Classe mérdia

Eu cresci na zona sul, e depois em um condomínio de classe média alta e jacarepaguá, e confesso que analisando o “ambiente” em que cresci, compreendo claramente esta viralatice insana que ganha as redes.

A adoração aos Estados Unidos sempre esteve nos centros dos debates de nossos pais e vizinhos, porque lá era lindo, porque a faxineira americana tinha carro, porque lá as coisas funcionavam, porque o povo era limpinho, porque lá não tinha pobreza. E este discurso passava de pai para filho, toda minha geração foi contaminada com esta perspectiva cultural. Alias ai está o gancho!

Desde o pós guerra, os Estados Unidos exportaram seu mais importante ativo, a cultura americana. O engrandecimento da indústria cultural americana, e digo cinema, música, e até basicamente tudo que liamos quando criança. Eu mesmo lia todas as publicações das Disney e tinha todos os manuais que foram publicados. O sonho do viralata americano começava desde pequenino.

Ícones, valores e símbolos americanos permearam a cultura da tal classe média de uma forma que a única forma de se sentir no primeiro mundo era se tornando americano, abdicando da própria nacionalidade brasileira. Me lembro de minha tia comentar perplexa que a vizinha dela na Gávea ostentava orgulhosa a foto do filho brasileiro, com uniforme da marinha americana. Muitos amigos sonhavam mudar para os Estados Unidos, até eu sonhava em ser americano.

Não percebia como estes valores eram entregues nos filmes, revistas em quadrinhos e até nas músicas, só achávamos aquilo fantástico. We love america! Tínhamos vergonha de ser brasileiros, isto criou uma imagem curiosa, ninguém podia ver alguém falando inglês, sem lhe dar logo o status de celebridade. Quantos americanos das classes mais baixas não se sentiram assim em terra brazilis?

Muitos de minha geração foram para a “america”, e agem como se americanos fossem, apesar de estarem presos entre dois mundos, o de que nunca serão americanos de fato, e o de que nem brasileiros. São os intermundos, mas se estão felizes, que sejam.

Esta mesma classe média, ou seria melhor, mérdia, foi incapaz de se enxergar como primeiro mundo, quando no governo Lula, o Brasil se tornou a 6a maior economia, e tínhamos um respeitoso reconhecimento como nação emergente e progressista, eu mesmo vi isto por várias vezes nos fóruns da ONU que participei por anos. Essa classe mérdia pedia desculpa por nossa ousadia, pois até o ministro da Cultura, o Gil revolucionou o valor da cultura brasileira mundo afora, que ousadia!

Curioso ver que esta mesma classe mérdia que achava o máximo a faxineira andar de carro nos EUA, ficava indignada com a faxineira andando de carro e avião por aqui, e a gota d´água foi quando o filho da faxineira entrou na faculdade e o da patroa não.

Na verdade dentro deste ambiente social se cultivava uma noção de status e valores que não condiziam com os nosso valores brasileiros, brasilidade passou a ser brega, chique mesmo é ser americano. Isto criou uma estranha vergonha de nossos valores.

Olha, mérdia por mérdia, eu acho os EUA uma merda, a única coisa boa de se fazer por lá é compras, eu descobri isto depois de rodar o mundo, até a Africa é mais interessante, e a Europa, não da nem para comparar com os EUA, sem dúvida, depois do Brasil, a Europa é um continente interessante.

No fim das contas, vamos o país ser destruído por um presidente totalmente despreparado, mas legitimo representante desta classe mérdia da barra da tijuca, que prefere ser viralata dos EUA do que ter orgulho de ser brasileiro. Isto explica comportamentos bizzaros da família que conduz o país a deriva, e seu amor subserviente aos EUA, e as manifestações pró Trump dos viralatas que não aceitam ser brasileiros, mesmo que nunca serão americanos, apenas idiotas úteis…

O homem sem fé

Não sei como as pessoas sobrevivem sem fé?

Não estamos falando de fé religiosa, estamos falando da fé em si, daquele sentimento interno que nos faz manter alguma esperança, daquele fio de teimosia que nos faz crer que apesar de toda adversidade, alguma coisa vai dar certo.

Estamos falando daquele sentimento que nos faz emergir olhando para a frente para vislumbrar uma pequena luz bem distante.

Estamos falando daquele sentimento que nos faz crer que hoje será melhor que ontem, que este mês melhor que o mês passado, que este ano será melhor.

A fé que nutrimos repleta de simpatias no Reveillon frente a um ano novinho em folha que desperta. A fé que nos faz pensar em yin-yang, a filosofia taoista da dualidade, onde os opostos andam juntos e nos faz perceber que sempre o bom é o outro lado do ruim, e que basta olhar por outro ângulo para vermos o bom, se não o vemos, ao menos podemos acreditar que ele está ali.

A fé… a fé que move montanhas pelo simples fato de que acreditamos que isto seja possível.
A fé que cura, a fé que nos acalenta, a fé que nos mantém vivos.

Ter fé não significa religiosidade, ter fé significa acreditarmos em nós, ter fé significa amor.

Amor por si, pelos seus, pelo próximo, pelo mundo. Amor pelo próximo significa praticar o altruísmo e a empatia. O exercício de dar ao próximo a fé que ele busca, pelo simples fato de saber que alguém o compreende, que alguém de alguma maneira se preocupa com ele.

