

A Arte da Guerra do Pai rico, que virou a própria mesa antes do Safari de Estratégias do Príncipe, na busca de um monge que virou executivo. Até hoje não sabemos quem roubou meu queijo, e nem quem foi o Fora de Série que chegou no Ponto da Virada em Caminhos e Escolhas na busca de um Freakonomics. Mesmo que o Marketing seja Lateral ou vá além do Buzz, ou gerenciamos a experiência do consumidor ou tentamos entender a cabeça do Brasileiro. O líder do Futuro faz uma Liderança Radical, diz que Sobreviver não é o bastante e não gosta de Sundae de Almôndegas. Tanta coisa fora sistematizada para alavancar o progresso, para girar a roda da fortuna em prol da competitividade e do lucro.

Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O CD vai acabar com o LP!

Meados dos anos noventa, o fim do mundo estava próximo, o bug do milênio que assombrava todo mundo, na verdade era apenas mais um mercado construído em cima de dúvidas e incertezas. Estávamos sendo usados mais uma vez. As profecias diziam: o fim do mundo esta próximo! A Internet chegou, uma nova parafernália eletrônica que chega para divertir os nerds e conectar os acadêmicos, um espaço de poucos. A Internet chegou!

Como falavam em globalização! O mundo como uma maravilhosa aldeia global, onde todos consumiriam alegremente, anunciavam o inevitável fim da cultura local, e enalteciam as maravilhas de mundo globalizado. Na prática estavam alinhavando novos mercados, o progresso não pode parar! Aquele tênis bacana é produzido no terceiro mundo por mão de obra escrava com uma marca registrada nos “Staites” que valia mais do que custava o sapato, que não valia nada. Era o tal do insumo que ficou pequeno perto do lucro, a ciência do preço agora contava com um fator de subjetividade ainda não entendido, mas pouco importa, felizes consumidores pagavam lucros exorbitantes para ostentar seu mimo. As corporações cresciam, cresciam como nunca…

Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: Pirataria é crime!

B2B, B2C, G2B, G2C, A2Z; A2Z,G2B,B2C,G2C,B2B, e-learing, e-enterprise, e-commerce, e-gov, e-tudo. e-Siglas e letras 3 letras povoaram o vocabulário corporativo. A Economia Digital ensinava a Vender seu Peixe na Internet e tudo Fazia Sentido. Webonomics levou ao Net Gain, mas We the Media ainda não haviam estabelecido as Novas Regras da Comunidade. O capitalismo virou bits, o free shop ficou à dois cliques de distância, que beleza! Globalização! O mundo agora ficou pequeno, e todo mundo achando tudo muito lindo, não percebiam a intenção latente, a nova ordem era transformar empresas em mega corporações, maiores e mais poderosas que as nações…

Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: Agora quem manda são as corporações, afinal oferecemos aquilo que o fizemos desejar.

Descobriram o usuário, a Internet ficou popular, ficou fácil para qualquer um produzir, criar e compartilhar, deixem eles brincar diziam as novas nações-corporações, afinal o Culto dos Amadores não podem nos ameaçar. Mas as Novas Regras da Comunidade mostravam o Valor das Redes que através de seus Trust Agents corriam em busca de Socialnomics, mas na verdade estavam muito mais interessados no Group Genius. Esta sociedade conectada, alinhadas por ideologias eram vistas como excelentes oportunidades de negócios, afinal nichos e mega nichos sempre seduziram qualquer corporação em busca de novos mercados. Eles “brincavam”, faziam mashups, blogs, e se conectavam através de redes sociais. Excelente dizia o establishment, nosso plano de dominação vai de vento em popa…

Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O mundo de pontas esta se alinhando com o Manifesto Cluetrain.

Inteligência coletiva, cognição interativa, pensamento globalizado, juntos os usuários ficavam mais inteligentes, mais inteligentes que a soma das suas inteligências. Inteligência coletiva, crowdsourcing, dinheiro P2P, mobilização coletiva e o povo foi para as ruas sem um lider específico, sem uma pauta específica, a indignação mostrou sua cara. Era a crise da representativade que estava em jogo, era o modelo atual do mundo que estava em jogo, como diz Rushkoff, eles querem trocar o sistema operacional do establishment e dar um reboot geral.

Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: O povo unido jamais será vencido!

Precisamos parar este trem diz o establishment preocupado, vamos estudar esta tal de Internet que agora quer nos pegar, vamos mudar a regra do jogo, vamos controlar as informações, basta dizer que pobres velhinhos são roubados na Internet, ou falar de pedofilia, ou ainda de gente pelada na rede, o velho discurso da pirataria não colava mais, mas TPP vem ai para nos vingar. Enquanto isto vamos dominar a infra-estrutura dizendo que Internet é telecomunicações, dizendo que Internet é um espaço de negócios e que deve seguir as regras do mercado, assim calamos nossos inimigos, e voltamos a lucrar como nunca.

Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
Diziam: Quem manda no seu pais somos nós!!!

A Mafia do Copyright x Cultura Livre – um caso pessoal

Hoje me surpreendi com um email do Scribd informando que um documento meu havia sido removido por violação de Copyright, fiquei imaginando como eu mesmo poderia ter me violado, ou quem supostamente deteria o copyright do meu conteúdo intelectual, a mensagem não é nada clara como você pode ver abaixo:

Notificação Scribd

Ou seja, a mensagem não te informa o motivo e nem quem solicitou a retirada do meu conteúdo, e além do tom ameaçador não tem nenhuma informação adicional. Apenas descobri quem solicitou a retirada do documento quando cliquei no link do documento removido, dai pude ver que foi removido à pedido da ABDR.

Link do conteudo removido

Deste ponto em diante a tarefa estava em tentar adivinhar o que havia motivado o pedido de remoção do meu conteúdo pela ABDR sob alegação de violação de copyright, verifiquei que o texto original, publicado em 2008, continuava lá no Jornalistas da Web, assim como o texto revisado publicado aqui neste blog. No Scribd também encontrei a versão revisada do texto em PDF, bem como em outros blogs que reproduziram o texto. Então pude concluir que o que havia motivado a ordem de retirada não estava relacionada ao texto, foi quando abri o PDF que havia enviado ao Scribd e percebi na hora o que poderia ter motivado a ordem de remoção por parte da ABDR.

Reproducao
Copia da parte do texto que pode ter originado o pedido de remoção de conteúdo, com uma reprodução da capa do livro de Chris Anderson usada para divulgação

A foto de divulgação da capa de um livro foi motivo para apagar um texto inteiro!

Entendeu? Pois bem, todo o texto de minha autoria foi removido à pedido da ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos) por causa desta foto da capa do livro de Chris Anderson usado como divulgação pelo editor do Jornalistas da Web!

Ou seja, a Mafia do Copyright não esta nem um pouco preocupada em prejudicar os conteúdos livres, se dentro de um conteúdo livro tiver algo que a mafia sinta-se prejudicada, ela não hesitará em aniquilar. Existem infinitas situações absurdas envolvendo a mafia contra a cultura livre, o caso emblemático do “dancing baby” onde a mãe foi processada por publicar um vídeo de 29 segundos que tinha ao fundo uma música da Universal Music, ou aqui no Brasil a Folha de São Paulo processou o blog humoristico Falha de São Paulo sob os mais esdruxulos argumentos de violação de copyright. Existem mil outros casos, a EFF tem até mesmo o Hall da Vergonha, mas a mafia ignora isto.

A Mafia do Copyright quer eliminar a concorrência

Agora vamos entender as motivações, no caso da Folha x Falha, a primeira argumenta que o blog humoristico Falha estava violando seu copyright por usar fontes semelhantes a sua e que o blog poderia ser confundido com o site jornalistico…. é eu sei que você esta caindo na gargalhada, mas é verdade. No meu caso, o Jornalistas da Web colocou uma foto da capa do livro do Chris Anderson para divulgação e ao imprimir em PDF a foto foi junta, e esta foto da capa deu o “direito” a ABDR de requisitar a remoção do meu texto, e veja que até aqui estou apenas supondo, pois ainda não fiz a minha contra-notificação e não sei o motivo oficial.

Na prática com o advento da Internet, os intermediários estão se tornando obsoletos, ou como eu disse em “A espetacularização do combate à pirataria“:

Na verdade a Industria de Intermediação cultural quer, além dos lucros imorais, é evitar que a sociedade se dê conta de que ela se tornara obsoleta, ou pior, quer na verdade eliminar o seu principal concorrente: Nós mesmos.

Ou seja, não querem perder os mais de 90% que ficam com o trabalho dos escravos da cultura sob o argumento que os custos de produção, divulgação e distribuição são elevados, e como podem sustentar este argumento com a Internet provando justamente o contrario?

A Mafia Autoral quer melar o Marco Civil da Internet

O Marco Civil da Internet, que nos defenderia, ao menos no caso de sites hospedados no Brasil e/ou de empresas com escritório no país, sofreu um forte lobby da máfia autoral, que inseriu um paragrafo 2º no artigo 15, dando-lhes o direito de requisitar remoção de conteúdo sem ordem judicial, ou seja, querem trazer para o Brasil este “direito” que eles tem de sequestrar qualquer conteúdo que mesmo que supostamente, viole copyright, não é preciso dizer o estrago que isto vai ser para a Cultura Livre.

Por fim deixamos a critica de Frank La Rue, relator especial de direitos humanos da ONU, ao paragrafo 2º do artigo 15 do Marco Civil

Este post não termina aqui

Este post não termina aqui, vou enviar minha contra-notificação e os manterei informados em detalhes.