A fé acalenta, a fé acalma, mas a fé pode falhar pelo simples fato do homem deixar de acreditar em um futuro possível. Quando todas as luzes distantes parecem ter se apagado, e o amor vai dissipando, e com ele a sua capacidade de ser um homem de fé. O homem sem fé é amargo, o homem sem fé é um homem aprisionado em si mesmo, preso em uma cela que não o permite ver a luz distante por mais intensa que esta seja.

Alguns chamam isto de depressão, mas na verdade é falta de fé.
Dê fé a quem precisa, exercite seu altruísmo e sua empatia, é dando que se multiplica.

Não deixe o mundo perder a fé.

João Carlos Caribé
Janeiro de 2018

Desligando os aparelhos

O Flash Brasil foi um sucesso impressionante, um inovador modelo de negócios que iniciei em 1996, tornou-se um fenômeno que formou mais de 4000 profissionais de Internet até 2003, se tornou uma das cinco mais importantes revendas Macromedia no Brasil e prestava consultoria para empresas como a Starmedia, Totem, Sirius, Medialab, TV Globo, Petrobras, IBGE dentre outras. Foram sete anos intensos até a derrocada fatal que iniciou em 2001 com o estouro da bolha da Internet. Além do Flash Brasil, que se tornou uma das primeiras redes sociais, também criei um Ultradev Brasil, que foi uma rede social diferente, com participação intensa dos usuários, conteudo regional e premiação mensal para os melhores colaboradores. Depois de 2004, a empresa já estava morta, mas ainda mantive o site instalando uma plataforma Drupal em substituição às soluções internas, e isto deu uma sobrevida à comunidade até 2008.

De 2008 para cá, apenas mantive o domínio ativo, sem nenhum conteúdo, de um site que chegou à ter quase 15.000 usuários e em torno de meio milhão de visitas mensais, passou a ser um domínio ativo, mas abandonado. Acredite ou não ainda levei nove anos até que hoje decidi simplesmente abandonar o domínio, desligar definitivamente os aparelhos do Flash Brasil que vegetou completamente por nove anos.

Isto tem um significado imenso, significa o rompimento definitivo com um grande momento do passado e abre completamente as portas para novos projetos ainda mais bem sucedidos, me aguardem porque agora eu venho com tudo de volta!

Se quiser saber um pouco mais desta história neste post “Nos tempos da Macromedia“, ainda vou publicar em detalhes no meu site profissional, o Wazushi.

Freguesia, a autofagia de um bairro

Em meados dos anos 70 quando me mudei para a Freguesia em Jacarepaguá, ainda era um adolescente da Zona Sul carioca e tive a certeza de ter me mudado para o “fim do mundo”. A sensação era como tivesse ido parar muito distante da civilização, cavalos, carroças e vacas disputavam as vias com os poucos carros… bicicletas eram o meio de transporte mais usado, e respeitado.

Nos finais de semana seguíamos tranquilamente de bicicleta pela Av Ayrton Senna, na época chamava-se via 9 e era de mão dupla, até o trailer Gavião na Alvorada, na época uma praia praticamente deserta na Barra, afinal nem ônibus passava lá. Na Freguesia existiam pouquíssimos prédios, a ponto da pessoa dizer que morava no prédio da rua tal (era o único da rua), a maioria morava em casa, casas com enormes jardins e pequenas florestas privativas, herança de quando Jacarepaguá era povoada de sítios e chácaras, quase todo mundo tinha piscina e alguns tinham quadras de esportes, era divertido viver ali. Os invernos eram bem frios, e os verões nem tão quentes, mas invariavelmente refrescados pelas chuvas no final da tarde, que sempre pegávamos na praia antes de voltar para casa.

O cinema era Cisne e o restaurante Sorvetex, não tinha shopping, nem nada, até que um dia surgiu ao lado do Carrefour o “Shopping Show”, fomos lá assistir ao show de inauguração em uma arena montada no estacionamento, com alguns novatos como a Elba Ramalho, com pernas lindas pelas quais logo me apaixonei. A partir dai o programa de final de semana incluía uma ida ao Barra Shopping cujo cinema não passava o pacote tríplice pornochanchada do Cisne, mas nos deixava mais próximos dos filmes exibidos nos cinemas da civilização, não precisar ir ao Cine Leblon para assistir a um filme novo já fora um grande avanço.

O progresso da região seguiu seu curso, não podemos dissociar a Barra da Freguesia, principalmente pela ótica do morador de Jacarepaguá que sempre teve a Barra como extensão de seu habitat. No final dos anos 80, a orla da Barra foi “urbanizada”, trailers foram retirados, incluindo famosos como o Via 11, e o Boa da Noite, calçadões com ciclovias substituíram o prazer de estacionar o carro na beira da areia, que insistia em invadir o asfalto. Duplicaram a Av. das Américas e criaram as pistas laterais, fizeram tanto aterro que imaginávamos que já estavam deixando os tuneis do Metrô ou que teríamos as passagens de nível previstas no plano Lucio Costa, mas nada disto foi feito…

Enquanto isto na Freguesia surgiam novos edifícios com amplos apartamentos, com o objetivo de atrair compradores, que invariavelmente procuravam casas.

No final dos anos 90, deu-se o inicio do fim, uma explosão imobiliária irresponsável e desmedida na Freguesia (Jacarepaguá), promoveu a aniquilação de casas com grandes terrenos amplamente arborizados, colocou em seu lugar gigantescos monstros de concreto armado que mudaram completamente o micro-clima da região. Agora mesmo em pleno inverno sopra um vento quente e irradia um calor intenso das ruas e dos monstros de concreto. Certamente iremos disputar com Bangu o “status” de região mais quente do município.