2015 a Internet capturada

A expectativa para a Campus Party 2015 já não era grande, aliás pouco importa agora, fazia pouco tempo que a Internet havia acabado, agora a rede é toda facetada, mil pacotes de serviços, aquele blog que eu gostava de acompanhar demora demais para carregar, e sempre aparece uma mensagem para conhecer um novo blog, que paga mais taxa de visibilidade às empresas de Telecom, as novas donas da antiga Internet. É tudo muito complicado, cada provedor de acesso oferece um pacote de serviço diferente, uns com 100 horas de Skype, outros com vídeos ilimitados, mas só no Youtube, tal como na telefonia celular no fim é tudo a mesma enrolação. A criatividade esta em baixa, cada novo protocolo precisa ser analisado pelos novos donos da Internet, tenho me sentido uma espécie de prisioneiro, as pessoas com quem me relacionava nas redes sociais estão mais distantes, nem todos assinam o mesmo plano agora.  Sinto fortemente que minha liberdade ficou no passado junto com a Internet, aquele negócio de democratização do  conhecimento e inclusão digital agora parece não fazer o menor sentido, Internet é só para quem pode pagar, agora temos a Internet do rico, bem mais cara, a “ilimitada” que é semelhante a que conhecemos hoje, os milhões de opções de pacotes e a Internet de pobre que é uma vergonha. A universalização, ou melhor o PNBL ficou restrito ao email e navegação sem figuras, qualquer outro serviço é tão lento que lembra as velhas conexões discadas de 14,4 kbps, tanto que as pessoas o tem chamado de Plano Nacional de Bandinha Lerda, alias ninguém esta dando importância para isto agora.

Marco Civil

Eu que vivia xingando o Facebook que sempre ordenava minha timeline pelo que eles julgavam mais relevante, estou pagando a língua, o sistema de curadoria das Teles que investiga toda a minha navegação, alias investiga a de todo mundo, decide com base nisto o que eles acham mais relevantes para mim, e em geral acertam, já não consigo mais resistir e furar o bloqueio, me prendi dentro de um jardim murado. A Internet esta cheia de filtros bolha, e cada um tem a sua Internet, com entretenimento sob medida, uma verdadeira droga que acaba viciando seres humanos que são preguiçosos por natureza. A inteligência coletiva foi substituída pelo sistema de curadoria que avaliam nossos relacionamentos e os interesses e provê a informação sob medida.  Hoje eles controlam nosso conteúdo, na verdade estão controlando nossos cérebros, voltamos a ser os bons e velhos hamsters na gaiola, bestas úteis ao sistema.

censorship_protect_reality

Centralizaram o mundo de pontas, o valor da Internet que sempre foi nas pontas, sempre foi resultado das conexões, relacionamentos e compartilhamentos foi substituído por um modelo sedutor, hoje em dia falar em mundo de pontas ou manifesto cluetrain não faz o menor sentido, apenas enche nossos olhos de lágrimas quando lembramos do futuro que deixou de existir. As pessoas não estão mais ficando inteligentes juntas, estão ficando imbecis isoladamente, aos poucos o revolucionário sistema de comunicação e interação social que chegou ao status de ecossistema vai ficando no passado… Sinto um forte aperto no coração  de pensar que lutei anos da minha vida, que me doei literalmente para que a próxima geração tivesse um mundo melhor que o meu, e hoje sofro ao vê-los preso a um sistema ainda mais perverso que o antigo capitalismo. Pelo menos no século XX o capitalismo estava associado à democracia, era nisto que acreditávamos, hoje o vemos lado a lado com o totalitarismo, um pesadelo que juntou o pior de Admirável mundo novo com o pior de 1984.

internet censorship

Já estamos ficando sem voz, com tanto controle na rede fica difícil qualquer tentativa de mobilização, mesmo que nossa articulação vença o controle de conteúdo, não temos mais uma massa crítica disposta a construir um meme…. ah… memes… que saudades de vocês, que saudades do tempo que nossos devices eram uma janela para o mundo, e que conseguíamos interagir com milhares de pessoas com facilidade. Tinhamos até blogueiros fazendo revolução, hoje em dia ninguém mais acessa seus conteúdos, o sistema de conteúdo cria mil obstáculos para isto.

Penso que ano que vem teremos Olimpíadas aqui no Rio, mas que se dane, sempre tenho a sensação de que foram os Mega Eventos que aceleraram a implantação deste sistema totálitario, o tal plano nacional de defesa cibernética transformou a nós, ativistas da rede, em criminosos da noite para o dia, na prática a visão perversa deste projeto era de calar as vozes dissonantes que impediriam o avanço dos projetos de controle da rede…

O MANIFESTO, A ÚLTIMA CHANCE…

Isto felizmente AINDA é uma história de ficção, mas se não fizermos nada IMEDIATAMENTE será nossa realidade em bem pouco tempo, veja que além do tal plano de defesa cibernética o Brasil assinou o novo tratato na UIT que vem com um padrão de inspeção profunda de pacotes junto, o Y2770.  Além disto a configuração da Câmara é das piores, o novo presidente da casa é lobista conhecido das Teles, assim como o novo lider do PMDB. O Novo presidente, que esta na Câmara desde a época da Ditadura já mandou um recado para a TV Câmara que ela terá de seguir as determinações dele. Com isto ficará ainda mais difícil aprovar o Marco Civil, que nos salvaria de parte dos terrores citados.