Como todo problema não vem desacompanhado, a concentração insana de pessoas, onde era uma casa agora é o habitat de dezenas de famílias, o número de veículos explodiu, que somados a péssimo e monopolista sistema de transporte público, imobiliza os habitantes da região em intermináveis e poluidores engarrafamentos. Uma rápida ida de 10 a 15 minutos ao Barra Shopping dos anos 80, pode significar até mais de uma hora atualmente.

Definitivamente a Freguesia esta se tornando uma região inviável de se morar e viver, e imagino que estamos a beira de uma crise imobiliária que no Rio terá inicio por aqui, jogando para baixo os preços dos imóveis da região, e nos tornando assim prisioneiros, pela simples inviabilidade financeira, de uma região da qual tudo de bom fora extraído.

Não estou preconizando uma crise imobiliária estou usando de fatos e observações para isto, basta observar a quantidade crescente de salas comerciais e apartamentos vazios na região, bem como a queda dos valores venais e/ou de aluguel. Compare isto ao cenário nacional, e veremos que uma grave crise acena, e uma crise que não tem como algoz o governo, como muitos querem fazer você acreditar, mas uma crise provocada pelos bancos e pela ganância imobiliária que tenta a todo custo sustentar uma bolha imobiliária insustentável, em especial na Freguesia, onde os preços subiram tanto que chegaram próximos aos do Recreio e Barra da Tijuca.

Se ainda assim não acredita em crise imobiliária, seguem alguns links:

 

 

 

Orwell & Huxley um ensaio distópico

Uma Distopia ou Antiutopia é o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utópica ou promove a vivência em uma “utopia negativa”. São geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo bem como um opressivo controle da sociedade. Nelas, caem-se as cortinas, e a sociedade mostra-se corruptível; as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis. Assim, a tecnologia é usada como ferramenta de controle, seja do Estado, de instituições ou mesmo de corporações.

Wikipédia

Nos meus tempos de criança costumava viajar no tempo assistindo às séries espetaculares de ficção, nos anos 60 e 70 era o que tinha de mais comum: Perdidos no Espaço, Viagem ao Centro da Terra, Terra de Gigantes dentre outros. Nasci na década que o homem foi à lua e assisti junto com minha família a transmissão ao vivo desta façanha, sempre fui fascinado pelo futuro, pelo espetáculo da evolução e pelo avanço da tecnologia. O blog Paleo Future me remete àqueles tempos, onde a visão futurística nunca se concretizou. Sempre curti ficção científica, mas ela sempre erra, é muito difícil prever o futuro, afinal o futuro não é feito apenas por idéias e conceitos, a sociedade é o grande determinante deste futuro, quem poderia imaginar um smartphone há dez anos? Quem poderia imaginar a Internet atual há dez anos? Eu tenho ousado imaginar como viveremos daqui há vinte anos, estou escrevendo uma ficção, mas só o tempo irá me dizer se estava certo. Imagine então autores de 1932 e 1949 escrevendo sobre o futuro, devem ter errado feio! Infelizmente não é o que parece. Em 1932 Aldous Huxley escreveu a distopia “Admirável Mundo Novo” e em 1949 George Orwell escreveu “1984″.

Huxley descreve um mundo futurista com um país transcontinental, onde os indivíduos são todos de proveta e manipulados geneticamente para que se encaixem em determinada casta e nela permaneça satisfeito por toda vida. No mundo de Aldous, a luxuria e o prazer são extremamente estimulados e não existem vínculos afetivos, que são combatidos com o estimulo à busca individual pela auto-realização. Neste mundo hipotético, vive-se para o consumo e o prazer. Depressões e pensamentos “negativos”, inclusive os de solidariedade, são combatidos com drogas de consumo livre e estimulado. Em Admirável Mundo Novo, existem países que não foram “civilizados” onde sua sociedade, dita selvagem, constrói famílias e vínculos afetivos de forma natural, os sentimentos de solidariedade, família e pertinência são muito comuns no mundo dos selvagens.

Em 1984 o mundo futurístico também é compostos por países transcontinentais, e o cenário é de total vigilantismo e totalitarismo. Todas as residências são vigiadas pela “teletela” que pela descrição se assemelha à uma TV que também transmite áudio e vídeo à uma central, livros e a escrita privada eram proibidos. Ao contrário do cenário de Huxley, o de Orwell prevê a manutenção da estrutura familiar, e coíbe veemente a luxuria e o prazer. No mundo de Orwell todos trabalham pelo coletivo e em sua maioria são funcionários do Estado. O lazer é coletivo, cidadãos são praticamente obrigados a frequentarem clubes públicos, da mesma forma que são obrigados à assistirem os discursos do “Grande Irmão”, que parece ser um personagem criado para representar o líder supremo, mas que ninguém nunca viu o rosto. Assim como a vida não tem valor algum na distopia de Huxley, na de Orwell ela além de não ter valor, corre o risco de nunca ter existido, pois o Ministério da Verdade, tem por função apagar os registros históricos em todos os meios, de pessoas e fatos que possam colocar o regime do Grande Irmão em risco.

O que mais impressiona nas duas distopias, é sua aderência ao cenário sócio cultural do século XXI, seguindo a máxima de “Tostines” não saberemos dizer que Huxley e Orwell acertaram suas visões ou se foram seguidos como quem segue uma cartilha.