Para completar a tragédia, o representante do SindiTeles Brasil, que representa as maiores empresas de Telecom, já expos na Campus Party 2013 o seu modelo de “neutralidade” onde quer oferecer um leque de serviços e vender prioridade de tráfego, e também quer ter acesso aos nossos dados de navegação.

O cenário é o pior possível, se a sociedade não acordar e se mobilizar AGORA iremos certamente perder a Internet e a nossa liberdade!!

Revolução Digital Já! Todos juntos, todos por uma causa, todos os movimentos pela liberdade!

Ocupem tudo!

251020112087

 

 

No limiar do ponto de ruptura

Estamos vivendo um momento extremamente crítico, movimentos globais nas quatro arenas (vídeo abaixo): Legal, Comportamental, Técnica e de Governança estão atuando em conjunto colocando em prática diversas estratégias para o controle da rede. Os atores deste processo são facilmente identificáveis: Na esfera corporativa são  os “atravessadores” do direito autoral e propriedade intelectual, as empresas de Telecomunicações, os bancos e a velha mídia. Na esfera governamental são as policias (em geral Federal), o judiciário, o executivo e o legislativo conservador. Estes atores atuam formando uma espécie de tripé que os sustentam, o Tripé do Atraso“, suas motivações são diversas, mas podemos reduzir a duas: dinheiro e poder.

Esta estratégia global de controle esta sendo conduzida com muita pressa, nas quatro arenas, e com planos de contingência em diversos níveis. Veja por exemplo que na arena legal tivemos a derrocada do SOPA no Congresso Americano e o surgimento do CISPA, o ACTA morreu na Comissão Européia, sendo negado pelo Parlamento Europeu, mas o TPP segue.  O maior risco à liberdade na rede está justamente na arena da Governança da Internet, pois em geral a sociedade desconhece os princípios de Governança da Internet (vídeo abaixo, e um movimento efetivo nesta arena pode realmente tomar o controle da Internet.

Ainda dentro do conceito de Governança da Internet residem conceitos sutis e mal interpretados são eles o conceito de neutralidade e a a separação entre serviço de valor adicionado e serviço de telecomunicações. Muita gente confunde neutralidade da Internet, que é um conceito técnico que se resume em isonomia no tráfego de dados, com conceitos como o da imparcialidade, dentre outros. No vídeo a seguir eu explico o conceito da Neutralidade, um princípio de extrema importância para a Internet e que precisa seguir estritamente as recomendações do CGI.BR, para continuemos com a Internet livre e universal. Deixar que governos e/ou empresas regulamentem a neutralidade pode ser um grave perigo para a rede, uma vez que apenas interesses econômicos e de controle serão os motores desta regulação.

No primeiro vídeo falo do conceito e da importância de separar o serviço de telecomunicações do serviço de valor adicionado, no Brasil por exemplo as empresas de Telecomunicações jamais deveriam poder prover acesso, mas como o fazem, querem agora através de um discurso leviano passar a mensagem de que nunca houve estas duas camadas, e isto justifica por exemplo o esvaziamento do CGI.BR que é o orgão normatizador responsável pela camada de valor adicionado. No Brasil esta distinção foi estabelecida pela Norma 4/95 da ANATEL. O atual Ministro das Comunicações, o Paulo Bernardo, defende a mudança na Norma 4/95, mesmo sobre fortes críticas, uma vez que estas mudanças seguirem os interesses das empresas de Telecomunicações poderão trazer graves danos à Internet.

Coincidências a parte, a tendência em modificar dois importantes conceitos de governança: neutralidade e a distinção dos conceitos de valor adicionado e serviço de telecomunicações, parece fazer parte de um movimento global e local, a própria ITU (UIT) agência da ONU responsável pelas telecomunicações esta desde fevereiro discutindo a portas fechadas mudanças no ITR, o regulamento global de telecom. Do que a sociedade civil já sabe, questões muito arriscadas tem surgido, inclusive a tendência de trazer a governança para debaixo dos governos. A consolidação desta discussão se dará em dezembro em Dubai, e ativistas do mundo todo estão preocupados com os resultados, uma vez que o ITU discute basicamente com representantes dos governos, e não envolve outros atores da sociedade em seus debates.  De forma preocupante vemos que esta tendência não esta ocorrendo apenas no Brasil e na ITU, nos Estados Unidos, o FCC por enquanto declinou de reclassificar a Internet como serviço de telecomunicações, mas ainda há risco. Resumindo parece estar havendo um movimento global para substituir o modelo multisetorial de governança, consolidado mundialmente como o melhor modelo, por um modelo focado apenas numa parceria entre o governo e as empresas de telecomunicações.