No século XXI, ou melhor na sociedade pós-moderna, o capitalismo neoliberal segue em franca atividade, apesar da crise de 2008, por conta do consumismo insano, que leva a sociedade a ver no consumo seu maior objetivo de vida, quase uma religião. As pessoas são avaliadas por seus padrões de consumo e o processo de obsolescência programada e percebida criam constantemente signos e indicadores que acabam expondo quem esta ou não dentro destes padrões. O sistema financeiro sustenta a vida útil deste sistema perverso, adicionando novos entrantes sempre que necessários.

Neste sistema que corrompe e aprisiona, seus participantes lembram os hamsters que giram as rodas em suas gaiolas na expectativa de encontrarem o seu final, tal como a maldição de Sísifo. Presos neste sistema, pouco tempo sobra para os valores realmente importantes da vida. Nossos filhos ainda não são produzidos em escala industrial como na distopia de Huxley, mas os prisioneiros do consumismo estão sempre terceirizando o afeto e educação de seus filhos, e de quebra estão minando os laços afetivos, que passam a ser substituídos por laços de consumo. Troca-se o afeto pelos presentes, estamos ensinando desde cedo a nossos filhos que o consumo é ainda mais importante que as relações consanguíneas, e que fazer girar a roda de Sísifo é a tarefa mais importante de todas, custe o que custar! Não podemos deixar de observar que hoje muito tratam seus pares como produtos, destinados a satisfazer seus desejos.

Constatar que nossa sociedade trata pessoas como bens de consumo, e laços afetivos estão cada vez mais enfraquecidos, potencializados por relações hedonicamente fúteis, nos leva a pintar um cenário muito parecido com o de Huxley, quanto mais se adicionarmos o estilo de vida citado nos parágrafos anteriores.

Paradoxalmente, o capitalismo tido como o grande paladino que iria salvar a humanidade do totalitarismo do comunismo, tem se tornado cada vez mais um regime totalitário, mas como isto pode acontecer?

Estamos presenciando hoje em dia o surgimento de um quinto poder, o do e-Cidadão, que vem a somar-se aos três poderes do Estado e o poder das corporações. Os poderes do Estado estão limitados às fronteiras geográficas das nações, por outro lado as corporações estão se tornando gigantes transnacionais, e não só isto, estão crescendo tanto verticalmente como horizontalmente, transformando-se em oligopólios. Se levarmos em conta que das 100 maiores economias do planeta, 51 são corporações, não temos mais dúvidas de que elas estão se tornando muito mais poderosas que as nações, sobrepujando de forma cruel os três poderes do Estado.

Felizmente estamos assistindo nesta primeira década do século XXI, o surgimento de forças transnacionais de cidadãos conectados, que estão derrubando ditaduras e promovendo mudanças substanciais dentro de suas nações. Finalmente um poder que poderá se opor ao poder das corporações! Enquanto o capitalismo é tido por Bauman como um parasita que corroí a sociedade, quero concluir que a sociedade organizada e conectada, a e-Cidadania, transformou-se no parasita que corroí o capitalismo. Estas duas forças, ou blocos de poder são transnacionais e eficientes, ou seja, a globalização social parece ter se dado de forma mais rápida e eficiente do que a globalização econômica, e pior, se deu de forma descontrolada, fugiu ao controle do establishment.

Não podemos nos esquecer da globalização política, da criação de grandes blocos como o surgido na Europa, que parece ser uma forma dos três poderes do Estado ganharem força e transnacionalidade, mas que vem dando claros sinais de que não vai muito bem. Estamos querendo homogeneizar o que não pode ser homogeneizado, a diversidade é saudável em qualquer sistema. Mas de qualquer modo esta tendência de formação de blocos transnacionais nos remete às duas distopias, e faz sentido, quanto menos interlocutores são necessários, mais fácil é a negociação.

Este cenário promete ficar ainda pior, pois vários especialistas estão prevendo o crescimento ainda maior das corporações, que tenderão a se tornar “mega corporações”, e com isto poderão ter um poder praticamente ilimitado. Mas existe o poder da e-Cidadania para contrapor-se a isto, a sociedade conectada esta compartilhando conhecimento, arte, entretenimento, e até mesmo amor e compaixão sem a necessidade do intermediário, ou não? Redes sociais também são corporações e para piorar o cenário, os servidores raiz de DNS da Internet estão subordinados à OMC!

Estamos sendo manipulados, estão nos dando linha como uma pipa que sobe ao sabor dos ventos ascendentes? O poder corporativo poderá de uma hora para outra apertar um botão e desconectar os e-cidadãos? De que lado estão as corporações online, e de quem é o conteúdo que produzimos e publicamos online nestas redes sociais?

Estamos caminhando para um novo totalitarismo, o totalitarismo do capital, e o poder corporativo sabe que desarticular a e-cidadania não é tão simples como mandar desligar os servidores raiz. Por esta razão cria-se, com a ajuda laboriosa da mídia mainstream. o momento Hobbesiano com o objetivo claro de fazer crer que a Internet é um espaço sem lei, para forçar o Estado a criar formas de controla-lo. O poder corporativo só não mandou desligar a Internet porque assim como a sociedade ele também depende dela, e depende de um rígido sistema de controle de propriedade intelectual e industrial para impedir que os e-cidadãos deixem de ser seus parasitas e volte a parasita-los livremente.

Pelo exposto nos temos de tomar algumas atitudes essenciais para evitar que sejamos cooptados por um novo regime totalitarista.

  • Nos politizarmos mais, nos preocuparmos com as questões de nossa sociedade;
  • Aumentar a influência da sociedade civil na governança da rede;
  • Nos aliarmos os poderes do Estado;
  • Desconstruir incansavelmente o momento hobbesiano;
  • Pensar e construir alternativas para uma Internet;
  • Pensar local e agir global;
  • Repensar nossa relação com o consumo;
  • Pensar e novas formas de organização social.

Créditos: A imagem foi obtida no Paleo Future

UPDATE 14/09/14 – Recentemente li o artigo que fora públicado no final de 2010 que dialoga perfeitamente com este.

Nos tempos da Macromedia…

O ano era 1997, o acesso à internet ainda era via dial up com tarifas altíssimas e contratos de acesso com limites de horas/mês muito baixos, para você ter uma idéia eu pagava R$ 84,00 por 16 horas de acesso mensal. A internet era praticamente assíncrona, a mais eficiente forma de interação e conversações eram as listas de discussão, eu participava da lista WD Design. Eu tinha uma das pioneiras produtoras de Internet, a Página Principal, e havia utilizado o Flash para criar um site de um cliente, e me apaixonei pela ferramenta a ponto de me tornar um verdadeiro evangelista. Ajudava todo mundo na WD Design, mal sabia eu que estava fazendo um ótimo networking.

Na verdade a Internet nesta época era uma infindável mina de ouro, e quase não existia conhecimento sistematizado sobre o tema,  e tudo que era necessário saber encontrávamos na web e compartilhávamos sem pudor algum. Estávamos juntos numa caça ao tesouro em um campo aparentemente infinito. Diariamente profissionais das mais diversas áreas deixavam seus trabalhos para se dedicarem à Internet, mas isto não nos preocupava, pois era muito fácil fazer dinheiro na web.

Logo depois que terminei o tal site ai de cima, mandei um email para a Macromedia, elogiando o Flash e em menos de uma semana o Country Manager da Macromedia no Brasil (Eduardo de Souza) estava sentado na minha frente me abrindo um mundo de possibilidades, dai perguntei: – Me diga uma coisa, qual destas oportunidades demandam um baixo ou nenhum investimento ? A resposta veio rápida: – Grupos de usuários.

Pronto! Estava criado o Flash Brasil, Fernando Ferreira, um amigo e ex-aluno (eu dava aulas particulares de Flash em domicilio) criou uma lista de discussão exclusiva para o Flash Brasil e me obrigou de todo jeito a registrar um domino próprio. Logo em seguida fomos convocando os interessados nas listas de discussão, que como falei eram as redes sociais da época, ao menos no tocante interação, crowdsourcing e disseminação (rolou um dejavue ai?).

Nossa primeira missão coletiva seria traduzir o tutorial do Flash 2, que era bem legal, tivemos colaboradores de diversos estados Brasileiros e um ilustre e participativo colaborador de Portugal, José Reis que meses depois criou o Portugal Flash Clube.

O Balde ao lado continha todo o time dos fundadores e apoiadores do Flash Brasil na época, a montagem foi feita pela Artista Plastica Sonia Ro, e o logo foi uma criação do Designer Fábio Carvalho. Na foto tem dentre outros, Eu, o Fábio Carvalho, a Sonia RO, Keka Marzagão, Andrea Cals, Jorge Carcavallo, Fernando Ferreira, André Franco e Regis Paixão (Stereoman) e o “Flash Gordon”, se você se achar no balde avise-nos.

Pouco tempo depois minha vida mudaria, e eu não havia imaginado e nem planejado nada, foi tudo acontecendo como conseqüência do networking que eu havia iniciado meses antes. Fui convidado pela Macromedia para ser um dos beta tester do Flash 3, a nova versão do Flash, e logo que foi lançado pude tornar isto público. Não demorou muito recebi um convite da Agência digital mLab (que não existe mais) para treinar toda sua equipe de web, na semana seguinte um convite da TV Globo para treinar sua equipe de web, e logo em seguida fui para a FENASOFT a convite da Macromedia para falar do novo Flash 3, fui de ônibus para economizar. Ao chegar lá recebi um convite da ENG para dar treinamento em Flash 3, e foi uma semana de uma rotina alucinante, curso de dia e FENASOFT à noite. No fim, com um bom resultado resolvi voltar de avião, mal sabia eu que estava iniciando a fase mais “voadora” da minha vida.

Voei por todo o Brasil, e dei cursos em diversas cidades: Porto Alegre, Joinville, Jaraguá do Sul, Curitiba, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Vitória, Belo Horizonte, Porto Seguro, Salvador, Vitória da Conquista, Recife, Manaus e por muito pouco não fui dar um curso em Angola. Neste meio tempo ainda fui em São Francisco na sede da Macromedia e na UCON 99, e em Nova York na UCON de 2001.