O Brasil possui um grande trunfo nesta luta que é o Marco Civil da Internet, considerado pelo Tech Dirt como um projeto de lei Anti-ACTA, e na verdade o Marco Civil pode nos proteger contra a maioria das ameaças, ou nos entregar de bandeja, tudo depende da redação que irá se tornar lei. Ciente disto o Ministro Paulo Bernardo em parceria com as Empresas de Telecomunicações fizeram um forte lobby e conseguiram esvaziar a sessão que iria vota-lo na Câmara dos Deputado no último dia 11/07. Ainda com base na redação mais recente, a regulamentação da neutralidade por decreto precisa ser mais bem detalhada, pois pode abrir uma brecha para a presidência simplesmente delegar esta função à ANATEL, através de decreto.

Ao que parece, o establishment tem pressa, muita pressa, pois eles  sabem que seus argumentos e discursos envelhecidos não irão encontrar eco frente à geração digital, que os interpretam da mesma forma como interpretamos o discurso dos “caçadores de bruxas” da Idade média. O ano de 2012 é o ano onde milhões de nativos digitais completarão 18 anos, e esta onda seguirá ano apos ano até que uma nova cultura possa se estabelecer… será que vai levar tanto tempo?

Uma tese é que ao mesmo tempo em que as corporações e governos se mobilizam em um movimento transnacional para controlar a Internet, a sociedade civil se mobiliza para resistir, o aquecimento desta tensão poderá antecipar o fenômeno da Singularidade das Multidões, trazendo à sociedade conectada uma capacidade cognitiva e coletiva jamais imaginada, provocando em curtissimo espaço de tempo profundas mudanças na sociedade, incluindo a quebra em massa de velhos paradigmas e a instalação de novos valores, vivenciaremos um choque geracional tão intenso que representará uma ruptura no que hoje entendemos por sociedade, economia, cultura e política.

Saudades da gaiola dourada

Hoje vejo a velha roda do lado de fora da gaiola e fico pensando, para que fui fugir da gaiola?…

Olho para o lado vejo hamsters felizes girando a roda como se não houvesse amanhã, suas gaiolas, muitas douradas são equipadas com um monte de tralha, quanto mais bonita e vistosa a gaiola, mais rápido gira a roda. Impressiona ver o hamster cansado se jogar da roda no sofá e ligar  o Imbecilizador, onde uma programação audiovisual o leva para um mundo de sonhos e consumo, que mostra o quanto é bom consumir, consumir, consumir… Veja como são belos e felizes os hamster consumistas, veja só aquele hamster do lado, diz a esposa, eles tem um cagador turbo, grande e confortável, e nos aqui neste cagador pequeno, você não tem vergonha não?!

Vendo isto o hamster olha para o relógio e pula na roda de volta e corre como se fosse alcançar o próprio rabo, um desespero por um cagador… Chega finalmente o cagador novo na gaiola de nosso amigo hamster, um hamster sério e trabalhador que não tem tempo para muita prosa. Hoje é domingo, e o hamster vai tomar uma cervejinha e ver um futebol, afinal ele merece. Chega em casa bêbado e acorda de ressaca com a cabeça latejando toma um “estupidex” e vai para a roda, gira como ninguém, mas dai começa a pensar, para que pensar??? O hamster para, toma uma birita a volta para a roda, acha o maior barato girar junto com ela, toma outra e decide girar a roda ao contrario e logo toma um esporro do Bank hamster. Como assim, girar ao contrário, você tem noção do perigo que é ser diferente? Consuma, consuma! O bom e nobre hamster volta a girar a roda novamente, a esposa hamster respira aliviada, pois já esta pensando em pintar a gaiola de ouro.  O cagador turbo já “orkutizou”, chique agora é ter a gaiola dourada, é o novo conceito em moradia diz a esposa hamster. Conceito do caralho! Resmunga o marido hamster pensando em como foi divertido girar a roda ao contrário, ria da cara do Bank hamster.

Neste domingo foi diferente, o hamster não foi tomar cerveja e nem assistir futebol, ficou apenas contemplando a roda pensativo…  Preocupada a esposa hamster o reprimiu: Você não sabe que pensar é perigoso?!  Em seguida ligou o Imbecilizador para tentar distrair o marido hamster,  este bateu a porta e saiu sem dizer para onde ia. Mais tarde ele voltou com um livro debaixo do braço: “A roda” de Hamster Max.  A esposa hamster aos prantos ajoelhou na frente do marido e implorou para que ele devolvesse aquele livro, ela lembrou o fim trágico  de todos que provaram daquela droga. Olha a miséria meu amor, eles abandonaram a roda e ficam debatendo e estudando o tempo todo, nem mesmo  possuem uma roda na gaiola, quando muito uma gaiola, são uns verdadeiros perdedores! A esposa implorou e o marido fingiu aceitar.  Mais tarde ele pegou as ferramentas e montou um dispositivo na roda, agora ele pode pedalar e ler enquanto faz a roda girar, a esposa morria de vergonha  afinal os maridos das amigas dela corriam elegantemente dentro da roda, já o nosso hamster parecia um pensador pedalando e debochando…

Nosso hamster saiu novamente e comprou livros e mais livros, lia e pedalava sem parar, a pobre esposa não sabia mais onde enfiar a cara.  O hamster comecou a pensar novamente, a esposa coitada, não podia comprar aquela ração “premium plus ultra du kacete”, teve de comer milho. O nosso hamster, resolveu sair e bateu de gaiola em gaiola convocando os vizinhos para conversar sobre uma idéia que ele teve.

No dia seguinte a esposa hamster acordou assustada pois tinham um monte de hamster na frente da gaiola, e o marido falou, fica calma vamos nos mudar, e começaram a alinhas as gaiolas, colocando uma ao lado da outra, mas o pesadelo estava por vir…. bom pelo menos para a visão consumista da esposa hamster, para o nosso heroi um sonho sendo posto em prática… Ela comeca a ver que os outros hamsters estavam retirando a roda de suas gaiolas e colocando na frente e enchendo de terra….  chegam na gaiola de nosso hamster e ele encontra a esposa de malas prontas, dizendo você decide: ou a roda ou eu! Não preciso dizer que a Sra Hamster teve de ir para a casa da mãe dela. Enquanto isto os hamsters plantavam nas velhas rodas nosso heroi havia criado uma comunidade capaz de suprir-se sem a necessidade de girar a roda indefinidamente, ele percebeu que consumia um monte de bobagem inúteis, que na pratica ele não necessitava. O Imbecilizador foi trocado por um Inteligentador conectado na Internet. Pouco a pouco a idéia maluca de nosso heroi peludo foi sendo disseminada, o tempo vago agora era preenchido com leituras, debates e a produção de conteúdo para seus blogs, sem contar que tinham tempo de fazer o mais importante, de compartilhar amor e afeto e ver os filhotes crescerem e participar disto, sem ter de terceirizar com babas e escola como no passado.

Mas o Bank hamster não estava gostando nada disto, as redes de imbecilização falavam diariamente dos perigos da Internet e do compartilhamento. Precisavam calar os hamsters revolucionários! Os Bank hamsters discutiram várias estratégias e começaram a coloca-las em prática, primeiro junto com a rede de imbecilização tentaram confundir as pessoas.  Diziam que os hamsters revolucionários eram produtores de “ratotóxicos”, e em nome da segurança trabalharam o mito de que as sementes plantadas em casa eram perigosas e poderiam ate mesmo produzir alucinações, por isto quem as consumia eram diferentes, agiam diferente, pensavam! Não colou! Muita gente estava trocando o Imbecilizador pelo Inteligentador e viram que a rede de imbecilizacao estava mentindo. Maldita Internet pensavam os Bank Hamsters, temos de eliminar a concorrência!

Os velhos e gordos Bank hamsters reuniram se em seu covil para discutir formas de  parar estes hamsters revolucionarios. Chegaram a conclusão de que o maior perigo não eram aquelas tribos de hamsters “sem rodas”,  poder estava mesmo é na Internet. Descobriram que os hamsters comuns usavam seus inteligentadores conectados à interner com a mesma eficiência dos imbecilizadores e sua rede decadente.

Perceberam que apenas os velhos hamsters, eram os poucos ainda controlados pelo sistema de imbecilização. Iniciaram a mais implacável campanha contra os Inteligentadores e a Internet, inventaram o “vicio em internet”, e para dar consistência ao factóide mostravam hamsters que haviam abandonado a roda por causa da Internet. Mostravam hamsters esclarecidos como sendo uma terrível consequência do excesso de informação, teve ate mesmo o Hamster Keen que escreveu um livro criticando os “sem roda” conectados, tentando provar que o modelo imbecilizante era melhor.

Vendo que não estavam surtindo efeito, os Bank hamsters se reuniram novamente, desta vez teremos de ser mais efetivos, temos de pensar numa forma de usar dogmas inquestionáveis para ter motivos para controlar a Internet, e dai surgiram os “maleficios” da rede foi um tal de falar em pedofilia e que hamsters velhinhos perdiam suas economias por causa de golpes virtuais.  Isto parece ter colado, mas será o benedito que ninguém parou para pensar que não existe pedofilia na Internet, e que os velhinhos são vitimas do desconhecimento e não da Internet. O que tem na Internet é pornografia infantil, resultado de um crime de pedofillia cometido em algum lugar, combater a pornografia infantil somente não vai resolver o problema. A Universidade de Hamstarvard fez um estudo mostrando que o aliciamento de menores pela Internet era insignificante, e mesmo assim as vitimas em geral já foram vitimas de aliciamento presencial. A culpa não era da Internet e sim dos pais hamsters, que so se preocupavam em rodar a roda, e terceirizavam a criação dos filhotes! Se não fosse isto teriam tempo de conversar com seus filhotes para orienta-los na Internet, mas como se eles mesmo não sabem usa-la?