Voltando à 97, um jornalista de uma revista de TI entrou em contato comigo para ajuda-lo em um artigo sobre o ainda pouco conhecido Flash, ajudei o quanto pude e ao sair nas bancas pude ver o quanto ele citou o Flash Brasil e a mim na matéria, estava me tornando uma celebridade e não sabia. Ele me indicou ao Jornal O Dia para uma matéria no caderno de informática, foi uma longa entrevista com muitas fotos, dentre os assuntos informados, citei que teríamos nosso segundo encontro de usuários na Universidade Carioca (que gentilmente cedia o espaço com toda a infra-estrutura) como no primeiro não tivemos nem 20 participantes, no segundo alocamos uma sala menor. Eu nunca havia percebido o poder de um hub como o Jornal O Dia, mas tivemos mais de 400 participantes, radio CBN e outras coisas mais, e o numero de usuários no site saltou de 50 para 4000 em poucas semanas. Dai foi a TV (GNT) programa Hipermidia que me entrevistou junto com o Eduardo de Souza, fui parar na TV e alavancamos um sucesso exponencial. Neste meio tempo, criei em 98 a Arroba Brasil, a empresa que foi apresentada ao público com o nome fantasia de Flash Brasil, e que seria por alguns anos um dos mais importantes parceiros comerciais da Macromedia no Brasil.

Mas e as mídias sociais ? Como assim? Tudo foi uma conseqüência delas, e tudo ficou grande, a lista de discussão tinha milhares de usuários, uma intensa troca de conhecimento, uma gigantesca conversação, o site abrigava diversos tutoriais e outras coisas legais, e eu começava à entender que treinar pessoas em web e vender software da Macromedia seria um bom negócio.

Resolvi juntar tudo no site, o acesso a internet continuava via dial up, mas ao menos já existiam os planos de acesso ilimitado e isto começou a mudar o paradigma, tornando o browser uma ferramenta mais interessante para interagir na web, do que o outrora mais usado cliente de email.

Eis que surge o ICQ (o meu é 5277707), um fabuloso software Israelense que permitia uma comunicação síncrona e juntar diversas pessoas formando uma sala de chat a qualquer momento.  Estávamos ai com uma nova e poderosa ferramenta de conversação, o grupo agora se reunia via ICQ e as coisas começaram a acontecer mais depressa. Neste momento o hábito de virar a noite na Internet se consolidou, como a tarifa telefônica era barata de meia noite às 6h, era neste período que encontrávamos todo mundo online, a olheira passou uma característica Nerd. Foi desta forma que tocamos nossos projetos, a tradução dos manuais do Flash, o “mega fail” projeto Blindness, a famosa entrevista com o Gabocorp feita pelo Nando Pereira, e até o primeiro banner falante do Brasil.

Bom, um dia eu peguei o site do Flash Brasil, que tinha apenas tutoriais e coisas legais e um link para cadastrar os usuários na lista de discussão e coloquei la um link para meus cursos, e uma promoção de software. Estava inaugurado um novo modelo de negócios que chamou a atenção da Macromedia, que acabou me convidando para a UCON 2001 em NY (montagem ao lado), com tudo pago, para explicar aos lideres de grupos de usuários de todo o mundo o modelo de negócio que havia inventado. Pensei eu, ué? Mas não fiz nada demais, apenas juntei tudo em um site e está dando certo. Fui lá, falei, e eles me ouviram e me entenderam, caramba! Na hora do almoço fui interpelado pelo Christel De Mayer, empreendedor Belga que ficou pasmo de saber que no Brasil ja existia banda larga, que na Bélgica ainda era muito dificil!  Depois assisti à diversas palestras, do Hillman Curtis, Linda, e finalmente de “um tal de Steve Krug” que falava do seu novo livro e de uma tal de Usabilidade, o dia seguinte o tema reinante era este, usabilidade, acessibilidade. Comprei o livro de Krug, e ainda ganhei uma dedicatória. Na volta ao Brasil, como ele mesmo recomenda no livro, o li durante a viagem.

Estande da Flash Brasil no 2º Encontro de WebdesignChegando aqui, dei três palestras no 2º Encontro de Web Design, uma delas sobre Usabilidade. Tive um quorum relativo, e certeza de que passei a mensagem, mas nunca mais encontrei ninguém que assistiu minha palestra, eu fazia uma analogia com a mobilia de um escritório, foi legal. Meses depois Bin Laden resolve bagunçar tudo, e com a queda do World Trade Center, milhares de empresas de Internet ruiram juntas. Eu não fiquei de fora, mas ainda fiquei sobrevivendo por alguns anos, mas nada mais era como antes, o cinto apertou, a mina de ouro secou.

Quando Tim O’Reilly lançou um evento chamado web 2.0, eu não dei muita importância, vi apenas que era um evento sobre tendências na internet, e o termo web 2.0 passou a ser usado como a “nova internet”, a internet onde o usuário era o elemento mais importante. Dai deu um estalo… Putz! Claro! Em 2001, com o conceito de usabilidade os caras sem perceber, ou percebendo, estavam mostrando um sinal, fraco, mas efetivo que determinaria uma mudança de paradigma: A web EGO centrada mudou para a internet centrada no usuário, mas isto não foi uma coisa instantânea, e nem foi determinada por ninguém. Simplesmente, a maior preocupação com o usuário levou à percepção de que ele queria mais do que ser um leitor passivo, e que não queria usar os formatos disponíveis de interação. Queria ser ele um produtor e consumidor de informação, logo depois surgiram termos como DIY, Prosumer, UGC e outros.