Os Bank hasmters estavam conseguindo avançar, disseminaram medo, incertezas e dúvidas. Novas leia para “proteger” os filhotes e o hamsters velhos surgiam, e eram combatidas pelos “sem rodas”, que passaram a usar a rede como um canal de contra-informação.

Mais uma vez os Bank hamsters se reuniram no covil, desta vez  decidiram montar um verdadeiro plano de guerra, contrataram os melhores especialistas em Internet para desenvolver suas estratégias, perceberam que tinham de atuar em novas arenas, pois na legislativa era complicado, pois os “sem roda” sempre conseguiam ser ouvidos. Descobriram que regulamentar era mais fácil do que legislar, pois regulamento não precisa ser debatido. Mudaram de foco, na verdade abriram outras frentes, descobriram a governança da Internet, agora precisavam de uma forma de centraliza-la, assim tomariam o controle da Internet antes mesmo que os “Sem roda” pudessem fazer alguma coisa.  E assim decidiram juntar esforços com as empresas de telecomunicações, dando a elas mais lucro em troca de mais controle da rede. Só bastava agora colocar o plano em prática.

Bank hamsters do mundo todo decidiram formar acordos internacionais para controlar a Internet, o controle é importante contra os “sem roda”.  Redes sociais encantadoras foram cooptadas por reunir milhares ou até milhões de hamsters, formando verdadeiros jardins murados….  uma vez posicionados, em todas as arenas, os planos foram postos em pratica de forma simultânea, como se fosse uma verdadeira guerra, uma guerra desproporcional e com o objetivo de controlar o que antes era livre, uma guerra que tem por objetivo perpetuar o modelo da roda, o modelo que já não faz mais sentido. Não tem logica girar a roda continuamente, não queremos mais isto, fala o hamster revolucionario. Os ataques dos Bank hamsters são implacáveis, ao ponto do nosso revolucionário olhar para o lado e pensar: Quero voltar a ser um hamster burro, lobotomizado, não porque eu concorde com isto, mas porque já estou cansado desta guerra insana. Ao mesmo tempo percebe que sua mente não é mais a mesma, que agora ele é dono da própria subjetividade, e uma verdadeira dissonância cognitiva toma conta de seu corpo e sua alma, que o captura de seu momento de vacilo, para retornar a luta, a construção de um ideal, de um novo mundo do mundo dos hamsters sem roda….

Nota: Este texto foi criado num momento em que eu estava com um bloqueio de escrita, e brincando no Twitter produzi este texto, em pequenas pilulas de 140 caracteres em poucas horas.

A Matriz de forças da sustentabilidade

Há pouco mais de um ano escrevi um texto chamando Sustentabilidade Insustentável, uma provocação que deu certo. Nele eu destacava que na prática em se tratando de sustentabilidade, somos quase todos hipócritas e egoístas, pois ao mesmo tempo que nos tornamos verdes, continuamos agindo como se o mundo fosse um gigantesco shopping. Propus que a única forma de mudar o mundo seria mudando profundamente nosso estilo de vida, repensar o consumo e o capitalismo, e fechei ressaltando que temos de pensar e agir coletivo, antes que o próximo cataclismo venha nos ensinar.

Na busca de fundamentar o tema, comecei a chegar a conclusão que não existem apenas duas forças. Admito que a cultura do consumo e a cultura verde são duas forças importantes, mas não são as únicas. Existem outras e a interferência entre elas, tanto as ameaças artificiais na natureza quanto as naturais no espaço do artificial, ou as forças da natureza sobre o planeta e sobre os bens artificiais e tecnológicos. Na análise da matriz tanto as forças naturais como artificiais podem se alinhar e provocar ainda mais danos nos dois sistemas: o natural e o artificial, entendeu? Pois é, eu ainda não cheguei a uma conclusão, mas nada mais natural do que compartilhar as idéias para que elas se desenvolvam no ecossistema social.

Mapeando as forças cheguei a uma matriz muito semelhante à Matriz de Porter, que analisa as cinco forças que determinam a sustentabilidade de um mercado dentro de um ambiente capitalista. Esta abordagem não tem nada de científica, o foco aqui é mais filosófico, e obviamente não tem nenhuma pretensão de ser conclusivo.

As cinco forças

As cinco forças da sustentabilidade atuam numa matriz onde o bem é o próprio planeta, e são elas:

  • Forças da natureza – efeitos naturais que afetam o planeta, são forças que independem da ação do homem tais como terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis, tempestades, forças das marés, enchentes, pragas, doenças e etc…
  • Ameaças artificiais – são forças decorrentes da interferência do homem no planeta, configuram-se novas ameaças ou potencializam os efeitos naturais.
  • Ameaças naturais – são forças naturais externas ao planeta, tais como tempestades solares, meteoros, forças de atração interplanetárias e outros por exemplo.
  • Cultura verde – é a força de sustentação do planeta, a cultura ecológica que visa interferir na recuperação do meio ambiente.
  • Cultura do consumo – é a cultura do consumo criada em 1955 por Victor Lebow para favorecer o crescimento do capitalismo. E hoje somos vitimas desta cultura que consome a nos, nossos laços familiares e afetivos e principalmente o planeta.