De 2000 à 2004 eu criei o Ultradev Brasil, um site com tudo que eu havia imaginado e aprendido com o Flash Brasil, usuários cadastrados poderiam submeter materias, e coisas legais sem intervenção dos moderadores, e ainda ganhavam pontos com isto, indicavam novos membros e ganhavam pontos. Os mais pontuados do mês ganhavam brindes como livros, softwares e gadgets que a Macromedia enviava. No Ultradev Brasil eu criei o conceito de regionalização, as pessoas tinham uma area especifica dentro do site, onde se conectavam e interagiam com outras pessoas do seu estado e geravam conteúdo local. Bom, ai a Macromedia decidiu fundir o Ultradev com o Dreamweaver e o site ficou assim, meio perdido e acabou…

Em 2005 decidi que era hora de fechar o Flash Brasil também, tirei o site do ar por 40 dias e tive de retorna-lo, pois recebi um monte de email me pedindo isto. Isto me fez pensar se eu realmente tinha o direito de tirar o site do ar, de forma prática sim, mas se eu levasse em conta que la tínhamos diversos conteúdos produzidos pelos usuários, e que o site ajudava milhares de pessoas todos os dias me vi num dilema. Dilema este que falei a respeito no primeiro Barcamp do Rio em outubro de 2007, sob o título: A crise existencial do conteúdo 2.0. Tentei levar o discurso para uma esfera mais filosófica, mas acabou ficando na técnica mesmo.

Ainda em 2005 eu fiz uma palestra online sobre a Dinastia do Flash no Brasil e la fazia em paralelo uma história da Internet no Brasil, se você leu até aqui, acredito que possa dispor de uma hora e meia para assistir a palestra, que de todas que dei, foi a que mais me emocionou, e você pode ver e baixar os slides se quiser.

Por enquanto é só pessoal!

Vivendo uma velha paixão, reflexões de um quarentão

Confesso que ando sem tempo de escrever por aqui, absorver tudo que acontece por ai para uma mente esponja é o caos. Quando penso em escrever, logo aparece algo mais interessante para falar e assim vai num ciclo alucinante. Já coleciono mais de 20 posts incompletos nos meus rascunhos. Ou eu crio um “digg” ou começo a escrever. Como a minha proposta deste blog foi de ter textos originais, baseados ou não em outros blogs, mas mesmo assim originais então um “digg” esta fora de questão. Logo vou voltar a escrever por aqui, eu gosto muito mesmo. Vamos ver se consigo ao menos um post por semana.

Ando sem tempo, minha vida passa por uma transição, alias, nunca li Ricardo Semler, mas já virei minha própria mesa diversas vezes, sou o tipo do cara que tem prazer em fazer isto, minha vida é uma eterna transição, muito mais que uma evolução.

Aos meus 40 anos me permiti resgatar uma velha paixão, da época do DJ, ou melhor, Discotecário: A comunicação no seu mais amplo significado, como Discotecário aprendi a mexer com a emoção das pessoas, na verdade interagir com a emoção delas, no mais clássico estimulo x resposta. Minha forma de comunicação era a música, minha resposta a dança. Como pude não perceber isto antes? Comunicação sempre foi a minha praia, foi meu primeiro vestibular, e eu passei! Passei para a Gama Filho, mas mudei o curso para Engenharia por pura sedução. Cometemos todos os mesmos erros, esta na cabeça do jovem, o hedonismo não é uma característica atual, é uma característica do jovem. A expectativa de um bom salário em curto prazo me seduziu, seduziria qualquer um na minha idade, é como um relacionamento com uma gostosa burra, no inicio é uma maravilha, mas depois é um saco conviver com uma pessoa que não consegue compartilhar nada alem de sexo. O mesmo se dá com um trabalho que não te proporciona nada além de dinheiro. Criativo como sempre fui, consegui conviver 14 anos com isto, sempre inventava um jeito de encontrar o lado bom das coisas, acabei me tornando mais otimista do que antes, e desenvolvi um excelente faro por oportunidades que surgem de ameaças. Fiquei destemido.

Há 12 anos, quando meu filho nasceu, dei meu primeiro passo. Joguei tudo para o alto e fui me envolver com a Internet que chegava ao Brasil. Criei o Flash Brasil, voltei a me relacionar com as massas, passei a dar aula, treinei milhares de profissionais de web. Foi bom, mas passou. Neste período, meu relacionamento com a equipe de Marketing da Macromedia, diga-se de passagem, excelente equipe, me resgatou aquela velha emoção, lembranças daquela paixão que deixei no altar do vestibular agora atordoavam minha mente, já pensava em mais uma virada de mesa, alias nem precisava ser tão radical, pois vivenciei plenamente todo o desenrolar o que chamamos de marketing digital, alias vivenciei intensamente toda história da Internet no Brasil, fui parte dela, fiz a diferença.

Aos 40 não me tornei um “tio” rebelde, não comprei uma super moto, não passei a “perturbar” as ninfetas, fiz melhor, voltei para a faculdade!

Decidi deixar de lado o preconceito, voltei para a Faculdade, escolhi um curso de graduação tecnológica (que é rápido) de Publicidade e Marketing, as ninfetas viraram minhas coleguinhas e minha turma tem um monte de tios e tias que nem eu. What a wonderful world! A emoção é tão boa e intensa que me tornei um daqueles alunos obcecados, do tipo mala que não falta nem aula enforcada por feriado. Minhas coleguinhas e meus coleguinhas devem pensar: “Putz! Que coisa de velho, um tremendo feriadão e este mala vêm à aula.” Nada disto, mas também não adiantaria explicar, eles não entenderiam mesmo. Virei um CDF, até meu filho me chama de CDF, mas ai tinha mais um detalhe, o pai tem de dar o exemplo, mas confesso que fiquei obcecado, ou melhor, fascinado. Leio sobre o assunto em todo tipo de fonte, escrevo sobre o tema, discuto sobre o tema. Respiro publicidade e marketing, é uma transformação intensiva, necessária e urgente, resgatar uma velha paixão pode não ter uma nova chance.