No texto Sustentabilidade Insustentável ficou clara a interação entre as forças da Cultura verde e da Cultura do consumo, mas também ficou claro que esta interação não é frontal. A cultura verde ainda não se posicionou frontalmente contra a cultura do consumo, esta interação hoje ainda se dá de forma tangencial. Entretanto o posicionamento frontal é a tendência para que a resultante destas duas forças seja nula. Mas porque ainda não temos um posicionamento frontal entre estas duas forças?

Durante a Crise Econômica Mundial de 2008-2009, os países envolvidos injetaram cerca de U$ 10 Trilhões para salvar a economia, ou seja U$1.422,00 por habitante do planeta! Proteger os principais ecossistemas mundiais por 30 anos custaria apenas U$ 1,3 Trilhões, ou erradicar a fome no planeta apenas U$ 30 milhões por ano. Você acha que os governos investiriam esta quantia para salvar o planeta? Provavelmente não, e não que os governos sejam maus, e sim porque todos nos vivemos num perverso sistema de dogmas e valores, onde o capital e a propriedade intelectual estão acima das pessoas, dos direitos civis e até do direito à vida.

Segundo Douglas Rushkoff o capitalismo é o sistema operacional da sociedade atual. Ou seja todos o nosso sistema de valores, dogmas e padrões comportamentais estão baseados neste sistema operacional chamado capitalismo e acrescento que o “shell” é a cultura do consumo de Victor Lebow, que nada mais é do que a maior força destrutiva do meio ambiente da atualidade. Rushkoff ressalta que já houveram outros “sistemas operacionais” na história da humanidade e assim como o capitalismo que é uma invenção do homem, o próximo sistema também o será.

Voltando alguns parágrafos atrás podemos concluir que as culturas verde e do consumo não se enfrentam frontalmente porque a cultura verde teria de negar o capitalismo para fazer este enfrentamento, e uma sociedade “rodando” sobre o capitalismo simplesmente iria reagir contra o confronto. Ou seja, não enfrentamos o capitalismo e a cultura do consumo que devoram o planeta porque simplesmente não conseguimos achar alternativas para o primeiro e nem nos entender sentindo prazer sem o segundo, esta é a pura verdade. Será necessário um profundo pensar “fora da caixa” para achar uma solução para este paradoxo.

No livro The End of Money and The Future of Civilization, Thomas Greco fala que qualquer crescimento exponencial é insustentável, e cita que três crescimento exponenciais na atualidade: O nível de CO2 na atmosfera, a população humana e o endividamento. Todos os três nos levam à um sistema em crise, o crescimento do nível de CO2 na atmosfera intensifica o aquecimento global e é uma das forças chamadas de ameaças artificiais, o crescimento da população humana também se enquadra nesta força pois nossa tecnologia afastou de nós nosso inimigos naturais, e segundo estudos o planeta só suporta o dobro da população atual. O endividamento deu seu primeiro sinal na crise recente, e colocou a eficiência do sistema na roda de discussão e o capitalismo em cheque. O colapso anunciado dos três sistemas será bom para o planeta e ruim para a humanidade.

História das coisas é um projeto que tem por objetivo mostrar que o sistema capitalista esta em crise e que é preciso mudar muita coisa, alias foi este projeto que me motivou escrever este artigo. No video do projeto a autora ressalta alguns fatos preocupantes: Somente nas três últimas décadas foram consumidos 33% dos recursos naturais existentes no planeta; Para cada saco de lixo que dispensamos, outros 70 foram dispensados no processo de fabricação; Os EUA com 5% das população mundial consomem 30% dos recursos naturais extraídos.

O cenário não é nada favorável, e ainda temos de acrescentar as forças de ameaças naturais e artificiais na equação, uma tempestade solar anunciada promete dizimar todo tipo de equipamento eletrônico, isto é um exemplo de interação das ameaças naturais no espaço do artificial. A interação das forças nos espaços naturais e artificiais pode configurar novas forças e novos cenários, é importante pararmos para analisar isto.

É importante repensarmos novos valores, para muitos será impossível pensar num mundo sem a cultura do consumo, mas para a sociedade conectada isto pode ser bem mais fácil. Temos de pensar diferente, retornar os bens duráveis, dizimar a cultura do consumo. Temos ai a rede Metareciclagem que tem por proposta a desconstrução da tecnologia para a transformação social, dando novas funcionalidades a hardwares descartados. A cultura livre é um ótimo exemplo de pensar diferente, a ideia de compartilhar e remixar é o caminho para um novo modelo de economia sustentável, e eu acredito muito que este novo modelo surgirá com força no Brasil.

Este artigo foi publicado originalmente como: A matriz de forças da sustentabilidade na página 37 da edição 17 da Espirito Livre.