Capitão AZA ou Capitão Furacão ?

Nos primeiros anos da minha infância, eu curtia TV nos modestos horários dedicados ao público infantil. A TV era irremediavelmente preto e branco, nunca maior que 17 polegadas e o som e imagem estavam permanentemente sujeitos às mais diversas interferências. Enceradeiras e liquidificadores eram os campeões. Um esbarrão na antena era suficiente para acabar com o prazer de ver TV, e geralmente a imagem só ficava boa com a antena nas mais exóticas posições.

Nesta época, na década de 60, podiamos escolher entre a vasta opção de três canais de TV no Rio de Janeiro: TV Globo (canal 4), TV Tupy (Canal 6) e Canal 13 (Mas ninguem assistia). Então na prática existiam apenas duas opções para o público infantil.

Na TV Globo, quem comandava os programas infantis era Capitão Furacão, um velho e experiente lobo do mar, interpretado pelo ator Pietro Mario Francesco. No ar desde 1965, o Capitão Furacão usava um quepe de comandante e uma jaqueta. Sempre manobrando um timão, lia as cartas e chamava as atrações. O velho lobo do mar era assistido por seus Grumetes, destacando-se uma bela e jovem menina, a Elizângela, aquela mesmo que hoje assistimos nas novelas da Globo.

Foto do Capitão Furacão
Foto do Capitão Furacão

Na extinta TV Tupi o Capitão AZA, é assim mesmo com Z, comandava a gurizada. AZA era um experiente piloto da FAB. Em plena ditadura militar, o personagem foi criado como homenagem a um falecido herói da FAB, chamado Azambuja, que lutou na Seguda Guerra Mundial, conhecido por AZA entre os colegas.

Quem lembra ?

“… Alô, alô Sumaré! Alô, alô Embratel! Alô, alô Intelsat 4! Alô, alô criançada do meu Brasil!, aqui quem fala é o Capitão Aza, comandante e chefe das forças armadas infantis deste Brasil”.

 

Assim começava o programa do Capitão AZA.

Capitão AZA era o idolo da molecada, eu mesmo quando criança fui ao aterro do Flamengo recebe-lo. Ele chegou de helicoptero para alegria dos pequenos fãs.

Foto do Capitão Aza
Foto do Capitão Aza

Saiba mais sobre o Capitão AZA, Capitão Furação e programas da TV Brasileira dos anos 60.

Ô moleque chato !

Desde criança, sempre fui fascinado pelo futuro. Nascido na década de 60, assisti em tempo real os astronautas pousarem na Lua, assistia Perdidos no espaço, Tunel do Tempo, Viagem ao fundo do mar, sempre fui fã de Julio Verne e Irwin Allen, e sempre achei o futuro mais interessante do quê o passado. Conversava com meus Pais, Tios e Avós que deveriam imaginar: “Ai ! Lá vem aquele garoto falar de futuro novamente…”.

Pois é, aos poucos fui montando meu senso crítico e descobri que a grande maioria das previsões futurísticas dos meus parentes era furada, ou pior, eram apenas respostas evasivas à uma mente borbulhante.

Não demorou muito para surpreender minha familia novamente, agora eu gostava mesmo era de conversar com os mais velhos, quanto mais velho melhor. Aos sete anos eu descobri que os velhos adoram falar, e minha curiosidade me tornava um bom ouvinte, era o queridinho dos velhinhos. Mas a surpressa mesmo era que eu não perguntava mais do futuro, e sim do passado. Eu queria saber como era a educação, lazer, relacionamentos, e tudo mais no tempo deles. Depois o papo mudou para os meus Tios e meus Pais, dai a coisa foi evoluindo para os primos mais velhos. Tudo que eu queria eram sólidos fundamentos do passado, e do futuro do passado para servirem de background nas minhas elocubrações futurísticas.

Toda esta pesquisa levou alguns anos, mas me fez concluir, aos nove anos, que a evolução não era constante, e sim que aumentava de intensidade com o tempo, eu não tinha conhecimento suficiente para falar que era uma progressão geométrica, mas era mais ou menos isto que pensava. Por exemplo, para meus avós, as coisas não mudaram tanto ao longo de suas vidas, como para meus primos ao longo de poucos anos…

Dai em diante me tornei viciado em informação, era um devorador de enciclopédias, livros, revistas e documentários. Adorava o Amaral Neto Reporter, Mike Nelson e o programa Mundo Animal.

Você deve estar imaginando que eu era um moleque gordinho que ficava quieto no seu lugar, ledo engano, era um garoto esquálido que fazia arte, muita arte durante o dia, e fazia minhas “pesquisas” à noite, já que na TV a unica coisa legal, à noite, era a novela Irmãos Coragem.

O pequeno devorador de informações, estava montando seu background, já percebia aos onze anos que vários fatores externos retro-alimentavam a evolução, e que eles também deveriam ser levado em contas nas minhas elocubrações futurísticas. Ouvi muito falar do impacto da Revolução Industrial, da forma de pensar de Henry Ford, e comecei a me interessar pela forma de pensar dos cientistas. Hoje meus ídolos são Albert Einstein e Stephen Hawking.